Mamãe

O que é ser mãe na Escandinávia



Uma estrangeira radicada na Noruega faz um relato sobre isso.
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Uma das causas fundamentais do Diário é uma sociedade justa. A Escandinávia é um exemplo disso. O texto abaixo, publicado originalmente no blog de uma francesa radicada na Noruega, é uma pequena amostra do inspirador avanço social escandinavo.
Primeiro você deve saber que a família e maternidade são valores muito elevados na sociedade norueguesa. Natural de outro país, a França, isso é muito claro para mim.
As crianças são realmente priorizadas na Noruega. Há um dia do ano em que isto é extremamente óbvio: 17 de maio. Nesta data, que é o Dia Nacional da Noruega,  as crianças desfilam na rua.
Em Oslo, você vai ver um enorme desfile de crianças: cada escola leva todos os seus alunos para a comemoração. As crianças andam pelas ruas cantando e rindo.
Na França, em nosso Dia Nacional, 14 de Julho, tropas militares desfilam pelas ruas. Para mim, a maneira dos noruegueses de celebrar seu dia nacional mostra que as crianças são a prioridade de sua sociedade e da nação.
As crianças desfilam no Dia Nacional da Noruega
As crianças desfilam no Dia Nacional da Noruega
A licença maternidade na Noruega é uma demonstração disso também. Aqui está aquilo a que uma mãe norueguesa faz jus, ao ter um bebê:
- Licença maternidade, com salário de 100%, durante 46-47 semanas (11 meses), ou salário de 80% durante 56 semanas. (O pai tem direito a 10 semanas de afastamento para ajudar a cuidar do bebê.)
- Após a licença, você volta para a sua posição, sem qualquer problema. Sua posição é garantida.
Além disso, um subsídio do governo é oferecido às mães que  decidem ficar em casa com a criança até que ela complete dois anos de idade.
Outra coisa boa é que na Noruega nenhuma mulher é obrigada a ficar em casa para cuidar de seus filhos por não poder arcar com uma creche. O governo subsidia as creches. Como a semana de trabalho padrão é 37,5 horas, a mãe pode facilmente continuar sua carreira.
Não sabia sobre isso até me mudar para a Noruega. Agora me sinto bem. Se eu tiver um bebê aqui, serei capaz de cuidar dele e de manter minha carreira, se eu quiser fazer isso.
Estou curiosa para saber sobre como é a licença de maternidade no seu país. O que você acha do modelo norueguês?
Sobre o Autor

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Casas Flutuantes

A mania das casas flutuantes, fenômeno causado pelo aquecimento global



CASAS FLUTUANTES

Publicado originalmente na DW.

Com uma xícara de café na mão, Willem Blokker sobe dois lances de escada até o espaçoso terraço de sua casa. Ele se gira, deixa-se cair no confortável sofá e pergunta: “Entende agora por que, para nós, é como estar sempre de férias?”
O holandês de 52 anos vive numa das 43 casas flutuantes que formam um bairro aquático em Amsterdã, cuja construção foi concluída em 2011. O local é chamado Steigereiland (Ilha de Ancoradouros), pois suas moradias são posicionadas como navios num porto, dos dois lados de quatro longos ancoradouros.
Blokker está felicíssimo com seu pequeno reino flutuante de três andares e um amplo terraço, com área total de 160 metros quadrados – apesar de ter que fazer uma ou outra concessão.
Arquitetos e fabricantes asseguram que as waterwoningen (“casas aquáticas”, em holandês) não podem ser comparadas a barcos e que nunca oscilam. “Acredite quem quiser”, rebate o morador pioneiro. “Quando a tempestade é forte mesmo, a gente balança que é uma beleza. Mas acaba se acostumando. Não consigo imaginar uma casa mais bonita, me sinto como se estivesse em férias.”
Os alicerces das casas flutuantes são cubas de concreto preenchidas de isopor, consideradas insubmergíveis. Anéis presos a estacas asseguram que as casas permaneçam no devido lugar. As construções, porém, movimentam-se facilmente para cima e para baixo. “Esse é o grande truque”, aponta Floris Hund, do escritório de arquitetura Marlies Rohmer, que projetou a Steigereiland. “Dessa forma, elas se ajustam ao nível da água.”
Preparando-se para as mudanças climáticas
As casas flutuantes são a resposta dos holandeses para o aumento do nível do mar e da precipitação pluvial, resultantes das mudanças climáticas. Já hoje, um terço do país se encontra abaixo ou exatamente no nível do mar. E este está subindo: nos próximos 100 anos, 1,30 metro; em 200 anos, até quatro metros. Essas são as previsões dos especialistas da Comissão Delta, do governo de Haia.
Um deles, Pavel Kabat, também pesquisador da Universidade Wageningen, acrescenta que existe ainda a ameaça das assim chamadas “enchentes de dentro”: devido à mudança climática global, os rios passam a transportar um volume maior de água. “Diques, apenas, não bastam, precisamos repensar tudo radicalmente. Devemos ver a água não mais como ameaça, mas como uma chance, um desafio”, propõe Kabat.
A nova estratégia chama-se “Leven met water“: não mais combater a água, mas conviver com ela. Seja no litoral, seja nas bacias dos rios, por todos os lados o antigo inimigo ganha espaço, com a inundação dos pôlderes, criação de bacias de coleta, reabertura dos canais aterrados. Os rios ganharão canais laterais em diversos pontos, seus leitos serão aprofundados, as áreas de vazão, ampliadas, os diques, recuados.
FLOATING HOUSE
Manhattan holandesa
O rio Ijssel, braço do Reno, por exemplo, ganhará numa de suas curvas um bypass(desvio), assegurando que um grande volume de água possa ser drenado rapidamente. A cidade de Nijmegen, no sudoeste holandês, próxima à fronteira com a Alemanha, também tomou medidas. Lá se realiza o projeto “Nijmegen abraça o Waal”, explica Ingwer de Boer, diretor do programa nacional de prevenção a enchentes Ruimte voor de Rivier (Mais espaço para os rios).
“Nijmegen está próxima demais do rio Waal, que fica espremido como num gargalo.” Assim, está sendo criado um braço lateral para dar vazão à água; e entre o braço novo e o antigo, uma nova ilha, com casas, escritórios, lojas e muitas possibilidades de lazer. “A ilha já foi apelidada ‘Manhattan de Nijmegen’”, conta De Boer.
Ao todo, o programa de controle de enchentes inclui 39 projetos como o de Nijmegen. Com custo de 2,3 bilhões de euros, eles visam proteger 4 milhões de habitantes nas bacias dos rios Reno, Maas, Waal e Ijssel.
Modelo para regiões mais vulneráveis
Devido a medidas como essa, contudo, sobram cada vez menos áreas residenciais para os holandeses, ao mesmo tempo em que as superfícies aquáticas aumentam, devido ao aquecimento global. Mas os engenheiros hidráulicos descobriram como matar dois coelhos com uma só cajadada: os pôlderes inundados e as bacias artificiais não servem apenas à drenagem controlada do excesso de água, mas podem também ser utilizados como terrenos de construção.
A notícia se espalhou e, vindas da Tailândia, Vietnã, Austrália ou dos Estados Unidos, delegações de especialistas chegam à Holanda à procura de orientação. Também cidades como Nova York ou Nova Orleans buscam a ajuda dos engenheiros hidráulicos holandeses, para se proteger das enchentes. O país se orgulha desse know-how que, literalmente, poderá salvar do dilúvio países insulares como as Maldivas, ameaçados de desaparecer devido à elevação do nível do mar.
Na Holanda, as residências aquáticas estão em plena moda, e os habitantes de várias partes do país trocam a terra pela água. Esse é o caso de um pôlder perto de Haia, onde se constrói o primeiro complexo residencial flutuante da Europa, De Citadel, com 60 apartamentos de luxo.
O projeto é de Koen Olthius, do escritório de arquitetura Wasserstudio.NL, especializado em moradias aquáticas. Ele transformou os alicerces das residências – a cuba insubmergível de concreto – numa plataforma que comporta vários apartamentos, com suas respectivas garagens, jardins e terraços.
“A cidade do futuro se compõe de plataformas flutuantes, que podem ser deslocadas de um lado para o outro, como placas de gelo”, prevê o arquiteto. “Essa nova forma de engenharia urbana, essa nova flexibilidade, é o desafio que se impõe aos arquitetos da geração do aquecimento global.”
Sobre o Autor
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Lugar de Mulher

O melhor lugar do mundo para ser mulher



No commercial use.  Credit "European Parliament/Pietro Naj-Oleari"

Um estudo anual divulgado no Fórum Econômico Mundial aponta que a desigualdade entre homens e mulheres diminuiu na maior parte dos países do mundo.
A pesquisa Relatório Global sobre Desigualdade de Gênero 2013, que analisou 136 países, concluiu que 86 deles apresentaram melhoras na desigualdade de gênero em relação ao ano anterior.
No entanto, as mudanças são lentas, salienta à BBC Saadia Zahidi, principal autora do relatório.
Pelo quinto ano consecutivo, a Islândia foi considerado o país mais avançado em termos de igualdade entre homens e mulheres. Em seguida vêm Finlândia, Noruega e Suécia.
Segundo Zahidi, os países nórdicos continuam sendo exemplo porque têm uma longa história de reconhecer e investir no talento individual.
“Tratam-se de economias pequenas, com populações pequenas. Eles reconhecem que o talento importa e este talento está nos homens e nas mulheres”, afirmou Zahid.
O Brasil ficou em 62º lugar no ranking, a mesma posição do ano passado.
O relatório destaca os avanços da Nicarágua, que veio em 10º na listagem e foi considerado o país mais igualitário das Américas.
O país foi elogiado pelo “empoderamento político das mulheres”. Os Estados Unidos chegaram na 23ª posição.
O relatório aponta grandes avanços na redução de desigualdade em quesitos como acesso a saúde e a educação. Vinte e cinco países foram apontados como fornecedores de oportunidades igualitárias para meninos e meninas no quesito educação.
A igualdade econômica apresentou um cenário mais desfavorável, em que a diferença entre gêneros diminuiu apenas em 60%.
Tanto em países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento, a presença da mulher em posições de liderança na área econômica ainda é limitada.
Apesar de as mulheres tenham obtido ganhos em termos de representação política, de 2% neste ano, a brecha entre gêneros diminuiu em apenas 21%.
Ainda segundo Zahidi, desde que o Fórum Econômico Mundial começou a elaborar o relatório, há oito anos, 80% dos países fizeram progressos.
“O preocupante é que 20% dos países não avançaram ou estão regredindo”, acrescentou.
Os países do Oriente Médio e do norte da África foram as únicas regiões que não mostraram avanços no ano passado, com o Iêmen ocupando a última posição no ranking.
A divulgação do relatório coincide com a conclusão de uma temporada de reportagens da BBC em mais de 20 línguas e em variadas plataformas de mídia sobre a situação de mulher hoje no mundo.

Publicado originalmente na BBC Brasil.

Sobre o Autor
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A China

Por que a China é o que é



Postado em 16 abr 2014
A falta de uma religião tal como conhecemos no Ocidente é uma vantagem competitiva chinesa
Festa tradicional na China
Leio, no iPad, a monumental História da Inglaterra de David Hume, filósofo, historiador e escritor inglês do século XVIII. (O iPad é uma festa para quem quer encontrar e ler clássicos de graça.)
Hume, um dos grandes ideólogos do liberalismo, viveu e morreu como um verdadeiro filósofo.  Era um homem simples, frugal, honesto, leal, corajoso, moderada até em sua única vaidade — literária. Segundo seu amigo e admirador Adam Smith, Hume chegou moralmente ao ponto mais alto que a fragilidade humana permite.
Vários trechos da A História da Inglaterra me despertam a atenção admirada. Num deles, no capítulo que trata de Carlos I, o rei inglês que se bateu com o Parlamento e acabou deposto e decapitado em meados do século XVII na primeira revolução burguesa da humanidade, Hume lança um olhar para a influência da religião entre os britânicos nos dias do monarca infeliz.
Assim disse Hume: “De todas as nações européias, a Grã Bretanha era naquele momento, e por muito mais tempo, a mais influenciada por aquele espírito religioso que tende mais a inflamar o fanatismo do que a promover a paz e a caridade.”
São palavras eternas.
Lamentavelmente, ao longo da história, a religião tem servido muito mais para piorar do que para melhorar as pessoas e a sociedade. Quem acaba dominando-a não são os moderados, os tolerantes, aqueles que aceitam a diversidade. São os radicais, os fanáticos, os que acham que podem matar os infiéis em nome de seu Deus, seja qual for.
O filósofo inglês Bertrand Russell atribuiu ao judaísmo, no Ocidente, a semente da ideia de que uma religião é melhor que outra ao estabelecer que os judeus eram o povo escolhido.  Os cristãos, posteriormente, trucidaram ignominiosamente os judeus por entender que escolhidos, na verdade, eram eles. Depois os cristãos se destruíram uns aos outros, quando Lutero inventou o protestantismo. Os muçulmanos já surgiram com a convicção de que Alá é o único deus genuíno.
Tenho para mim que um dos maiores fatores do fenômeno chinês está na ausência de religião e da figura de Deus. A China era a civilização mais adiantada do mundo quando foi pilhada pelos britânicos  no século 19, superiores em uma única coisa: canhões. Depois dos britânicos, outras potências militares ocidentais foram tirar sua fatia da China — já então um mercado cobiçado de 400 milhões de pessoas. E quando parecia que nada mais poderia castigar a China apareceram seus vizinhos japoneses.
A China poderia ter virado um figurante no mundo. Mas não: se reergueu depois de tantas agressões predatórias, e ninguém acredita que em dez anos ela já não tenha ultrapassado os Estados Unidos como superpotência número 1. (Sempre existe a possibilidade, é claro, de que os americanos inventem um pretexto para declarar guerra à China.)
A impressionante resistência chinesa deve muito à inexistência de religião tal como conhecemos. Confúcio, o grande filósofo que estabeleceu as bases éticas que governam a China há 2 500 anos, acabou fazendo o papel de Deus para os chineses com a vantagem de não ser Deus e nem ser entendido como tal. Confúcio pregou três coisas, essencialmente: os jovens devem ser muito bem instruídos; os amigos devem ser leais uns aos outros; e os filhos devem cuidar exemplarmente dos velhos.
Confúcio deu aos chineses um guia de conduta prático e sempre atual. A musculatura interior veio do budismo, em que não existe a figura de Deus. Buda era um ser humano como todos nós — entregue às tentações, cheio de dúvidas, repleto de tentações. Na fraqueza aparente de Buda diante dos deuses de outras religiões estava, paradoxalmente, a força do budismo — e em consequência da China.
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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