RESISTÊNCIA AOS ANTIBIÓTICOS

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25.02.2017, 13:26

MAS OS VÍRUS PODERÃO SALVAR A HUMANIDADE

A OMS – Organização Mundial da Saúde - publicou um relatório sobre a resistência aos antibióticos, uma ameaça que está se tornando realidade. Pois sem os antibióticos, a medicina correria o risco de retornar ao que ela era no começo do século 20. Na batalha contra as infecções, volta-se inclusive a usar certos tipos de vírus capazes de atacar bactérias.



Por Soline Roy - Le Figaro Santé

A penicilina mudou o mundo. Mas seu descobridor, Alexander Fleming, já alarmado em 1945 ao receber o prêmio Nobel de medicina, disse:«Não é difícil tornar os micróbios resistentes à penicilina (…) expondo-os a concentrações que não sejam suficientes para matá-los.» Fleming imaginou um sr. X, cuidando de uma dor de garganta com uma dose insuficiente de penicilina. Ele transmite para a sra. X, bactérias que aprenderam a resistir ao antibiótico. Em seguida, este antibiótico foi administrado em vão para a paciente... que morreu de pneumonia. «Caso você use penicilina, use-a em quantidade suficiente», concluiu o médico.
Esta história está se tornando uma realidade? Provavelmente sim. Já existem pacientes para os quais nenhum antibiótico é eficaz e que morrem do que começou como uma infecção trivial. Agora, certas pessoas até imaginam um mundo no qual mais nenhum antibiótico funcionaria. Mergulho na ficção médica …
Cânceres e cirurgia
Sem antibióticos, iremos morrer por termos sido tratados. Os tratamentos contra o câncer ou antes de um transplante diminuem a imunidade dos pacientes. Os antibióticos os ajudam a lutar contra as infecções.
A medicina intensiva não é exceção. Ela também usa estes medicamentos para eliminar as bactérias que poderiam ser introduzidas com catéteres e outros dispositivos médicos inseridos no corpo doente tal como a cirurgia, com gestos tão variados, quanto uma operação cardíaca, uma cesariana ou o implante de prótese. Economistas britânicos da saúde calcularam que sem antibióticos, a instalação de uma prótese de quadril iria matar 1 paciente em cada 6. «Se perdemos os antibióticos, iremos perder a capacidade de fazer tudo isso », preocupava-se já em 2013 Tom Frieden, diretor do Centro de Controle de Doenças (CDC) norte-americano.
25 mil mortes por ano na Europa
O cotidiano é cheio de situações de risco. Sem antibióticos, os arranhões poderão matar, dar a luz se tornará perigoso, uma simples otite poderá causar surdez… A OMS avalia que estas moléculas nos trouxeram vinte anos de expectativa de vida extra. Mas de acordo com a Agência Europeia de Medicamentos, 25 mil pessoas morrem a cada ano na Europa de infecções causadas por bactérias resistentes, e estas últimas custariam 1,5 bilhões de euros por ano para a União Europeia.
Devemos, portanto, nos preparar para a era pós-antibiótica. Primeiramente, criando condições e tecnologias de modo a não mais infectar os pacientes que se encontram em um estado de fragilidade imunológica, como aqueles que estão hospitalizados. Por exemplo, os novos biomateriais que estão sendo desenvolvidos poderão ajudar a criar próteses «limpas». As ciências físicas estão tentando criar condições cirúrgicas excelentes (as condições hiperbáricas, por exemplo, bem como o controle de temperaturas, o uso de lasers ou de luzes ultravioletas, etc.).
Terapias com o uso de vírus “fagos”
Os fagos são vírus que atacam especificamente as bactérias. A moderna medicina, para combater as bactérias, procura «potencializar» o sistema imunológico da pessoa. Essa mesma medicina se esforça para conhecer profundamente as bactérias, procurando entender como elas funcionam, não com o objetivo primordial de matá-las mas sim desarmá-las. Recentemente, uma equipe franco-britânica revelou na revista Nature, a estrutura dos mecanismos biológicos que permitem que algumas bactérias consigam enviar seus agentes patógenos dentro das células hospedeiras.
A terapia com o uso de fagos, quase completamente abandonada pela medicina ocidental desde a descoberta dos antibióticos, começa a interessar novamente os pesquisadores. Um projeto europeu foi lançado em junho de 2013 para tratar pacientes com queimaduras graves na pele com o uso de emplastos de culturas de fagos, e os primeiros resultados são muito animadores. O projeto continua em desenvolvimento. Os vírus, quase sempre considerados nossos inimigos, ainda poderão salvar a humanidade…


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