CERIMÔNIA DO “BUDA AO SOL” NA CHINA
O budismo considera que a vida é uma escola de contínuo aperfeiçoamento físico, psíquico, mental e espiritual. Nesse sentido, as práticas artísticas são constantes, pois elas espelham um dos objetivos maiores do budismo tibetano que é a transformação do próprio indivíduo praticante em uma obra de arte. A pintura thangka é uma das principais formas da arte budista tibetana.
12 DE FEVEREIRO DE 2017 ÀS 17:48 // RECEBA O 247 NO TELEGRAM
Por Luis Pellegrini
Dos quatro pilares fundamentais do conhecimento – filosofia, religião, ciência e arte – este último é particularmente importante na vertente tibetana do budismo. Talvez devido à própria aridez e parcimônia de cores que caracteriza a natureza do país onde essa escola se desenvolveu – o Tibete – toda a arte tibetana é extremamente rica de cores vibrantes e de motivos simbólicos sempre ligados aos valores e ensinamentos da filosofia budista. Com a maior parte do seu território situada nas alturas do Himalaia e dos contrafortes da cordilheira, ao redor dos 4 mil metros de altitude, o Tibete é um vasto território feito sobretudo de montanhas de pedra e de vales profundos por onde correm rios e riachos e onde uma agricultura e pecuária rudimentares são viáveis nos meses quentes da primavera e verão.
Dentro dos mosteiros no entanto a vida fervilha e o ritmo das atividades monásticas é intenso, tanto para os afazeres domésticos quanto as práticas religiosas. Música, pintura e artesanatos estão sempre na ordem dodia, bem como os estudos teóricos e os intermináveis treinamentos físicos e espirituais à base dos exercícios físicos (ioga) e das meditações.
Uma escola de contínuo aperfeiçoamento
O budismo considera que a vida é uma escola de contínuo aperfeiçoamento físico, psíquico, mental e espiritual. Nesse sentido, as práticas artísticas são constantes, pois elas espelham um dos objetivos maiores do budismo tibetano que é a transformação do próprio indivíduo praticante em uma obra de arte.
De todas as técnicas e estilos artísticos tibetanos um dos mais importantes é a criação das thangkas. Trata-se de um tipo de pintura originária do próprio Tibete, durante o reinado do rei Songtsen Gampo, no século 8 da nossa Era. Ele convidou artistas do Nepal ao Tibete para pintar os murais do templo de Tsuglagkhang, o templo principal da capital, Lhasa. Com o passar do tempo surgiram diversas escolas e diferentes estilos que até hoje se mantêm.
Todas são pintadas em tecido de algodão com tintas a base de água coradas com pigmentos orgânicos e minerais fixados com goma.
A thangka é sobretudo uma arte religiosa em que os artistas representam deuses, deusas, mandalas e figuras históricas. Cada deidade possui medidas geométricas exatas, estudadas e descritas em antigos manuscritos. Essas medidas – nas quais o estudo das proporções geométricas e matemáticas é muito importante – são baseadas, por exemplo, na astrologia, no corpo humano, nas dimensões de diversos tipos de paraísos e infernos existentes no universo, segundo as crenças budistas, e outros cálculos secretos. Não apenas a exatidão das linhas e do tamanho das imagens têm grande importância simbólica, mas também suas cores, a posição do corpo e das mãos, os instrumentos exibidos e as oferendas dadas guardam valores simbólicos.
Uma conexão com a divindade
Tradicionalmente, as pinturas thangka não são consideradas e valorizadas apenas pela sua beleza estética, mas sobretudo pelo seu uso como suportes para várias técnicas de meditação. Os praticantes usam as thangkas para, por exemplo, desenvolver uma clara visualização de uma particular divindade, fortalecendo a sua concentração, e forjando uma conexão entre eles mesmos e a divindade. Historicamente, as thangkas foram usadas também como ferramentas didáticas para o ensino de conceitos religiosos bem como para descrever a vida de numerosos mestres do budismo. É comum, no Tibete, que um professor ou um lama viaje pelo país dando palestras sobre o dharma (o caminho budista), carregando consigo numerosas thangkas enroladas que servirão para ele ilustrar suas histórias.
As divindades mostradas nas pinturas thangka são apresentadas, quase sempre, como reproduções pictóricas de visões que apareceram para grandes mestres espirituais budistas no momento da sua realização. Tais visões são gravadas e a seguir incorporadas nas escrituras budistas.
A pintura thangka é, assim sendo, uma expressão artística bidimensional que expressa e ilustra uma realidade espiritual multidimensional. Os praticantes usam Thangkas como uma espécie de “mapa” para guiá-los até alcançarem a percepção original do mestre. Esse mapa deve ser extremamente acurado e por essa razão é grande a responsabilidade do artista para que uma thangka seja considerada genuína e útil como suporte para a prática budista.
O papel do artista que executa uma thangka é muito mais o de um médium ou canal, capaz de se elevar para muito acima da sua consciência mundana até alcançar um elevado plano ou dimensão espiritual. O ato de executar a pintura representa o seu retorno ao plano comum da consciência, porém agora trazendo para este plano uma verdade maior que alcançou durante a sua elevação. Para que exista segurança de que essa verdade permaneça intacta, e seja traduzida na obra de arte em toda a sua plenitude e alcance, o artista precisa ser longamente treinado e viver continuamente sob certas regras e preceitos bastante rigorosos.
O DESENROLAR DO “BUDA AO SOL”
Monges Lamas retiram a cortina que cobre uma grande pintura do Buda feita no estilo thangka para um ritual de exibição no mosteiro de Labrang, um proeminente mosteiro budista tibetano no condado de Xiahe, província de Gansu, noroeste da China, em 9 de fevereiro de 2017.
Fonte: site portuguese.xinhuanet.com
A exibição anual de pinturas do Buda feitas no estilo thangka, um tipo de pintura originária do Tibete, é feita no monastério de Labrang e é a maneira tradicional do budismo tibetano para rezar por um bom ano. Uma cerimônia de “Buda ao sol” foi realizada na quinta-feira, 9 de fevereiro, pela manhã no Mosteiro Labrang, na Província de Gansu, noroeste da China.
Por volta das 9h, budistas e turistas se reuniram na praça em frente ao salão de escrituras do mosteiro. Às 10h, um enorme rolo de thangka com a imagem do Buda foi levado para fora do salão por lamas e desenrolado sobre a encosta de um monte.
Após um banho de sol de cerca de uma hora, o retrato foi enrolado de novo e levado de volta para o mosteiro. A cerimônia é realizada todos os anos no 13º dia do primeiro mês lunar.
Construído em 1709, o mosteiro no distrito de Xiahe, na sub-região autônoma de Gannan, é um dos seis grandes templos da seita Gelugpa do budismo tibetano.
Galeria de imagens do ritual “Buda ao Sol”, no Mosteiro de Labrang, China