Segundo a Bíblia no Livro de Gênesis 1 2 e o Alcorão 3 , Adão e Eva foram o primeiro casal criado por Deus. Adão (do hebraicoאדם relacionado tanto a adamá, solo vermelho ou do barro vermelho, quanto a adom, "vermelho", e dam "sangue") é considerado dentro da tradição judaico-cristã e islâmica como o primeiro ser humano, uma nova espécie criada diretamente porDeus. Teria sido criado a partir da terra à imagem e semelhança de Deus para domínio sobre a criação terrestre.
Tal como Adão, Eva, sua mulher, também foi criada directamente por Deus da costela de Adão. Algumas pessoas consideram que a palavra tsella foi erradamente traduzida por costela.4 O nome Eva deriva do hebraico hav.váh, que significa "vivente", e teria sido dado pelo próprio Adão. No grego, é vertido por zoé, que significa "vida", e não bios.
Adão e Eva foram colocados no Jardim do Éden para ali viverem e encherem a Terra com seus descendentes. Ambos, primeiramente Eva e depois Adão e teriam comido o fruto proibido da árvore da ciência (do "conhecimento do bem e do mal") criada por Deus, e após o ocorrido, de acordo com o relato bíblico, toda a humanidade ficou privada da perfeição e da perspectiva de vida infindável. Surgiria aqui para os judeu, muçulmanos e cristãos a noção de pecado herdado - tendência inata de pecar - e a necessidade de um resgate da humanidade condenada à morte. Após comerem do fruto proibido, Adão e Eva tiveram ciência de que andavam nus e por isso, esconderam-se ao notar a presença de Deus no Jardim do Éden. Deusexpulsou-os do jardim do Éden, e deu-lhes roupas provinientes de pele animal.
Adão e Eva foram pais de Caim, Abel, Sete, entre outros filhos e filhas. Segundo o Gênesis 5:5, Adão teria vivido 930 anos, alcançando até Lameque, pai de Noé, a oitava geração de sua descendência.
Índice
[esconder]Etimologia[editar | editar código-fonte]
Visão judaica[editar | editar código-fonte]
De acordo com a visão rabínica, o homem, ao ser criado à imagem e semelhança de Deus, estaria sendo assim um microcosmo das forças da criação, argumento do qual se ocupa maior parte da Cabala. Para Maimônides, apenas o homem apresenta livre-arbítrio um atributo considerado divino. Rashi explica que a imagem e semelhança trata-se de um arquétipo conceitual, modelo ou plano que Deus teria feito para o homem e incorporado no que é chamado de homem primordial Adam Kadmon.
Visão cristã[editar | editar código-fonte]
A Igreja Católica Apostólica Romana, assim como muitas outras religiões chamadas cristãs, condena o poligenismo, ou seja, que teriam existido vários casais humanos que deram origem a todo o resto da humanidade. A Igreja não condena, entretanto, a teoria da evolução, pois a forma com que surgiu a matéria corpórea não faz parte do depósito de fé da Igreja. A Igreja deixa aberta esta discussão, segundo a Carta Encíclica Humanis Generis, desde que o fiel creia que em algum momento Deus concedeu ao homem uma alma, que o diferenciou dos outros animais. Ainda segundo a Carta Encíclica Humanis Generis, o poligenismo não está em discussão, visto que esta ideia não se harmoniza com a explicação do pecado original, que foi cometido por apenas um homem. Sendo assim, ensinam a todos os fiéis que Adão e Eva são verdadeiramente os únicos primeiros pais da humanidade, criados por Deus, a quem Ele concedeu uma alma, e que foram criados sem defeito físico e espiritual, mas que havendo o desejo de tornarem-se como o seu criador, pecaram por desobediência e foram destituídos da graça santificante, fazendo com que toda humanidade caísse. Segundo o novo Testamento a remissão dos pecados pode ser adquirida pela fé na morte e ressurreição de Jesus Cristo para salvar a humanidade.
Ainda há outras correntes cristãs, que acreditam numa leitura mais literal da Bíblia, e portanto também creem na existência real dos personagens Adão e Eva, assim como mencionados no relato da criação.
Adão e Eva como parábola[editar | editar código-fonte]
Alguns teólogos ou cientistas cristãos tem procurado conciliar a história de Adão e Eva com a Teoria da Evolução.5
Teilhard de Chardin foi um padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês que logrou construir uma visão integradora entreciência e teologia. Através de suas obras, legou-nos uma filosofia que reconcilia a ciência do mundo material com as forças sagradas do divino e sua teologia. Disposto a desfazer o mal entendido entre a ciência e a religião, conseguiu ser mal visto pelos representantes de ambas. Muitos colegas cientistas negaram o valor científico de sua obra, acusando-a de vir carregada de um misticismo e de uma linguagem estranha à ciência. Do lado da Igreja Católica Apostólica Romana, por sua vez, foi proibido de lecionar, de publicar suas obras teológicas e submetido a um quase exílio na China.
"Aparentemente, a Terra Moderna nasceu de um movimento anti-religioso. O Homem bastando-se a si mesmo. A Razão substituindo-se à Crença. Nossa geração e as duas precedentes quase só ouviram falar de conflito entre Fé e Ciência. A tal ponto que pôde parecer, a certa altura, que esta era decididamente chamada a tomar o lugar daquela. Ora, à medida que a tensão se prolonga, é visivelmente sob uma forma muito diferente de equilíbrio – não eliminação, nem dualidade, mas síntese – que parece haver de se resolver o conflito."
O Padre Ariel Álvarez Valdez sustenta que trata-se de uma parábola composta por um catequista hebreu, a quem os estudiosos chamam de “yahvista”, escrita no século X AC, que não pretendia dar uma explicação científica sobre a origem do homem, mas sim fornecer uma interpretação religiosa, e elegeu esta narração na qual cada um dos detalhes tem uma mensagem religiosa, segundo a mentalidade daquela época6 .
John F. Haught, filósofo americano criador do conceito de Teologia evolucionista, diz que "o retrato da vida proposto por Darwin constitui um convite para que ampliemos e aprofundemos nossa percepção do divino. A compreensão de Deus que muitos e muitas de nós adquirimos em nossa formação religiosa inicial não é grande o suficiente para incorporar a biologia e a cosmologia evolucionistas contemporâneas. Além disso, o benigno designer [projetista] divino da teologia natural tradicional não leva em consideração, como o próprio Darwin observou, os acidentes, a aleatoriedade e o patente desperdício presentes no processo da vida”, e que “Uma teologia da evolução, por outro lado, percebe todas as características perturbadoras contidas na explicação evolucionista da vida”, sobre as idéias de Richard Dawkins, Haught declara que: “A crítica da crença teísta feita por Dawkins se equipara, ponto por ponto, ao fundamentalismo que ele está tentando eliminar”7 .
Ilia Delio, teóloga americana, sustenta que a teologia pode “tirar proveito” das aquisições de uma ciência que vê na “mutação” o núcleo essencial da matéria8 .
O Rabino Nilton Bonder sustenta que: "a Bíblia não tem pretensões de ser um manual eterno da ciência, e sim da consciência. Sua grande revelação não é como funciona o Universo e a realidade, mas como se dá a interação entre criatura e Criador"9 .
Patriarcalismo hebreu[editar | editar código-fonte]
Eva como metáfora[editar | editar código-fonte]
Segundo Joseph Campbell a "metade da população mundial acha que as metáforas das suas tradições religiosas são fatos. A outra metade afirma que não são fatos de forma alguma. O resultado é que temos indivíduos que se consideram fiéis porque aceitam as metáforas como fatos, e outros que se julgam ateus porque acham que as metáforas religiosas são mentiras".10 Uma dessas grandes metáforas é a de Eva. Campbell expõe que o Cristianismo, originalmente uma seita do judaísmo, abraçou a cultura e a história pagã e a metáfora da costela de Adão exemplifica o distanciamento dos hebreus da religião cultuada entre os antigos—o do culto à Mãe Terra, Mãe Cósmica ou Deusa mãe. Este culto insere-se dentro de um contexto social e religioso cujas raízes remontam aos registros pré-históricos do Paleolítico ou ainda a uma fase informe do mundo. Aarqueologia pré-histórica e a mitologia pagã registram esta origem do culto à´Deusa mãe na medida em que as mais remotas descobertas de uma religião humana remontam, inicialmente, ao culto aos mortos, e ao intenso culto da cor vermelha ou ocre associado ao sangue menstrual. Na mitologia grega, a chamada mãe de todos os deuses, a deusaReia (ou Cibele, entre os romanos), exprime este culto na própria etimologia: reia significa terra ou fluxo.11 Campbell argumenta que Adão foi criado a partir do barro vermelhoou argila.
A identidade da religião com a Mãe Terra, a fertilidade, a origem da vida e da manutenção da mesma com a mulher, seria, segundo Campbell, retratada também na Bíblia: …a santidade da terra, em si, porque ela é o corpo da Deusa. Ao criar, Jeová cria o homem a partir da terra, do barro, e sopra vida no corpo já formado. Ele próprio não está ali, presente, nessa forma. Mas a Deusa está ali dentro, assim como continua aqui fora. O corpo de cada um é feito do corpo dela. Nessas mitologias dá se o reconhecimento dessa espécie de identidade universal.12
Segundo Campbell, o patriarcalismo surgido com os hebreus deve-se, entre outras razões, à atividade belicosa de pastoreio de gado bovino e caprino e às constantes perseguições religosas que desencadeavam o nomadismo e a perda de identidade territorial.13Patriarcado é uma palavra derivada do grego pater, e se refere a um território ou jurisdição governado por um patriarca; de onde a palavra pátria. Pátria relaciona-se ao conceito de país, do italiano paese, por sua vez originário do latim pagus, aldeia, donde também vem pagão. Pátria, patriarcado e pagão tem a mesma raiz.
Eva e a representação da mulher no Cristianismo[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Mulher e religião
Devido ao fato de Eva ter partilhado com Adão o fruto da árvore proibida, justificou-se por longos anos no Cristianismo e no Judaísmouma suposta inferioridade da mulher. Principalmente porque, após o pecado original, Deus disse que a mulher seria governada pelo marido. Embora haja poucas informações na Bíblia sobre a vida da personagem Eva, é a mulher quem se faz presente na maioria dos diálogos do livro de Gênesis sobre a vida do primeiro casal da humanidade.
Após ser expulsa do Paraíso, Eva demonstra fé e gratidão a Deus nas palavras proferidas na ocasião do nascimento do primeiro e do terceiro filho. Assim, quando Caim nasce, Eva diz: Recebi do SENHOR um varão. (Gênesis 4:1)
As palavras de Eva, proferidas com o nascimento de Sete, demonstram fé e esperança, enquadrando a mulher no papel de companheira auxiliadora do homem, que estabelece um relacionamento de proximidade com Deus.
Historia de Adão e Eva nos apócrifos[editar | editar código-fonte]
De acordo com o Livro dos Jubileus, Adão e Eva teriam passado sete anos no Paraíso, antes de serem tentados pela serpente, e expulsos do Éden. E de acordo com O Primeiro Livro de Adão e Eva, eles quando saíram do jardim, receberam a ordem de habitarem numa caverna, que foi chamada de A Caverna dos Tesouros. O livro diz que eles sofreram muito após terem saído do jardim, principalmente no primeiro ano após a expulsão; por várias vezes tentaram cometer suicídio ou retornar ao Paraíso, até que tiveram os primeiros filhos (Caim, Abel e suas irmãs - não mencionadas na Bíblia).
Conforme O Primeiro Livro de Adão e Eva, o casal teria se arrependido amargamente, e alcançado perdão; e por várias vezes receberam de Deus a promessa de um resgate, de um redentor que nasceria na semente humana, para resgatar sua descendência, e essas promessas os consolavam.
Enfrentaram a hostilidade de Satã, que tentava matá-los, e os enganava transformando-se em anjo de luz, e dizendo-lhes ser um mensageiro celestial, incumbido de lhes trazer mensagens divinas. Mesmo estando fora do jardim, Adão e Eva ouviam a voz de Deus, que sempre lhes enviava sua palavra, respondendo suas indagações. Os apócrifos Vida de Adão e Eva e O Segundo Livro de Adão e Eva, dizem que o patriarca Adão morreu primeiro do que Eva, que continuou viva após a morte do primeiro homem. E o Livro "A História do Universo", diz que o jovem casal era perfeito em beleza e formosura.
Bar Hebraeus, em sua Cronografia, sumariza várias informações sobre Adão e Eva: Adão foi criado em uma sexta-feira, no sexto dia do mês Nisã, o primeiro mês do primeiro ano de existência do mundo14 . Citando Anianus, que se baseou no Livro de Enoque, Caim nasceu setenta anos após a expulsão do paraíso, Abel sete (ou setenta) anos apóis Caim, Abel foi morto com cinquenta e três anos e Sete nasceu cem anos depois (pois Adão e Eva passaram cem anos de luto)15 . Citando Methodius, Caim e sua irmã Klymianasceram trinta (ou três) anos após a expulsão do paraíso, Abel e sua irmã Labhudha trinta anos após Caim, Abel foi morto quando Adão tinha cento e trinta anos, e Sete nasceu quando Adão tinha duzentos e trinta anos16 .
Longevidade de Adão e dos patriarcas bíblicos[editar | editar código-fonte]
Segundo os versos de 3 a 5 do capítulo 5 de Gênesis, Adão teria sido pai de Sete aos 130 anos e viveu 800 anos gerando filhos e filhas. Na tabela abaixo tem-se uma melhor noção da longevidade alcançada por Adão e os seus descendentes:
nome | idade ao ser pai | idade ao morrer |
---|---|---|
Adão | 130 | 930 |
Sete | 105 | 912 |
Enos | 90 | 905 |
Cainan | 70 | 910 |
Mahalalel | 65 | 895 |
Jarede | 162 | 962 |
Enoque | 65 | 365 |
Matusalém | 187 | 969 |
Lameque | 182 | 777 |
Noé | 500 | 950 |
Sem | 100 | 600 |
Arpachade | 35 | 438 |
Selá | 30 | 433 |
Éber | 34 | 464 |
Pelegue | 30 | 239 |
Reú | 32 | 239 |
Serugue | 30 | 230 |
Naor | 29 | 148 |
Terá | 70 | 205 |
Abraão | 100 | 175 |
Isaque | 60 | 180 |
Historicidade da Narrativa de Adão e Eva[editar | editar código-fonte]
A arqueologia, paleontologia e antropologia, estabelecem o aparecimento do Homo sapiens sapiens (o homem moderno) a partir de outras espécies de hominídeos, há cerca de 160 mil anos, num período geológico muito recente, a partir da África, no Vale de Omo, no Sudoeste da Etiópia. Segundo os evolucionistas a evolução biológica da espécie humana seria o resultado da adaptação do Homo erectus (o antepassado do homem moderno) ao meio em que vivia. Desde então, o Homo sapiens teria evoluído, multiplicando-se cada vez mais, tornando-se na espécie dominante do Planeta.
Referências
- ↑ Gênesis 2:7
- ↑ Gênesis 2:22
- ↑ Alcorão, 2a sura, Al-Baqara, 35
- ↑ Psicanálise em curso
- ↑ Gabriela Carelli. Ciência não exclui Deus (entrevista com Francis Collins) Veja. Visitado em 22 de Outubro de 2012.
- ↑ Adão e Eva: origem ou parábola?, acessado em 20 de julho de 2010
- ↑ Entrevista com John F. Haught: Uma teologia da evolução precisa mostrar que a fé bíblica não contradiz o caráter evolutivo do mundo, acessado em 20 de julho de 2010
- ↑ Fé e evolução, binômio possível, traduzido a partir de entrevista publicada em 23 de agosto de 2008, acessado em 20 de julho de 2010
- ↑ Darwin e heresias, publicado no jornal O Globo de 03 de março de 2009, acessado em 20 de julho de 2010
- ↑ Tu és Isso: A Religião como Metáfora
- ↑ Theoi, Rhea
- ↑ As máscaras de Deus,p. 104
- ↑ Desvendando a sexualidade
- ↑ Bar Hebraeus, Cronografia, Os Patriarcas, de Adão a Moisés, A primeira série de gerações, que começou com os Patriarcas, 1.3.1. Texto traduzido para o inglês por Robert Bedrosian noseu site
- ↑ Anianus, citado por Bar Hebraeus, Cronografia, Os Patriarcas, de Adão a Moisés, A primeira série de gerações, que começou com os Patriarcas', 1.3.2'
- ↑ Methodius, citado por Bar Hebraeus, Cronografia, Os Patriarcas, de Adão a Moisés, A primeira série de gerações, que começou com os Patriarcas, 1.3.3
Ver também[editar | editar código-fonte]
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ad%C3%A3o_e_Eva