NA TERRA SÓ EXISTE UMA: A HUMANA
Do ponto de vista científico, os critérios de distinção racial não se sustentam. As migrações dos nossos ancestrais misturam os genes da espécie. Só existe uma única raça sobre a Terra: a humana.
18 DE JANEIRO DE 2018 ÀS 18:21 // INSCREVA-SE NA TV 247
Por: Equipe Oásis
O racismo é um sentimento que se assenta na mais pura ignorância. Na face da Terra existe uma única raça, a humana, e todos nós fazemos parte dela. Sem exceção.
O termo raça não é científico. Os seres humanos não permaneceram geograficamente isolados o suficiente para poderem criar variedades genéticas distintas. Desde sempre, o homem está em movimento na superfície do planeta e as muitas variedades da nossa espécie continuam a se diluir umas nas outras. Como demonstrou recentemente o geneticista italiano Luca Cavalli-Sforza, as civilizações não são estruturas fechadas e isoladas. Esse cientista simplesmente demoliu os fundamentos biológicos do conceito de raça.
Genes comuns a todos nós
A semelhança genética do gênero humano é fruto da convivência e das interações entre antepassados recentes e das migrações, que determinaram uniões e intercâmbios de genes entre indivíduos provenientes de áreas geográficas diversas. As características físicas predominantes de certas populações dependem, por outro lado, de um número extremamente reduzido de genes e foram selecionadas pelas condições ambientais.
Racismo X ciência
Richard Lewontin foi o primeiro geneticista a desmentir, sem sombra de dúvida, o mito da existência de diferentes raças humanas. Quando lhe perguntaram se acreditava na ideia de múltiplas raças, a sua resposta foi: “É claro, as raças existem”. Mas em seguida apontou para a própria cabeça e disse: “Elas estão todas aqui dentro”… Lewontin se referia, obviamente, à nossa imaginação: o único “lugar” onde as superficiais diferenças entre as diversas populações humanas ainda são levadas a sério. E então, é bom se perguntar, por que diante de evidências tão esmagadoras ainda temos dificuldade para abandonar esse preconceito?
Um mapa alemão do século 19 com a distribuição das raças.
Razões históricas – A ideia de que a espécie humana seja dividida em raças – entendidas como grupos distintos no interior da nossa espécie, cada uma delas caracterizada por traços físicos e comportamentos bem definidos -, nasceu por necessidades políticas no mundo pós-colonial e é, desde sempre, objeto de pesquisa e de discussão pela ciência. Mas tal ideia nunca foi demonstrada a partir de instrumentos científicos. A verdade é que, embora a maioria esmagadora do corpo científico (e não apenas dele) concorde em afirmar que raça é uma mentira destituída de fundamento, trata-se de uma ideia muito difícil de ser erradicada do modo de pensar e de sentir da maioria das pessoas em todo o mundo. A culpa é, provavelmente, da nossa história cultural e evolutiva; aparentemente, uma herança com raízes demasiado profundas para que possa ser erradicada de uma vez, apenas com a força da razão.
Classificações inúteis
As diferenças, evidentes e inegáveis, entre grupos humanos que povoam áreas diversas do globo remontam aos primórdios da nossa espécie; a ideia de que essas diferenças físicas (cor da pele, olhos mais abertos ou mais puxados, etc), frutos de adaptações ao meio ambiente, implicassem também em diferenças psicológicas e comportamentos profundos, a ponto de ser possível distinguir (e ordenar) as diversas populações do mundo, surgiu apenas no final do século 15. Foi nessa época que o colonialismo levou o homem branco ocidental, e a sua necessidade de conquista e domínio, a todos os cantos do mundo. Movidos por um sentimento irracional de superioridade, nos dois séculos seguintes os maiores antropólogos do mundo passaram a desenvolver ingentes esforços na tentativa de catalogar as presumidas raças, e a inventar um critério válido e universal para distingui-las entre si. O resultado de toda essa faina? Nada vezes nada.
Enquanto a comunidade científica (e também a eclesiástica católica) debatia a respeito do nada, a ideia de “raça” tornou-se o mais poderoso motor da nova economia mundial. O tratamento reservado às populações africanas deportadas para o Brasil, os Estados Unidos e outros países das Américas para serem reduzidas à escravidão, por exemplo, era a consequência direta da convicção de que elas pertenciam a uma outra raça, considerada intelectualmente inferior. No século 18, intelectuais do mundo todo inventaram a assim chamada scala naturae, uma espécie de ordem natural hierárquica de todas as espécies viventes, e colocaram as populações africanas um grau abaixo dos povos brancos europeus.
A implantação cada vez mais reforçada desses estereótipos na cultura popular, inclusive graças a um persistente esforço de propaganda promovido pela inteira classe intelectual da época, levou por fim às leis (norte-americanas e inglesas em primeiro lugar) contra os casamentos mistos.
Bordões “científicos” destituídos de fundamento
Nesse contexto, a antropometria – o estudo e a classificação das medidas e das proporções do corpo humano -, tornou-se o bordão científico onde os defensores desses estereótipos se apoiavam. Cada raça poderia ser definida por um preciso conjunto de números e estatísticas, uma ideia que não levava em consideração as mudanças entre uma geração e a sucessiva, e que eliminava totalmente do discurso a evidente variabilidade no interior da mesma “raça”.
Bastou repetir os estudos levando em consideração esses detalhes para se perceber como e o quanto a antropometria carecia de qualquer base. No início do século 20, Franz Boas publicou estudos que demonstravam quantas diferenças existiam entre uma geração e outra de uma mesma “raça”, e o quanto os valores médios de certos parâmetros se modificavam com o passar das gerações. Chegou-se depois disso a uma nova abordagem: a redescoberta das leis de Mendel sobre a hereditariedade foi o ponto de partida para os estudos sobre os traços genéticos puramente hereditários, úteis para distinguir as raças entre si. Mas também a genética não conseguiu encontrar nenhuma correlação entre raças e genes…
Hoje, quando já conhecemos bastante bem o nosso DNA, percebemos que as nossas diferenças são apenas de nuances desprezíveis em termos genéticos. Cada um de nós é separado dos outros seres humanos por uma porcentagem mínima do genoma: em média, cada homem é 99,5% bioquimicamente similar a outro ser humano, e essa porcentagem varia minimamente segundo a distância que separa as pessoas. Além disso, cada população mantem no seu interior quase 90% da variabilidade genética (ou seja, todas as variantes dos diversos genes) da nossa espécie. Esta é a razão pela qual tentar estabelecer limites e fronteiras é um exercício inútil.
São inválidas as objeções de quem compara as presumidas raças humanas às dos cães e dos cavalos. As raças desses animais são muito mais distintas entre si do que são as humanas. Todas as raças de cães, em particular, foram selecionadas para torna-las, por assim dizer, “homozigotas” em relação a alguns genes, que estão presentes apenas naquela raça e a definem como tal.
As raças humanas, portanto, existem apenas na nossa cabeça. Essa visão bipolar do “nós e eles”, ainda presente em tantas mentes na atualidade, é infelizmente uma realidade psicológica que possui raízes profundas na nossa história evolutiva.
Segundo essa visão, a ideia de raça já era embrionária desde os tempos dos caçadores-coletores: Uma sociedade na qual era fundamental conseguir classificar imediatamente alguém ou alguma coisa que não se conhecia, como aliado ou adversário. O que demonstra que, por mais duro e forte que ele mesmo acredita ser, todo racista vive aprisionado pelo temor do outro.
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