AVENTURAS ORNITOLÓGICAS NO LITORAL NORTE PAULISTA
Belo projeto de livro sobre os pássaros que habitam a Mata Atlântica, no Litoral Norte de São Paulo, foi lançado pelo sistema Catarse de crowfunding (financiamento coletivo). Trata-se de “Ave, foto”, do jornalista/naturalista Roberto Negraes, em parceria com Joe Ribeiro, da Axis Mundi Editora. Se você gosta de observar a natureza e suas criaturas (particularmente a observação de pássaros), ou se simplesmente deseja colaborar com iniciativas de preservação do meio natural e da biodiversidade, não deixe de participar.
14 DE JULHO DE 2016 ÀS 17:23 // RECEBA O 247 NO TELEGRAM
Por: Luis Pellegrini
“Há décadas percorro ruas, matas e até mesmo jardins das casas em busca desses pequenos seres coloridos – os pássaros. Estão próximos de nós, ao nosso redor o tempo todo, mas nem notamos. De repente, um dia, eu os vi. E comecei a observá-los espantado, como um índio deve ter olhado para a nau lusitana que chegava no litoral da Bahia, tantos séculos atrás. "Como nunca notara as aves?" me perguntei perplexo. Então, com atenção e minha câmera fotográfica, resolvi capturar suas almas pequeninas, para mostrá-las a vocês”. Quem fala é Roberto Negraes, 68 anos, um mix de jornalista, fotógrafo, escritor e naturalista ornitólogo.
Negraes é um tipo fascinante, raro, quando se apresenta, tipo soldado, vestido com suas roupas miméticas, sempre com suas armas em punho: a câmera fotográfica com a grande teleobjetiva sempre em primeiro plano. Uma mochila com o lanche, um tubinho de repelente, uma garrafa de água mineral e o imprescindível caderno de notas, completa o uniforme de batalha. É assim que, há décadas, ele se embrenha no mato, munido com sua paciência de santo, e caminha, horas a fio, parando nas clareiras, à beira das fontes e dos riachos, em busca dos seres pelos quais sente verdadeiro fascínio: os pássaros.
Deixa essa passarinhada pra lá!
Tais incursões lhe renderam um conhecimento enciclopédico sobre os mistérios da Mata Atlântica e os seres que nela habitam. Conhece a todos pelo nome, sobrenome, hábitos, temperamentos. Reconhece os seus cantos e chamados, distingue as cores das suas plumagens, sabe quais surgem na alvorada do dia, os que preferem se exibir ao sol do meio-dia, os que só cantam no entardecer, os que saem das tocas na escuridão da noite em busca das suas presas preferidas.
Vejam este trecho extraído do seu caderno/diário: “Quase não saí de casa neste domingo. Quando amanheceu, o céu estava totalmente encoberto e cinzento, e minha cama então chamava preguiçosa, com seus cobertores, "volta aqui, deixa essa passarinhada prá lá". Mas a minha teimosia não atendeu à chantagem, e às 6h50 eu já estava lá em Ubatumirim. Como o parque (Cambucá) iria abrir somente às 8 horas, eu pensara em caminhar pela região fazendo hora até o guarda chegar, mas o mundo estava pintado de cinza. Assim, sentei junto da entrada e fiquei aguardando, torcendo para melhorar o tempo. Quando finalmente pude entrar, o dia continuava igual. Mal se enxergava vinte ou trinta metros. Meio desanimado, pensando se não teria sido melhor ter voltado para a cama, comecei a caminhada. Ah, num instante o aborrecimento com as nuvens se foi. Fui rodeado por bandos mistos de diferentes espécies de aves, dezenas delas por vez, e isso o tempo todo! Sumiu um bando, surgia outro. Os tiês preto e sangue estavam lá, saíras sete-cores, militar, ferrugem, o enferrujado, cuspidor-de-máscara-preta, as borralharas. Sem poder fotografar no aberto, fiquei apreciando as avezinhas passando de lá para cá, inclusive uma pomba-gemedeira, por duas horas. E finalmente com a melhora da luz, acabei fotografando o casal de borralharas que estavam o tempo todo me rodeando por ali. Um novo lifer!” (Expressão em inglês para designar uma espécie que nunca antes tinha sido avistada pelo birdwatcher).
O litoral Norte de São Paulo como morada
Papear com Roberto Negraes, da mesma forma que ler os seus textos ou viajar nas suas fotos, é assim mesmo, é abandonar o mundo Torre de Babel da civilização urbana e atravessar um portal que nos conduz a um mundo de luz, de corres e de sons harmonizados, onde tudo tem lógica e sentido. Não à toa esse observador de pássaros há muito preferiu abandonar a maior parte das suas atividades convencionais de jornalista em São Paulo para se dedicar à fruição da magia que reina no meio natural e ao registro dos seres que nele habitam.
Negraes viajou muito, mas acabou escolhendo como morada e campo de trabalho o Litoral Norte do estado de São Paulo. Foi uma opção natural: Com mais de 80% de sua área com mata nativa preservada pelo Parque Estadual da Serra do Mar, o litoral Norte paulista é um paraíso natural para os visitantes e também, sobretudo, para a fauna e a flora que escolheram a área para morar e prosperar.
A zona abrangida pelo parque é muito mais extensa, porém Negraes preferiu selecionar o trecho que vai de São Sebastião/Ilhabela até Picinguaba, já na fronteira com o estado do Rio de Janeiro. Esse trecho tornou-se um dos mais importantes do mundo para se fazer o chamado birdwatching, ou observação de aves, em bom português - ou, ainda, orniturismo, como preferem alguns. A modalidade vem crescendo bastante no Brasil nos últimos anos, e os equipamentos fotográficos digitais colaboram decisivamente para isso. Ubatuba está na frente neste promissor segmento de mercado, impulsionada pelas cerca de 600 espécies - entre as cerca de 1.800 que existem no Brasil - que habitam esse pedaço de natureza privilegiada do litoral Sudeste. Além disso, a cidade, que se autoproclama "a capital brasileira da observação de aves", realiza todos os anos, entre setembro e outubro, um festival dedicado ao birdwatching. Um destino e um motivo perfeitos para uma escapada de fim de semana.
Uma das maiores biodiversidades do mundo
É o próprio Negraes quem explica que em mais de quatro séculos de história, o Estado de São Paulo perdeu boa parte de sua vegetação nativa, constituída sobretudo por Mata Atlântica, cerrado e vegetações costeiras. Atualmente, grande parte do que restou de sua mata nativa está protegida em unidades de conservação, sob responsabilidade da Secretaria Estadual do Meio Ambiente. A Fundação Florestal é o órgão responsável pela administração da maioria das unidades de conservação, entre elas os parques estaduais, áreas privilegiadas para atividades de ecoturismo, como a observação de aves.
Chamada em inglês de birdwatching, essa atividade vem se tornando cada vez mais popular no Brasil. A Mata Atlântica é uma das regiões com maior biodiversidade do mundo e também é muito rica em aves. Sua avifauna inclui mais de 600 espécies, das quais cerca de 160 são endêmicas, isto é, não existem em nenhum outro tipo de ambiente no mundo. As aves têm relações importantes com a natureza. Espécies que comem frutos transportam as sementes e contribuem para a dispersão das plantas. Outras têm papel destacado na polinização de flores, como os beija-flores. Elas ainda participam da cadeia alimentar, sendo predadoras ou presas. A sobrevivência de muitas espécies típicas de florestas depende da conservação do ambiente natural. Áreas alteradas pelo ser humano podem ter uma avifauna rica, mas formada somente por espécies mais resistentes à presença e à ação humana. Aves mais exigentes, que precisam de ambientes intactos, desaparecem com a degradação ambiental. Para essas espécies, muitas vezes ameaçadas de extinção, a existência de unidades de conservação é de importância vital.
Um projeto de livro especial
Roberto Negraes e a Axis Mundi Editora, do editor Joe Ribeiro, lançaram há um mês o projeto “Ave, Foto!” para publicação de um livro pelo site de financiamento coletivo Catarse. O título da obra é também “Ave, Foto!”, e conta a trajetória do autor desde quando começou a fotografar aves. A obra, em tamanho grande, repleta de imagens produzidas por Negraes, narrará não apenas a sua experiência pessoal, mas também contará vários “causos” – narrativas das aventuras que viveu e continua vivendo durante suas incursões no mundo verde da Mata Atlântica. No livro, Negraes também oferecerá ao leitor muitas dicas de fotografia e de como encontrar aves no meio natural narrando não apenas a experiência pessoal e "causos" mas também com dicas de fotografia, de como encontrar aves, e de como se comportar para que essas criaturinhas tolerem a sua presença e se deixem fotografar.
Se você é um birdwatcher (observador de pássaros), ou simplesmente alguém interessado no conhecimento e na preservação do nosso meio natural, não deixe de conhecer e participar do projeto “Ave, foto!” que está no siteCATARSE, de financiamento coletivo, para viabilizar a publicação do livro.
Para contribuir basta se registrar no site CATARSE (trata-se de uma empresa séria que já possibilitou a realização de centenas de projetos), e depois fazer a doação. Importante saber que, caso o custo total do projeto não seja atingido em 60 dias, todos os valores de contribuição serem devolvidos aos doadores. Assim, o livro somente será publicado se for atingido o orçamento proposto. Cada contribuição terá a sua devida recompensa conforme o valor doado, desde um ebook e livros até um curso online de fotografia voltada para observação de aves. Sem falar na possibilidade de estabelecer um contato direto com o autor e participar de um dos grupos que ele organiza e guia em incursões até esses reinos de pássaros localizados no coração da Mara Atlântica. Você pode colaborar com diversos valores, desde 20 até 3.500 reais. Acesse o projeto: http://catarse.me/avefoto
Galeria de imagens:
Vídeo: Ave, foto!
http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/244012/Ave-foto!-Aventuras-ornitol%C3%B3gicas-no-Litoral-Norte-paulista.htm