Um tesouro na cozinha


Quadro perdido de Cimabue descoberto na França

Pendurada na parede da sua cozinha, a dona da casa tinha uma obra de Cimabue, grande mestre do pré-Renascimento florentino. Avaliado pelos peritos em 6 milhões de euros, o quadro irá a leilão no dia 27 de outubro. Na foto de abertura, detalhe do quadro Cristo Ridicularizado, de Cimabue
Por: Luis Pellegrini

A dona da casa, uma senhora idosa moradora na cidadezinha francesa de Compiègne, ao norte de Paris, desde sempre tinha visto aquele quadro pendurado na parede da entrada da sua cozinha. Fazia parte do ambiente familiar, uma imagem religiosa como tantas outras, que com frequência adornam as paredes das casas dos devotos pertencentes às gerações mais antigas. Mas aquele pequeno quadro vale uma fortuna, porque segundo experts de arte, trata-se de uma pintura até agora considerada perdida de Cimabue, um dos maiores mestres da Renascença florentina.
Cristo Ridicularizado, têmpera de ovo, quadro do mestre Cimabue, considerado perdido e que acaba de ser encontrado na França.
Era considerado um pequeno quadro anônimo, escurecido pela fumaça do fogão, que por décadas permaneceu pendurado no mesmo lugar. E em vez disso, a obra – que tem 20,3 por 28,5 centímetros pertence nada menos que a Cimabue – cujo nome verdadeiro era Cenni di Pepo (viveu entre 1240 e 1302) –, o maior pintor italiano antes do advento de Giotto, do qual foi professor. Pintado a têmpera de ovo sobre um fundo dourado, o quadro representa um episódio violento e intenso da Paixão: Cristo Ridicularizado, no qual Jesus é exposto ao riso e a injúrias por parte dos soldados que o capturaram.
Stecher: Eimmart, Georg Christoph (der Æ’ltere)
Cimabue, grande mestre da pintura italiana pré-renascentista
Surpresa após avaliação
A descoberta ocorreu há poucos meses, quando a idosa proprietária decidiu se desfazer de parte dos seus bens e levou o quadro, junto a outros objetos, para um escritório de leilão de peças antigas, a Casa Actéon. Esta, por sua vez, enviou o quadro para avaliação à Maison Turquin, empresa parisiense fundada pelo expert em arte Eric Turquin e especializada em pinturas antigas. O quadro não é assinado – os pintores da época não costumavam fazê-lo -, mas após as análises feitas por vários peritos não existem dúvidas quanto a sua autenticidade. E há mais: o Cristo Ridicularizado seria um dos oito painéis de um políptico pintado entre 1280-1285 e do qual acreditava-se teriam sobrevivido apenas duas partes: a Flagelação (que hoje faz parte da Frick Collection, em Nova York) e a Majestade (que está na National Gallery de Londres). Se junta assim um outro painel à obra-prima perdida do mestre Cimabue. O quadro, por sinal, está em excelente estado de conservação, apesar de passar décadas sendo defumado por vapores de cozinha, e foi avaliado em cerca de 6 milhões de euros. Irá a leilão no dia 27 de outubro em Senlis, por esse lance mínimo.
O Cristo Ridicularizado mostra Jesus cercado por uma pequena multidão de homens, todos com expressão irada e injuriosa. Seu autor, Cimabue – do qual apenas 11 outras telas chegaram até nós – não assinou nenhuma delas, mas mesmo assim é considerado uma das maiores figuras das artes plásticas do período pré-renascentista. Influenciado pelo espírito franciscano, Cimabue rompeu com o formalismo rígido da pintura bizantina em voga na época, e procurou dar alma a seus personagens. Colocou a pessoa humana no centro das obras, o que significa um claro anúncio da Renascença. “Embora o quadro seja austero, existe uma forte emoção nos rostos e nos gestos”, diz o perito Eric Turquin.
Vídeo: Uma obra-prima na cozinha
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Crimes ambientai



Estados e empresas poluidoras devem ser levados à justiça internacional

O negacionismo climático aumentou o risco da mudança mundial catastrófica. Deveria o direito penal internacional ser usado contra aqueles que promovem essa tendência perigosa? Os líderes econômicos e políticos não podem mais fingir que se trata de manter a rotina de sempre (business as usual). Quer induzam danos ambientais de forma ativa, ou simplesmente ignorem a ameaça existencial contra a sobrevivência da espécie humana, os Estados e as empresas devem ser responsabilizados por suas ações ou pelo imobilismo em relação à mudança climática.
Por: Catriona McKinnon (*)
Um incêndio começou no teatro, do qual não há saídas. Sem controle, o incêndio matará e ferirá muitos no teatro, começando por aqueles que estão nos assentos mais baratos. Muitas pessoas podem sentir o cheiro da fumaça, mas outras ainda não o notam. Algumas pessoas estão tentando alertar a todos para que o incêndio possa ser contido antes que se alastre fora de controle. Outro grupo – a maioria sentada nos assentos mais caros – está tentando gritar em voz alta que não há incêndio, ou que não é sério, ou que ainda há tempo de sobra para apagá-lo. Este grupo usa linguagem emotiva e insiste que não se deve confiar no outro grupo.
“O negacionismo climático se beneficiou da generosidade da indústria de combustíveis fósseis”
Muitas pessoas no teatro estão confusas por essas mensagens conflitantes, ou convencidas por aqueles que negam o incêndio. Nesse conjunto de confusos/convencidos há pessoas suficientes para desacelerar, de maneira significativa, os esforços daqueles que ouvem os alertas corretos, aqueles que estão tentando apagar o incêndio. Nesse cenário, aqueles que gritam “Não há incêndio!” devem ser silenciados, pois há um incêndio que requer medidas urgentes e imediatas para impedir que ele se alastre e se torne incontrolável. No entanto, o incêndio não está sendo combatido de maneira adequada porque muitas pessoas no teatro não sabem em quem acreditar.
Podemos comparar aqueles que negam a realidade da mudança climática ao grupo que ocupa os melhores lugares do teatro? A resposta é óbvia: sim.
Acelerar a extinção da humanidade
As sanções penais são as ferramentas mais potentes que temos para balizar uma conduta que esteja além de todos os limites da tolerância. A conduta criminosa viola os direitos básicos e destrói a segurança humana. Reservamos o duro tratamento da punição para condutas que causam danos ao que há de mais fundamentalmente valioso para nós. A mudança climática está causando exatamente esses danos.
Ao longo dos últimos 250 anos aproximadamente, temos queimado combustíveis fósseis para produzir energia barata, destruído sumidouros de carbono, aumentado a população mundial, e não conseguimos deter a influência maligna dos interesses corporativos na ação política que poderia ter tornado a mitigação exequível. Agora, temos uma janela de apenas 10 anos ou menos para evitar o uso total do orçamento de carbono de 1.5 graus centígrados, de acordo com o Relatório Especial de 2018 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC). Se seguirmos em nossa atual trajetória de emissões sem uma mitigação agressiva, poderemos perceber o aquecimento na faixa de 4°C a 6,1°C acima das médias pré-industriais até 2100. Mesmo que todos os países cumpram suas atuais metas de mitigação no âmbito do Acordo de Paris de 2015 (COP21), provavelmente perceberemos um aquecimento de, pelo menos, 2.5 graus centígrados até 2100.
Catástrofe anunciada
Um aumento na temperatura de 4°C a 6,1°C até 2100 seria catastrófico. Grandes áreas da Terra se tornariam inabitáveis com as elevações do nível do mar e das temperaturas. Eventos climáticos extremos, quebras de safra, e conflitos causados pela migração em massa nunca antes vistos na história da humanidade, provocariam intensa pressão sobre os lugares habitáveis remanescentes. Nessas condições frágeis e turbulentas, o próprio  aumento do efeito do aquecimento poderia colocar a humanidade em risco de extinção, conforme publicou o periódico Futures, em setembro de 2018. Esse aumento ocorre quando se ultrapassa o limite de tolerância, ou seja, a hora no sistema climático em que o efeito não pode mais ser interrompido, ocasionando o desencadeamento de processos que agravam o aquecimento. Por exemplo, a floresta Amazônica, que deixou de ser a região que mais absorvia carbono no mundo para se transformar em uma fonte de emissão de carbono; ou o enorme recuo do gelo polar, que reduz o reflexo da luz do planeta e eleva a velocidade de seu processo de aquecimento. Esses limites de tolerância são descritos no quinto relatório de avaliação do IPCC (Fifth Assessment Report – AR5) como um limiar fundamental no qual o clima mundial ou regional muda de um estado estável para outro.
Os aumentos na temperatura de 4°C a 6,1°C não são prováveis, mas também não são ficção científica. Essa ameaça existencial se torna mais real a cada ano que passa sem uma mitigação agressiva para atingir a marca de zero emissão líquida até 2050. Mesmo que o Acordo de Paris aborde de maneira agressiva a ambição de mitigação para fechar o hiato de emissões até 2030, continua a ser o caso, pois já atingimos 1°C de aquecimento. Esperam-se novos aumentos na temperatura, devido ao intervalo de tempo entre as emissões e o aquecimento que elas induzem, e ao longo tempo de vida das moléculas de carbono na atmosfera.
Entre o comportamento irresponsável…
Deveríamos usar o direito penal para combater a mudança climática? A geração de pessoas vivas atualmente, no Antropoceno, é capaz de danificar e degradar o meio ambiente de tal forma que pode causar a extinção da humanidade. O “postericídio” é uma resposta moralmente necessária às novas circunstâncias da humanidade no Antropoceno. O escopo do direito penal internacional faz com que seja a esfera certa para enfrentar as ameaças existenciais criadas pela mudança climática. O direito penal internacional visa a proteger toda a comunidade humana, independentemente das fronteiras nacionais, agora e no futuro. O direito penal internacional expressa os valores que unem a comunidade humana ao longo do tempo. Ele assevera a condenação de “atrocidades inimagináveis que chocam profundamente a consciência da humanidade”– como previsto no Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (TPI) de 17 de julho de 1998, que define, inter alia, os crimes internacionais sobre os quais o TPI tem jurisdição.
Para que haja um crime, deve haver um criminoso. A morte e o sofrimento causados pelos impactos climáticos são profundamente chocantes, mas isso não é o bastante para instaurar um processo no âmbito do direito penal internacional. A morte e o sofrimento são causados por erupções vulcânicas, contudo, não há agentes culpáveis nesses casos.
A atual crise climática tem sido causada pela atividade humana dos últimos 250 anos aproximadamente, levando ao acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera. A crise climática é, em grande parte, uma consequência não intencional de ações ao longo da história que destruíram os sumidouros de carbono, aumentaram os fluxos de carbono, e concentraram os estoques de carbono. A maior parte dessa conduta está além do alcance legítimo do direito penal internacional, até porque as pessoas relevantes estão mortas. A maior parte, mas não tudo.
… e o “postericídio”
Propus que o direito penal internacional deva ser ampliado para incluir um novo crime que chamo de “postericidio”. Ele é cometido pela conduta intencional ou imprudente, apta a provocar a extinção da humanidade. O “postericídio” é cometido quando a humanidade é colocada em risco de extinção por conduta realizada com a intenção de tornar a humanidade extinta, ou com o conhecimento de que a conduta é adequada para ter esse efeito. Uma pessoa é imprudente quando ela age mesmo sabendo que sua conduta acarretará um risco inadmissível a outra. É nas condutas imprudentes, que provocam a mudança climática, que devemos identificar as condutas “postericidas”.
As emissões de uma única pessoa não são capazes de provocar a extinção da humanidade devido aos impactos climáticos – contudo, as emissões de muitos jatos particulares e poços de petróleo que as pessoas possuem podem provocá-la. Entretanto, indivíduos em seus papéis de líderes políticos e empresariais podem exercer amplo controle sobre o quanto a mudança climática pode piorar em consequência de sua ação. O presidente de um país pode retirar um Estado de um acordo mundial de mitigação; um diretor-executivo pode autorizar a retenção de informações sobre o progresso e os impactos da mudança climática, pelo fato dessas informações ameaçarem os resultados da empresa.
Em geral, os indivíduos têm controle sobre condutas que eles próprios não praticam, por exemplo, ao dar ordens diretas aos subordinados, ou em virtude de relacionamento especial com outras pessoas cuja conduta cause danos. Isso significa que podemos atribuir responsabilidade indireta aos indivíduos de poder, autoridade e influência dentro de grupos que, como coletivos, pioram a mudança climática a ponto de causar a extinção da humanidade. Assim como o direito penal internacional considera os líderes militares responsáveis pelo genocídio cometido por suas tropas, ele deve responsabilizar os líderes políticos e econômicos pelo “postericídio” cometido sob sua autoridade. Esses líderes devem ir a julgamento no TPI e serem responsabilizados pelos valores fundamentais compartilhados pela comunidade humana.
Negacionismo criminoso
Quem deveria ser processado por “postericídio”? Poderíamos começar examinando a estabelecida rede internacional de organizações, devidamente financiadas, dedicadas ao negacionismo climático organizado (Para saber mais sobre este assunto, leia o artigo Text-mining the signals of climate change doubt, na revista Global Environmental Change, volume 36, de janeiro de 2016). O epicentro dessa atividade está nos Estados Unidos. Um conjunto de grupos conservadores de reflexão tem deliberadamente enganado o público e os tomadores de decisões políticas sobre as realidades da mudança climática. O negacionismo climático ideologicamente motivado por esse conjunto tem sido financiado pela indústria de combustíveis fósseis, que incluem, por exemplo, a Koch Industries e a ExxonMobil. Esse negacionismo climático tem exercido um impacto significativo sobre a opinião pública e tem impedido a legislação para combater a mudança climática.
Responsabilidade penal indireta
Rex Tillerson [antigo CEO da ExxonMobil, que também serviu como Secretário de Estado dos Estados Unidos de fevereiro de 2017 a março de 2018], Charles Koch e David Koch [proprietários da Koch Industries] deveriam ser julgados pelo crime de “postericídio” no TPI? Suas responsabilidades penais indiretas seriam suscitadas pela autorização de vários atos de negacionismo climático praticados por outros, sem os quais, provavelmente, teria havido uma ação política agressiva inicial sobre a mudança climática.
O negacionismo climático dificultou muito os esforços agressivos de mitigação que poderiam ter evitado nossa atual emergência climática. Ele ampliou o risco que a humanidade enfrenta da catastrófica mudança climática mundial. Deveriam ser responsabilizadas  as pessoas em posições de autoridade nos Estados ou nos grupos industriais cujas mentiras nos colocou em perigo e também nossos descendentes. O dano causado pelos negacionistas climáticos é hediondo e eles não têm desculpas. Chegou o momento de processá-los por “postericídio”.
(*) Catriona McKinnon – Professora de Teoria Política na Universidade de Exeter, no Reino Unido, Catriona McKinnon publicou diversos artigos e livros sobre justiça climática e sobre tolerância e ideais políticos liberais. Atualmente, ela está concluindo uma monografia em que defende o “postericídio” (Endangering Humanity: an international crime), escrevendo um livro introdutório sobre justiça climática e pesquisando as questões éticas levantadas pela geoengenharia.

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Prazer de viver



As cinco chaves da felicidade segundo Carl Jung

O psicólogo Carl Jung dizia que para alcançarmos a felicidade precisamos, primeiro, desenvolver a capacidade de olhar para dentro de nós mesmos. Somente quando nos livramos dos condicionamentos e despertamos para a nossa realidade pessoal, quando trazemos para o consciente os conteúdos do inconsciente e deixamos as sombras para trás, seremos livres para alcançar as condições que nos fazem felizes.


Os passos preconizados por Carl Jung para ser feliz continuam muito atuais. O famoso psiquiatra suíço e fundador da psicologia analítica é mais do que aquela figura de conhecimento notável e variado que nos deixou conceitos como o inconsciente coletivo e os arquétipos.
Jung era um especialista na alquimia complexa de emoções, imagens e necessidades subjacentes ao ser humano. “Somos a origem de todo o mal”, disse ele uma vez em uma entrevista enquanto o mundo estava sob o véu da Guerra Fria. “As pessoas são feitas de medos e apenas a psicologia e a compreensão de quem somos poderão nos salvar”.
Jung sabia que, como espécie, éramos capazes do pior, mas também do melhor. Essa autorrealização em relação à esperança e ao bem-estar só é alcançada, segundo ele, através da individuação.
Esse termo-chave da psicologia junguiana também está ligado ao conceito de felicidade que Carl Jung tinha. Fazia referência ao processo pelo qual conseguimos nos tornar indivíduos psicológicos livres, mas unidos em todas as nossas partes; sem medos, sem angústias, formando uma totalidade onde nada fica na sombra, onde o inconsciente se torna consciente e conhecemos os nossos propósitos.
Essa ideia era a pedra angular do pai da “psicologia espiritual”, mas ele também foi capaz de nos dar uma lista simples daquelas dimensões que, segundo ele, poderiam nos levar à felicidade. Ele o fez durante uma série de entrevistas coletadas no livro C.G. Jung Speaking (1987). Vejamos em que consistem esses passos de Carl Jung para ser feliz.


“O privilégio desta vida é poder se tornar quem você realmente é”.
– Carl Gustav Jung –
Os passos de Carl Jung para ser feliz
Existem muitas listas clássicas de como ser feliz. Também sabemos que muitas delas caem em um positivismo desatualizado, sem serem realistas ou fornecer ajuda objetiva. As chaves de Carl Jung para ser feliz também podem parecer um pouco simples, mas elas têm um importante ponto de diferenciação.
O fundador da psicologia analítica apontou um detalhe importante. Se ficarmos obcecados buscando essas dimensões, o que conseguiremos é exatamente o oposto: ser infelizes.
Em vez disso, é necessário termos objetivos claros, mas sermos capazes de nos deixar levar, de sermos receptivos e intuitivos. Como o próprio Jung diria, capazes de vislumbrar essas sincronicidades que às vezes nos trazem coisas inesperadas e maravilhosas.


Vejamos, portanto, quais são as chaves de Carl Jung para ser feliz:
1. Boa saúde física e mental
Uma não é concebida sem a outra. A boa saúde deve ser física e também psicológica. O próprio Carl Jung especificou que a psicologia era, na verdade, a única ciência que poderia salvar os seres humanos e mediar o seu bem-estar.
No entanto, ele apontava que a psicologia não se destina apenas a tratar distúrbios psicológicos que favorecem o desconforto e o sofrimento. Perceber-nos como pessoas, esclarecer objetivos e saber quem somos também é chave para a felicidade, assim como para o bem-estar físico.
2. Ter bons relacionamentos
A qualidade das nossas relações sociais é, sem dúvida, um pilar que aparece em todo manual sobre felicidade. Não podemos viver desconectados dos nossos semelhantes, precisamos de carinho, amizade, segurança, amor, comunicação, compartilhamento e descoberta de novas perspectivas.
Além disso, aprender uns com os outros, cuidar e ser cuidado, cria vínculos sólidos e gratificantes.
3. A capacidade de perceber a beleza da arte e da natureza
A arte é um produto cultural criado pelo ser humano que vai além do sentido estético. Em cada obra, em cada produção, está contida a essência do ser humano.
Aí estão as suas emoções, a sua criatividade, os seus idealismos, o seu potencial psicológico e inovador, o seu domínio em moldar criações que surgiram primeiro na sua mente e naquele cenário inconsciente de que Jung falava.
Saber apreciar tudo isso também nos eleva, nos gratifica e nos faz felizes. Da mesma forma, é importante admirar a natureza, onde estão as nossas raízes, onde todos os seres e todos os cantos do nosso planeta podem nos dar excelentes lições de sabedoria.


4. Acreditar em algo, em uma religião ou filosofia
Entre os passos de Carl Jung para ser feliz, não poderia faltar a espiritualidade. Bem enraizada em uma doutrina religiosa ou em uma corrente filosófica, o fato de acreditar em “algo” oferece, de acordo com o pai da psicologia analítica, uma base para o bem-estar.
É se permitir dar contexto e origem a cada experiência, é sentir que há algo mais do que o meramente tangível, algo que oferece raízes e, ao mesmo tempo, sentido e propósito.
5. Um trabalho satisfatório
Carl Jung explicou em mais de uma entrevista que o seu objetivo e desejo na infância era ser um arqueólogo. Mais tarde, as circunstâncias o levaram a fazer o curso de medicina e se especializar em psiquiatria.
De alguma forma, ele conseguiu estruturar a sua paixão pela história, pela antropologia e a ansiedade de “cavar” na parte mais profunda do ser humano através da psicologia analítica.
Ter um trabalho satisfatório não é algo simples, mas se facilitarmos essa jornada profissional por meio de escolhas apropriadas e conhecendo os nossos ideais, acabaremos encontrando uma atividade profissional na qual nos sentiremos realizados. A felicidade também é dar aos outros o melhor de si mesmo, através de um trabalho bem feito, daquele trabalho pelo qual somos apaixonados e no qual somos bons.
Para concluir, seguindo o exemplo do filósofo grego Sócrates, Carl Jung dizia que para encontrar a felicidade, você precisa descer às profundezas de si mesmo. Devemos conscientizar a voz interior que existe em cada um de nós. Quando o fizermos, nos sentiremos livres e preparados para moldar a vida que desejamos.
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https://www.brasil247.com/oasis/prazer-de-viver-as-cinco-chaves-da-felicidade-segundo-carl-jung

Aniversário trevoso



Há 400 anos nascia a escravidão na América do Norte

Os primeiros africanos que chegaram por mar aos futuros Estados Unidos em 1619, não eram escravos, mas trabalhadores sob contrato. Aquele desembarque, no entanto, gerou as bases da sociedade escravagista norte-americana.

Por: Equipe Oásis
Em agosto de 1619, em Point Comfort, na Virgínia – primeira colônia inglesa na América do Norte -, ancorou a fragata White Lion. Ela levava a bordo vinte homens de origem africana (então chamados negroes) destinados a serem vendidos como trabalhadores. Três dias depois, no mesmo porto, chegou a nave Treasurer, carregada com outra “mercadoria humana”. Os dois eventos são tradicionalmente considerados o início do escravagismo norte-americano, embora muito provavelmente aqueles primeiros africanos chegados à Virgínia fossem comprados como “servidores por contrato”, seguindo uma modalidade de emprego muito difundida na época: a da “servidão por débito”.


De servos a escravos
Tratava-se de um sistema no qual a mão de obra não recebia nenhum salário, mas trabalhava durante um certo período de tempo para pagar algum débito contraído. Terminados os prazos contratuais, o servidor voltava a ser livre. A “servidão por débito” revelou-se no entanto pouco conveniente para os proprietários dos grandes cultivos, e assim sendo foi pouco a pouco substituída pelo sistema claramente escravagista, ou seja, baseado na posse do trabalhador. Serviram também de estímulo à implantação desse sistema as notícias vindas da Capitania de Pernambuco, no nordeste do Brasil, referindo o grande sucesso econômico e financeiro das plantações de cana de açúcar movidas pela mão de obra escrava. No Brasil, o sistema escravagista tivera início bem antes, já entre os anos de 1539 e 1542, com a implantação de um tráfico cada vez maior de escravos, controlado por africanos, portugueses, holandeses, ingleses e brasileiros.


Monumento comemorativo da chegada dos primeiros africanos no Estado da Virgínia, EUA. Encyclopedia Virginia: The landing of the first Negroes – Na América do Norte, a propriedade privada de seres humanos nasceu há 400 anos, com o primeiro transporte de vinte homens africanos que chegaram na condição de “servidores por débito”.
Superioridade da raça branca
Já no momento da declaração de independência dos Estados Unidos (4 de julho de 1776), todas as treze colônias originárias tinham sancionado a escravidão através de um código específico de leis denominado Slave Codes. Para legitimar a “propriedade privada de seres humanos” foi chamada formalmente em causa a superioridade da raça branca. Com a adoção da escravidão nos Estados Unidos foi colocada a peça faltante do “tráfico negreiro atlântico”, a mais imponente migração forçada de pessoas registrada em toda a história (foram mais de 11 milhões de africanos deportados para a América entre os séculos 16 e 19).


Mapa mostrando as principais rotas do Tráfico Negreiro Atlântico
Para garantir a estabilidade da organização escravagista, a legislação se empenhou no exercício de um forte controle social dos negros, impedindo a eles, por exemplo, a livre circulação, a agregação e em muitos casos a instrução. Da mesma forma que em outros países, entre eles o Brasil, isso não impediu que os escravos norte-americanos organizassem coalizões contra os seus patrões, embora cada tentativa de insurreição tenha sido sufocada com o derramamento de sangue e a aplicação de horrendas punições exemplares. Ficou célebre a revolta desencadeada em 1831 no Condado de Southampton, guiada pelo escravo predicador Nat Turner. Só naquela ocasião foram mortos mais de duzentos escravos: um número bem superior aos diretos responsáveis pela rebelião.


Foto do final do século 19 mostrando escravos norte-americanos e descendentes.
Tráfico interno 
A crescente demanda internacional de tabaco e sobretudo de algodão, bem como a difusão de novos empreendimento agrícolas no Sul do país provocou uma rápida expansão territorial dos Estados Unidos e desencadeou ao mesmo tempo um “tráfico interno” de escravos. Segundo dados fornecidos perlos pesquisadores David Eltis e David Richardson (Atlas of the Transatlantic Slave Trade, Yale Univ. Pr. 2010), nas décadas situadas entre a ratificação da Constituição dos Estados Unidos (1787) e a Guerra Civil (1861), o tráfico mobilizou cerca de um milhão de indivíduos, ou seja mais do que o dobro do número dos que foram deportados diretamente da África.
Gravura retratando um leilão de escravos norte-americanos
No início do século 19, a menos de 100 anos do seu nascimento, os Estados Unidos se acharam divididos em dois lados: no Sul se desenvolvia um modelo de vida rural, conservadora, baseada na exploração da mão de obra escrava; ao Norte a economia se orientara no sentido da produção industrial, e a escravidão fora gradualmente abolida desde o final dos século 18 quando ocorreu a sangrenta Guerra de Secessão norte-americana. Na base de tudo estava exatamente o desejo dos nortistas de impor o abolicionismo em todos os EUA, desejo que se fundia com o projeto de uma expansão industrial nas terras do Sul. De qualquer modo, no final da guerra, em 1865, entrou em vigor a 13a Emenda à Constituição dos Estados Unidos da América, que sancionava a abolição da escravidão. A liberdade fora finalmente conquistada, pelo menos no papel. Na prática, pode-se dizer que o processo de libertação e de resgate da comunidade afrodescendente norte-americana em vários aspectos se prolonga até os dias de hoje.

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https://www.brasil247.com/oasis/aniversario-trevoso-ha-400-anos-nascia-a-escravidao-na-america-do-norte

Rostos do passado




Arqueólogo reconstrói as faces de pessoas que viveram milhares de anos antes de nós

O arqueólogo sueco Oscar Nilsson é um artista forense excepcional: ele não recorre a recursos fornecidos pelos programas de computador, mas, como um escultor, usa as mãos para recriar vultos de pessoas que viveram há muito tempo

Por: Hidrèley e Airinga Cheerwin
Fonte: Site Bored Panda
A habilidade de alguns artistas forenses – profissionais dedicados à reconstrução do rosto de uma pessoa falecida – é realmente impressionante. O arqueólogo sueco Oscar Nilsson é um artista forense excepcional: ele não recorre a recursos fornecidos pelos programas de computador, mas, como um escultor, usa as mãos para recriar vultos de pessoas que viveram há muito tempo. Nilsson cria esculturas inacreditáveis desses indivíduos. Especialista em reconstruir faces humanas, ele pode gastar até 200 horas trabalhando em uma única escultura.
Suas obras são modelos em 3D de crânios encontrados em sítios arqueológicos, encontrados em bom estado de preservação. Por suas habilidades, Nilsson colabora com museus desde 1996, recriando ancestrais humanos para exibição.
“O rosto humano é um tema que nunca deixa de me fascinar: a variação da estrutura subjacente, bem como a variedade de detalhes, parecem infinitas. E todos os rostos que reconstruo são únicos”, explica o artista em seu website, https://www.odnilsson.com/
Confira alguns de seus trabalhos:


1. Huarmey Queen
Huarmey Queen é o nome que os arqueólogos deram para uma senhora pertencente à cultura Huari, encontrada em uma das 58 tumbas de mulheres nobres descobertas no nordeste do Peru, em 2012. Todas as tumbas eram luxuosas, especialmente a de Huarmey Queen, enterrada acompanhada de joias, ouro, uma taça de prata, um machado cerimonial de cobre e tecidos caros.
Este último fato é importante porque, naquela época, tecidos eram considerados mais valiosos do que ouro e prata, por exemplo, devido ao esforço necessário para fabricá-los – uma única peça de tecido poderia levar de duas a três gerações de artesãos para ser produzida. 
Os cientistas acreditam, pelos ossos de Huarmey Queen, que ela era uma tecelã, pois passou a maior parte do seu tempo de vida sentada, embora utilizando bastante também a parte superior do corpo. Além disso, sua tumba possuía ferramentas de tecelagem feitas de ouro.



2. Mulher da Idade da Pedra
Essa reconstrução é a de uma mulher jovem da Idade da Pedra que morreu cerca de 5.500 anos atrás na região de Brighton, no que é hoje o Reino Unido. Ela foi enterrada com um bebê ao seu peito, de forma que os cientistas desconfiam que a causa de sua morte foi alguma complicação no parto.
O DNA dessa mulher e de outros indivíduos da mesma época encontrados nas proximidades não estavam bem preservados, mas os pesquisadores supõem que o povo que habitava a área não era caucasiano, e sim tinha o mesmo tom de pele que os atuais nativos do norte da África.



3. Estrid Sigfastdotter
A partir de runas encontradas em sua tumba do século 11, os pesquisadores creem que a mulher acima foi Estrid Sigfastdotter, uma cidadã influente e rica que morava perto de Estocolmo, na atual Suécia.
Enquanto a expectativa de vida na Era Viking era de apenas 35 anos, Estrid viveu cerca de 80. Provavelmente, a mulher esteve envolvida na construção de estradas e pontes.


4. Adelaziy Elbakhusom
Este homem jovem, apelidado de Adelaziy Elbakhusom pelos cientistas, viveu no século 8 na Suíça. Seus ossos indicam que ele era malnutrido e possuía infecções crônicas, mas seus dentes eram saudáveis e bonitos, algo raro na época.


5. Homem viking
Este homem do século 11 morreu aos 45 anos e era provavelmente um viking. Os pesquisadores conseguiram extrair suficiente DNA de seus ossos para reconstruir sua aparência com precisão: ele era ruivo, tinha olhos azuis e pele clara.


6. Mulher neandertal
Essa mulher neandertal viveu entre 45 e 50 mil anos atrás. Seus restos foram encontrados em 1848 em Gibraltar. Nilsson comentou sobre sua reconstrução facial na rede social Facebook: “É interessante ver como a imagem dos neandertais mudou ao longo dos anos: antes vistos como seres selvagens, passaram a ser considerados concorrentes altamente qualificados da nossa espécie, a do Homo sapiens. Vale notar também que esta nova imagem coincide com a percepção de que os atuais europeus compartilham entre 2 a 4% de DNA com os neandertais”.


7. Homem neolítico
A face deste homem foi reconstruída a partir da análise de seu esqueleto de 5.500 anos atrás. Ele tinha entre 25 e 40 anos e era esbelto. À esquerda, o arqueólogo Nilsson retoca sua obra.


8. Avgi
Avgi foi uma adolescente de 18 anos que viveu 9 mil anos atrás, onde hoje é a Grécia. Ela testemunhou o momento histórico da revolução agrícola, uma época em que humanos estavam trocando a caça por invenções tecnológicas que possibilitaram o desenvolvimento de uma vida de tipo sedentário.


9. Homem da era saxônica
De acordo com os cientistas, os ossos desse homem sugerem que ele era muito forte e sofreu vários ferimentos resultantes de atos violentos. Talvez fosse um soldado. Devido aos abcessos permanentes encontrados em seu crânio, ele perdeu muitos dentes e parte de sua mandíbula superior. Pode ter morrido por causa do processo inflamatório, com aproximadamente 45 anos.


10. Birger Jarl
Birger Jarl foi um nobre sueco, regente do reino e governante da região com o título de jarl até a sua morte, em outubro de 1266.


11. Homem da Idade do Ferro
Este homem viveu cerca de 2.400 anos atrás na região da atual Grã-Bretanha. Era forte e saudável, porém, como muitos naquele tempo, morreu cedo, com cerca de 24 a 31 anos. Segundo os cientistas, tinha uma boa aparência e uma estrutura dentária única: possuía um diastema, aquele espaço extra que torna os dentes um pouco separados. O estilo de seu cabelo – um penteado conhecido como “nó da Suábia” – era semelhante ao usado por membros de tribos germânicas.


12. Homem medieval da Suécia
A datação por radiocarbono indicou que esse homem viveu durante o período entre 1470 e 1630. Ao mesmo tempo, a análise de seu esqueleto mostrou que ele sofria de “os acromiale”, uma deformação nos ossos do ombro claramente relacionada à prática frequente de tiro com arco longo. Sendo assim, os cientistas creem que esse indivíduo de meia-idade tenha vivido entre 1470 e 1540, uma vez que tais arcos deixaram de ser usados em meados do século 16.


13. Homem da Idade do Bronze
O homem acima morreu jovem, com 25 a 35 anos. Seus ossos indicam que era malnutrido e sofria de anemia.


14. Mulher romano-britânica
Essa mulher morreu jovem, com idade entre 25 a 35 anos, e seus ossos sugerem que teve uma vida difícil de muito trabalho físico pesado. Unhas foram encontradas perto de seu corpo, o que pode significar que o caixão foi mal fechado, ou pode simbolizar alguma superstição. Outros esqueletos da região foram descobertos com unhas nas proximidades. Talvez os indivíduos pensassem que isso impediria os espíritos dos mortos de os perseguirem.

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