HIPNOSE

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02.09.2017, 13:51

UM TRATAMENTO INESPERADO PARA TRANSTORNOS GASTROINTESTINAIS


Laurie Keefer, professora-associada ao Departamento de Medicina e Gastroenterologia da Icahn School of Medicine do Mount Sinai,em Nova York, fala nesta entrevista sobre a conexão entre cérebro e intestino e a influência dela na saúde digestiva. Ela diz que o uso da terapia por hipnose pode ser um tratamento alternativo efetivo para os pacientes, estando resguardada por evidências científicas, e sendo agora oferecida em centros médicos e via telemedicina por todos os Estados Unidos.



Entrevistadora: Lauri R. Graham. Entrevistada: Laurie Keefer
Fonte: Site português.medscape.com

Líder no desenvolvimento de terapias comportamentais efetivas para desordens gastrointestinais, a extensa pesquisa da Dra. Laurie foca primeiramente na doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e em outros transtornos esofágicos, síndrome do intestino irritável e doença inflamatória intestinal, incluindo doença de Crohn e colite ulcerativa.

Uma via bidirecional

Lauri R. Graham - O que sabemos sobre como a conexão entre mente e vísceras influencia a saúde?
Dra. Laurie Keefer - A via entre a mente (ou o cérebro) e o intestino é bidirecional. As pessoas muitas vezes se esquecem disso. Existem muitos processos que acontecem sintomaticamente nas vísceras que chegam ao cérebro, e vice-versa. Acredito que a DRGE seja um deles, no qual mudanças na exposição ácida podem ser percebidas pelo cérebro e, portanto, as vísceras estão essencialmente dizendo ao cérebro que alguma coisa está errada. Ao tratar pacientes com terapias cérebro-vísceras, acredito que isso as ajude a saber que enquanto trabalhamos com o cérebro também estamos levando em conta as questões gastrointestinais. Ao tratar pacientes com terapias cérebro-vísceras, acredito que isso as ajude a saber que enquanto trabalhamos com o cérebro também estamos levando em conta as questões gastrointestinais.
L. R. G. - Muitas pesquisas relacionadas à terapia com hipnose para a saúde digestiva focaram na síndrome do intestino irritável (SII). Para quais outras condições gastrointestinais (GI) a terapia com hipnose tem se mostrado efetiva?
Dra. Laurie - A pesquisa é muito robusta para SII mas então decai. A SII parece ser o melhor caso teste, parcialmente porque é tão comum e refratária. Muitos de nós, no entanto, acreditamos que se a hipnose foi validada e mostrou-se efetiva na SII, e estamos tratando o mesmo processo, então deveria funcionar para outras condições GI. A SII é uma desregulação entre cérebro e víscera. A DRGE é uma desregulação entre cérebro e vísceras. A doença inflamatória intestinal (DII) tem um elemento de desregulação entre cérebro e vísceras. Apesar de categorizarmos doenças, dizendo que a hipnose não foi testada nessa ou naquela doença, sabemos que sintomas de desregulação entre cérebro e vísceras melhoram com a hipnose.
L. R. G. - Quanto a DII, alguma pesquisa confirmou se a terapia com hipnose é mais efetiva para colite ulcerativa versus doença de Crohn?
Dra. Laurie - Acho que houve apenas dois estudos, e ambos foram com colite ulcerativa porque é muito mais fácil demonstrar o processo cérebro-vísceras na colite ulcerativa. Clinicamente eu não necessariamente diferencio, no entanto. Vejo muitos pacientes com doença de Crohn que estão em remissão, mas que apresentam dor abdominal e distensão ou uma sobreposição com SII, e isso nos traz de volta à terapia com hipnose.
L. R. G. - A terapia com hipnose tem sido efetiva em adultos e crianças?
Dra. Laurie - Sim, em ambos. Crianças são imaginativas, então pode ser uma boa intervenção para elas. Van Tilburg e colegas conduziram um estudo em crianças com dor abdominal utilizando hipnose, e mostraram efetividade. Com crianças você usa técnicas diferentes do adulto porque crianças não mantêm a atenção por muito tempo, a abordagem tende a ser mais ativa e dialogada. Assim, você não pode necessariamente traduzir a literatura do adulto para a literatura pediátrica.
L. R. G. - Qualquer um pode ser hipnotizado?
Dra. Laurie - Acredito que cerca de 20% das pessoas não são hipnotizáveis. Mesmo se elas não são tecnicamente hipnotizadas, significando que não alcançaram aquele estado de ondas cerebrais no qual estão oscilando entre consciente e inconsciente, elas ainda estão processando a mensagem. Eles estão em um estado de relaxamento. Eu geralmente digo aos pacientes para não se preocuparem muito se são hipnotizáveis. O importante é que estejam abertos à experiência. Uma forma de ter certeza de que você não será hipnotizado é se sentar lá e não se deixar ser. Certos pacientes são realmente céticos, ou não conseguem se imaginar sendo capazes de sentar por 20 minutos; para esses, eu poderia sugerir a respiração profunda.
L. R. G. - Existe alguma verdade nas representações da hipnose como um meio de controle da mente?
Dra. Laurie - A hipnose médica é um estado voluntário. É realmente uma escolha. Mesmo que você seja hipnotizável, ainda responderá apropriadamente a uma emergência em seu ambiente. Por exemplo, eu digo aos pacientes, "Se o alarme de incêndio tocar em nossa sessão, você estará pronto para evacuar. Não estará 'fora de si'". Geralmente descrevo como algo semelhante a assistir a um programa de TV quase pegando no sono. Entretanto, se alguma coisa repentina acontecer no programa – como um tiro disparado – você estará acordado novamente. Você está em transe hipnótico.
L. R. G. - Que tipos de médicos tipicamente tratam pacientes com terapia por hipnose?
Dra. Laurie - A regra geral gira em torno de fornecer a hipnose para qualquer condição que você saiba como tratar (por exemplo, DRGE, SII) sem a hipnose. Qualquer pessoa com  mestrado pode treinar para ser um terapeuta de hipnose – médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais. Eu trabalho com gastroenterologistas que foram treinados.



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