investigação realizada pelo Pr. Psi. Jor Jônatas David Brandão Mota
001 GÊNESIS 1 - NO PRINCÍPIO
Estrofe 1
No princípio criou Deus os céus e a terra,
E a terra era sem forma e vazia,
E havia trevas sobre a face do abismo,
E o Espírito de Deus se movia.
Disse Deus: Haja luz; e houve luz.
E viu Deus que a luz era boa,
E fez separação entre luz e trevas,
Chamou à luz Dia, e às trevas Noite boa.
Estrofe 2
E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro.
E disse Deus: Haja firmamento, então,
No meio das águas com poder verdadeiro,
Para fazer separação.
Fez Deus o firmamento com Sua mão,
E separou as águas de cima e de baixo.
Chamou ao firmamento Céus com perfeição,
E passou mais uma noite e mais um facho.
Estrofe 3
Disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo do céu,
E apareça a porção seca com clareza.
Chamou Deus Terra à porção sem véu,
E Mares às águas com beleza.
Produza a terra erva verde,
Erva que dê semente segundo sua espécie,
E árvore frutífera que em si mesma conserve,
Fruto com semente, como a ordem obedece.
Refrão
E viu Deus tudo quanto havia feito,
E eis que era bom em todo aspecto.
Do nada brotou o mundo perfeito,
Pela Palavra e por Seu afeto.
Estrofe 4
Disse Deus: Haja luminares no firmamento,
Para fazerem separação do dia e da noite,
E para sinais, tempos e movimento,
E para governar o céu em açoite.
Fez dois grandes luminares com poder:
O maior para governar o dia,
E o menor para governar a noite ao entardecer,
Com as estrelas em harmonia.
Estrofe 5
Criou Deus os grandes peixes do mar,
E toda criatura vivente que se move.
Criou as aves para o ar voar,
Segundo sua espécie, como se prove.
E disse Deus: Frutificai e multiplicai,
Enchei as águas, povoai os céus.
E fez Deus os animais da terra, e mais:
O homem e a mulher à Sua imagem e céus.
Ponte
Mas em tudo que se chama Escritura,
No Velho ou no Novo Testamento,
Só é Palavra viva, justa e pura,
Se for coerente com Cristo — o fundamento.
Refrão
E viu Deus tudo quanto havia feito,
E eis que era bom em todo aspecto.
Do nada brotou o mundo perfeito,
Pela Palavra e por Seu afeto.
A PALAVRA DE DEUS É JESUS – O CRITÉRIO ABSOLUTO DE INSPIRAÇÃO
No capítulo 1 de Gênesis, lemos a grandiosa narrativa da criação, onde “Deus disse” e tudo passou a existir. Contudo, a compreensão do que realmente é Revelação Divina só pode ser feita à luz de Jesus Cristo, “o Verbo que se fez carne” (João 1:14), pois é Nele que habita corporalmente toda a plenitude de Deus (Colossenses 2:9). Jesus é a imagem do Deus invisível (Colossenses 1:15) e a expressão exata do Seu ser (Hebreus 1:3); por isso, nenhuma afirmação bíblica — seja no Gênesis ou em qualquer parte das Escrituras — pode ser considerada Palavra de Deus se contradiz a vida, os ensinos e o caráter de Cristo. Assim, toda leitura da criação deve evitar reducionismos literalistas ou mitológicos que obscureçam o que Jesus revelou como essencial: o amor, a comunhão, a humildade e a dignidade humana. O uso do plural “façamos o homem à nossa imagem” (Gênesis 1:26), por exemplo, embora interpretado teologicamente como referência trinitária, pode também refletir influências culturais do contexto babilônico e politeísta em que parte da narrativa foi estruturada — o que precisa ser purificado à luz da unicidade do Pai revelada por Jesus (João 17:3). Logo, todo trecho bíblico que não reflete o coração de Jesus deve ser discernido como acréscimo humano, ainda que com boa intenção, como já alertava o apóstolo Paulo: “o véu ainda está posto na leitura do Velho Testamento, o qual só em Cristo é removido” (2 Coríntios 3:14-16). Portanto, o critério absoluto para reconhecer a inspiração divina é a coerência com Jesus — tudo que se afasta Dele, ainda que esteja na Bíblia, é voz humana misturada à história da fé.
Estrofe 1
Assim os céus e a terra foram acabados,
E todo o seu exército em beleza e som.
Ao sétimo dia, Deus já descansado,
Do que fizera, cessou, pois tudo era bom.
Abençoou o dia sétimo com calma,
E o santificou, por nele ter repousado.
Estes são os céus e a terra, alma por alma,
No dia em que foram criados e moldados.
Estrofe 2
Nenhum arbusto ainda se via no chão,
Pois o Senhor Deus não mandara chover.
Não havia homem para a irrigação,
Mas um vapor da terra veio a crescer.
Formou o Senhor o homem do barro,
Soprou em suas narinas o fôlego da vida.
E foi o homem alma viva no amparo,
Da terra, seu corpo; do sopro, a lida.
Estrofe 3
Plantou o Senhor um jardim no Éden,
E ali pôs o homem que formara.
Fez brotar da terra tudo que sedem,
Árvores boas à vista e doce cara.
A árvore da vida no meio crescia,
E a do conhecimento do bem e do mal.
Um rio saía do Éden com alegria,
E se dividia em quatro cursos igual.
Refrão
Do pó nasceu a vida ao sopro de Deus,
No Éden de águas, plantas e fé.
Lá começou o amor entre os céus,
E o homem cuidava da criação em pé.
Estrofe 4
Tomou, pois, o Senhor Deus o homem,
E o pôs no jardim para o cultivar.
Ordenou: “De toda árvore come,
Mas daquela do meio deves te afastar.
Pois no dia em que dela comeres,
Certamente morrerás ao cair.”
Disse o Senhor: “Não é bom que soferes,
Far-lhe-ei uma ajudadora por vir.”
Estrofe 5
Formou da terra todo animal e ave,
E os trouxe ao homem pra nomear.
Mas entre eles, não achou-se a chave,
Ninguém que o pudesse acompanhar.
Então Deus o fez dormir profundo,
E da sua costela fez a mulher.
Disse o homem: “É carne do meu mundo,
Seremos um, na união que é mister.”
Ponte
Mas só é Palavra de Deus verdadeiro,
Se for coerente com Jesus e sua cruz.
Velho ou Novo, só é justo e inteiro,
O que reflete o amor que Ele nos conduz.
Refrão
Do pó nasceu a vida ao sopro de Deus,
No Éden de águas, plantas e fé.
Lá começou o amor entre os céus,
E o homem cuidava da criação em pé.
A REVELAÇÃO É CRISTOCÊNTRICA – JESUS COMO FILTRO DE GÊNESIS 2
O capítulo 2 de Gênesis apresenta uma segunda narrativa da criação, distinta da primeira, com traços mais antropomórficos e locais. Aqui, Deus forma o homem do pó da terra (v.7), planta um jardim, e molda a mulher da costela do homem (v.22). Essas imagens carregam beleza simbólica, mas não devem ser entendidas literalmente como regras universais da origem humana ou dos papéis de gênero. O próprio Jesus, ao comentar sobre essa narrativa, destacou o princípio do amor e da unidade no casamento (Mateus 19:4-6), sem jamais usar a história da costela como argumento para inferiorizar a mulher — o que alguns teólogos fizeram ao longo dos séculos. Jesus nunca hierarquizou os sexos, ao contrário: exaltou mulheres, como Maria, Marta, a samaritana, Maria Madalena, contrariando a leitura patriarcal que muitos extraíram deste capítulo. Por isso, mesmo Gênesis 2, que fala do “mandamento” de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, só pode ser verdadeiramente compreendido em Jesus, que revela que Deus é Pai, e não ameaça com morte, mas oferece reconciliação, graça e vida (João 10:10). Como afirmou João, “a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (João 1:17). Assim, todo trecho — inclusive o uso da imagem da mulher sendo criada como “auxiliadora” — deve passar pelo filtro da coerência com o Evangelho do Cristo que lavou os pés dos discípulos (João 13:14-15). O que for incompatível com esse espírito é acréscimo humano, oriundo de contextos históricos e culturais limitados, e não expressão plena da Vontade de Deus. A Palavra eterna é Jesus (Apocalipse 19:13), e apenas Nele se reconhece a verdade do que realmente vem de Deus.
É acréscimo humano se o texto for entendido como literal, pois nega a onisciência de Deus, já que criou todos os animais como macho e fêmea, e não fez isso com o ser humano, já que depois fará a mulher por perceber o homem sozinho.
Estrofe 1
Ora, a serpente era mais astuta,
Que qualquer besta do campo de Deus.
Disse à mulher, com fala astuta:
“É verdade que Deus vos proibiu os seus?”
E a mulher respondeu com certeza:
“Do fruto podemos comer sem dor.
Mas do que está no meio da beleza,
Disse Deus: não toques, nem morra de horror.”
Estrofe 2
Então disse a serpente sorrindo:
“Certamente não morrereis assim.
Vossos olhos serão luz surgindo,
E sereis como Deus, tendo um fim.”
Vendo a mulher que era bom para o gosto,
Tomou do fruto e dele comeu.
Deu também ao homem, sem desgosto,
E ele também do fruto recebeu.
Estrofe 3
Abriram-se os olhos dos dois na hora,
E perceberam que estavam nus.
Coseram folhas, cobrindo agora,
O que antes mostravam à luz.
Ouviram a voz do Senhor que andava,
Pelo jardim à brisa do dia.
E esconderam-se com alma calada,
Pois sabiam que perderam a alegria.
Refrão
A serpente mentiu, o saber corrompeu,
O homem caiu ao tentar dominar.
Mas Deus, que é justo, jamais se esqueceu,
E no fim prometeu: há de restaurar.
Estrofe 4
Chamou o Senhor: “Onde estás, Adão?”
E ele respondeu com medo no tom.
“Ouvi tua voz, me escondi então,
Pois estou nu, e vi que isso é bom?”
Disse Deus: “Comeste da árvore, sim?”
E Adão culpou a mulher que lhe deu.
A mulher apontou pra serpente no fim,
E Deus julgou cada um que errou seu.
Estrofe 5
Maldita és tu, serpente rastejante,
E à mulher, dores para gerar.
Ao homem: do suor constante
Comerás do chão, até voltar.
Fez roupas de peles, Deus os vestiu,
E os expulsou do Éden querido.
Colocou querubins e um fogo que viu,
Guardando a árvore da vida ao abrigo.
Ponte
Mas mesmo no Éden, com espada e dor,
Só é divina a Palavra que traz luz.
Do Velho ou Novo, é de Deus o amor,
Se for coerente com Cristo, Jesus.
Refrão
A serpente mentiu, o saber corrompeu,
O homem caiu ao tentar dominar.
Mas Deus, que é justo, jamais se esqueceu,
E no fim prometeu: há de restaurar.
A QUEDA SEGUNDO JESUS – DISCERNINDO GÊNESIS 3 À LUZ DO CRISTO
Gênesis 3 narra o que se convencionou chamar de “queda” da humanidade: a desobediência de Adão e Eva ao comerem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. No entanto, para compreender esse capítulo como Revelação de Deus e não como simples construção teológica cultural, é imprescindível que ele seja lido à luz de Jesus — a Palavra viva (João 1:14), a imagem exata do Pai (Hebreus 1:3). O texto descreve um Deus que busca o ser humano em sua culpa (“Onde estás?” – v.9), o que já indica uma face amorosa e relacional. Mas também atribui a Deus comportamentos que Jesus jamais adotou, como maldições (v.14-19), medo como mecanismo de controle (v.10) e a expulsão como castigo absoluto (v.23-24). No entanto, o Cristo revelado nos Evangelhos jamais amaldiçoa os caídos — Ele perdoa, acolhe e restaura. Ele não expulsa, Ele atrai (João 12:32). Se Deus fosse literalmente como aparece em Gênesis 3, Jesus teria vindo em contradição ao Pai — o que é teologicamente inadmissível (João 14:9). Por isso, devemos entender elementos desse capítulo — como a maldição da mulher e a hostilidade entre ela e o homem (v.16) — como acréscimos humanos contextualizados por culturas patriarcais que viam o sofrimento como punição divina. Jesus, porém, acolheu e libertou as mulheres, jamais reforçando culpa pelo pecado original (ver Lucas 8:1-3; João 4; João 8:11). Assim, como afirma 2 Coríntios 3:14-16, “o véu só é removido em Cristo”, e como cristãos, devemos discernir o que é revelação plena e o que é sombra de entendimento. Em toda Escritura — inclusive em Gênesis 3 — só é Palavra de Deus o que é coerente com o coração e os ensinamentos de Jesus, o Deus conosco (Mateus 1:23). O restante, ainda que simbólico ou bem-intencionado, é humano e temporário.
Estrofe 1
Conheceu Adão a sua mulher,
E concebeu Caim, o primeiro filho.
Depois deu à luz Abel, com prazer,
Que cuidava ovelhas com doce brilho.
Caim, lavrador, trouxe oferta do chão,
Abel, das primícias do rebanho fiel.
O Senhor se agradou da justa intenção,
Mas não de Caim, e ele ferveu em fel.
Estrofe 2
Disse o Senhor: "Por que estás irado?
Se fizeres o bem, não serás aceito?
Mas o pecado jaz ao teu lado,
Cumpre dominá-lo, com juízo e respeito."
Caim disse a Abel: “Vamos ao campo.”
E ali se levantou com inveja e mão.
Feriu seu irmão com ódio e pranto,
Primeiro sangue caiu ao chão.
Estrofe 3
Disse o Senhor: “Onde está teu irmão?”
Caim respondeu: “Sou eu seu guardador?”
“O sangue clama desde o chão,
És agora maldito, fujidor.”
A terra não dará mais força a tua mão,
Serás errante por onde for.
Caim temeu o peso da punição,
E clamou por misericórdia ao Senhor.
Refrão
Caim matou com a ira no olhar,
E a dor do sangue clama ao céu.
Mas mesmo caído, Deus quis marcar,
Prometendo graça sobre o papel.
Estrofe 4
Pôs o Senhor sinal sobre Caim,
Pra que ninguém ousasse o matar.
Saiu da presença, fim sobre fim,
E foi viver sem lar pra ficar.
Conheceu sua mulher, e geraram,
Enoque, que uma cidade fundou.
A linhagem seguiu, e outros marcaram
Instrumentos, tendas, ferro e arado.
Estrofe 5
Lameque tomou duas esposas então,
Fez poesia para se vingar.
Disse: “Matei por me ferir um irmão,
Se Caim foi vingado, eu vou multiplicar!”
Adão teve outro filho, Sete, nasceu,
Em lugar de Abel, que já não vivia.
Enos, seu filho, o povo conheceu,
E então invocaram o nome de Deus em dia.
Ponte
Mas em todo esse texto, antigo e pesado,
Só é de Deus o que traz reconciliação.
Velho ou Novo, se não for bondade ao lado,
Não tem coerência com Jesus, salvação.
Refrão
Caim matou com a ira no olhar,
E a dor do sangue clama ao céu.
Mas mesmo caído, Deus quis marcar,
Prometendo graça sobre o papel.
Estrofe 1
Conheceu Adão a Eva, mulher sua,
E concebeu e deu à luz a Caim.
Disse ela: “Alcancei do Senhor com a sua
Força este homem, fruto do meu jardim.”
Depois teve Abel, irmão do primeiro,
Pastor de ovelhas, manso e inteiro.
Caim era lavrador, do solo seu viver,
E ao Senhor vieram ofertas oferecer.
Estrofe 2
Abel trouxe das primícias do rebanho,
E o Senhor atentou com agrado real.
Mas Caim teve o rosto fechado de estranhos
Sentimentos, e o Senhor falou-lhe afinal:
“Se fizeres bem, não serás aceito?
Mas o pecado jaz à porta, imperfeito.
Sobre ti será o seu desejo profundo,
Mas cumpre dominá-lo neste mundo.”
Estrofe 3
Caim falou com Abel, e ao campo o levou,
Ali se levantou e o irmão matou.
Disse o Senhor: “Onde está teu irmão?”
“Não sei. Sou guardador do meu irmão, então?”
Disse Deus: “O sangue clama da terra,
És agora maldito, filho da guerra.
Quando lavrares, não darás mais fruto,
Errante serás, num caminho bruto.”
Refrão
Caim mata e foge, mas Deus põe sinal,
Que ninguém o mate, embora seu mal.
E o sangue de Abel, como oração,
Clama por justiça desde o chão.
Estrofe 4
Caim saiu da presença do Senhor,
E habitou em Node, ao leste do Éden.
Conheceu sua mulher com ardor,
E teve Enoque, o filho que sucedem.
Construiu uma cidade com seu nome,
E houve gerações, com arte e fome.
Lameque falou a suas duas esposas,
Sobre feridas e vinganças horrorosas.
Estrofe 5
Lameque disse: “Matei um moço, sim,
Por me ferir, serei vingado além.
Se Caim sete vezes é guardado enfim,
Eu serei setenta vezes, sem desdém.”
Adão teve Sete, outro filho da dor,
Em lugar de Abel, segundo o Senhor.
E Sete gerou Enos, em sua vez,
E começou-se a invocar a Deus com altivez.
Ponte
Mas a Palavra só é divina e luz,
Quando é coerente com o Deus Jesus.
Se fere, oprime ou gera exclusão,
Não é do Pai, nem sua direção.
Refrão
Caim mata e foge, mas Deus põe sinal,
Que ninguém o mate, embora seu mal.
E o sangue de Abel, como oração,
Clama por justiça desde o chão.
A VOZ DE DEUS SEGUNDO JESUS — LENDO GÊNESIS 4 COM OLHOS CRISTOCÊNTRICOS
O capítulo 4 de Gênesis apresenta o drama de Caim e Abel — o primeiro homicídio registrado nas Escrituras. É um texto repleto de significados humanos profundos, como inveja, frustração, liberdade de escolha e consequências trágicas. No entanto, à luz de Cristo, devemos aplicar um princípio fundamental: somente é Palavra de Deus aquilo que é coerente com os ensinos e atitudes de Jesus (João 14:9; Hebreus 1:1-3). Neste capítulo, Deus é retratado como alguém que rejeita uma oferta sem explicações explícitas (v.5), alimentando no leitor uma sensação de parcialidade, o que contrasta com a justiça e clareza de Jesus (Mateus 5:45; João 7:24). Jesus nunca exaltou sacrifícios rituais como expressão suprema de fé (Mateus 9:13), mas sim a misericórdia, o coração sincero e o amor ao próximo.
O capítulo também apresenta um “diálogo” divino com Caim que atribui a Deus a ideia de castigo, marca e maldição (v.11-15), mas paradoxalmente com um tom de proteção: “o Senhor pôs em Caim um sinal, para que ninguém o ferisse.” Este misto de punição e misericórdia revela uma teologia primitiva que tenta entender o justo e o compassivo, mas ainda longe da plenitude revelada em Jesus. Cristo jamais justificou violência como consequência da rejeição divina — pelo contrário, Ele nos chama à reconciliação até com nossos inimigos (Mateus 5:44) e a perdoar “setenta vezes sete” (Mateus 18:22). Assim, qualquer ideia de que Deus provocaria a inveja de um irmão, rejeitaria ofertas sem diálogo transparente, ou incitaria castigo, precisa ser revista como acréscimo humano, interpretado pela lente de um tempo e cultura distante da revelação plena do amor divino manifestado em Jesus.
Em síntese, Gênesis 4 é uma narrativa com elementos simbólicos e morais profundos, mas sua leitura como Palavra viva só se sustenta na medida em que for compatível com o Cristo que perdoa, explica, consola e não discrimina. Como ensina 2 Coríntios 3:16, somente quando o véu é retirado em Cristo, vemos a Escritura como ela realmente é.
Estrofe 1
Este é o livro das gerações de Adão,
No dia em que Deus o homem criou.
À semelhança divina formou com a mão,
Homem e mulher, e os abençoou.
Chamou-lhes "homem", no dia em que os fez,
E gerou um filho, Sete foi sua vez.
Aos cento e trinta anos, Adão gerou
Um semelhante a si, e assim nomeou.
Estrofe 2
Os dias de Adão foram longos, sim,
Oitocentos mais anos, filhos e filhas.
Vivendo novecentos e trinta no fim,
E então morreu, cessando suas trilhas.
Sete viveu cento e cinco ao gerar Enos,
E seguiu vivendo mais oitocentos anos bons.
Gerou filhos e filhas em todo esse tempo,
E morreu aos novecentos e doze, sem lamento.
Estrofe 3
Enos viveu noventa antes de gerar,
A Cainã, e depois longamente ficou.
Oitocentos e quinze seus dias no ar,
Até que aos novecentos e cinco, descansou.
Cainã gerou a Maalalel com setenta,
E viveu oitocentos e quarenta, com paciência lenta.
Ao final, seus dias foram novecentos e dez,
E também morreu, como o ciclo se fez.
Refrão
E os nomes se vão como folhas ao chão,
Contando os anos, geração por geração.
Mas só Enoque andou com o Eterno em paz,
E Deus o tomou, pois vida nele jaz.
Estrofe 4
Maalalel gerou a Jerede com sessenta e cinco,
E viveu mais oitocentos e trinta no caminho.
Seus dias fecharam aos oitocentos e noventa e cinco,
E morreu também, sem quebrar o pergaminho.
Jerede teve Enoque aos cento e sessenta e dois,
E viveu mais oitocentos, filhos e muitos depois.
Ao fim, viveu novecentos e sessenta e dois anos
E também morreu, como todos os humanos.
Estrofe 5
Enoque, porém, andou com o Senhor,
Gerou Matusalém aos sessenta e cinco de idade.
Duzentos e mais anos viveu com amor,
Andando com Deus com inteira fidelidade.
Então Deus o tomou e ele não mais foi visto,
Pois não viu a morte, foi um caso mais que misto.
Matusalém viveu novecentos e sessenta e nove,
O mais longevo de todos, forte como um carvalho que não move.
Ponte
Mas no rolo antigo, só é santa a lição,
Se for coerente com Cristo e seu coração.
Se o texto ferir o amor que em Jesus brilhou,
Então não é Palavra que o Pai inspirou.
Refrão
E os nomes se vão como folhas ao chão,
Contando os anos, geração por geração.
Mas só Enoque andou com o Eterno em paz,
E Deus o tomou, pois vida nele jaz.
LINHAGEM, MORTALIDADE E ESPERANÇA — LENDO GÊNESIS 5 À LUZ DE JESUS
Gênesis 5 apresenta uma genealogia, aparentemente simples, listando os descendentes de Adão até Noé. Embora à primeira vista pareça apenas um registro histórico, sua leitura cristocêntrica revela algo mais profundo. Cada nome, cada tempo de vida e cada morte mencionada ecoa a realidade da condição humana: a vida é passageira, e a morte, inevitável — como Paulo escreveu: “por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte” (Romanos 5:12). No entanto, à luz do Evangelho, este capítulo só pode ser compreendido como revelação de Deus quando apontar para a vitória de Cristo sobre a morte, a única esperança real oferecida ao ser humano (João 11:25-26; 1 Coríntios 15:22).
Neste capítulo, o destaque dado a Enoque — “andou com Deus e já não estava, porque Deus o tomou para si” (v.24) — é uma semente de esperança. A ausência de morte direta neste caso sugere uma ruptura com a cadência de morte presente em todos os demais. Enoque, portanto, é uma figura que, reinterpretada à luz do Novo Testamento, antecipa a promessa da vida eterna em Cristo, que também foi levado ao céu sem ver corrupção (Atos 2:31-33; Hebreus 11:5). Porém, a ideia de que os longos anos de vida (como 969 de Matusalém) expressam bênção precisa ser tratada com cuidado. Jesus nunca ensinou que longevidade era sinal de favor divino. Ao contrário, Ele valorizou a profundidade do amor e da entrega ao próximo, e não a extensão dos dias (Lucas 12:15-21).
Portanto, qualquer leitura que trate os nomes e números deste capítulo como garantias de glória ou méritos espirituais deve ser entendida como um acréscimo humano — uma tentativa legítima, mas limitada, de compreender a relação entre Deus e a humanidade. O que é Palavra viva neste texto é o que se harmoniza com Jesus: a certeza de que Deus caminha conosco (como Enoque), e que a morte, embora real, não é o fim para quem vive no amor do Pai (João 3:16). Tudo o mais deve ser lido com discernimento, pois — como disse o próprio Jesus — “examinais as Escrituras... e são elas que testificam de mim” (João 5:39).
Estrofe 1
Vieram os homens a se multiplicar,
Filhas nasceram para encantar.
Os filhos de Deus as viram belas,
E tomaram esposas entre elas.
Então disse o Senhor com dor:
“Meu Espírito não agirá sem amor.”
Centenas e vinte anos deixarei,
Antes que o fim eu mesmo trarei.
Estrofe 2
Naqueles dias estavam os Nefilins,
Homens gigantes, heróis sem fins.
Viram Deus que a maldade era densa,
Pensamento mau desde a infância intensa.
Arrependeu-se o Senhor de criar,
Pois viu a Terra a se corromper sem par.
Então declarou: "Destruirei o ser,
Desde o homem até o que vive a mover."
Estrofe 3
Mas Noé achou graça no Senhor,
Homem justo, íntegro e sem temor.
Na geração corrupta andava com Deus,
E três filhos teve sob céus seus.
A Terra encheu-se de violação,
E toda carne perverteu-se em ação.
Disse Deus: “Farei o fim chegar,
Com dilúvio tudo irei apagar.”
Refrão
Noé andou em meio à destruição,
Foi chamado à arca por revelação.
Obedeceu e salvou sua casa fiel,
Foi justo num mundo cruel.
Estrofe 4
Constrói uma arca de cipreste forte,
Com andares, janelas, contra a morte.
De cento e cinquenta metros será,
Pois a água tudo inundará.
Coloca animais de todo tipo e cor,
Machos e fêmeas, no tempo do Senhor.
Também alimentos devem ser guardados,
Pois novos dias serão sem fardos.
Estrofe 5
Noé obedeceu com todo o seu ser,
Fez tudo como Deus veio a dizer.
Foi o início do novo começo,
O justo salvando a fé em regresso.
A história antiga soa como voz,
Mas só é Palavra se vive entre nós:
No Velho ou Novo, só tem valor
Se revela o Cristo, nosso Senhor.
Refrão
Noé andou em meio à destruição,
Foi chamado à arca por revelação.
Obedeceu e salvou sua casa fiel,
Foi justo num mundo cruel.
JUSTIÇA E SALVAÇÃO — LENDO GÊNESIS 6 COM OS OLHOS DE JESUS
O capítulo 6 de Gênesis marca o início da narrativa do dilúvio e apresenta temas delicados, como corrupção humana, violência, juízo divino e a eleição de Noé. Contudo, para ser compreendido como Revelação verdadeira de Deus, esse texto — como todo o Velho e o Novo Testamento — precisa ser julgado à luz do caráter, das palavras e da vida de Jesus, que é a expressão plena da vontade do Pai (João 14:9; Hebreus 1:3). O Deus encarnado em Cristo nunca destruiu cidades, nunca afogou povos, nunca impôs castigos coletivos por causa do pecado individual. Ele salvou, acolheu, explicou, chorou e curou — inclusive no meio da maldade (Lucas 23:34; Mateus 12:20).
No capítulo 6, a afirmação de que “o Senhor arrependeu-se de haver feito o homem” (v.6) é teologicamente problemática quando confrontada com a imagem de Jesus. O arrependimento divino — uma ideia atribuída aqui a Deus — sugere inconstância ou falha no plano divino, o que se opõe à constância e à sabedoria de Jesus, que sabia o que estava no coração do homem e ainda assim os amava (João 2:24-25). O relato dos “filhos de Deus” tomando para si as “filhas dos homens” (v.2) também carrega ambiguidades que geraram interpretações místicas ou patriarcais ao longo da história. Nada disso está presente no Evangelho de Cristo, onde as pessoas são chamadas a amar e não a dominar ou corromper.
A figura de Noé, que "achou graça aos olhos do Senhor" (v.8), é a centelha de esperança e prefigura o conceito de justiça pela fé, como será retomado em Hebreus 11:7. Isso sim se alinha ao ensinamento de Jesus — a salvação pela confiança, e não pela violência ou destruição. Assim, a mensagem viva de Gênesis 6 está na graça que ainda resplandece em meio à decadência, mas toda atribuição de genocídio, pesar ou destruição a Deus deve ser lida como acréscimo humano de uma cultura que via o juízo como poder e o castigo como sinal de justiça.
Por isso, como princípio absoluto, só é Palavra de Deus aquilo que é coerente com Jesus — com o Cristo que salvou em vez de matar, que acalmou o mar em vez de o levantar contra as nações. E toda leitura bíblica, inclusive de Gênesis, deve ser feita sob esse filtro, como ensina 2 Coríntios 3:14-16: o véu só se retira em Cristo.
Estrofe 1
Disse o Senhor a Noé sem demora:
“Entra na arca, tua casa agora.
Dentre as gerações és justo e fiel,
Traga animais puros, macho e fêmea ao céu.
Dos puros, sete pares guardarás,
E dos impuros, apenas um traz.
Alimento para todos prepararás,
Pois o dilúvio logo cairá.”
Estrofe 2
Noé fez tudo como Deus mandou,
Com seiscentos anos, o tempo chegou.
Vieram animais de cada nação,
Entraram por pares na salvação.
A chuva caiu ao sétimo dia,
Águas do céu, da terra, em harmonia.
A arca flutuava por sobre os montes,
Enquanto os rios subiam suas fontes.
Estrofe 3
As janelas dos céus se abriram então,
E as fontes do abismo jorraram em vão.
Caiu água sobre a terra quarenta dias,
E Noé seguro com a família e as crias.
Tudo o que vivia fora da arca morreu,
Homem e fera, tudo se perdeu.
Mas Deus lembrava do justo e fiel,
Preservando a vida num barco de mel.
Refrão
O mundo afundou em juízo e dor,
Mas Noé guardou a ordem do Senhor.
Na arca estava a nova chance do bem,
Onde a justiça recomeça também.
Estrofe 4
As águas subiram quinze côvados além,
E encobriram todo o alto também.
Montes cobertos, não houve escapatória,
Sumiu da terra a antiga história.
A vida respira apenas no abrigo,
Onde Noé flutua com fé e contigo.
Tudo o que tem fôlego foi apagado,
Mas a promessa de vida havia chegado.
Estrofe 5
Cento e cinquenta dias durou a cheia,
E o coração de Deus se encheu de ideia.
Do Velho ao Novo, aprendemos então:
Só é Palavra o que aponta pra redenção.
Se revela amor, justiça e perdão,
Como em Jesus, o Deus da compaixão.
Pois toda Escritura é luz quando for
Imagem da graça do Cristo Senhor.
Refrão
O mundo afundou em juízo e dor,
Mas Noé guardou a ordem do Senhor.
Na arca estava a nova chance do bem,
Onde a justiça recomeça também.
SALVAÇÃO ENTRE AS ÁGUAS — LENDO GÊNESIS 7 À LUZ DE JESUS
Gênesis 7 narra o cumprimento do dilúvio: Noé entra na arca com sua família e os animais, e a terra é inundada por quarenta dias e quarenta noites. O texto revela um Deus que decide “desfazer de sobre a face da terra todo ser vivente” (v.4), incluindo homens, animais e aves. No entanto, para que este ou qualquer outro capítulo das Escrituras possa ser entendido como Revelação divina verdadeira, é preciso aplicar o critério que o próprio Cristo ensinou: somente é Palavra de Deus aquilo que é coerente com Ele, com seus ensinos e sua vida (João 14:9; Hebreus 1:1-3). Tudo o que contradiz o amor, o perdão, a não-violência e a dignidade humana proclamados por Jesus deve ser interpretado como acréscimo humano, mesmo que tenha sido escrito com reverência e zelo religioso.
Jesus jamais ensinou a destruição coletiva como caminho da justiça divina. Pelo contrário, repreendeu os discípulos que queriam fazer “descer fogo do céu” como Elias (Lucas 9:54-56), e ensinou que o Pai “faz nascer o sol sobre bons e maus” (Mateus 5:45), sem distinção. Diante disso, o genocídio descrito em Gênesis 7 não pode ser considerado diretamente como a vontade de Deus revelada em Cristo, mas deve ser lido como uma narrativa teológica construída por povos antigos que buscavam explicar catástrofes naturais e reafirmar a ideia de eleição e pureza de um grupo.
No entanto, a imagem da arca como abrigo em meio à destruição oferece um símbolo que o Novo Testamento ressignifica. Pedro afirma que a arca prefigura o batismo (1 Pedro 3:20-21), não como juízo, mas como salvação pela graça. Em Cristo, a água não destrói — ela purifica. Em vez de uma arca de madeira, somos chamados à comunhão com o próprio Cristo, nossa segurança em meio às tempestades.
Portanto, Gênesis 7 só pode ser visto como Palavra viva onde aponta para o cuidado de Deus com os justos e para a preservação da vida, e não onde atribui destruição em massa a um Deus de amor. Como afirma Paulo, “o amor é o cumprimento da lei” (Romanos 13:10) — e só o que permanece sob o amor de Jesus permanece como revelação. Tudo mais é história humana tentando compreender o eterno.
Estrofe 1
Lembrou-se Deus de Noé e da criação,
Fez passar um vento sobre a imensidão.
As fontes do abismo cessaram seu choro,
E as janelas do céu fecharam de novo.
A água recuava, a terra surgia,
Ao sétimo mês a arca repousaria.
Nos montes de Ararate firmou-se então,
Esperança brotou após tanta aflição.
Estrofe 2
Ao décimo mês, os cumes surgiram,
E as aves da arca saíram, e viram.
Um corvo voava e ia, voltava,
Até que as águas por fim secavam.
Depois Noé soltou uma pomba fiel,
Mas não achou onde pousar sob o céu.
Sete dias mais, e a pomba voou,
Trazendo um ramo: a vida voltou!
Estrofe 3
Esperou mais sete e de novo a soltou,
Mas agora a pomba não retornou.
Noé abriu a tampa, viu o chão enxuto,
E ouviu Deus falar: “É tempo absoluto.”
Sai da arca com tua família inteira,
Liberta os bichos, renova a bandeira.
Noé então erigiu um altar de verdade,
Ofertando animais com sinceridade.
Refrão
A terra secou e Deus renovou,
Com cheiro suave a nova aliança firmou.
Noé adorou com temor e razão,
E Deus prometeu: não haverá destruição.
Estrofe 4
Disse o Senhor: “Nunca mais amaldiçoarei,
A terra por causa do homem que criei.
Pois a inclinação do seu coração
É má desde a infância, sem redenção.
Mas não destruirei todo ser vivente,
Enquanto houver estação, semente e gente.
Dia e noite, verão e inverno,
Permanecerão do início ao eterno.”
Estrofe 5
E aprendemos, em Jesus, com clareza:
Só é Palavra o que traz Sua beleza.
Se reflete amor, perdão e luz,
É da vontade do Pai que é Jesus.
Pois toda Escritura tem sua missão,
Mas passa no crivo da encarnação.
Se aponta pra cruz, pra graça e perdão,
É Palavra do Deus que toca o chão.
Refrão
A terra secou e Deus renovou,
Com cheiro suave a nova aliança firmou.
Noé adorou com temor e razão,
E Deus prometeu: não haverá destruição.
UM DEUS QUE SE LEMBRA — LENDO GÊNESIS 8 À LUZ DE JESUS
O capítulo 8 de Gênesis descreve o recuo das águas do dilúvio, a arca repousando sobre o monte Ararate, e a aliança de Deus após o juízo. “Deus se lembrou de Noé” (v.1), diz o texto — e esse é o fio que costura todo o capítulo: o Deus que não esquece os que confiam n’Ele. No entanto, para que essa narrativa, como qualquer outra nas Escrituras, seja reconhecida como Revelação de Deus, é indispensável julgá-la à luz de Jesus, o Verbo feito carne (João 1:14), que nos mostrou o Pai como Ele é — manso, compassivo, não violento, e inteiramente justo (João 14:9; Hebreus 1:3).
A linguagem usada em Gênesis 8 reflete, por um lado, um retorno da paz e da ordem após o caos, mas, por outro, reforça a ideia de que a destruição foi necessária para reiniciar a história humana. Essa teologia da destruição purificadora contrasta com o modo como Jesus lidou com a corrupção e o pecado em sua época: ele nunca destruiu pecadores, mas os amou até o fim (João 13:1). Quando viu a cidade de Jerusalém corrompida, chorou por ela, mas não a afogou (Lucas 19:41-44). Por isso, ao lermos esse capítulo, a graça deve ser mais valorizada que o julgamento, pois ela é a essência da revelação cristã.
O envio da pomba por Noé (v.8-12), que retorna com um ramo de oliveira, é uma imagem belíssima — e profética. Ela reaparece no batismo de Jesus, quando o Espírito Santo desce como uma pomba (Lucas 3:22). Isso nos lembra que o verdadeiro renascimento da humanidade não vem pela destruição das águas, mas pela renovação do Espírito. A arca é sombra; Cristo é realidade. A pomba é símbolo; o Espírito é vida.
O sacrifício oferecido por Noé no final (v.20) mostra a tentativa humana de agradar a Deus com holocaustos. Mas no Novo Testamento, aprendemos que Deus se agrada do sacrifício de um coração quebrantado e de uma vida vivida em amor (Salmo 51:17; Efésios 5:2). O “cheiro suave” que sobe a Deus (v.21) deve ser compreendido, hoje, como o bom perfume de Cristo: a doação de si mesmo, e não a morte de outrem (2 Coríntios 2:15).
Por isso, reafirmamos: em Gênesis 8 — como em toda a Bíblia — só é Revelação o que for coerente com Jesus. O que nega sua misericórdia, o que endossa matanças, o que obscurece o amor, mesmo que esteja escrito, é acréscimo humano, fruto de culturas marcadas pelo medo e pelo poder. Pois como disse o próprio Jesus: “Quem me vê, vê o Pai” (João 14:9). E no Cristo, Deus nunca destrói — Ele lembra, salva e nos faz recomeçar em paz.
Estrofe 1
Abençoou Deus a Noé e seus filhos,
“Frutificai, multiplicai” — novos trilhos.
O temor de vós será sobre a criação,
Toda fera e ave sob vossa mão.
A carne com sangue, não comerás,
Pois nela está a vida que Deus nos traz.
Quem derrama sangue, do homem será cobrado,
Pois à imagem divina foi moldado.
Estrofe 2
“Vós, sede fecundos sobre a terra inteira,
Multiplicai, povoai a terra verdadeira.”
Disse Deus: “Minha aliança agora declaro,
Com vós e com os bichos que amparo.
Jamais exterminarei como antes fiz,
Mesmo se o mundo esquecer o que diz.
Meu arco nas nuvens será sinal,
Que a destruição não será o final.”
Estrofe 3
Noé e seus filhos ouviram, temeram,
As gerações novas da arca vieram.
Sem, Cam e Jafé, o mundo herdaram,
E em terras distintas os homens se espalharam.
Cam viu seu pai nu e zombou,
Sem cobriu com respeito e amor mostrou.
Noé despertou e o fato soube,
Proferiu bênçãos e maldição sobre a nudez.
Refrão
Deus fez aliança com o ser vivente,
Com arco no céu como elo presente.
Vida e justiça Ele sempre quis,
Mesmo após juízo, oferece a paz e o bem que diz.
Estrofe 4
Jafé seria grande e habitante das tendas,
Sem abençoado, com bênçãos tremendas.
Cam foi servirá, foi o que restou,
Das ações erradas que seu gesto mostrou.
A vida seguiu, Noé envelheceu,
Novecentos e cinquenta, e então morreu.
Gerações nasceram do pacto firmado,
O mundo se refez, num novo chamado.
Estrofe 5
Mas aprendemos à luz do Senhor,
Que só é Palavra o que vem do Amor.
Se o texto se opõe a Cristo, o Messias,
É sombra e ruído, não luz dos seus dias.
Jesus é o filtro da revelação,
É Ele o arco de reconciliação.
Noé aponta, mas Cristo é a aliança viva,
Não mais temor — agora graça ativa.
Refrão
Deus fez aliança com o ser vivente,
Com arco no céu como elo presente.
Vida e justiça Ele sempre quis,
Mesmo após juízo, oferece a paz e o bem que diz.
ALIANÇA E INTERPRETAÇÃO — LENDO GÊNESIS 9 À LUZ DE JESUS
Gênesis 9 apresenta a aliança de Deus com Noé e todos os seres vivos após o dilúvio, prometendo nunca mais destruir a terra por meio de um juízo aquático. O arco-íris se torna sinal eterno dessa promessa. No entanto, também neste capítulo, há um episódio polêmico e frequentemente usado como justificativa teológica de opressão: a maldição de Canaã (filho de Cam) por causa do ato de seu pai. Por isso, precisamos recordar que toda Escritura só pode ser lida como Palavra de Deus quando for coerente com Jesus — o Deus encarnado, cheio de graça e verdade (João 1:14), a revelação perfeita da vontade do Pai (Hebreus 1:3).
A aliança feita com Noé (v.8–17) é abrangente: inclui não só a humanidade, mas todos os animais da terra. Jesus amplia ainda mais essa visão: Ele não apenas salva a criação, mas a reconcilia com Deus (Colossenses 1:20). O arco no céu é símbolo de paz; Jesus é o arco encarnado — a ponte entre o céu e a terra, que garante reconciliação e vida abundante para todos os povos.
Mas é no episódio de Noé embriagado (v.20–27), e na consequente maldição de Canaã, que a leitura cristocêntrica se torna essencial. Ao longo da história, essa maldição foi deturpada para legitimar escravidão, racismo e violência institucional, especialmente contra povos africanos. No entanto, Jesus jamais amaldiçoou alguém com base em descendência, cor ou cultura. Pelo contrário, Ele acolheu cananeus (Mateus 15:22–28), samaritanos e todo tipo de estrangeiro. Portanto, qualquer interpretação que use Gênesis 9 para justificar dominação ou exclusão é um acréscimo humano, fruto de preconceito e não do Espírito de Cristo.
O apóstolo Paulo afirmou que “em Cristo não há judeu nem grego... escravo nem livre” (Gálatas 3:28). Ou seja, toda estrutura de superioridade é dissolvida na cruz. Assim, Gênesis 9 só pode ser considerado revelação quando anuncia a aliança de paz e respeito pela vida, e não onde ecoa antigas visões tribais de maldição, castigo hereditário ou destino racial.
Por fim, como em todo o Velho e Novo Testamento, apenas aquilo que reflete o caráter amoroso, inclusivo e libertador de Jesus é verdadeiramente Palavra de Deus. O restante é voz humana — religiosa, talvez bem-intencionada — mas limitada por sua época, cultura e visão. O filtro final continua sendo o próprio Cristo: a imagem exata do Pai (Hebreus 1:3), o único Senhor da Palavra.
Estrofe 1
Estas são gerações dos filhos de Noé,
Sem, Cam e Jafé, que a terra povoou.
Filhos nasceram após o dilúvio,
E cada linhagem seguiu seu fluxo.
Jafé teve Gômer, Madai, Javã,
Togarma, Tiras e o povo afã.
Ilhas e nações por eles surgiram,
Segundo línguas e terras se dividiram.
Estrofe 2
Os filhos de Cam, Cuxe e Mizraim,
Pute e Canaã, por terras sem fim.
Cuxe gerou Ninrode, o caçador,
Rei de Babel e grande dominador.
Cidades erguidas: Ereque, Calné,
Na terra de Sinar, onde o orgulho é fé.
De Mizraim, saíram povos antigos,
Filisteus, casluins, com seus vestígios.
Estrofe 3
Canaã gerou Sidom, Hete e jebuseu,
Amorreu, girgaseu, os que Israel conheceu.
Depois veio Sem, irmão de Jafé,
Pai dos hebreus e sua fé.
Elão, Assur, Arfaxade, e mais,
Lud e Arã, de passos ancestrais.
Arfaxade foi pai de Selá,
Que gerou Héber, raiz de Judá.
Refrão
De Noé vieram as multidões,
Divididas em línguas e nações.
Mas Deus, entre os povos, olha o coração,
Mais que linhagem, Ele busca intenção.
Estrofe 4
De Héber nasceram dois filhos enfim,
Um se chamou Pelegue — tempos sem fim.
Em seus dias, a terra foi repartida,
Gerações seguiam, formando a vida.
Outros nomes surgem: Jectã, Almodá,
Hazarmavé, Jerá, nomes sem par.
Regiões da Mesá até Sefar,
Montes do Oriente, onde iam habitar.
Estrofe 5
Essas são as famílias dos filhos de Noé,
Conforme nações, línguas e sua fé.
Povos divididos por gerações,
De onde surgiram civilizações.
Mas toda Escritura só é luz e verdade,
Se refletir Jesus e Sua bondade.
Pois Ele é a Palavra que encarna o amor,
Do Velho ao Novo, o puro resplendor.
Refrão
De Noé vieram as multidões,
Divididas em línguas e nações.
Mas Deus, entre os povos, olha o coração,
Mais que linhagem, Ele busca intenção.
ORIGENS E FRONTEIRAS — LENDO GÊNESIS 10 À LUZ DE JESUS
O capítulo 10 de Gênesis é conhecido como a “Tabela das Nações”. Nele, são listadas as descendências dos filhos de Noé — Sem, Cam e Jafé — e a origem dos povos que se espalharam pela terra após o dilúvio. Embora o texto tenha um valor histórico e antropológico relevante, é fundamental lembrar que nenhuma lista genealógica ou classificação é Palavra de Deus em si, a menos que esteja em harmonia com o espírito de Jesus, que veio derrubar as barreiras entre os povos, não reforçá-las (Efésios 2:14).
Jesus não fez acepção de pessoas (Atos 10:34-35), e em seus ensinamentos, jamais separou ou hierarquizou povos por origem genealógica. Ele elogiou a fé do centurião romano (Mateus 8:10), conversou com a mulher samaritana (João 4:7-26), e usou um samaritano como exemplo de amor ao próximo (Lucas 10:30-37). Portanto, qualquer leitura de Gênesis 10 que sugira superioridade racial ou divisão étnica como parte da vontade divina é um acréscimo humano, e não a revelação do Reino de Deus.
Essa genealogia, por exemplo, foi usada ao longo da história para justificar imperialismos, escravidão e segregação — especialmente a partir da associação da descendência de Cam com povos africanos. Essa associação é historicamente forçada e teologicamente contrária ao Evangelho, pois Jesus nunca determinou o valor de alguém pela ancestralidade, mas sim pelo amor e fé com que vive.
Ler Gênesis 10 à luz de Cristo é lembrar que todas as nações mencionadas, e aquelas que surgiram depois, estão convidadas à mesma comunhão com Deus, pois “Deus amou o mundo” — o mundo inteiro (João 3:16). E, ao final dos tempos, “gente de todas as tribos, povos, línguas e nações” adorará diante do trono (Apocalipse 7:9). Esse é o plano de Deus revelado em Jesus: não a separação genealógica, mas a reconciliação universal.
Portanto, reafirmamos: em qualquer capítulo das Escrituras — inclusive em Gênesis 10 — só é Palavra de Deus o que for coerente com Jesus. O resto é voz humana, limitada por sua cultura e tempo. Em Cristo, toda genealogia culmina num só destino: a fraternidade universal dos filhos e filhas de Deus.
Estrofe 1
E era toda a terra uma só língua,
E de uma mesma fala, era a tribo antiga.
Partiram do oriente e encontraram um vale,
E em Sinear, fundaram sua base.
Disseram: “Façamos tijolos e queimemo-los bem”,
“Vamos edificar cidade, torre além.”
Para não sermos espalhados pela nação,
Levantemos alto nome, uma só direção.
Estrofe 2
Então desceu o Senhor para ver,
A cidade e a torre a construir.
E disse: “Eis que são um só povo,
E só uma língua fluem de novo.
Agora nada lhes será impedido,
Pois tudo quanto intentam será seguido.”
Disse Deus: “Confundamos sua linguagem”,
“Para que não haja mais essa viagem.”
Estrofe 3
O Senhor os espalhou dali,
E cessaram de construir o que ali.
Chamou-se Babel, pois ali a fala,
Foi confundida, e dispersa a sala.
Depois disso, se seguem os descendentes,
Desde Sem até Abrão, firmes e crentes.
Cada geração marcada no tempo,
Vivendo sob o divino intento.
Refrão
Na torre, o orgulho fez o chão tremer,
Mas Deus confundiu o querer do poder.
E por meio de Abrão, um novo caminho,
Surgiu pela fé, em santo pergaminho.
Estrofe 4
Sem teve Arfaxade, que gerou Selá,
Depois veio Héber e sua linhagem já.
Pelegue e Reú, Serugue e Naor,
Tera e Abrão, que encontrou o Senhor.
Eles habitaram em Ur dos caldeus,
Mas foram chamados a deixar os seus.
Tera morreu em Harã, com dor,
Mas Abrão seguiria ao Deus de amor.
Estrofe 5
Aqui termina a linhagem bendita,
Mas começa uma história infinita.
Deus confundiu a torre do orgulho,
E escolheu Abrão como novo mergulho.
E mesmo nesta história tão remota,
Só é divina a Palavra que brota,
Se nela houver o perfume de Jesus,
Caminho de graça, verdade e luz.
Refrão
Na torre, o orgulho fez o chão tremer,
Mas Deus confundiu o querer do poder.
E por meio de Abrão, um novo caminho,
Surgiu pela fé, em santo pergaminho.
UNIDADE E DIVISÃO — LENDO GÊNESIS 11 À LUZ DE JESUS
Gênesis 11 relata a construção da Torre de Babel, um evento simbólico que explica a origem das línguas e a dispersão dos povos pela terra. No entanto, para entender este capítulo como verdadeira revelação divina, é essencial aplicar o princípio central de toda a Escritura: só é Palavra de Deus o que for coerente com Jesus, o Deus conosco, revelado em amor, graça e reconciliação (João 1:14; 14:6). O Velho Testamento, o Novo e toda tradição cristã devem ser interpretados à luz do ensinamento e da vida de Cristo, que unificou a humanidade em sua missão de salvação (Efésios 2:14-18).
A narrativa da Torre de Babel, na qual a humanidade tenta construir uma torre para alcançar o céu e fazer um nome para si, revela o orgulho e a tentativa humana de autonomia que gera divisão e confusão (v.1-9). Porém, Jesus veio derrubar as barreiras que separam as pessoas — de língua, raça, cultura ou condição social — trazendo reconciliação e comunhão entre todos os povos (Atos 2:1-12; João 17:20-23). Assim, o episódio de Babel deve ser compreendido não como uma condenação eterna à separação, mas como um alerta sobre a soberba humana, que Jesus cura ao estabelecer um novo caminho de unidade.
O capítulo mostra que a diversidade linguística e cultural surgiu de um juízo divino, mas em Cristo, essa diversidade é transformada em riqueza e celebração da criação de Deus (Apocalipse 7:9). Qualquer leitura que use Gênesis 11 para justificar segregação, discriminação ou exclusão não está em consonância com a revelação do amor de Deus em Jesus.
Portanto, em Gênesis 11, assim como em todo o Velho e Novo Testamento, somente aquilo que ressoa com o caráter e a missão de Jesus deve ser entendido como Palavra inspirada e vontade verdadeira de Deus. O restante, ainda que parte da tradição sagrada, pode conter elementos de interpretação humana, cultural e histórica, passíveis de revisão e compreensão à luz do Evangelho.
Títulos dos eventos registrados em Gênesis 11:
-
A humanidade fala uma só língua e quer construir uma cidade e uma torre para alcançar o céu (vv.1-4)
-
Deus observa a obra e decide confundir a linguagem para impedir a construção (vv.5-7)
-
A dispersão da humanidade sobre a terra e o fim da construção da cidade, que recebe o nome Babel (vv.8-9)
-
Genealogia de Sem e seus descendentes até Abraão (vv.10-32)
Estrofe 1
Disse o Senhor a Abrão, com poder:
“De tua terra terás que sair,
Da tua parentela e do teu ser,
Uma nova terra irás possuir.
Farei de ti grande nação,
Abençoarei o teu coração.
Te engrandecerei, serás bênção,
E em ti todas as famílias terão salvação.”
Estrofe 2
Partiu Abrão como o Senhor falou,
E Ló com ele também caminhou.
Tinha setenta e cinco ao obedecer,
Saindo de Harã sem retroceder.
A terra de Canaã então alcançou,
Ali edificou altar e adorou.
Mas ao sul desceu por necessidade,
Pois veio a fome com intensidade.
Estrofe 3
Desceu ao Egito para ali habitar,
Com Sarai, sua esposa a caminhar.
Por sua beleza, temeu morrer,
E pediu que dissesse: “Irmã a me ser”.
O Faraó tomou Sarai ao seu lar,
E pragas Deus fez logo se manifestar.
O rei descobriu e Abrão despediu,
Com gado, prata e ouro que ele angariou.
Refrão
Deus chamou, e Abrão foi sem saber,
Crendo que o Senhor iria prover.
Mesmo em erro, foi protegido,
Pois Deus fiel não deixa esquecido.
Estrofe 4
Mesmo com falha e hesitação,
Abrão seguiu com convicção.
Errou com medo, mas Deus o guardou,
Pois sabia quem o chamou.
Com bênçãos partiu do Egito a sorrir,
E à terra prometida tornou a ir.
Ali reconstruiu o seu altar,
E ao nome do Senhor voltou a clamar.
Estrofe 5
Esse chamado é mais que missão,
É um convite à transformação.
Mas toda Escritura, com santa atenção,
Só é Palavra de Deus em Jesus, a encarnação.
Se em qualquer livro faltar sua voz,
Não serve de guia nem para nós.
Pois o Cristo vivo é o Verbo fiel,
A Luz que desceu do eterno céu.
Refrão
Deus chamou, e Abrão foi sem saber,
Crendo que o Senhor iria prover.
Mesmo em erro, foi protegido,
Pois Deus fiel não deixa esquecido.
CHAMADO E PROMESSA — ENTENDENDO GÊNESIS 12 À LUZ DE JESUS
Gênesis 12 narra o chamado de Abrão (Abraão) por Deus para sair de sua terra e família e caminhar rumo a uma promessa que envolve a bênção para todas as nações. Este capítulo é fundamental para a história da salvação, pois marca o início da aliança divina com o povo escolhido. No entanto, como em todo o Velho e Novo Testamento, é imprescindível lembrar que somente o que for coerente com Jesus Cristo — que cumpre as promessas de Deus em amor, justiça e salvação para todos — deve ser considerado verdadeira revelação divina (Lucas 24:27; João 5:39; Hebreus 1:1-3).
Jesus é a realização da promessa feita a Abraão, o bendito por Deus para que em sua descendência todas as famílias da terra fossem abençoadas (Gálatas 3:8,16). Assim, a fé de Abraão, seu abandono de seguranças terrenas e sua confiança no chamado divino, são exemplos vivos da jornada do cristão em direção a Deus. Toda interpretação de Gênesis 12 que exclua essa dimensão messiânica, universal e inclusiva do Evangelho, perde sua profundidade e pode se transformar em acréscimo humano, marcado por exclusões e dogmatismos.
Alguns relatos do capítulo, como a ida de Abraão ao Egito e sua apresentação de Sara como irmã (vv.10-20), refletem um contexto histórico-cultural e humano que revela as imperfeições dos personagens, e não a perfeita vontade divina. Esses trechos, portanto, devem ser lidos criticamente, reconhecendo-os como parte da narrativa inspirada, mas condicionada às limitações humanas da época.
Portanto, Gênesis 12 nos convida a caminhar na fé, reconhecendo Jesus como centro e cumprimento da promessa feita a Abraão. Tudo que desvia dessa luz deve ser interpretado como um acréscimo humano, que precisa ser revisitado à luz do Evangelho.
Estrofe 1
Abrão subiu do Egito ao sul,
Com sua esposa e bens em baú.
Tinha muito ouro e também gado,
E Ló com ele, lado a lado.
Entre Betel e Ai se instalou,
E o altar do Senhor restaurou.
Ali invocou o nome sagrado,
No caminho que Deus havia traçado.
Estrofe 2
Mas Ló também possuía bens,
Rebanhos, tendas e pastos além.
A terra não os comportava juntos,
E os pastores já tinham seus assuntos.
Então Abrão disse com sabedoria:
“Que não haja contenda neste dia.
Se fores para a esquerda, vou à direita,
Escolhe o teu rumo, de alma feita.”
Estrofe 3
Ló levantou os olhos e viu,
O vale do Jordão que reluziu.
Escolheu as campinas como seu chão,
Próximas a Sodoma, cidade em perdição.
Abrão ficou em Canaã, em fé,
Deus falou com ele de pé.
Prometeu a terra para sempre dar,
E a descendência fez multiplicar.
Refrão
Abrão escolheu paz e não disputa,
E Ló buscou o que mais reluz.
Mas Deus honra o que é fiel,
E faz florescer onde há luz.
Estrofe 4
“Levanta os olhos, olha em redor,”
Disse o Senhor com eterno amor.
“Tudo que vês será tua herança,
Para ti e tua esperança.
Caminha por ela com firme passo,
Pois te darei o seu espaço.”
Abrão foi, ergueu um novo altar,
E ali adorou sem hesitar.
Estrofe 5
Por mais que o texto seja antigo,
Só é Palavra se for contigo.
Com Jesus, a luz que revela,
Toda Escritura se torna bela.
Se não for amor e compaixão,
Não vem de Deus, nem é salvação.
Cristo é o Verbo, é a direção,
A chave da santa revelação.
Refrão
Abrão escolheu paz e não disputa,
E Ló buscou o que mais reluz.
Mas Deus honra o que é fiel,
E faz florescer onde há luz.
CRESCENDO NA PROMESSA — REFLEXÃO SOBRE GÊNESIS 13 À LUZ DE JESUS
Gênesis 13 relata o retorno de Abrão à terra de Canaã, a separação pacífica entre ele e Ló por causa da prosperidade e da necessidade de espaço, e a reafirmação da promessa divina feita a Abrão. Contudo, como em todo o Velho e Novo Testamento, o verdadeiro entendimento deste capítulo deve ser guiado pelo critério central do Cristianismo: apenas o que for coerente com Jesus Cristo — Sua pessoa, Seus ensinamentos e missão — pode ser considerado verdadeira Palavra de Deus, a Revelação divina autêntica (João 1:14; 14:6; Mateus 5:17-18).
A história da separação entre Abrão e Ló, por exemplo, pode ser vista tanto como uma lição de humildade e busca pela paz quanto um retrato da complexidade humana e das limitações sociais daquela época. O que se destaca, porém, é a confiança renovada de Abrão na promessa divina, a qual culmina na bênção universal cumprida em Jesus Cristo, que chama todos a uma terra espiritual, um reino eterno, muito além do espaço físico. Qualquer interpretação que perca essa dimensão espiritual pode ser considerada acréscimo humano, ainda que bem-intencionado.
Além disso, a simplicidade e generosidade com que Abrão cede espaço a Ló refletem valores que o Evangelho de Jesus enfatiza — amor, paz e renúncia — apontando para uma vida guiada pelo Espírito, não apenas pelo direito material.
Assim, Gênesis 13 nos convida a olhar para a promessa de Deus com olhos de fé, reconectando-nos sempre com Jesus, a verdadeira herança e cumprimento das promessas feitas a Abraão. O texto deve ser interpretado à luz dessa revelação, sem perder de vista que todo acréscimo contrário a esse centro pode ser entendido como resultado da experiência humana, sujeita a erros e limitações.
Estrofe 1
Quatro reis guerreiros se uniram,
Contra cinco, seus exércitos seguiram.
Derrotaram os refúgios de Elasar,
Tomaram Sodoma sem hesitar.
Levaram Ló e seus bens também,
Abrão soube e não ficou sem.
Reuniu trezentos e dezoito aliados,
E perseguiu os reis desalmados.
Estrofe 2
Pela noite os inimigos atacou,
E em Hobá a vitória conquistou.
Trouxe Ló, seus bens e a multidão,
Livrando os justos da opressão.
Melquisedeque, rei de Salém,
Veio com pão e vinho, também.
Bendisse Abrão em nome do Alto,
De quem é céu e terra o assalto.
Estrofe 3
Disse: “Bendito o Deus altíssimo,
Que te deu vitória sobre o abismo!”
Abrão deu o dízimo ao sacerdote,
Com humildade e alma nobre.
O rei de Sodoma veio pedir,
Mas Abrão não quis nada repartir.
“Não direi que me enriqueceste,”
Pois só do Senhor minha força veste.
Refrão
Abrão venceu com fé e coragem,
Livrou seu povo da escravidão selvagem.
Deu honra ao Deus de compaixão,
E recusou glória da corrupção.
Estrofe 4
Disse Abrão: “Levanto a mão,
Ao Senhor, meu escudo, minha razão.
Nada tomarei que é teu,
Nem fio, nem sandália, nem véu.
Somente o que os homens comeram,
E os aliados que comigo vieram.
A Aner, Escol e Manre darei,
Mas do ímpio nada tomarei.”
Estrofe 5
Palavras e gestos que brilham na história,
Só são santos se refletem a glória
Da justiça, da paz e do bem,
Como ensinou Jesus em Belém.
O Antigo ou Novo só são verdade,
Se mostram Cristo em sua bondade.
Nele se cumpre toda profecia,
Luz do mundo e eterna harmonia.
Refrão
Abrão venceu com fé e coragem,
Livrou seu povo da escravidão selvagem.
Deu honra ao Deus de compaixão,
E recusou glória da corrupção.
PROMESSA, GUERRA E BÊNÇÃO — REFLEXÃO SOBRE GÊNESIS 14 À LUZ DE JESUS
Gênesis 14 narra um episódio de guerra envolvendo reis e a libertação de Ló por Abrão, seguido do encontro com Melquisedeque, sacerdote do Deus Altíssimo. No entanto, ao interpretar este capítulo, é essencial seguir o princípio fundamental do Cristianismo: só pode ser reconhecida como verdadeira Palavra de Deus aquilo que é coerente com Jesus Cristo — Sua vida, ensinamentos e missão (João 1:14; Hebreus 7:1-3; Mateus 5:17-18). Esse critério absoluto filtra a interpretação, assegurando que a revelação divina seja compreendida em sua plenitude.
O relato da batalha e da vitória de Abrão pode simbolizar a luta espiritual e a proteção divina sobre aqueles que creem, enquanto o encontro com Melquisedeque prefigura Jesus, o eterno sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, que intercede por nós (Hebreus 7). Qualquer leitura que exalte a violência ou poder terreno de forma isolada, sem a referência ao amor e sacrifício de Cristo, deve ser vista como acréscimo humano, resultado da visão limitada do homem antigo.
Além disso, o capítulo evidencia a fidelidade de Deus em proteger e honrar os justos, prenunciando a verdadeira justiça e salvação trazidas por Jesus. A bênção de Melquisedeque a Abrão aponta para a bênção eterna que está em Cristo, o verdadeiro Rei e Sacerdote, em quem todas as promessas se cumprem.
Assim, Gênesis 14, interpretado pela luz de Jesus, nos convida a ver além dos conflitos humanos, reconhecendo o plano divino que culmina na redenção e na paz oferecida por Cristo. Todo acréscimo que contrarie essa perspectiva deve ser considerado como fruto da compreensão humana imperfeita.
Estrofe 1
Após a vitória e paz ressoar,
Abrão ouviu o Senhor falar:
“Não temas, sou teu escudo fiel,
E tua recompensa virá ao céu.”
Abrão disse: “Senhor Deus, só tenho herdeiro Dã,
E o criado de minha casa é Caleb,
Mas eis que me prometes descendência,
Como o pó da terra, em abundância.”
Estrofe 2
O Senhor levou Abrão pra fora e disse:
“Olha para o céu e conta, se tu fores capaz.”
“Assim será tua descendência,”
Promessa escrita na presença.
Abrão creu no Senhor, foi-lhe imputado,
Justiça pela fé naquele legado;
E disse Deus: “Sou teu protetor,
Teu herdeiro herdeiro — direito, sim senhor!”
Estrofe 3
E Ele pediu sacrifício em aliança sagrada,
Touro, cabrito, carneiro e promessa selada.
Partiram animais ao meio o varão,
Fumo subiu como sinal de proteção.
Naquela visão profunda e terrena,
Deu Abrão fé que não se condena.
Quando caiu a noite, fogo e turbilhão,
Para garantir a futura geração.
Refrão
Fez-se aliança de promessa e fé,
Justiça vinda sem lei.
Em Abrão o plano se firmou,
Em Cristo se cumpriu, em amor.
Estrofe 4
Prometida a terra dos cananeus,
Desde o rio do Egito até o Padeus.
Abrão ouviu e guardou a visão,
E seguiu firme com convicção.
A fé não é esforço, mas confiança total,
Que brota não de sangue, mas de fidelidade real.
Pois quem habita na promessa do Senhor,
Recebe graça, vida e amor.
Estrofe 5
Mas toda Escritura, ao final,
É Palavra pura apenas se for sinal
Da vida de Cristo, do sacrifício e missão,
E não parecer divisão ou imposição.
Se não reflete o amor que Ele ensinou,
É sombra humana, erro que passou.
Pois Jesus é o selo sem distinção,
Fonte viva da revelação.
Ponte
Neste livro ou no Novo, só é divina verdade
Se ecoa a graça, a justiça e a liberdade
Que brotam da cruz do nosso Redentor.
Jesus só é fiel revelador.
Refrão
Fez-se aliança de promessa e fé,
Justiça vinda sem lei.
Em Abrão o plano se firmou,
Em Cristo se cumpriu, em amor.
A PALAVRA É CRISTO — CRITÉRIO FINAL
Em Gênesis 15 vemos a aliança promissora de Deus com Abrão, baseada na fé e não em obras (v.6), com confirmação através de sacrifícios e sinais (v.9–21). No entanto, o critério absoluto para reconhecer verdadeira Revelação — em qualquer momento histórico, do Velho ou do Novo Testamento — é a coerência com Jesus Cristo, Seus ensinamentos e vivência (João 5:39; Lucas 24:27; Hebreus 1:1–3). Este é o princípio fundamental para discernir o que é inspiração divina autêntica. Tudo que não se expressa na compaixão, serviço, perdão e inclusão pregados por Jesus, ainda que presente no texto bíblico, deve ser classificado como acréscimo humano — fruto de contextos culturais, interpretações legais ou teológicas equivocadas (veja, por exemplo, a imposição de violência e patrimonialismo retratada em algumas alianças antigas). Jamais o Deus de Jesus prometeria uma terra a quem quer que seja como rewslutado de guerras e matanças. Bibliografia relevante: Wright, The New Testament and the People of God; Bauckham, Jesus and the Eyewitnesses; e Pagels, The Origin of Satan.
Estrofe 1
Sarai, mulher de Abrão, estéril estava,
Mas em sua serva, esperança encontrava.
“Entra a Hagar”, disse ela com dor,
Tentando ao tempo impor seu favor.
Abrão ouviu e à serva se uniu,
E o ventre de Hagar então se abriu.
Mas logo desprezo nasceu em Hagar,
E Sarai começou a reclamar.
Estrofe 2
“Seja tua serva em tua mão”, disse Abrão,
Sarai afligiu-a com forte opressão.
Hagar fugiu, cansada e sozinha,
Perto de Sur, onde o deserto caminha.
Um anjo a achou junto à fonte a chorar,
E perguntou: “De onde vens e pra onde vai caminhar?”
“Fugi da face de Sarai, minha senhora” —
Mas o anjo lhe disse: “Volta agora.”
Estrofe 3
“Multiplicarei tua descendência”, ele prometeu,
“Teu filho será Ismael, pois Deus respondeu.”
“Homem bravo, contra todos lutará”,
Mas uma grande nação se formará.
Ela chamou o Senhor de “Deus que me vê”,
Pois ali no deserto encontrou Seu porquê.
E junto à fonte, deu novo nome ao lugar,
Pois viu o Deus vivo a lhe consolar.
Refrão
Mesmo o oprimido, Deus vem visitar,
No meio do nada, Ele faz brotar.
Sua aliança não se limita à linhagem,
Seu amor alcança toda viagem.
Estrofe 4
Hagar voltou com coragem e fé,
Com o filho no ventre, firme de pé.
A promessa não era só pra Israel,
Mas pra todos que clamam sob o céu.
Abrão tinha oitenta e seis ao nascer,
Quando Ismael veio a viver.
De Hagar, o Senhor fez geração,
Provando que vê até o chão.
Estrofe 5
Essa história mostra a compaixão
De um Deus que ouve toda aflição.
Mas também revela em sua linha,
Que nem tudo ali é doutrina divina.
Pois quem julga com abuso e rigor,
Age distante do Cristo Senhor.
Somente em Jesus, o servo fiel,
Brilha a verdade que rompe o papel.
Ponte para o último refrão
Por isso, na Bíblia, Velho ou Novo Testamento,
Só é Palavra de Deus o que traz o fundamento
Do Cristo vivo, que acolhe e perdoa,
E não oprime nem julga à toa.
Refrão (repetição)
Mesmo o oprimido, Deus vem visitar,
No meio do nada, Ele faz brotar.
Sua aliança não se limita à linhagem,
Seu amor alcança toda viagem.
DISCERNIR COM JESUS É O PRINCÍPIO ABSOLUTO
A leitura de Gênesis 16 deve ser feita à luz do ensinamento de Jesus, pois é Ele quem nos revela a verdadeira face de Deus (João 14:9). Neste capítulo, percebemos um conflito humano — Sarai entrega Hagar a Abrão, e depois a maltrata — que não deve ser compreendido como vontade divina. Ainda que o texto diga que um anjo mandou Hagar voltar à servidão, esse tipo de comando contradiz frontalmente os ensinos libertadores e acolhedores de Jesus (Lucas 4:18-19; João 8:36). Assim, entendemos que esse trecho carrega acréscimos humanos, frutos de uma cultura patriarcal e opressora. Como lembra Rubem Alves, a Bíblia “contém a Palavra de Deus”, mas também contém “palavras de homens sobre Deus” — por isso, discernir o que é Revelação passa necessariamente pela coerência com o Jesus dos Evangelhos. Ele jamais mandaria alguém se submeter à escravidão, mas libertaria Hagar e a trataria como filha amada. Essa é a lente pela qual toda Escritura deve ser lida (2 Coríntios 3:14-16).
Estrofe 1
Quando Abrão tinha noventa e nove,
O Senhor apareceu e falou com chave:
“Eu sou o Deus Todo-Poderoso,
Anda na minha presença, sê piedoso.”
Farei aliança contigo firmada,
E tua linhagem será multiplicada.
Abrão prostrou-se em reverência,
E Deus prometeu descendência.
Estrofe 2
“Teu nome agora será Abraão,”
Pois pai de nações te farei, então.
Frutificarás como árvore em flor,
E reis sairão do teu amor.
Minha aliança será eterna herança,
Entre tua casa e minha esperança.
Serei teu Deus, e o de teus filhos também,
De geração em geração, amém.
Estrofe 3
“A terra de Canaã vos darei,
Morada perpétua, como prometi a lei.
E tu guardarás esta aliança minha,
E todo varão será circuncidado no oitavo dia.”
Quem não cumprir será excluído do povo,
Pois quebrou a aliança e não buscou renovo.
E Sarai, tua esposa, renomearei,
Sará será, e nela darei rei.
Refrão
Deus selou promessa com sinal de pele,
Chamando Abraão a viver sob Ele.
Mas maior que o corte era o coração,
Onde Deus planta sua aliança em ação.
Estrofe 4
Abraão riu e disse em voz pensante:
“Com cem anos terei filho vibrante?”
E Ismael, já vivido, será suficiente?
Mas Deus reiterou: “Não, com Sará semente.”
“Isaque será seu nome de riso,
E com ele renovo meu compromisso.”
Mas também abençoarei Ismael,
Pois tua súplica chegou ao céu.
Estrofe 5
Dezessete pessoas ele circuncidou,
Naquele mesmo dia, o selo firmou.
Foi obediente à ordem sagrada,
Ainda que fosse humana e pesada.
Mas o selo mais real da divina aliança
É o amor que Jesus trouxe com esperança.
Somente em Cristo a promessa é real,
E toda Lei sem amor é sinal artificial.
Ponte para o último refrão
Assim, em qualquer capítulo ou testamento,
Somente o que reflete o ensinamento
Do Cristo vivo, humilde e redentor,
É Palavra divina com verdadeiro valor.
Refrão (repetição)
Deus selou promessa com sinal de pele,
Chamando Abraão a viver sob Ele.
Mas maior que o corte era o coração,
Onde Deus planta sua aliança em ação.
DISCERNIR COM JESUS: O VERDADEIRO SELO DA ALIANÇA
O capítulo 17 de Gênesis fala sobre a aliança entre Deus e Abraão, estabelecida com a prática da circuncisão. No entanto, à luz dos ensinamentos de Jesus, compreendemos que o verdadeiro selo da aliança com Deus não está em marcas externas no corpo, mas na transformação interna do coração (Romanos 2:29; Gálatas 5:6). Jesus nunca exigiu nenhum sinal físico para confirmar a fé de ninguém, mas sim atitudes de amor, justiça e humildade (João 13:35). A exigência da circuncisão, embora culturalmente compreensível na época, pode ser vista como um acréscimo humano, interpretado e adotado por uma mentalidade patriarcal e ritualística que ainda não conhecia a plenitude do amor revelado em Cristo (Colossenses 2:11-14). Como diz o teólogo Leonardo Boff, “toda leitura bíblica deve ser feita a partir de Jesus, a chave hermenêutica por excelência”. Logo, só é Palavra de Deus o que for coerente com Jesus, o Deus conosco.
Estrofe 1
Apareceu o Senhor nos carvalhais,
Três homens vieram como sinais.
Abraão correu, com reverência os honrou,
Pediu que ficassem, água buscou.
Mandou trazer pão, carne e coalhada,
Serviu com respeito e fala elevada.
Eles anunciaram o filho prometido,
Sará ouviu e riu, pois tinha envelhecido.
Estrofe 2
O Senhor disse: “Por que Sará sorriu?”
Acaso há algo que Deus não viu?
No tempo certo ela dará à luz,
Mesmo que a idade traga sua cruz.
Sará negou: “Não ri”, temendo o Senhor,
Mas Ele disse: “Sim, tu riste com humor.”
Os homens partiram rumo a Sodoma,
E Abraão andava com Deus na sintoma.
Estrofe 3
Disse Deus: “Ocultarei de Abraão meu plano?”
Pois ele será grande e bendito humano.
“Farei justiça e juízo ensinar,”
Pois o clamor de Sodoma começa a pesar.
Os homens foram, e Abraão ficou,
E ao Senhor ousadamente intercedeu.
“Se houver cinquenta justos, destruirás?”
Deus disse: “Por eles, a cidade pouparás.”
Refrão
Deus visita e anuncia com ternura,
Escuta Abraão em sua bravura.
Mesmo Sodoma, com toda maldade,
Recebe chance pela fidelidade.
Estrofe 4
Abraão foi ousando cada vez mais,
Quarenta, trinta, até dez justos reais.
E Deus, com paciência e compaixão,
Respondeu a cada intercessão.
O Senhor saiu, e Abraão voltou,
Pois a oração de um justo tem valor.
O capítulo termina com essa lição:
Deus escuta até o menor coração.
Estrofe 5
Sará riu do impossível nascer,
Mas Deus mostrou o poder do crer.
Abraão rogou pela injusta cidade,
E Deus mostrou sua fidelidade.
Mesmo o juízo que está por vir,
Passa pelo filtro de quem quer ouvir.
E se a cidade clama por perdão,
Deus ainda atende com compaixão.
Ponte para o último refrão
Mas lembre: toda narrativa, por mais sagrada,
Precisa ser lida à luz da jornada
De Jesus, o Cristo, modelo fiel —
O Deus-conosco, o Verbo Emanuel.
Refrão (repetição)
Deus visita e anuncia com ternura,
Escuta Abraão em sua bravura.
Mesmo Sodoma, com toda maldade,
Recebe chance pela fidelidade.
DISCERNIMENTO À LUZ DE JESUS: ONDE ESTÁ A REVELAÇÃO
Gênesis 18 apresenta a visita de Deus a Abraão e a intercessão dele por Sodoma. Neste capítulo, vemos belas imagens da hospitalidade, da esperança em meio à velhice, e da coragem intercessora diante da justiça divina. No entanto, para entender plenamente o que é revelação de Deus, é preciso filtrar tudo o que lemos à luz de Jesus, sua ética e sua prática. Em Jesus, aprendemos que Deus é longânimo, não deseja a destruição, mas a conversão (João 3:17; 2 Pedro 3:9). O modo como Abraão intercede já aponta essa sensibilidade, mas a própria destruição de Sodoma, que virá no capítulo seguinte, pode ser interpretada como uma leitura teológica posterior de Israel — um acréscimo humano diante da busca de explicar o sofrimento e a justiça. Jesus nunca destruiu cidades, mesmo quando rejeitado (Lucas 9:54-56), e por isso, todo juízo violento atribuído a Deus deve ser lido com cautela. Como afirma o teólogo Enzo Bianchi, “somente o que passa pelo crivo do amor de Cristo pode ser chamado Palavra de Deus”.
Estrofe 1
Dois visitantes chegaram em tarde quente,
Ló os viu e correu com coração valente.
“Entra, hospeda-os, lava os pés com cuidado,
E te serviremos pão, amor dedicado.”
Eles sabiam que na estrada não era lugar,
Mas Ló insistiu: “É para seu bem ficar.”
Preparou banquete com pressa e fervor,
Na cidade escura, ofereceu calor.
Estrofe 2
Mas homens puseram-se em maldade vil,
Clamaram: “Ares deles!” — caos infantil.
Ló suplicou com voz de aflição,
Ofereceu filhas, gesto de desolação.
“Faze o que quiserem, mas sem violência,”
Tentou cessar a vil resistência.
Negociou o impossível, gesto humano,
Num gesto de amor, mas de ímpeto insano.
Estrofe 3
Então os anjos, com voz compassiva,
Fecharam a porta, firmes e defensiva.
“Logo a terra vai se acabar na fumaça”,
“Corre, Ló, leva a família, não paraça.”
Eles guiaram-no fora da tempestade,
“Foge, não olhes para trás, é bondade.”
Mas a esposa olhou, o olhar vacilou,
E virou estátua de sal, a alma endureceu.
Refrão
Mesmo na treva cruel daquela nação,
Deus vê o justo e estende salvação.
A luz se escondeu, mas soprou o vento do céu,
E a promessa brilhou no escuro véu.
Estrofe 4
Os anjos disseram: “Escapa para Zoar!”
Pois a cidade era juízo a sustar.
Ló hesitou, temendo a jornada,
Mas se fez luz e partiu na madrugada.
O sol surgiu em noite de fuga,
Enquanto a alma ainda aumentava a fuga.
A chuva de fogo consumiu a impiedade,
Mas resistiu a família em busca da verdade.
Estrofe 5
Abraão viu longe a nuvem de fumaça,
E seu coração tremeu com a desgraça.
A morte veio rápida e implacável,
Mas Ló foi salvo, frágil, infalível.
Dali nasceram nomes, brasões e nações,
Mas Sodoma virou lição entre gerações.
O fogo limpou a podridão urbana,
E a luz seguiu firme em terra humana.
Ponte
Mas o que vale a pena neste relato antigo?
Só o que condiz com Jesus, o rosto amigo —
Quem salvou sem violência, acolheu sem aprovar,
Pois somente o que reflete Cristo é a Palavra a ressoar.
Refrão (repetição)
Mesmo na treva cruel daquela nação,
Deus vê o justo e estende salvação.
A luz se escondeu, mas soprou o vento do céu,
E a promessa brilhou no escuro véu.
DISCERNIR COM O CRITÉRIO DE CRISTO
PALAVRA FAZ SENTIDO LUZIR EM JESUS
Gênesis 19 descreve a destruição de Sodoma e Gomorra, mas também o resgate de Ló, chamado de “homem justo” (v.19). No entanto, gestos como Ló oferecer suas filhas aos agressores refletem valores culturais e patriarcais da época — um acréscimo humano, ainda que mostrado no texto, que Jesus jamais validaria. Ele não vendia pessoas para aplacar a violência, mas acolhia marginalizados (João 8:1–11; Mateus 25:40). Portanto, somente o que se alinha à compaixão, dignidade e amor praticados por Cristo pode ser considerado Revelação divina (Hebreus 1:1–3). Qualquer justificativa de violência ou opressão, mesmo herdada na tradição, precisa ser reavaliada à luz do Evangelho e da cruz. A leitura bíblica responsável é aquela que coloca Jesus como critério final de interpretação — como nos ensinam teólogos como Walter Brueggemann (Theology of the Old Testament) e N.T. Wright (Paul and the Faithfulness of God).