Não me envergonho do evangelho - Mas, dos evangélicos...
Nos primórdios da história bíblica Deus chamou um povo para si, Israel, e com ele estabeleceu uma aliança. Requeria deste povo um viver diferenciado dos modelos circundantes nas esferas do culto, da ética e na maneira de se organizar como Estado. O que...
dothCom Consultoria Digital
6 JUN 2011 - 00h00min
Nos primórdios da história bíblica Deus chamou um povo para si, Israel, e com ele estabeleceu uma aliança. Requeria deste povo um viver diferenciado dos modelos circundantes nas esferas do culto, da ética e na maneira de se organizar como Estado. O que se vê no desenvolvimento do cânon escriturístico é o fracasso de Israel, que não poucas vezes descumpriu a legislação estabelecida por Deus. Até hoje a distante nação do Oriente Médio colhe os frutos amargos de nunca ter compreendido claramente que deveria ser benção para as demais nações.
Entretanto, o povo da chamada nova aliança, representado pelos cristãos, sempre reproduziu esse modelo de desobediência. Basta olharmos para o que se vê, hoje, entre os cristãos evangélicos do Brasil. O culto oferecido a Deus por milhões de brasileiros está muito distante de considerar as bases bíblicas. Entre as aberrações aceitas com naturalidade está a doutrina da determinação, segundo a qual Deus é uma espécie de gênio da lâmpada, que está na Igreja somente para realizar as vontades pessoais. A centralidade de Deus na adoração também é discutível em muitos contextos, onde o homem se projeta de forma ascendente. Mas, é no campo da ética que o projeto de ser um povo alternativo mais enfrenta problemas pela Igreja "protestante". Não é exagero dizer que a maioria do povo evangélico do país compartilha das deformações existentes em nosso modelo político, nas instituições sociais e nos regimes econômicos. O ideal da "não conformação" tem sido esquecido por multidões de cristãos. Os sistemas de iniqüidade dificilmente são contestados. Estamos deixando de ser "protestantes" para sermos "massa de manobra" como bem definiu um político ao se referir aos evangélicos. Basta que os detentores do poder ofereçam determinadas benesses. A lista é extensa, incluindo a cessão de emissoras de rádio ou TV, recursos financeiros para determinados projetos, cargos, etc. Em muitos dos escândalos que envolvem nossa história recente a presença evangélica, lamentavelmente, se fez notar. Nesta semana, por exemplo, publicou-se que a maioria dos políticos envolvidos com a chamada "máfia das ambulâncias" é da bancada evangélica. Só em um Estado do país mais de 10 desses veículos estão nas mãos de uma denominação de peso na ufanista estatística de evangélicos brasileiros.
Estremeço quando penso que nos próximos meses, com a proibição dos chamados showmícios e de outros meios de divulgação das campanhas políticas, os púlpitos de muitas Igrejas se transformarão em palanques. E lá estarão para serem notados e citados muitos personagens da vida pública que jamais seriam aprovados por Deus, pelas "maracutaias" que fazem, como dizia em tempos idos o atual presidente do país. É pena, porque a Igreja perde a sua força profética, quando seus líderes se aliam a um ou outro grupo político e principalmente quando esses usufruem dos benefícios espúrios do poder. Só me tranqüilizo quando concluo que homens como o apóstolo Paulo, que tanto lutou contra "a conformação" dos cristãos aos sistemas dominantes, jamais defenderiam determinadas bandeiras partidárias. Por essas razões digo que "não me envergonho do evangelho", afinal ele é o poder de Deus para salvação dos que crêem. Lamento por esse "outro evangelho" que tem desviado multidões e produzido uma geração de evangélicos que dificilmente poderá influenciar positivamente o nosso país.
*Pastor da Igreja Presbiteriana de Aquidauana
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