investigação realizada pelo Pr. Psi. Jor Jônatas David Brandão Mota
001 GÊNESIS 1 - NO PRINCÍPIO
Estrofe 1
No princípio criou Deus os céus e a terra,
E a terra era sem forma e vazia,
E havia trevas sobre a face do abismo,
E o Espírito de Deus se movia.
Disse Deus: Haja luz; e houve luz.
E viu Deus que a luz era boa,
E fez separação entre luz e trevas,
Chamou à luz Dia, e às trevas Noite boa.
Estrofe 2
E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro.
E disse Deus: Haja firmamento, então,
No meio das águas com poder verdadeiro,
Para fazer separação.
Fez Deus o firmamento com Sua mão,
E separou as águas de cima e de baixo.
Chamou ao firmamento Céus com perfeição,
E passou mais uma noite e mais um facho.
Estrofe 3
Disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo do céu,
E apareça a porção seca com clareza.
Chamou Deus Terra à porção sem véu,
E Mares às águas com beleza.
Produza a terra erva verde,
Erva que dê semente segundo sua espécie,
E árvore frutífera que em si mesma conserve,
Fruto com semente, como a ordem obedece.
Refrão
E viu Deus tudo quanto havia feito,
E eis que era bom em todo aspecto.
Do nada brotou o mundo perfeito,
Pela Palavra e por Seu afeto.
Estrofe 4
Disse Deus: Haja luminares no firmamento,
Para fazerem separação do dia e da noite,
E para sinais, tempos e movimento,
E para governar o céu em açoite.
Fez dois grandes luminares com poder:
O maior para governar o dia,
E o menor para governar a noite ao entardecer,
Com as estrelas em harmonia.
Estrofe 5
Criou Deus os grandes peixes do mar,
E toda criatura vivente que se move.
Criou as aves para o ar voar,
Segundo sua espécie, como se prove.
E disse Deus: Frutificai e multiplicai,
Enchei as águas, povoai os céus.
E fez Deus os animais da terra, e mais:
O homem e a mulher à Sua imagem e céus.
Ponte
Mas em tudo que se chama Escritura,
No Velho ou no Novo Testamento,
Só é Palavra viva, justa e pura,
Se for coerente com Cristo — o fundamento.
Refrão
E viu Deus tudo quanto havia feito,
E eis que era bom em todo aspecto.
Do nada brotou o mundo perfeito,
Pela Palavra e por Seu afeto.
A PALAVRA DE DEUS É JESUS – O CRITÉRIO ABSOLUTO DE INSPIRAÇÃO
No capítulo 1 de Gênesis, lemos a grandiosa narrativa da criação, onde “Deus disse” e tudo passou a existir. Contudo, a compreensão do que realmente é Revelação Divina só pode ser feita à luz de Jesus Cristo, “o Verbo que se fez carne” (João 1:14), pois é Nele que habita corporalmente toda a plenitude de Deus (Colossenses 2:9). Jesus é a imagem do Deus invisível (Colossenses 1:15) e a expressão exata do Seu ser (Hebreus 1:3); por isso, nenhuma afirmação bíblica — seja no Gênesis ou em qualquer parte das Escrituras — pode ser considerada Palavra de Deus se contradiz a vida, os ensinos e o caráter de Cristo. Assim, toda leitura da criação deve evitar reducionismos literalistas ou mitológicos que obscureçam o que Jesus revelou como essencial: o amor, a comunhão, a humildade e a dignidade humana. O uso do plural “façamos o homem à nossa imagem” (Gênesis 1:26), por exemplo, embora interpretado teologicamente como referência trinitária, pode também refletir influências culturais do contexto babilônico e politeísta em que parte da narrativa foi estruturada — o que precisa ser purificado à luz da unicidade do Pai revelada por Jesus (João 17:3). Logo, todo trecho bíblico que não reflete o coração de Jesus deve ser discernido como acréscimo humano, ainda que com boa intenção, como já alertava o apóstolo Paulo: “o véu ainda está posto na leitura do Velho Testamento, o qual só em Cristo é removido” (2 Coríntios 3:14-16). Portanto, o critério absoluto para reconhecer a inspiração divina é a coerência com Jesus — tudo que se afasta Dele, ainda que esteja na Bíblia, é voz humana misturada à história da fé.
Estrofe 1
Assim os céus e a terra foram acabados,
E todo o seu exército em beleza e som.
Ao sétimo dia, Deus já descansado,
Do que fizera, cessou, pois tudo era bom.
Abençoou o dia sétimo com calma,
E o santificou, por nele ter repousado.
Estes são os céus e a terra, alma por alma,
No dia em que foram criados e moldados.
Estrofe 2
Nenhum arbusto ainda se via no chão,
Pois o Senhor Deus não mandara chover.
Não havia homem para a irrigação,
Mas um vapor da terra veio a crescer.
Formou o Senhor o homem do barro,
Soprou em suas narinas o fôlego da vida.
E foi o homem alma viva no amparo,
Da terra, seu corpo; do sopro, a lida.
Estrofe 3
Plantou o Senhor um jardim no Éden,
E ali pôs o homem que formara.
Fez brotar da terra tudo que sedem,
Árvores boas à vista e doce cara.
A árvore da vida no meio crescia,
E a do conhecimento do bem e do mal.
Um rio saía do Éden com alegria,
E se dividia em quatro cursos igual.
Refrão
Do pó nasceu a vida ao sopro de Deus,
No Éden de águas, plantas e fé.
Lá começou o amor entre os céus,
E o homem cuidava da criação em pé.
Estrofe 4
Tomou, pois, o Senhor Deus o homem,
E o pôs no jardim para o cultivar.
Ordenou: “De toda árvore come,
Mas daquela do meio deves te afastar.
Pois no dia em que dela comeres,
Certamente morrerás ao cair.”
Disse o Senhor: “Não é bom que soferes,
Far-lhe-ei uma ajudadora por vir.”
Estrofe 5
Formou da terra todo animal e ave,
E os trouxe ao homem pra nomear.
Mas entre eles, não achou-se a chave,
Ninguém que o pudesse acompanhar.
Então Deus o fez dormir profundo,
E da sua costela fez a mulher.
Disse o homem: “É carne do meu mundo,
Seremos um, na união que é mister.”
Ponte
Mas só é Palavra de Deus verdadeiro,
Se for coerente com Jesus e sua cruz.
Velho ou Novo, só é justo e inteiro,
O que reflete o amor que Ele nos conduz.
Refrão
Do pó nasceu a vida ao sopro de Deus,
No Éden de águas, plantas e fé.
Lá começou o amor entre os céus,
E o homem cuidava da criação em pé.
A REVELAÇÃO É CRISTOCÊNTRICA – JESUS COMO FILTRO DE GÊNESIS 2
O capítulo 2 de Gênesis apresenta uma segunda narrativa da criação, distinta da primeira, com traços mais antropomórficos e locais. Aqui, Deus forma o homem do pó da terra (v.7), planta um jardim, e molda a mulher da costela do homem (v.22). Essas imagens carregam beleza simbólica, mas não devem ser entendidas literalmente como regras universais da origem humana ou dos papéis de gênero. O próprio Jesus, ao comentar sobre essa narrativa, destacou o princípio do amor e da unidade no casamento (Mateus 19:4-6), sem jamais usar a história da costela como argumento para inferiorizar a mulher — o que alguns teólogos fizeram ao longo dos séculos. Jesus nunca hierarquizou os sexos, ao contrário: exaltou mulheres, como Maria, Marta, a samaritana, Maria Madalena, contrariando a leitura patriarcal que muitos extraíram deste capítulo. Por isso, mesmo Gênesis 2, que fala do “mandamento” de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, só pode ser verdadeiramente compreendido em Jesus, que revela que Deus é Pai, e não ameaça com morte, mas oferece reconciliação, graça e vida (João 10:10). Como afirmou João, “a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (João 1:17). Assim, todo trecho — inclusive o uso da imagem da mulher sendo criada como “auxiliadora” — deve passar pelo filtro da coerência com o Evangelho do Cristo que lavou os pés dos discípulos (João 13:14-15). O que for incompatível com esse espírito é acréscimo humano, oriundo de contextos históricos e culturais limitados, e não expressão plena da Vontade de Deus. A Palavra eterna é Jesus (Apocalipse 19:13), e apenas Nele se reconhece a verdade do que realmente vem de Deus.
É acréscimo humano se o texto for entendido como literal, pois nega a onisciência de Deus, já que criou todos os animais como macho e fêmea, e não fez isso com o ser humano, já que depois fará a mulher por perceber o homem sozinho.
Estrofe 1
Ora, a serpente era mais astuta,
Que qualquer besta do campo de Deus.
Disse à mulher, com fala astuta:
“É verdade que Deus vos proibiu os seus?”
E a mulher respondeu com certeza:
“Do fruto podemos comer sem dor.
Mas do que está no meio da beleza,
Disse Deus: não toques, nem morra de horror.”
Estrofe 2
Então disse a serpente sorrindo:
“Certamente não morrereis assim.
Vossos olhos serão luz surgindo,
E sereis como Deus, tendo um fim.”
Vendo a mulher que era bom para o gosto,
Tomou do fruto e dele comeu.
Deu também ao homem, sem desgosto,
E ele também do fruto recebeu.
Estrofe 3
Abriram-se os olhos dos dois na hora,
E perceberam que estavam nus.
Coseram folhas, cobrindo agora,
O que antes mostravam à luz.
Ouviram a voz do Senhor que andava,
Pelo jardim à brisa do dia.
E esconderam-se com alma calada,
Pois sabiam que perderam a alegria.
Refrão
A serpente mentiu, o saber corrompeu,
O homem caiu ao tentar dominar.
Mas Deus, que é justo, jamais se esqueceu,
E no fim prometeu: há de restaurar.
Estrofe 4
Chamou o Senhor: “Onde estás, Adão?”
E ele respondeu com medo no tom.
“Ouvi tua voz, me escondi então,
Pois estou nu, e vi que isso é bom?”
Disse Deus: “Comeste da árvore, sim?”
E Adão culpou a mulher que lhe deu.
A mulher apontou pra serpente no fim,
E Deus julgou cada um que errou seu.
Estrofe 5
Maldita és tu, serpente rastejante,
E à mulher, dores para gerar.
Ao homem: do suor constante
Comerás do chão, até voltar.
Fez roupas de peles, Deus os vestiu,
E os expulsou do Éden querido.
Colocou querubins e um fogo que viu,
Guardando a árvore da vida ao abrigo.
Ponte
Mas mesmo no Éden, com espada e dor,
Só é divina a Palavra que traz luz.
Do Velho ou Novo, é de Deus o amor,
Se for coerente com Cristo, Jesus.
Refrão
A serpente mentiu, o saber corrompeu,
O homem caiu ao tentar dominar.
Mas Deus, que é justo, jamais se esqueceu,
E no fim prometeu: há de restaurar.
A QUEDA SEGUNDO JESUS – DISCERNINDO GÊNESIS 3 À LUZ DO CRISTO
Gênesis 3 narra o que se convencionou chamar de “queda” da humanidade: a desobediência de Adão e Eva ao comerem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. No entanto, para compreender esse capítulo como Revelação de Deus e não como simples construção teológica cultural, é imprescindível que ele seja lido à luz de Jesus — a Palavra viva (João 1:14), a imagem exata do Pai (Hebreus 1:3). O texto descreve um Deus que busca o ser humano em sua culpa (“Onde estás?” – v.9), o que já indica uma face amorosa e relacional. Mas também atribui a Deus comportamentos que Jesus jamais adotou, como maldições (v.14-19), medo como mecanismo de controle (v.10) e a expulsão como castigo absoluto (v.23-24). No entanto, o Cristo revelado nos Evangelhos jamais amaldiçoa os caídos — Ele perdoa, acolhe e restaura. Ele não expulsa, Ele atrai (João 12:32). Se Deus fosse literalmente como aparece em Gênesis 3, Jesus teria vindo em contradição ao Pai — o que é teologicamente inadmissível (João 14:9). Por isso, devemos entender elementos desse capítulo — como a maldição da mulher e a hostilidade entre ela e o homem (v.16) — como acréscimos humanos contextualizados por culturas patriarcais que viam o sofrimento como punição divina. Jesus, porém, acolheu e libertou as mulheres, jamais reforçando culpa pelo pecado original (ver Lucas 8:1-3; João 4; João 8:11). Assim, como afirma 2 Coríntios 3:14-16, “o véu só é removido em Cristo”, e como cristãos, devemos discernir o que é revelação plena e o que é sombra de entendimento. Em toda Escritura — inclusive em Gênesis 3 — só é Palavra de Deus o que é coerente com o coração e os ensinamentos de Jesus, o Deus conosco (Mateus 1:23). O restante, ainda que simbólico ou bem-intencionado, é humano e temporário.
Estrofe 1
Conheceu Adão a sua mulher,
E concebeu Caim, o primeiro filho.
Depois deu à luz Abel, com prazer,
Que cuidava ovelhas com doce brilho.
Caim, lavrador, trouxe oferta do chão,
Abel, das primícias do rebanho fiel.
O Senhor se agradou da justa intenção,
Mas não de Caim, e ele ferveu em fel.
Estrofe 2
Disse o Senhor: "Por que estás irado?
Se fizeres o bem, não serás aceito?
Mas o pecado jaz ao teu lado,
Cumpre dominá-lo, com juízo e respeito."
Caim disse a Abel: “Vamos ao campo.”
E ali se levantou com inveja e mão.
Feriu seu irmão com ódio e pranto,
Primeiro sangue caiu ao chão.
Estrofe 3
Disse o Senhor: “Onde está teu irmão?”
Caim respondeu: “Sou eu seu guardador?”
“O sangue clama desde o chão,
És agora maldito, fujidor.”
A terra não dará mais força a tua mão,
Serás errante por onde for.
Caim temeu o peso da punição,
E clamou por misericórdia ao Senhor.
Refrão
Caim matou com a ira no olhar,
E a dor do sangue clama ao céu.
Mas mesmo caído, Deus quis marcar,
Prometendo graça sobre o papel.
Estrofe 4
Pôs o Senhor sinal sobre Caim,
Pra que ninguém ousasse o matar.
Saiu da presença, fim sobre fim,
E foi viver sem lar pra ficar.
Conheceu sua mulher, e geraram,
Enoque, que uma cidade fundou.
A linhagem seguiu, e outros marcaram
Instrumentos, tendas, ferro e arado.
Estrofe 5
Lameque tomou duas esposas então,
Fez poesia para se vingar.
Disse: “Matei por me ferir um irmão,
Se Caim foi vingado, eu vou multiplicar!”
Adão teve outro filho, Sete, nasceu,
Em lugar de Abel, que já não vivia.
Enos, seu filho, o povo conheceu,
E então invocaram o nome de Deus em dia.
Ponte
Mas em todo esse texto, antigo e pesado,
Só é de Deus o que traz reconciliação.
Velho ou Novo, se não for bondade ao lado,
Não tem coerência com Jesus, salvação.
Refrão
Caim matou com a ira no olhar,
E a dor do sangue clama ao céu.
Mas mesmo caído, Deus quis marcar,
Prometendo graça sobre o papel.
Estrofe 1
Conheceu Adão a Eva, mulher sua,
E concebeu e deu à luz a Caim.
Disse ela: “Alcancei do Senhor com a sua
Força este homem, fruto do meu jardim.”
Depois teve Abel, irmão do primeiro,
Pastor de ovelhas, manso e inteiro.
Caim era lavrador, do solo seu viver,
E ao Senhor vieram ofertas oferecer.
Estrofe 2
Abel trouxe das primícias do rebanho,
E o Senhor atentou com agrado real.
Mas Caim teve o rosto fechado de estranhos
Sentimentos, e o Senhor falou-lhe afinal:
“Se fizeres bem, não serás aceito?
Mas o pecado jaz à porta, imperfeito.
Sobre ti será o seu desejo profundo,
Mas cumpre dominá-lo neste mundo.”
Estrofe 3
Caim falou com Abel, e ao campo o levou,
Ali se levantou e o irmão matou.
Disse o Senhor: “Onde está teu irmão?”
“Não sei. Sou guardador do meu irmão, então?”
Disse Deus: “O sangue clama da terra,
És agora maldito, filho da guerra.
Quando lavrares, não darás mais fruto,
Errante serás, num caminho bruto.”
Refrão
Caim mata e foge, mas Deus põe sinal,
Que ninguém o mate, embora seu mal.
E o sangue de Abel, como oração,
Clama por justiça desde o chão.
Estrofe 4
Caim saiu da presença do Senhor,
E habitou em Node, ao leste do Éden.
Conheceu sua mulher com ardor,
E teve Enoque, o filho que sucedem.
Construiu uma cidade com seu nome,
E houve gerações, com arte e fome.
Lameque falou a suas duas esposas,
Sobre feridas e vinganças horrorosas.
Estrofe 5
Lameque disse: “Matei um moço, sim,
Por me ferir, serei vingado além.
Se Caim sete vezes é guardado enfim,
Eu serei setenta vezes, sem desdém.”
Adão teve Sete, outro filho da dor,
Em lugar de Abel, segundo o Senhor.
E Sete gerou Enos, em sua vez,
E começou-se a invocar a Deus com altivez.
Ponte
Mas a Palavra só é divina e luz,
Quando é coerente com o Deus Jesus.
Se fere, oprime ou gera exclusão,
Não é do Pai, nem sua direção.
Refrão
Caim mata e foge, mas Deus põe sinal,
Que ninguém o mate, embora seu mal.
E o sangue de Abel, como oração,
Clama por justiça desde o chão.
A VOZ DE DEUS SEGUNDO JESUS — LENDO GÊNESIS 4 COM OLHOS CRISTOCÊNTRICOS
O capítulo 4 de Gênesis apresenta o drama de Caim e Abel — o primeiro homicídio registrado nas Escrituras. É um texto repleto de significados humanos profundos, como inveja, frustração, liberdade de escolha e consequências trágicas. No entanto, à luz de Cristo, devemos aplicar um princípio fundamental: somente é Palavra de Deus aquilo que é coerente com os ensinos e atitudes de Jesus (João 14:9; Hebreus 1:1-3). Neste capítulo, Deus é retratado como alguém que rejeita uma oferta sem explicações explícitas (v.5), alimentando no leitor uma sensação de parcialidade, o que contrasta com a justiça e clareza de Jesus (Mateus 5:45; João 7:24). Jesus nunca exaltou sacrifícios rituais como expressão suprema de fé (Mateus 9:13), mas sim a misericórdia, o coração sincero e o amor ao próximo.
O capítulo também apresenta um “diálogo” divino com Caim que atribui a Deus a ideia de castigo, marca e maldição (v.11-15), mas paradoxalmente com um tom de proteção: “o Senhor pôs em Caim um sinal, para que ninguém o ferisse.” Este misto de punição e misericórdia revela uma teologia primitiva que tenta entender o justo e o compassivo, mas ainda longe da plenitude revelada em Jesus. Cristo jamais justificou violência como consequência da rejeição divina — pelo contrário, Ele nos chama à reconciliação até com nossos inimigos (Mateus 5:44) e a perdoar “setenta vezes sete” (Mateus 18:22). Assim, qualquer ideia de que Deus provocaria a inveja de um irmão, rejeitaria ofertas sem diálogo transparente, ou incitaria castigo, precisa ser revista como acréscimo humano, interpretado pela lente de um tempo e cultura distante da revelação plena do amor divino manifestado em Jesus.
Em síntese, Gênesis 4 é uma narrativa com elementos simbólicos e morais profundos, mas sua leitura como Palavra viva só se sustenta na medida em que for compatível com o Cristo que perdoa, explica, consola e não discrimina. Como ensina 2 Coríntios 3:16, somente quando o véu é retirado em Cristo, vemos a Escritura como ela realmente é.
Estrofe 1
Este é o livro das gerações de Adão,
No dia em que Deus o homem criou.
À semelhança divina formou com a mão,
Homem e mulher, e os abençoou.
Chamou-lhes "homem", no dia em que os fez,
E gerou um filho, Sete foi sua vez.
Aos cento e trinta anos, Adão gerou
Um semelhante a si, e assim nomeou.
Estrofe 2
Os dias de Adão foram longos, sim,
Oitocentos mais anos, filhos e filhas.
Vivendo novecentos e trinta no fim,
E então morreu, cessando suas trilhas.
Sete viveu cento e cinco ao gerar Enos,
E seguiu vivendo mais oitocentos anos bons.
Gerou filhos e filhas em todo esse tempo,
E morreu aos novecentos e doze, sem lamento.
Estrofe 3
Enos viveu noventa antes de gerar,
A Cainã, e depois longamente ficou.
Oitocentos e quinze seus dias no ar,
Até que aos novecentos e cinco, descansou.
Cainã gerou a Maalalel com setenta,
E viveu oitocentos e quarenta, com paciência lenta.
Ao final, seus dias foram novecentos e dez,
E também morreu, como o ciclo se fez.
Refrão
E os nomes se vão como folhas ao chão,
Contando os anos, geração por geração.
Mas só Enoque andou com o Eterno em paz,
E Deus o tomou, pois vida nele jaz.
Estrofe 4
Maalalel gerou a Jerede com sessenta e cinco,
E viveu mais oitocentos e trinta no caminho.
Seus dias fecharam aos oitocentos e noventa e cinco,
E morreu também, sem quebrar o pergaminho.
Jerede teve Enoque aos cento e sessenta e dois,
E viveu mais oitocentos, filhos e muitos depois.
Ao fim, viveu novecentos e sessenta e dois anos
E também morreu, como todos os humanos.
Estrofe 5
Enoque, porém, andou com o Senhor,
Gerou Matusalém aos sessenta e cinco de idade.
Duzentos e mais anos viveu com amor,
Andando com Deus com inteira fidelidade.
Então Deus o tomou e ele não mais foi visto,
Pois não viu a morte, foi um caso mais que misto.
Matusalém viveu novecentos e sessenta e nove,
O mais longevo de todos, forte como um carvalho que não move.
Ponte
Mas no rolo antigo, só é santa a lição,
Se for coerente com Cristo e seu coração.
Se o texto ferir o amor que em Jesus brilhou,
Então não é Palavra que o Pai inspirou.
Refrão
E os nomes se vão como folhas ao chão,
Contando os anos, geração por geração.
Mas só Enoque andou com o Eterno em paz,
E Deus o tomou, pois vida nele jaz.
LINHAGEM, MORTALIDADE E ESPERANÇA — LENDO GÊNESIS 5 À LUZ DE JESUS
Gênesis 5 apresenta uma genealogia, aparentemente simples, listando os descendentes de Adão até Noé. Embora à primeira vista pareça apenas um registro histórico, sua leitura cristocêntrica revela algo mais profundo. Cada nome, cada tempo de vida e cada morte mencionada ecoa a realidade da condição humana: a vida é passageira, e a morte, inevitável — como Paulo escreveu: “por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte” (Romanos 5:12). No entanto, à luz do Evangelho, este capítulo só pode ser compreendido como revelação de Deus quando apontar para a vitória de Cristo sobre a morte, a única esperança real oferecida ao ser humano (João 11:25-26; 1 Coríntios 15:22).
Neste capítulo, o destaque dado a Enoque — “andou com Deus e já não estava, porque Deus o tomou para si” (v.24) — é uma semente de esperança. A ausência de morte direta neste caso sugere uma ruptura com a cadência de morte presente em todos os demais. Enoque, portanto, é uma figura que, reinterpretada à luz do Novo Testamento, antecipa a promessa da vida eterna em Cristo, que também foi levado ao céu sem ver corrupção (Atos 2:31-33; Hebreus 11:5). Porém, a ideia de que os longos anos de vida (como 969 de Matusalém) expressam bênção precisa ser tratada com cuidado. Jesus nunca ensinou que longevidade era sinal de favor divino. Ao contrário, Ele valorizou a profundidade do amor e da entrega ao próximo, e não a extensão dos dias (Lucas 12:15-21).
Portanto, qualquer leitura que trate os nomes e números deste capítulo como garantias de glória ou méritos espirituais deve ser entendida como um acréscimo humano — uma tentativa legítima, mas limitada, de compreender a relação entre Deus e a humanidade. O que é Palavra viva neste texto é o que se harmoniza com Jesus: a certeza de que Deus caminha conosco (como Enoque), e que a morte, embora real, não é o fim para quem vive no amor do Pai (João 3:16). Tudo o mais deve ser lido com discernimento, pois — como disse o próprio Jesus — “examinais as Escrituras... e são elas que testificam de mim” (João 5:39).
Estrofe 1
Vieram os homens a se multiplicar,
Filhas nasceram para encantar.
Os filhos de Deus as viram belas,
E tomaram esposas entre elas.
Então disse o Senhor com dor:
“Meu Espírito não agirá sem amor.”
Centenas e vinte anos deixarei,
Antes que o fim eu mesmo trarei.
Estrofe 2
Naqueles dias estavam os Nefilins,
Homens gigantes, heróis sem fins.
Viram Deus que a maldade era densa,
Pensamento mau desde a infância intensa.
Arrependeu-se o Senhor de criar,
Pois viu a Terra a se corromper sem par.
Então declarou: "Destruirei o ser,
Desde o homem até o que vive a mover."
Estrofe 3
Mas Noé achou graça no Senhor,
Homem justo, íntegro e sem temor.
Na geração corrupta andava com Deus,
E três filhos teve sob céus seus.
A Terra encheu-se de violação,
E toda carne perverteu-se em ação.
Disse Deus: “Farei o fim chegar,
Com dilúvio tudo irei apagar.”
Refrão
Noé andou em meio à destruição,
Foi chamado à arca por revelação.
Obedeceu e salvou sua casa fiel,
Foi justo num mundo cruel.
Estrofe 4
Constrói uma arca de cipreste forte,
Com andares, janelas, contra a morte.
De cento e cinquenta metros será,
Pois a água tudo inundará.
Coloca animais de todo tipo e cor,
Machos e fêmeas, no tempo do Senhor.
Também alimentos devem ser guardados,
Pois novos dias serão sem fardos.
Estrofe 5
Noé obedeceu com todo o seu ser,
Fez tudo como Deus veio a dizer.
Foi o início do novo começo,
O justo salvando a fé em regresso.
A história antiga soa como voz,
Mas só é Palavra se vive entre nós:
No Velho ou Novo, só tem valor
Se revela o Cristo, nosso Senhor.
Refrão
Noé andou em meio à destruição,
Foi chamado à arca por revelação.
Obedeceu e salvou sua casa fiel,
Foi justo num mundo cruel.
JUSTIÇA E SALVAÇÃO — LENDO GÊNESIS 6 COM OS OLHOS DE JESUS
O capítulo 6 de Gênesis marca o início da narrativa do dilúvio e apresenta temas delicados, como corrupção humana, violência, juízo divino e a eleição de Noé. Contudo, para ser compreendido como Revelação verdadeira de Deus, esse texto — como todo o Velho e o Novo Testamento — precisa ser julgado à luz do caráter, das palavras e da vida de Jesus, que é a expressão plena da vontade do Pai (João 14:9; Hebreus 1:3). O Deus encarnado em Cristo nunca destruiu cidades, nunca afogou povos, nunca impôs castigos coletivos por causa do pecado individual. Ele salvou, acolheu, explicou, chorou e curou — inclusive no meio da maldade (Lucas 23:34; Mateus 12:20).
No capítulo 6, a afirmação de que “o Senhor arrependeu-se de haver feito o homem” (v.6) é teologicamente problemática quando confrontada com a imagem de Jesus. O arrependimento divino — uma ideia atribuída aqui a Deus — sugere inconstância ou falha no plano divino, o que se opõe à constância e à sabedoria de Jesus, que sabia o que estava no coração do homem e ainda assim os amava (João 2:24-25). O relato dos “filhos de Deus” tomando para si as “filhas dos homens” (v.2) também carrega ambiguidades que geraram interpretações místicas ou patriarcais ao longo da história. Nada disso está presente no Evangelho de Cristo, onde as pessoas são chamadas a amar e não a dominar ou corromper.
A figura de Noé, que "achou graça aos olhos do Senhor" (v.8), é a centelha de esperança e prefigura o conceito de justiça pela fé, como será retomado em Hebreus 11:7. Isso sim se alinha ao ensinamento de Jesus — a salvação pela confiança, e não pela violência ou destruição. Assim, a mensagem viva de Gênesis 6 está na graça que ainda resplandece em meio à decadência, mas toda atribuição de genocídio, pesar ou destruição a Deus deve ser lida como acréscimo humano de uma cultura que via o juízo como poder e o castigo como sinal de justiça.
Por isso, como princípio absoluto, só é Palavra de Deus aquilo que é coerente com Jesus — com o Cristo que salvou em vez de matar, que acalmou o mar em vez de o levantar contra as nações. E toda leitura bíblica, inclusive de Gênesis, deve ser feita sob esse filtro, como ensina 2 Coríntios 3:14-16: o véu só se retira em Cristo.
Estrofe 1
Disse o Senhor a Noé sem demora:
“Entra na arca, tua casa agora.
Dentre as gerações és justo e fiel,
Traga animais puros, macho e fêmea ao céu.
Dos puros, sete pares guardarás,
E dos impuros, apenas um traz.
Alimento para todos prepararás,
Pois o dilúvio logo cairá.”
Estrofe 2
Noé fez tudo como Deus mandou,
Com seiscentos anos, o tempo chegou.
Vieram animais de cada nação,
Entraram por pares na salvação.
A chuva caiu ao sétimo dia,
Águas do céu, da terra, em harmonia.
A arca flutuava por sobre os montes,
Enquanto os rios subiam suas fontes.
Estrofe 3
As janelas dos céus se abriram então,
E as fontes do abismo jorraram em vão.
Caiu água sobre a terra quarenta dias,
E Noé seguro com a família e as crias.
Tudo o que vivia fora da arca morreu,
Homem e fera, tudo se perdeu.
Mas Deus lembrava do justo e fiel,
Preservando a vida num barco de mel.
Refrão
O mundo afundou em juízo e dor,
Mas Noé guardou a ordem do Senhor.
Na arca estava a nova chance do bem,
Onde a justiça recomeça também.
Estrofe 4
As águas subiram quinze côvados além,
E encobriram todo o alto também.
Montes cobertos, não houve escapatória,
Sumiu da terra a antiga história.
A vida respira apenas no abrigo,
Onde Noé flutua com fé e contigo.
Tudo o que tem fôlego foi apagado,
Mas a promessa de vida havia chegado.
Estrofe 5
Cento e cinquenta dias durou a cheia,
E o coração de Deus se encheu de ideia.
Do Velho ao Novo, aprendemos então:
Só é Palavra o que aponta pra redenção.
Se revela amor, justiça e perdão,
Como em Jesus, o Deus da compaixão.
Pois toda Escritura é luz quando for
Imagem da graça do Cristo Senhor.
Refrão
O mundo afundou em juízo e dor,
Mas Noé guardou a ordem do Senhor.
Na arca estava a nova chance do bem,
Onde a justiça recomeça também.
SALVAÇÃO ENTRE AS ÁGUAS — LENDO GÊNESIS 7 À LUZ DE JESUS
Gênesis 7 narra o cumprimento do dilúvio: Noé entra na arca com sua família e os animais, e a terra é inundada por quarenta dias e quarenta noites. O texto revela um Deus que decide “desfazer de sobre a face da terra todo ser vivente” (v.4), incluindo homens, animais e aves. No entanto, para que este ou qualquer outro capítulo das Escrituras possa ser entendido como Revelação divina verdadeira, é preciso aplicar o critério que o próprio Cristo ensinou: somente é Palavra de Deus aquilo que é coerente com Ele, com seus ensinos e sua vida (João 14:9; Hebreus 1:1-3). Tudo o que contradiz o amor, o perdão, a não-violência e a dignidade humana proclamados por Jesus deve ser interpretado como acréscimo humano, mesmo que tenha sido escrito com reverência e zelo religioso.
Jesus jamais ensinou a destruição coletiva como caminho da justiça divina. Pelo contrário, repreendeu os discípulos que queriam fazer “descer fogo do céu” como Elias (Lucas 9:54-56), e ensinou que o Pai “faz nascer o sol sobre bons e maus” (Mateus 5:45), sem distinção. Diante disso, o genocídio descrito em Gênesis 7 não pode ser considerado diretamente como a vontade de Deus revelada em Cristo, mas deve ser lido como uma narrativa teológica construída por povos antigos que buscavam explicar catástrofes naturais e reafirmar a ideia de eleição e pureza de um grupo.
No entanto, a imagem da arca como abrigo em meio à destruição oferece um símbolo que o Novo Testamento ressignifica. Pedro afirma que a arca prefigura o batismo (1 Pedro 3:20-21), não como juízo, mas como salvação pela graça. Em Cristo, a água não destrói — ela purifica. Em vez de uma arca de madeira, somos chamados à comunhão com o próprio Cristo, nossa segurança em meio às tempestades.
Portanto, Gênesis 7 só pode ser visto como Palavra viva onde aponta para o cuidado de Deus com os justos e para a preservação da vida, e não onde atribui destruição em massa a um Deus de amor. Como afirma Paulo, “o amor é o cumprimento da lei” (Romanos 13:10) — e só o que permanece sob o amor de Jesus permanece como revelação. Tudo mais é história humana tentando compreender o eterno.
Estrofe 1
Lembrou-se Deus de Noé e da criação,
Fez passar um vento sobre a imensidão.
As fontes do abismo cessaram seu choro,
E as janelas do céu fecharam de novo.
A água recuava, a terra surgia,
Ao sétimo mês a arca repousaria.
Nos montes de Ararate firmou-se então,
Esperança brotou após tanta aflição.
Estrofe 2
Ao décimo mês, os cumes surgiram,
E as aves da arca saíram, e viram.
Um corvo voava e ia, voltava,
Até que as águas por fim secavam.
Depois Noé soltou uma pomba fiel,
Mas não achou onde pousar sob o céu.
Sete dias mais, e a pomba voou,
Trazendo um ramo: a vida voltou!
Estrofe 3
Esperou mais sete e de novo a soltou,
Mas agora a pomba não retornou.
Noé abriu a tampa, viu o chão enxuto,
E ouviu Deus falar: “É tempo absoluto.”
Sai da arca com tua família inteira,
Liberta os bichos, renova a bandeira.
Noé então erigiu um altar de verdade,
Ofertando animais com sinceridade.
Refrão
A terra secou e Deus renovou,
Com cheiro suave a nova aliança firmou.
Noé adorou com temor e razão,
E Deus prometeu: não haverá destruição.
Estrofe 4
Disse o Senhor: “Nunca mais amaldiçoarei,
A terra por causa do homem que criei.
Pois a inclinação do seu coração
É má desde a infância, sem redenção.
Mas não destruirei todo ser vivente,
Enquanto houver estação, semente e gente.
Dia e noite, verão e inverno,
Permanecerão do início ao eterno.”
Estrofe 5
E aprendemos, em Jesus, com clareza:
Só é Palavra o que traz Sua beleza.
Se reflete amor, perdão e luz,
É da vontade do Pai que é Jesus.
Pois toda Escritura tem sua missão,
Mas passa no crivo da encarnação.
Se aponta pra cruz, pra graça e perdão,
É Palavra do Deus que toca o chão.
Refrão
A terra secou e Deus renovou,
Com cheiro suave a nova aliança firmou.
Noé adorou com temor e razão,
E Deus prometeu: não haverá destruição.
UM DEUS QUE SE LEMBRA — LENDO GÊNESIS 8 À LUZ DE JESUS
O capítulo 8 de Gênesis descreve o recuo das águas do dilúvio, a arca repousando sobre o monte Ararate, e a aliança de Deus após o juízo. “Deus se lembrou de Noé” (v.1), diz o texto — e esse é o fio que costura todo o capítulo: o Deus que não esquece os que confiam n’Ele. No entanto, para que essa narrativa, como qualquer outra nas Escrituras, seja reconhecida como Revelação de Deus, é indispensável julgá-la à luz de Jesus, o Verbo feito carne (João 1:14), que nos mostrou o Pai como Ele é — manso, compassivo, não violento, e inteiramente justo (João 14:9; Hebreus 1:3).
A linguagem usada em Gênesis 8 reflete, por um lado, um retorno da paz e da ordem após o caos, mas, por outro, reforça a ideia de que a destruição foi necessária para reiniciar a história humana. Essa teologia da destruição purificadora contrasta com o modo como Jesus lidou com a corrupção e o pecado em sua época: ele nunca destruiu pecadores, mas os amou até o fim (João 13:1). Quando viu a cidade de Jerusalém corrompida, chorou por ela, mas não a afogou (Lucas 19:41-44). Por isso, ao lermos esse capítulo, a graça deve ser mais valorizada que o julgamento, pois ela é a essência da revelação cristã.
O envio da pomba por Noé (v.8-12), que retorna com um ramo de oliveira, é uma imagem belíssima — e profética. Ela reaparece no batismo de Jesus, quando o Espírito Santo desce como uma pomba (Lucas 3:22). Isso nos lembra que o verdadeiro renascimento da humanidade não vem pela destruição das águas, mas pela renovação do Espírito. A arca é sombra; Cristo é realidade. A pomba é símbolo; o Espírito é vida.
O sacrifício oferecido por Noé no final (v.20) mostra a tentativa humana de agradar a Deus com holocaustos. Mas no Novo Testamento, aprendemos que Deus se agrada do sacrifício de um coração quebrantado e de uma vida vivida em amor (Salmo 51:17; Efésios 5:2). O “cheiro suave” que sobe a Deus (v.21) deve ser compreendido, hoje, como o bom perfume de Cristo: a doação de si mesmo, e não a morte de outrem (2 Coríntios 2:15).
Por isso, reafirmamos: em Gênesis 8 — como em toda a Bíblia — só é Revelação o que for coerente com Jesus. O que nega sua misericórdia, o que endossa matanças, o que obscurece o amor, mesmo que esteja escrito, é acréscimo humano, fruto de culturas marcadas pelo medo e pelo poder. Pois como disse o próprio Jesus: “Quem me vê, vê o Pai” (João 14:9). E no Cristo, Deus nunca destrói — Ele lembra, salva e nos faz recomeçar em paz.
Estrofe 1
Abençoou Deus a Noé e seus filhos,
“Frutificai, multiplicai” — novos trilhos.
O temor de vós será sobre a criação,
Toda fera e ave sob vossa mão.
A carne com sangue, não comerás,
Pois nela está a vida que Deus nos traz.
Quem derrama sangue, do homem será cobrado,
Pois à imagem divina foi moldado.
Estrofe 2
“Vós, sede fecundos sobre a terra inteira,
Multiplicai, povoai a terra verdadeira.”
Disse Deus: “Minha aliança agora declaro,
Com vós e com os bichos que amparo.
Jamais exterminarei como antes fiz,
Mesmo se o mundo esquecer o que diz.
Meu arco nas nuvens será sinal,
Que a destruição não será o final.”
Estrofe 3
Noé e seus filhos ouviram, temeram,
As gerações novas da arca vieram.
Sem, Cam e Jafé, o mundo herdaram,
E em terras distintas os homens se espalharam.
Cam viu seu pai nu e zombou,
Sem cobriu com respeito e amor mostrou.
Noé despertou e o fato soube,
Proferiu bênçãos e maldição sobre a nudez.
Refrão
Deus fez aliança com o ser vivente,
Com arco no céu como elo presente.
Vida e justiça Ele sempre quis,
Mesmo após juízo, oferece a paz e o bem que diz.
Estrofe 4
Jafé seria grande e habitante das tendas,
Sem abençoado, com bênçãos tremendas.
Cam foi servirá, foi o que restou,
Das ações erradas que seu gesto mostrou.
A vida seguiu, Noé envelheceu,
Novecentos e cinquenta, e então morreu.
Gerações nasceram do pacto firmado,
O mundo se refez, num novo chamado.
Estrofe 5
Mas aprendemos à luz do Senhor,
Que só é Palavra o que vem do Amor.
Se o texto se opõe a Cristo, o Messias,
É sombra e ruído, não luz dos seus dias.
Jesus é o filtro da revelação,
É Ele o arco de reconciliação.
Noé aponta, mas Cristo é a aliança viva,
Não mais temor — agora graça ativa.
Refrão
Deus fez aliança com o ser vivente,
Com arco no céu como elo presente.
Vida e justiça Ele sempre quis,
Mesmo após juízo, oferece a paz e o bem que diz.
ALIANÇA E INTERPRETAÇÃO — LENDO GÊNESIS 9 À LUZ DE JESUS
Gênesis 9 apresenta a aliança de Deus com Noé e todos os seres vivos após o dilúvio, prometendo nunca mais destruir a terra por meio de um juízo aquático. O arco-íris se torna sinal eterno dessa promessa. No entanto, também neste capítulo, há um episódio polêmico e frequentemente usado como justificativa teológica de opressão: a maldição de Canaã (filho de Cam) por causa do ato de seu pai. Por isso, precisamos recordar que toda Escritura só pode ser lida como Palavra de Deus quando for coerente com Jesus — o Deus encarnado, cheio de graça e verdade (João 1:14), a revelação perfeita da vontade do Pai (Hebreus 1:3).
A aliança feita com Noé (v.8–17) é abrangente: inclui não só a humanidade, mas todos os animais da terra. Jesus amplia ainda mais essa visão: Ele não apenas salva a criação, mas a reconcilia com Deus (Colossenses 1:20). O arco no céu é símbolo de paz; Jesus é o arco encarnado — a ponte entre o céu e a terra, que garante reconciliação e vida abundante para todos os povos.
Mas é no episódio de Noé embriagado (v.20–27), e na consequente maldição de Canaã, que a leitura cristocêntrica se torna essencial. Ao longo da história, essa maldição foi deturpada para legitimar escravidão, racismo e violência institucional, especialmente contra povos africanos. No entanto, Jesus jamais amaldiçoou alguém com base em descendência, cor ou cultura. Pelo contrário, Ele acolheu cananeus (Mateus 15:22–28), samaritanos e todo tipo de estrangeiro. Portanto, qualquer interpretação que use Gênesis 9 para justificar dominação ou exclusão é um acréscimo humano, fruto de preconceito e não do Espírito de Cristo.
O apóstolo Paulo afirmou que “em Cristo não há judeu nem grego... escravo nem livre” (Gálatas 3:28). Ou seja, toda estrutura de superioridade é dissolvida na cruz. Assim, Gênesis 9 só pode ser considerado revelação quando anuncia a aliança de paz e respeito pela vida, e não onde ecoa antigas visões tribais de maldição, castigo hereditário ou destino racial.
Por fim, como em todo o Velho e Novo Testamento, apenas aquilo que reflete o caráter amoroso, inclusivo e libertador de Jesus é verdadeiramente Palavra de Deus. O restante é voz humana — religiosa, talvez bem-intencionada — mas limitada por sua época, cultura e visão. O filtro final continua sendo o próprio Cristo: a imagem exata do Pai (Hebreus 1:3), o único Senhor da Palavra.
Estrofe 1
Estas são gerações dos filhos de Noé,
Sem, Cam e Jafé, que a terra povoou.
Filhos nasceram após o dilúvio,
E cada linhagem seguiu seu fluxo.
Jafé teve Gômer, Madai, Javã,
Togarma, Tiras e o povo afã.
Ilhas e nações por eles surgiram,
Segundo línguas e terras se dividiram.
Estrofe 2
Os filhos de Cam, Cuxe e Mizraim,
Pute e Canaã, por terras sem fim.
Cuxe gerou Ninrode, o caçador,
Rei de Babel e grande dominador.
Cidades erguidas: Ereque, Calné,
Na terra de Sinar, onde o orgulho é fé.
De Mizraim, saíram povos antigos,
Filisteus, casluins, com seus vestígios.
Estrofe 3
Canaã gerou Sidom, Hete e jebuseu,
Amorreu, girgaseu, os que Israel conheceu.
Depois veio Sem, irmão de Jafé,
Pai dos hebreus e sua fé.
Elão, Assur, Arfaxade, e mais,
Lud e Arã, de passos ancestrais.
Arfaxade foi pai de Selá,
Que gerou Héber, raiz de Judá.
Refrão
De Noé vieram as multidões,
Divididas em línguas e nações.
Mas Deus, entre os povos, olha o coração,
Mais que linhagem, Ele busca intenção.
Estrofe 4
De Héber nasceram dois filhos enfim,
Um se chamou Pelegue — tempos sem fim.
Em seus dias, a terra foi repartida,
Gerações seguiam, formando a vida.
Outros nomes surgem: Jectã, Almodá,
Hazarmavé, Jerá, nomes sem par.
Regiões da Mesá até Sefar,
Montes do Oriente, onde iam habitar.
Estrofe 5
Essas são as famílias dos filhos de Noé,
Conforme nações, línguas e sua fé.
Povos divididos por gerações,
De onde surgiram civilizações.
Mas toda Escritura só é luz e verdade,
Se refletir Jesus e Sua bondade.
Pois Ele é a Palavra que encarna o amor,
Do Velho ao Novo, o puro resplendor.
Refrão
De Noé vieram as multidões,
Divididas em línguas e nações.
Mas Deus, entre os povos, olha o coração,
Mais que linhagem, Ele busca intenção.
ORIGENS E FRONTEIRAS — LENDO GÊNESIS 10 À LUZ DE JESUS
O capítulo 10 de Gênesis é conhecido como a “Tabela das Nações”. Nele, são listadas as descendências dos filhos de Noé — Sem, Cam e Jafé — e a origem dos povos que se espalharam pela terra após o dilúvio. Embora o texto tenha um valor histórico e antropológico relevante, é fundamental lembrar que nenhuma lista genealógica ou classificação é Palavra de Deus em si, a menos que esteja em harmonia com o espírito de Jesus, que veio derrubar as barreiras entre os povos, não reforçá-las (Efésios 2:14).
Jesus não fez acepção de pessoas (Atos 10:34-35), e em seus ensinamentos, jamais separou ou hierarquizou povos por origem genealógica. Ele elogiou a fé do centurião romano (Mateus 8:10), conversou com a mulher samaritana (João 4:7-26), e usou um samaritano como exemplo de amor ao próximo (Lucas 10:30-37). Portanto, qualquer leitura de Gênesis 10 que sugira superioridade racial ou divisão étnica como parte da vontade divina é um acréscimo humano, e não a revelação do Reino de Deus.
Essa genealogia, por exemplo, foi usada ao longo da história para justificar imperialismos, escravidão e segregação — especialmente a partir da associação da descendência de Cam com povos africanos. Essa associação é historicamente forçada e teologicamente contrária ao Evangelho, pois Jesus nunca determinou o valor de alguém pela ancestralidade, mas sim pelo amor e fé com que vive.
Ler Gênesis 10 à luz de Cristo é lembrar que todas as nações mencionadas, e aquelas que surgiram depois, estão convidadas à mesma comunhão com Deus, pois “Deus amou o mundo” — o mundo inteiro (João 3:16). E, ao final dos tempos, “gente de todas as tribos, povos, línguas e nações” adorará diante do trono (Apocalipse 7:9). Esse é o plano de Deus revelado em Jesus: não a separação genealógica, mas a reconciliação universal.
Portanto, reafirmamos: em qualquer capítulo das Escrituras — inclusive em Gênesis 10 — só é Palavra de Deus o que for coerente com Jesus. O resto é voz humana, limitada por sua cultura e tempo. Em Cristo, toda genealogia culmina num só destino: a fraternidade universal dos filhos e filhas de Deus.
Estrofe 1
E era toda a terra uma só língua,
E de uma mesma fala, era a tribo antiga.
Partiram do oriente e encontraram um vale,
E em Sinear, fundaram sua base.
Disseram: “Façamos tijolos e queimemo-los bem”,
“Vamos edificar cidade, torre além.”
Para não sermos espalhados pela nação,
Levantemos alto nome, uma só direção.
Estrofe 2
Então desceu o Senhor para ver,
A cidade e a torre a construir.
E disse: “Eis que são um só povo,
E só uma língua fluem de novo.
Agora nada lhes será impedido,
Pois tudo quanto intentam será seguido.”
Disse Deus: “Confundamos sua linguagem”,
“Para que não haja mais essa viagem.”
Estrofe 3
O Senhor os espalhou dali,
E cessaram de construir o que ali.
Chamou-se Babel, pois ali a fala,
Foi confundida, e dispersa a sala.
Depois disso, se seguem os descendentes,
Desde Sem até Abrão, firmes e crentes.
Cada geração marcada no tempo,
Vivendo sob o divino intento.
Refrão
Na torre, o orgulho fez o chão tremer,
Mas Deus confundiu o querer do poder.
E por meio de Abrão, um novo caminho,
Surgiu pela fé, em santo pergaminho.
Estrofe 4
Sem teve Arfaxade, que gerou Selá,
Depois veio Héber e sua linhagem já.
Pelegue e Reú, Serugue e Naor,
Tera e Abrão, que encontrou o Senhor.
Eles habitaram em Ur dos caldeus,
Mas foram chamados a deixar os seus.
Tera morreu em Harã, com dor,
Mas Abrão seguiria ao Deus de amor.
Estrofe 5
Aqui termina a linhagem bendita,
Mas começa uma história infinita.
Deus confundiu a torre do orgulho,
E escolheu Abrão como novo mergulho.
E mesmo nesta história tão remota,
Só é divina a Palavra que brota,
Se nela houver o perfume de Jesus,
Caminho de graça, verdade e luz.
Refrão
Na torre, o orgulho fez o chão tremer,
Mas Deus confundiu o querer do poder.
E por meio de Abrão, um novo caminho,
Surgiu pela fé, em santo pergaminho.
UNIDADE E DIVISÃO — LENDO GÊNESIS 11 À LUZ DE JESUS
Gênesis 11 relata a construção da Torre de Babel, um evento simbólico que explica a origem das línguas e a dispersão dos povos pela terra. No entanto, para entender este capítulo como verdadeira revelação divina, é essencial aplicar o princípio central de toda a Escritura: só é Palavra de Deus o que for coerente com Jesus, o Deus conosco, revelado em amor, graça e reconciliação (João 1:14; 14:6). O Velho Testamento, o Novo e toda tradição cristã devem ser interpretados à luz do ensinamento e da vida de Cristo, que unificou a humanidade em sua missão de salvação (Efésios 2:14-18).
A narrativa da Torre de Babel, na qual a humanidade tenta construir uma torre para alcançar o céu e fazer um nome para si, revela o orgulho e a tentativa humana de autonomia que gera divisão e confusão (v.1-9). Porém, Jesus veio derrubar as barreiras que separam as pessoas — de língua, raça, cultura ou condição social — trazendo reconciliação e comunhão entre todos os povos (Atos 2:1-12; João 17:20-23). Assim, o episódio de Babel deve ser compreendido não como uma condenação eterna à separação, mas como um alerta sobre a soberba humana, que Jesus cura ao estabelecer um novo caminho de unidade.
O capítulo mostra que a diversidade linguística e cultural surgiu de um juízo divino, mas em Cristo, essa diversidade é transformada em riqueza e celebração da criação de Deus (Apocalipse 7:9). Qualquer leitura que use Gênesis 11 para justificar segregação, discriminação ou exclusão não está em consonância com a revelação do amor de Deus em Jesus.
Portanto, em Gênesis 11, assim como em todo o Velho e Novo Testamento, somente aquilo que ressoa com o caráter e a missão de Jesus deve ser entendido como Palavra inspirada e vontade verdadeira de Deus. O restante, ainda que parte da tradição sagrada, pode conter elementos de interpretação humana, cultural e histórica, passíveis de revisão e compreensão à luz do Evangelho.
Títulos dos eventos registrados em Gênesis 11:
-
A humanidade fala uma só língua e quer construir uma cidade e uma torre para alcançar o céu (vv.1-4)
-
Deus observa a obra e decide confundir a linguagem para impedir a construção (vv.5-7)
-
A dispersão da humanidade sobre a terra e o fim da construção da cidade, que recebe o nome Babel (vv.8-9)
-
Genealogia de Sem e seus descendentes até Abraão (vv.10-32)
Estrofe 1
Disse o Senhor a Abrão, com poder:
“De tua terra terás que sair,
Da tua parentela e do teu ser,
Uma nova terra irás possuir.
Farei de ti grande nação,
Abençoarei o teu coração.
Te engrandecerei, serás bênção,
E em ti todas as famílias terão salvação.”
Estrofe 2
Partiu Abrão como o Senhor falou,
E Ló com ele também caminhou.
Tinha setenta e cinco ao obedecer,
Saindo de Harã sem retroceder.
A terra de Canaã então alcançou,
Ali edificou altar e adorou.
Mas ao sul desceu por necessidade,
Pois veio a fome com intensidade.
Estrofe 3
Desceu ao Egito para ali habitar,
Com Sarai, sua esposa a caminhar.
Por sua beleza, temeu morrer,
E pediu que dissesse: “Irmã a me ser”.
O Faraó tomou Sarai ao seu lar,
E pragas Deus fez logo se manifestar.
O rei descobriu e Abrão despediu,
Com gado, prata e ouro que ele angariou.
Refrão
Deus chamou, e Abrão foi sem saber,
Crendo que o Senhor iria prover.
Mesmo em erro, foi protegido,
Pois Deus fiel não deixa esquecido.
Estrofe 4
Mesmo com falha e hesitação,
Abrão seguiu com convicção.
Errou com medo, mas Deus o guardou,
Pois sabia quem o chamou.
Com bênçãos partiu do Egito a sorrir,
E à terra prometida tornou a ir.
Ali reconstruiu o seu altar,
E ao nome do Senhor voltou a clamar.
Estrofe 5
Esse chamado é mais que missão,
É um convite à transformação.
Mas toda Escritura, com santa atenção,
Só é Palavra de Deus em Jesus, a encarnação.
Se em qualquer livro faltar sua voz,
Não serve de guia nem para nós.
Pois o Cristo vivo é o Verbo fiel,
A Luz que desceu do eterno céu.
Refrão
Deus chamou, e Abrão foi sem saber,
Crendo que o Senhor iria prover.
Mesmo em erro, foi protegido,
Pois Deus fiel não deixa esquecido.
CHAMADO E PROMESSA — ENTENDENDO GÊNESIS 12 À LUZ DE JESUS
Gênesis 12 narra o chamado de Abrão (Abraão) por Deus para sair de sua terra e família e caminhar rumo a uma promessa que envolve a bênção para todas as nações. Este capítulo é fundamental para a história da salvação, pois marca o início da aliança divina com o povo escolhido. No entanto, como em todo o Velho e Novo Testamento, é imprescindível lembrar que somente o que for coerente com Jesus Cristo — que cumpre as promessas de Deus em amor, justiça e salvação para todos — deve ser considerado verdadeira revelação divina (Lucas 24:27; João 5:39; Hebreus 1:1-3).
Jesus é a realização da promessa feita a Abraão, o bendito por Deus para que em sua descendência todas as famílias da terra fossem abençoadas (Gálatas 3:8,16). Assim, a fé de Abraão, seu abandono de seguranças terrenas e sua confiança no chamado divino, são exemplos vivos da jornada do cristão em direção a Deus. Toda interpretação de Gênesis 12 que exclua essa dimensão messiânica, universal e inclusiva do Evangelho, perde sua profundidade e pode se transformar em acréscimo humano, marcado por exclusões e dogmatismos.
Alguns relatos do capítulo, como a ida de Abraão ao Egito e sua apresentação de Sara como irmã (vv.10-20), refletem um contexto histórico-cultural e humano que revela as imperfeições dos personagens, e não a perfeita vontade divina. Esses trechos, portanto, devem ser lidos criticamente, reconhecendo-os como parte da narrativa inspirada, mas condicionada às limitações humanas da época.
Portanto, Gênesis 12 nos convida a caminhar na fé, reconhecendo Jesus como centro e cumprimento da promessa feita a Abraão. Tudo que desvia dessa luz deve ser interpretado como um acréscimo humano, que precisa ser revisitado à luz do Evangelho.
Estrofe 1
Abrão subiu do Egito ao sul,
Com sua esposa e bens em baú.
Tinha muito ouro e também gado,
E Ló com ele, lado a lado.
Entre Betel e Ai se instalou,
E o altar do Senhor restaurou.
Ali invocou o nome sagrado,
No caminho que Deus havia traçado.
Estrofe 2
Mas Ló também possuía bens,
Rebanhos, tendas e pastos além.
A terra não os comportava juntos,
E os pastores já tinham seus assuntos.
Então Abrão disse com sabedoria:
“Que não haja contenda neste dia.
Se fores para a esquerda, vou à direita,
Escolhe o teu rumo, de alma feita.”
Estrofe 3
Ló levantou os olhos e viu,
O vale do Jordão que reluziu.
Escolheu as campinas como seu chão,
Próximas a Sodoma, cidade em perdição.
Abrão ficou em Canaã, em fé,
Deus falou com ele de pé.
Prometeu a terra para sempre dar,
E a descendência fez multiplicar.
Refrão
Abrão escolheu paz e não disputa,
E Ló buscou o que mais reluz.
Mas Deus honra o que é fiel,
E faz florescer onde há luz.
Estrofe 4
“Levanta os olhos, olha em redor,”
Disse o Senhor com eterno amor.
“Tudo que vês será tua herança,
Para ti e tua esperança.
Caminha por ela com firme passo,
Pois te darei o seu espaço.”
Abrão foi, ergueu um novo altar,
E ali adorou sem hesitar.
Estrofe 5
Por mais que o texto seja antigo,
Só é Palavra se for contigo.
Com Jesus, a luz que revela,
Toda Escritura se torna bela.
Se não for amor e compaixão,
Não vem de Deus, nem é salvação.
Cristo é o Verbo, é a direção,
A chave da santa revelação.
Refrão
Abrão escolheu paz e não disputa,
E Ló buscou o que mais reluz.
Mas Deus honra o que é fiel,
E faz florescer onde há luz.
CRESCENDO NA PROMESSA — REFLEXÃO SOBRE GÊNESIS 13 À LUZ DE JESUS
Gênesis 13 relata o retorno de Abrão à terra de Canaã, a separação pacífica entre ele e Ló por causa da prosperidade e da necessidade de espaço, e a reafirmação da promessa divina feita a Abrão. Contudo, como em todo o Velho e Novo Testamento, o verdadeiro entendimento deste capítulo deve ser guiado pelo critério central do Cristianismo: apenas o que for coerente com Jesus Cristo — Sua pessoa, Seus ensinamentos e missão — pode ser considerado verdadeira Palavra de Deus, a Revelação divina autêntica (João 1:14; 14:6; Mateus 5:17-18).
A história da separação entre Abrão e Ló, por exemplo, pode ser vista tanto como uma lição de humildade e busca pela paz quanto um retrato da complexidade humana e das limitações sociais daquela época. O que se destaca, porém, é a confiança renovada de Abrão na promessa divina, a qual culmina na bênção universal cumprida em Jesus Cristo, que chama todos a uma terra espiritual, um reino eterno, muito além do espaço físico. Qualquer interpretação que perca essa dimensão espiritual pode ser considerada acréscimo humano, ainda que bem-intencionado.
Além disso, a simplicidade e generosidade com que Abrão cede espaço a Ló refletem valores que o Evangelho de Jesus enfatiza — amor, paz e renúncia — apontando para uma vida guiada pelo Espírito, não apenas pelo direito material.
Assim, Gênesis 13 nos convida a olhar para a promessa de Deus com olhos de fé, reconectando-nos sempre com Jesus, a verdadeira herança e cumprimento das promessas feitas a Abraão. O texto deve ser interpretado à luz dessa revelação, sem perder de vista que todo acréscimo contrário a esse centro pode ser entendido como resultado da experiência humana, sujeita a erros e limitações.
Estrofe 1
Quatro reis guerreiros se uniram,
Contra cinco, seus exércitos seguiram.
Derrotaram os refúgios de Elasar,
Tomaram Sodoma sem hesitar.
Levaram Ló e seus bens também,
Abrão soube e não ficou sem.
Reuniu trezentos e dezoito aliados,
E perseguiu os reis desalmados.
Estrofe 2
Pela noite os inimigos atacou,
E em Hobá a vitória conquistou.
Trouxe Ló, seus bens e a multidão,
Livrando os justos da opressão.
Melquisedeque, rei de Salém,
Veio com pão e vinho, também.
Bendisse Abrão em nome do Alto,
De quem é céu e terra o assalto.
Estrofe 3
Disse: “Bendito o Deus altíssimo,
Que te deu vitória sobre o abismo!”
Abrão deu o dízimo ao sacerdote,
Com humildade e alma nobre.
O rei de Sodoma veio pedir,
Mas Abrão não quis nada repartir.
“Não direi que me enriqueceste,”
Pois só do Senhor minha força veste.
Refrão
Abrão venceu com fé e coragem,
Livrou seu povo da escravidão selvagem.
Deu honra ao Deus de compaixão,
E recusou glória da corrupção.
Estrofe 4
Disse Abrão: “Levanto a mão,
Ao Senhor, meu escudo, minha razão.
Nada tomarei que é teu,
Nem fio, nem sandália, nem véu.
Somente o que os homens comeram,
E os aliados que comigo vieram.
A Aner, Escol e Manre darei,
Mas do ímpio nada tomarei.”
Estrofe 5
Palavras e gestos que brilham na história,
Só são santos se refletem a glória
Da justiça, da paz e do bem,
Como ensinou Jesus em Belém.
O Antigo ou Novo só são verdade,
Se mostram Cristo em sua bondade.
Nele se cumpre toda profecia,
Luz do mundo e eterna harmonia.
Refrão
Abrão venceu com fé e coragem,
Livrou seu povo da escravidão selvagem.
Deu honra ao Deus de compaixão,
E recusou glória da corrupção.
PROMESSA, GUERRA E BÊNÇÃO — REFLEXÃO SOBRE GÊNESIS 14 À LUZ DE JESUS
Gênesis 14 narra um episódio de guerra envolvendo reis e a libertação de Ló por Abrão, seguido do encontro com Melquisedeque, sacerdote do Deus Altíssimo. No entanto, ao interpretar este capítulo, é essencial seguir o princípio fundamental do Cristianismo: só pode ser reconhecida como verdadeira Palavra de Deus aquilo que é coerente com Jesus Cristo — Sua vida, ensinamentos e missão (João 1:14; Hebreus 7:1-3; Mateus 5:17-18). Esse critério absoluto filtra a interpretação, assegurando que a revelação divina seja compreendida em sua plenitude.
O relato da batalha e da vitória de Abrão pode simbolizar a luta espiritual e a proteção divina sobre aqueles que creem, enquanto o encontro com Melquisedeque prefigura Jesus, o eterno sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, que intercede por nós (Hebreus 7). Qualquer leitura que exalte a violência ou poder terreno de forma isolada, sem a referência ao amor e sacrifício de Cristo, deve ser vista como acréscimo humano, resultado da visão limitada do homem antigo.
Além disso, o capítulo evidencia a fidelidade de Deus em proteger e honrar os justos, prenunciando a verdadeira justiça e salvação trazidas por Jesus. A bênção de Melquisedeque a Abrão aponta para a bênção eterna que está em Cristo, o verdadeiro Rei e Sacerdote, em quem todas as promessas se cumprem.
Assim, Gênesis 14, interpretado pela luz de Jesus, nos convida a ver além dos conflitos humanos, reconhecendo o plano divino que culmina na redenção e na paz oferecida por Cristo. Todo acréscimo que contrarie essa perspectiva deve ser considerado como fruto da compreensão humana imperfeita.
Estrofe 1
Após a vitória e paz ressoar,
Abrão ouviu o Senhor falar:
“Não temas, sou teu escudo fiel,
E tua recompensa virá ao céu.”
Abrão disse: “Senhor Deus, só tenho herdeiro Dã,
E o criado de minha casa é Caleb,
Mas eis que me prometes descendência,
Como o pó da terra, em abundância.”
Estrofe 2
O Senhor levou Abrão pra fora e disse:
“Olha para o céu e conta, se tu fores capaz.”
“Assim será tua descendência,”
Promessa escrita na presença.
Abrão creu no Senhor, foi-lhe imputado,
Justiça pela fé naquele legado;
E disse Deus: “Sou teu protetor,
Teu herdeiro herdeiro — direito, sim senhor!”
Estrofe 3
E Ele pediu sacrifício em aliança sagrada,
Touro, cabrito, carneiro e promessa selada.
Partiram animais ao meio o varão,
Fumo subiu como sinal de proteção.
Naquela visão profunda e terrena,
Deu Abrão fé que não se condena.
Quando caiu a noite, fogo e turbilhão,
Para garantir a futura geração.
Refrão
Fez-se aliança de promessa e fé,
Justiça vinda sem lei.
Em Abrão o plano se firmou,
Em Cristo se cumpriu, em amor.
Estrofe 4
Prometida a terra dos cananeus,
Desde o rio do Egito até o Padeus.
Abrão ouviu e guardou a visão,
E seguiu firme com convicção.
A fé não é esforço, mas confiança total,
Que brota não de sangue, mas de fidelidade real.
Pois quem habita na promessa do Senhor,
Recebe graça, vida e amor.
Estrofe 5
Mas toda Escritura, ao final,
É Palavra pura apenas se for sinal
Da vida de Cristo, do sacrifício e missão,
E não parecer divisão ou imposição.
Se não reflete o amor que Ele ensinou,
É sombra humana, erro que passou.
Pois Jesus é o selo sem distinção,
Fonte viva da revelação.
Ponte
Neste livro ou no Novo, só é divina verdade
Se ecoa a graça, a justiça e a liberdade
Que brotam da cruz do nosso Redentor.
Jesus só é fiel revelador.
Refrão
Fez-se aliança de promessa e fé,
Justiça vinda sem lei.
Em Abrão o plano se firmou,
Em Cristo se cumpriu, em amor.
A PALAVRA É CRISTO — CRITÉRIO FINAL
Em Gênesis 15 vemos a aliança promissora de Deus com Abrão, baseada na fé e não em obras (v.6), com confirmação através de sacrifícios e sinais (v.9–21). No entanto, o critério absoluto para reconhecer verdadeira Revelação — em qualquer momento histórico, do Velho ou do Novo Testamento — é a coerência com Jesus Cristo, Seus ensinamentos e vivência (João 5:39; Lucas 24:27; Hebreus 1:1–3). Este é o princípio fundamental para discernir o que é inspiração divina autêntica. Tudo que não se expressa na compaixão, serviço, perdão e inclusão pregados por Jesus, ainda que presente no texto bíblico, deve ser classificado como acréscimo humano — fruto de contextos culturais, interpretações legais ou teológicas equivocadas (veja, por exemplo, a imposição de violência e patrimonialismo retratada em algumas alianças antigas). Jamais o Deus de Jesus prometeria uma terra a quem quer que seja como rewslutado de guerras e matanças. Bibliografia relevante: Wright, The New Testament and the People of God; Bauckham, Jesus and the Eyewitnesses; e Pagels, The Origin of Satan.
Estrofe 1
Sarai, mulher de Abrão, estéril estava,
Mas em sua serva, esperança encontrava.
“Entra a Hagar”, disse ela com dor,
Tentando ao tempo impor seu favor.
Abrão ouviu e à serva se uniu,
E o ventre de Hagar então se abriu.
Mas logo desprezo nasceu em Hagar,
E Sarai começou a reclamar.
Estrofe 2
“Seja tua serva em tua mão”, disse Abrão,
Sarai afligiu-a com forte opressão.
Hagar fugiu, cansada e sozinha,
Perto de Sur, onde o deserto caminha.
Um anjo a achou junto à fonte a chorar,
E perguntou: “De onde vens e pra onde vai caminhar?”
“Fugi da face de Sarai, minha senhora” —
Mas o anjo lhe disse: “Volta agora.”
Estrofe 3
“Multiplicarei tua descendência”, ele prometeu,
“Teu filho será Ismael, pois Deus respondeu.”
“Homem bravo, contra todos lutará”,
Mas uma grande nação se formará.
Ela chamou o Senhor de “Deus que me vê”,
Pois ali no deserto encontrou Seu porquê.
E junto à fonte, deu novo nome ao lugar,
Pois viu o Deus vivo a lhe consolar.
Refrão
Mesmo o oprimido, Deus vem visitar,
No meio do nada, Ele faz brotar.
Sua aliança não se limita à linhagem,
Seu amor alcança toda viagem.
Estrofe 4
Hagar voltou com coragem e fé,
Com o filho no ventre, firme de pé.
A promessa não era só pra Israel,
Mas pra todos que clamam sob o céu.
Abrão tinha oitenta e seis ao nascer,
Quando Ismael veio a viver.
De Hagar, o Senhor fez geração,
Provando que vê até o chão.
Estrofe 5
Essa história mostra a compaixão
De um Deus que ouve toda aflição.
Mas também revela em sua linha,
Que nem tudo ali é doutrina divina.
Pois quem julga com abuso e rigor,
Age distante do Cristo Senhor.
Somente em Jesus, o servo fiel,
Brilha a verdade que rompe o papel.
Ponte para o último refrão
Por isso, na Bíblia, Velho ou Novo Testamento,
Só é Palavra de Deus o que traz o fundamento
Do Cristo vivo, que acolhe e perdoa,
E não oprime nem julga à toa.
Refrão (repetição)
Mesmo o oprimido, Deus vem visitar,
No meio do nada, Ele faz brotar.
Sua aliança não se limita à linhagem,
Seu amor alcança toda viagem.
DISCERNIR COM JESUS É O PRINCÍPIO ABSOLUTO
A leitura de Gênesis 16 deve ser feita à luz do ensinamento de Jesus, pois é Ele quem nos revela a verdadeira face de Deus (João 14:9). Neste capítulo, percebemos um conflito humano — Sarai entrega Hagar a Abrão, e depois a maltrata — que não deve ser compreendido como vontade divina. Ainda que o texto diga que um anjo mandou Hagar voltar à servidão, esse tipo de comando contradiz frontalmente os ensinos libertadores e acolhedores de Jesus (Lucas 4:18-19; João 8:36). Assim, entendemos que esse trecho carrega acréscimos humanos, frutos de uma cultura patriarcal e opressora. Como lembra Rubem Alves, a Bíblia “contém a Palavra de Deus”, mas também contém “palavras de homens sobre Deus” — por isso, discernir o que é Revelação passa necessariamente pela coerência com o Jesus dos Evangelhos. Ele jamais mandaria alguém se submeter à escravidão, mas libertaria Hagar e a trataria como filha amada. Essa é a lente pela qual toda Escritura deve ser lida (2 Coríntios 3:14-16).
Estrofe 1
Quando Abrão tinha noventa e nove,
O Senhor apareceu e falou com chave:
“Eu sou o Deus Todo-Poderoso,
Anda na minha presença, sê piedoso.”
Farei aliança contigo firmada,
E tua linhagem será multiplicada.
Abrão prostrou-se em reverência,
E Deus prometeu descendência.
Estrofe 2
“Teu nome agora será Abraão,”
Pois pai de nações te farei, então.
Frutificarás como árvore em flor,
E reis sairão do teu amor.
Minha aliança será eterna herança,
Entre tua casa e minha esperança.
Serei teu Deus, e o de teus filhos também,
De geração em geração, amém.
Estrofe 3
“A terra de Canaã vos darei,
Morada perpétua, como prometi a lei.
E tu guardarás esta aliança minha,
E todo varão será circuncidado no oitavo dia.”
Quem não cumprir será excluído do povo,
Pois quebrou a aliança e não buscou renovo.
E Sarai, tua esposa, renomearei,
Sará será, e nela darei rei.
Refrão
Deus selou promessa com sinal de pele,
Chamando Abraão a viver sob Ele.
Mas maior que o corte era o coração,
Onde Deus planta sua aliança em ação.
Estrofe 4
Abraão riu e disse em voz pensante:
“Com cem anos terei filho vibrante?”
E Ismael, já vivido, será suficiente?
Mas Deus reiterou: “Não, com Sará semente.”
“Isaque será seu nome de riso,
E com ele renovo meu compromisso.”
Mas também abençoarei Ismael,
Pois tua súplica chegou ao céu.
Estrofe 5
Dezessete pessoas ele circuncidou,
Naquele mesmo dia, o selo firmou.
Foi obediente à ordem sagrada,
Ainda que fosse humana e pesada.
Mas o selo mais real da divina aliança
É o amor que Jesus trouxe com esperança.
Somente em Cristo a promessa é real,
E toda Lei sem amor é sinal artificial.
Ponte para o último refrão
Assim, em qualquer capítulo ou testamento,
Somente o que reflete o ensinamento
Do Cristo vivo, humilde e redentor,
É Palavra divina com verdadeiro valor.
Refrão (repetição)
Deus selou promessa com sinal de pele,
Chamando Abraão a viver sob Ele.
Mas maior que o corte era o coração,
Onde Deus planta sua aliança em ação.
DISCERNIR COM JESUS: O VERDADEIRO SELO DA ALIANÇA
O capítulo 17 de Gênesis fala sobre a aliança entre Deus e Abraão, estabelecida com a prática da circuncisão. No entanto, à luz dos ensinamentos de Jesus, compreendemos que o verdadeiro selo da aliança com Deus não está em marcas externas no corpo, mas na transformação interna do coração (Romanos 2:29; Gálatas 5:6). Jesus nunca exigiu nenhum sinal físico para confirmar a fé de ninguém, mas sim atitudes de amor, justiça e humildade (João 13:35). A exigência da circuncisão, embora culturalmente compreensível na época, pode ser vista como um acréscimo humano, interpretado e adotado por uma mentalidade patriarcal e ritualística que ainda não conhecia a plenitude do amor revelado em Cristo (Colossenses 2:11-14). Como diz o teólogo Leonardo Boff, “toda leitura bíblica deve ser feita a partir de Jesus, a chave hermenêutica por excelência”. Logo, só é Palavra de Deus o que for coerente com Jesus, o Deus conosco.
Estrofe 1
Apareceu o Senhor nos carvalhais,
Três homens vieram como sinais.
Abraão correu, com reverência os honrou,
Pediu que ficassem, água buscou.
Mandou trazer pão, carne e coalhada,
Serviu com respeito e fala elevada.
Eles anunciaram o filho prometido,
Sará ouviu e riu, pois tinha envelhecido.
Estrofe 2
O Senhor disse: “Por que Sará sorriu?”
Acaso há algo que Deus não viu?
No tempo certo ela dará à luz,
Mesmo que a idade traga sua cruz.
Sará negou: “Não ri”, temendo o Senhor,
Mas Ele disse: “Sim, tu riste com humor.”
Os homens partiram rumo a Sodoma,
E Abraão andava com Deus na sintoma.
Estrofe 3
Disse Deus: “Ocultarei de Abraão meu plano?”
Pois ele será grande e bendito humano.
“Farei justiça e juízo ensinar,”
Pois o clamor de Sodoma começa a pesar.
Os homens foram, e Abraão ficou,
E ao Senhor ousadamente intercedeu.
“Se houver cinquenta justos, destruirás?”
Deus disse: “Por eles, a cidade pouparás.”
Refrão
Deus visita e anuncia com ternura,
Escuta Abraão em sua bravura.
Mesmo Sodoma, com toda maldade,
Recebe chance pela fidelidade.
Estrofe 4
Abraão foi ousando cada vez mais,
Quarenta, trinta, até dez justos reais.
E Deus, com paciência e compaixão,
Respondeu a cada intercessão.
O Senhor saiu, e Abraão voltou,
Pois a oração de um justo tem valor.
O capítulo termina com essa lição:
Deus escuta até o menor coração.
Estrofe 5
Sará riu do impossível nascer,
Mas Deus mostrou o poder do crer.
Abraão rogou pela injusta cidade,
E Deus mostrou sua fidelidade.
Mesmo o juízo que está por vir,
Passa pelo filtro de quem quer ouvir.
E se a cidade clama por perdão,
Deus ainda atende com compaixão.
Ponte para o último refrão
Mas lembre: toda narrativa, por mais sagrada,
Precisa ser lida à luz da jornada
De Jesus, o Cristo, modelo fiel —
O Deus-conosco, o Verbo Emanuel.
Refrão (repetição)
Deus visita e anuncia com ternura,
Escuta Abraão em sua bravura.
Mesmo Sodoma, com toda maldade,
Recebe chance pela fidelidade.
DISCERNIMENTO À LUZ DE JESUS: ONDE ESTÁ A REVELAÇÃO
Gênesis 18 apresenta a visita de Deus a Abraão e a intercessão dele por Sodoma. Neste capítulo, vemos belas imagens da hospitalidade, da esperança em meio à velhice, e da coragem intercessora diante da justiça divina. No entanto, para entender plenamente o que é revelação de Deus, é preciso filtrar tudo o que lemos à luz de Jesus, sua ética e sua prática. Em Jesus, aprendemos que Deus é longânimo, não deseja a destruição, mas a conversão (João 3:17; 2 Pedro 3:9). O modo como Abraão intercede já aponta essa sensibilidade, mas a própria destruição de Sodoma, que virá no capítulo seguinte, pode ser interpretada como uma leitura teológica posterior de Israel — um acréscimo humano diante da busca de explicar o sofrimento e a justiça. Jesus nunca destruiu cidades, mesmo quando rejeitado (Lucas 9:54-56), e por isso, todo juízo violento atribuído a Deus deve ser lido com cautela. Como afirma o teólogo Enzo Bianchi, “somente o que passa pelo crivo do amor de Cristo pode ser chamado Palavra de Deus”.
Estrofe 1
Dois visitantes chegaram em tarde quente,
Ló os viu e correu com coração valente.
“Entra, hospeda-os, lava os pés com cuidado,
E te serviremos pão, amor dedicado.”
Eles sabiam que na estrada não era lugar,
Mas Ló insistiu: “É para seu bem ficar.”
Preparou banquete com pressa e fervor,
Na cidade escura, ofereceu calor.
Estrofe 2
Mas homens puseram-se em maldade vil,
Clamaram: “Ares deles!” — caos infantil.
Ló suplicou com voz de aflição,
Ofereceu filhas, gesto de desolação.
“Faze o que quiserem, mas sem violência,”
Tentou cessar a vil resistência.
Negociou o impossível, gesto humano,
Num gesto de amor, mas de ímpeto insano.
Estrofe 3
Então os anjos, com voz compassiva,
Fecharam a porta, firmes e defensiva.
“Logo a terra vai se acabar na fumaça”,
“Corre, Ló, leva a família, não paraça.”
Eles guiaram-no fora da tempestade,
“Foge, não olhes para trás, é bondade.”
Mas a esposa olhou, o olhar vacilou,
E virou estátua de sal, a alma endureceu.
Refrão
Mesmo na treva cruel daquela nação,
Deus vê o justo e estende salvação.
A luz se escondeu, mas soprou o vento do céu,
E a promessa brilhou no escuro véu.
Estrofe 4
Os anjos disseram: “Escapa para Zoar!”
Pois a cidade era juízo a sustar.
Ló hesitou, temendo a jornada,
Mas se fez luz e partiu na madrugada.
O sol surgiu em noite de fuga,
Enquanto a alma ainda aumentava a fuga.
A chuva de fogo consumiu a impiedade,
Mas resistiu a família em busca da verdade.
Estrofe 5
Abraão viu longe a nuvem de fumaça,
E seu coração tremeu com a desgraça.
A morte veio rápida e implacável,
Mas Ló foi salvo, frágil, infalível.
Dali nasceram nomes, brasões e nações,
Mas Sodoma virou lição entre gerações.
O fogo limpou a podridão urbana,
E a luz seguiu firme em terra humana.
Ponte
Mas o que vale a pena neste relato antigo?
Só o que condiz com Jesus, o rosto amigo —
Quem salvou sem violência, acolheu sem aprovar,
Pois somente o que reflete Cristo é a Palavra a ressoar.
Refrão (repetição)
Mesmo na treva cruel daquela nação,
Deus vê o justo e estende salvação.
A luz se escondeu, mas soprou o vento do céu,
E a promessa brilhou no escuro véu.
DISCERNIR COM O CRITÉRIO DE CRISTO
PALAVRA FAZ SENTIDO LUZIR EM JESUS
Gênesis 19 descreve a destruição de Sodoma e Gomorra, mas também o resgate de Ló, chamado de “homem justo” (v.19). No entanto, gestos como Ló oferecer suas filhas aos agressores refletem valores culturais e patriarcais da época — um acréscimo humano, ainda que mostrado no texto, que Jesus jamais validaria. Ele não vendia pessoas para aplacar a violência, mas acolhia marginalizados (João 8:1–11; Mateus 25:40). Portanto, somente o que se alinha à compaixão, dignidade e amor praticados por Cristo pode ser considerado Revelação divina (Hebreus 1:1–3). Qualquer justificativa de violência ou opressão, mesmo herdada na tradição, precisa ser reavaliada à luz do Evangelho e da cruz. A leitura bíblica responsável é aquela que coloca Jesus como critério final de interpretação — como nos ensinam teólogos como Walter Brueggemann (Theology of the Old Testament) e N.T. Wright (Paul and the Faithfulness of God).
Estrofe 1
Abraão partiu para a terra do Sul,
Habitou entre Cades e Shur, lugar sem tumulto.
Em Gerar, disse de Sara: “Ela é minha irmã,”
Pois temia morrer por causa do afã.
Abimeleque, rei, tomou-a pra si,
Mas Deus interveio em sonho e falou ali:
“Tu és homem morto, pois ela é esposa!”
O rei temeu o juízo e fez pausa piedosa.
Estrofe 2
Abimeleque disse: “Com coração sincero,
Tomei-a sem saber, Deus verdadeiro!”
O Senhor respondeu: “Eu te impedi de pecar,
Pois vi tua intenção e quis te guardar.
Agora devolve-a ao seu marido Abraão,
Profeta que orará por tua salvação.”
O rei se levantou, contou a seus servos,
E a casa tremeu com temores acerbos.
Estrofe 3
Chamou Abraão e o confrontou com temor:
“Por que mentiste e nos trouxeste dor?”
Abraão disse: “Pensei que aqui não há temor de Deus,
E matariam a mim por causa dos olhos teus.”
Abimeleque deu servos, bois e prata,
Sara foi honrada como mulher exata.
Orando, Abraão curou a casa real,
Pois Deus a ferira em um plano moral.
Refrão
Mesmo com erro, Deus interveio,
Preservou vidas, firmou um meio.
Abraão mentiu, mas foi perdoado,
E o bem maior foi restaurado.
Estrofe 4
Sara ficou estéril aos olhos da corte,
Mas Deus reverteu toda sorte.
A oração do justo fez milagres brotar,
E a justiça divina voltou a brilhar.
O Senhor mostrou que mesmo na queda,
O bem pode surgir em nova vereda.
Assim termina o registro do fato,
Com paz entre os povos num pacto exato.
Estrofe 5
No entanto, a mentira de Abraão é inquietante,
Um medo humano, num servo vacilante.
Deus agiu com graça e compaixão,
Mas a omissão do profeta foi contramão.
A Escritura mostra o erro sem omitir,
Para que aprendamos a não repetir.
E Deus, soberano, reescreve o caminho,
Faz da verdade, mesmo tardia, um pergaminho.
Ponte para o último refrão
Mas, como sempre, deve-se discernir a ação,
Se condiz ou não com Cristo em sua missão.
Se não for coerente com Jesus, o Deus conosco,
É voz humana, e não do Reino justo e fosco.
Refrão (repetição)
Mesmo com erro, Deus interveio,
Preservou vidas, firmou um meio.
Abraão mentiu, mas foi perdoado,
E o bem maior foi restaurado.
DISCERNIMENTO À LUZ DE JESUS: ONDE ESTÁ A REVELAÇÃO
Gênesis 20 narra a repetição do episódio de Abraão mentindo sobre Sara, dizendo ser sua irmã. O capítulo demonstra a intervenção de Deus para evitar um grande mal, revelando sua justiça até sobre reis pagãos como Abimeleque. No entanto, à luz de Jesus, vemos que nem tudo nesse capítulo pode ser considerado plenamente como Revelação de Deus. A atitude de Abraão — medo, omissão e mentira — contrasta com os valores do Reino pregados por Cristo, como a transparência, a verdade e a coragem (João 8:32; Mateus 10:28). O próprio Jesus disse que a mentira tem como pai o diabo (João 8:44), e por isso, a escolha de Abraão é claramente um acréscimo humano resultante do temor e da falta de confiança. A verdadeira Palavra de Deus se alinha com Cristo, “o Verbo que se fez carne” (João 1:14), e somente o que ecoa seus ensinamentos pode ser chamado de revelação. Como reforça o teólogo Leonardo Boff, "a Bíblia é inspirada na medida em que leva à prática do amor, como Jesus o praticou." Assim, este capítulo nos ensina que a presença divina atua mesmo entre os erros, mas também que devemos distinguir o que é exemplo a seguir do que é advertência a evitar.
Estrofe 1
O Senhor visitou a Sara como dissera,
E ela concebeu em tempo da primavera.
Deu à luz a Isaque, filho prometido,
Abraão se alegrou, com amor comovido.
Ao oitavo dia, o menino foi circuncidado,
E o velho pai, cem anos já completado.
Sara riu e disse: “Deus me fez sorrir,”
E quem ouvir dirá: “Quem poderia crer por vir?”
Estrofe 2
O menino cresceu e foi desmamado,
E Abraão deu grande banquete animado.
Mas Sara viu Ismael zombar de Isaque,
E disse a Abraão: “Manda embora esse ataque.
O filho da escrava não herdará com o meu,”
Disse com firmeza, mas isso ao pai doeu.
Porém Deus disse: “Ouve a tua mulher,
Pois por Isaque a promessa vai ser fiel.”
Estrofe 3
Abraão, de manhã, deu pão e água à serva,
Agar e seu filho, com dor que enerva.
No deserto de Berseba, ela chorou,
O menino caiu, a esperança acabou.
Mas Deus ouviu a voz do menino que clamava,
E um anjo falou: “Levanta-te, e o sustenta.”
Deus abriu os olhos de Agar aflita,
E um poço apareceu, sua alma foi bendita.
Refrão
Deus cumpre promessas, mesmo na dor,
Abre fontes no chão do desamor.
Agar, Isaque, Sara ou Abraão,
São filhos da graça e do perdão.
Estrofe 4
Ismael cresceu no deserto do sul,
E se tornou flecheiro, forte e útil.
Sua mãe lhe trouxe esposa egípcia,
E seguiram caminho com fé implícita.
Abraão ficou em terra estrangeira,
Mas fez aliança com Abimeleque e sua bandeira.
Juraram juntos num poço chamado Berseba,
Lugar de pacto e paz que ali se celebra.
Estrofe 5
Abraão plantou tamargueira, símbolo de fé,
Invocando o Deus Eterno de pé.
Habitou ali por muitos dias em paz,
Esperando o tempo que a promessa traz.
Mas o drama de Agar ainda nos convida,
A ver que Deus ouve toda vida.
Não importa o nome, nem o nascimento,
Ele vê cada choro e sofrimento.
Ponte para o último refrão
No Velho ou no Novo, a verdade caminha,
Na coerência com Jesus, raiz e vinha.
Se algo se opõe à compaixão e perdão,
É voz humana, não divina revelação.
Refrão (repetição)
Deus cumpre promessas, mesmo na dor,
Abre fontes no chão do desamor.
Agar, Isaque, Sara ou Abraão,
São filhos da graça e do perdão.
DISCERNINDO A REVELAÇÃO EM GÊNESIS 21
PALAVRA DE DEUS É TUDO O QUE SE PARECE COM JESUS
Gênesis 21 é um capítulo de contrastes: o nascimento da promessa (Isaque), a expulsão de Agar e Ismael, e o pacto com Abimeleque. Ao olhar com os olhos de Jesus — que acolheu os pequenos, os excluídos e fez da misericórdia sua lei (Lucas 6:36-38) — percebemos que a atitude de Sara ao exigir a expulsão de Agar e Ismael, embora ouvida por Deus e aceita por Abraão, carrega marcas humanas de ciúme e possessividade. O próprio Deus, em Sua compaixão, age para amparar Agar e salvar Ismael, mostrando que sua providência transcende as decisões humanas. Como afirma o teólogo Walter Brueggemann, “a narrativa bíblica não mascara a dureza humana, mas revela o Deus que persiste em abençoar.” Assim, apenas os atos que espelham o amor, o consolo e a justiça de Cristo (João 1:14; Hebreus 1:3) devem ser tomados como inspiração divina. O restante — mesmo escrito na Bíblia — deve ser discernido como acréscimo humano, nem sempre maligno, mas limitado, e por isso sujeito à filtragem da luz de Jesus, o Verbo encarnado.
Estrofe 1
Depois dessas coisas, Deus provou Abraão,
Chamou-lhe com voz firme, de coração.
“Leva teu filho, o único que amas,
E sacrifica-o onde o altar clamas.”
Subiu Abraão com lenha e com dor,
Sem entender o plano do Senhor.
Isaque perguntou: “Onde está o cordeiro?”
E o pai respondeu: “Deus proverá o verdadeiro.”
Estrofe 2
Chegaram ao monte, montou-se o altar,
Isaque foi posto, sem hesitar.
A faca subiu na mão tremulante,
O céu silenciou no instante cortante.
Mas o anjo gritou: “Não estendas tua mão,”
Pois Deus viu fé no teu coração.
E ali no arbusto, um carneiro ficou,
No lugar de Isaque, o cordeiro expirou.
Estrofe 3
Abraão chamou aquele lugar
“Yahweh Jireh”, Deus que sabe prover e amar.
Então veio o anjo, uma segunda vez,
Confirmar promessas de bênçãos e leis.
Tua descendência será multidão,
Como as estrelas da constelação.
Por tua obediência, diz o Senhor,
Na tua semente, a terra verá o amor.
Refrão
O monte provou o coração e a fé,
Mas Deus poupou o filho com amor e pé.
No lugar da morte, veio provisão,
Deus mostrou graça, não destruição.
Estrofe 4
Abraão desceu com paz e temor,
Sabendo que Deus é mais que rigor.
Voltou aos servos com novo saber,
De que Deus não deseja ver filho morrer.
Rebeca nasceu por linhas distantes,
No pano da história de rostos vibrantes.
O enredo se move de forma sutil,
Mas o fio da graça mantém tudo em abril.
Estrofe 5
A faca suspensa é figura do engano,
Pois Jesus ensinou: Deus é Pai soberano.
Não quer sacrifícios de dor e sangue,
Mas corações justos, que o amor alcance.
Ler este texto sem ver o Cordeiro
É não perceber seu sentido inteiro.
Jesus é o fim do altar e da faca,
O Deus que abraça, que não nos ataca.
Ponte para o último refrão
A Palavra de Deus é Cristo encarnado,
E só o que Nele for fundamentado
Pode ser lido como vontade do Pai,
O resto é ruído, que não traz paz.
Refrão (repetição)
O monte provou o coração e a fé,
Mas Deus poupou o filho com amor e pé.
No lugar da morte, veio provisão,
Deus mostrou graça, não destruição.
DISCERNIMENTO DAS ESCRITURAS – GÊNESIS 22
NENHUMA FACA SE ELEVA NO REINO DE JESUS
Gênesis 22 apresenta uma narrativa de tensão extrema: Deus pedindo a Abraão que sacrifique seu filho Isaque. Muitos o consideram o ápice da obediência, mas, à luz de Jesus, revelação perfeita do Pai (Hebreus 1:3), o que parece fé é, na verdade, uma dramatização humana de um relacionamento que ainda não conhecia a plenitude do amor divino. Jesus revelou que Deus é Pai, não carrasco, e jamais pediu aos seus seguidores que matassem seus filhos para prová-lo. Em Mateus 9:13, Ele diz: “Quero misericórdia, não sacrifício.” A substituição do menino por um carneiro foi uma tentativa didática de mostrar que Deus proveria — o que se cumpriria em Cristo, o verdadeiro Cordeiro (João 1:29). O teólogo René Girard interpreta esta cena como parte de uma pedagogia divina que expõe e esvazia a lógica sacrificial violenta da humanidade. Portanto, esse pedido de sacrifício, mesmo creditado a Deus, deve ser discernido como acréscimo humano – uma tentativa de teologia primitiva explicar obediência por meio da violência. A revelação plena só se dá em Jesus, onde o amor vence a faca.
Estrofe 1
E foi a vida de Sara a cento e vinte e sete,
E morreu em Quiriate-Arba, onde o luto reflete.
Abraão chorou por sua companheira fiel,
E se levantou do morto, com gesto tão singelo.
Falou aos filhos de Hete, pedindo um lugar,
Para Sara sepultar e seu luto guardar.
Eles ofereceram qualquer sepultura,
Mas Abraão pediu com paciência e ternura.
Estrofe 2
Falou com respeito a Efrom o heteu,
Que possuía o campo que ele escolheu.
Queria a caverna de Macpela ali perto,
Para enterrar o amor de seu peito aberto.
Efrom respondeu: “É tua sem custo,”
Mas Abraão insistiu no valor justo.
Pesou quatrocentos ciclos de prata inteira,
E assim comprou terra pra dor verdadeira.
Estrofe 3
Confirmaram a compra diante dos homens,
O campo e a caverna tornaram-se nomes.
E ali repousou Sara em chão prometido,
Num gesto de amor por tempo estendido.
Abraão não roubou, não exigiu,
Mas com honra e justiça, o túmulo abriu.
A morte tornou-se jardim de esperança,
Para um povo em busca de aliança.
Refrão
Abraão chorou e sepultou com justiça,
Não tomou com força, nem cobrou cobiça.
A morte foi dor, mas também plantação,
De um povo que crê sem negar compaixão.
Estrofe 4
No campo de Efrom, que era de Sofar,
Ficou a memória de um lar sem lar.
Deus não prometeu um sepulcro dourado,
Mas fé que floresce mesmo no chão queimado.
Ali não houve altar, nem sacrifício,
Mas sim reverência e bom compromisso.
Foi um pacto humano com grande valor,
Como semente do Reino de amor.
Estrofe 5
Ler esse texto com olhos de Jesus
Mostra que a justiça é quem conduz.
Não é tomar terras em nome do céu,
Mas honrar a vida com gesto fiel.
Pois o Cristo que andou sem travesseiro,
Também choraria junto ao sepulteiro.
E a Palavra de Deus, viva e verdadeira,
Se mostra onde há justiça verdadeira.
Ponte para o último refrão
No livro sagrado, Velho ou Novo Testamento,
Só é Palavra viva o que traz ensinamento
Coerente com Cristo, que é luz e perdão,
E não com poder, ganância ou dominação.
Refrão (repetição)
Abraão chorou e sepultou com justiça,
Não tomou com força, nem cobrou cobiça.
A morte foi dor, mas também plantação,
De um povo que crê sem negar compaixão.
DISCERNIMENTO DAS ESCRITURAS – GÊNESIS 23
A MORTE DE SARA E A VIDA DA JUSTIÇA
Em Gênesis 23, o foco não é um milagre, nem uma visão, mas a dignidade com que Abraão lida com a morte de sua esposa. Esse capítulo revela um aspecto profundamente humano da espiritualidade: o respeito pelo outro, mesmo no momento da dor. Abraão não impõe sua fé nem exige privilégio por sua aliança com Deus; ele negocia com justiça, paga o valor exigido e sepulta Sara com honra. Nada aqui é contraditório com os ensinos de Jesus, que também valorizou os gestos simples de compaixão e justiça (Lucas 7:13, João 11:35). Pelo contrário, a conduta de Abraão pode ser lida como inspiração genuinamente alinhada com o Cristo, que ensinou a humildade e a dignidade do próximo. Não há, neste capítulo, acréscimos humanos violentos ou mandamentos que contrariam o Evangelho; ao contrário, há coerência com o princípio do amor e da justiça. Por isso, esse capítulo pode ser compreendido como Revelação verdadeira, pois expressa a vontade divina na prática do respeito e da dignidade entre irmãos.
Estrofe 1
Abraão já era idoso e fiel,
Chamou seu servo com palavra e papel:
“Vai à minha terra, à casa ancestral,
Buscar para Isaque uma esposa leal.”
Jurou o servo pela mão do senhor,
Com o coração pleno de temor.
“Se ela não quiser, tu serás isento,
Mas faz o caminho com bom intento.”
Estrofe 2
Levou camelos, presentes e oração,
E em Naor ajoelhou com devoção:
“Senhor do meu amo, dá-me hoje sinal,
Que a moça bondosa seja natural.
Que ao lhe pedir água, ela me ofereça,
E aos camelos também, com toda presteza.”
Mal ele falava, eis que Rebeca vinha,
Com cântaro e gesto que o céu adivinha.
Estrofe 3
Ela deu água, e ao rebanho também,
E o servo louvou o cuidado do bem.
Perguntou seu nome, a casa e caminho,
E soube que era do sangue vizinho.
Então adorou ao Senhor do Abraão,
Que guia com graça quem tem missão.
E foi com presente e com reverência
Que o servo contou sua experiência.
Refrão
Rebeca seguiu com fé e firmeza,
Abraço de Deus em pura leveza.
Aliança selada com coração,
Mostrando o propósito em direção.
Estrofe 4
Labão, irmão dela, acolheu com calor,
E ouviu o relato com grande valor.
Disse: “Se é de Deus, não vamos negar,”
E deram a bênção sem hesitar.
Rebeca aceitou sem medo ou demora,
E com suas servas partiu naquela hora.
Isaque, ao vê-la, sentiu-se tocado,
E com terno amor, foi por ela curado.
Estrofe 5
Levou-a à tenda de Sara, sua mãe,
E a consolação brotou como um bem.
Casaram-se ali com doçura e paz,
E a história seguiu como Deus a faz.
Pois o amor guiado pela oração
É fruto de fé e dedicação.
E quem caminha com Jesus por trilha
Faz do amor eterno sua centelha.
Ponte para o último refrão
Se o texto ensina o caminho do bem,
E o gesto é fiel ao Cristo também,
Então é Palavra que faz brilhar
A luz do Evangelho que veio amar.
Refrão (repetição)
Rebeca seguiu com fé e firmeza,
Abraço de Deus em pura leveza.
Aliança selada com coração,
Mostrando o propósito em direção.
DISCERNIMENTO DAS ESCRITURAS – GÊNESIS 24
UMA HISTÓRIA DE ESCOLHA COM PROPÓSITO E ORAÇÃO
O capítulo 24 de Gênesis é um dos mais belos relatos de discernimento, fé e propósito. Nele, o servo de Abraão busca uma esposa para Isaque com oração, sabedoria e respeito às escolhas. Rebeca, por sua vez, mostra generosidade e liberdade ao aceitar o chamado. Em cada passo da narrativa há coerência com o que Cristo ensinaria séculos depois: a valorização do consentimento, do serviço humilde e da escuta à vontade de Deus (Mateus 7:7, Lucas 1:38). É um texto onde a inspiração divina se manifesta de forma harmoniosa com o Evangelho, pois não há imposição, violência nem dominação. Nada neste capítulo contradiz Jesus; ao contrário, há um espírito de paz, acolhimento e confiança no propósito. Por isso, esse trecho pode ser acolhido como Revelação autêntica. O princípio que norteia toda a Escritura — de que só é Palavra de Deus o que for coerente com o Cristo vivo (João 1:1, Hebreus 1:3) — encontra aqui um exemplo claro. Se houvesse alguma parte que obrigasse Rebeca ou manipulasse sua decisão, isso poderia ser visto como acréscimo humano. Mas não é o caso.
Estrofe 1
Abraão tomou outra mulher, Quetura,
Teve filhos diversos, de vida futura.
Mas deu tudo a Isaque, seu filho amado,
E aos outros, presentes e rumo marcado.
Depois ele morreu, e foi sepultado
Com Sara, no campo já consagrado.
Isaque e Ismael, em ato fraterno,
Lhe deram descanso no pó mais terno.
Estrofe 2
Gerações de Ismael também se narraram,
Doze príncipes seus nomes deixaram.
Mas a bênção seguiu com outro fulgor:
Isaque orou — Rebeca era sem flor.
O Senhor a ouviu e ela concebeu,
Dois filhos lutavam no ventre seu.
"Dois povos virão," foi o que Deus disse,
"E o menor vencerá com minha messe."
Estrofe 3
Nasceu primeiro o ruivo Esaú,
Depois Jacó com firmeza e fé nu.
Cresceram distintos, caminhos opostos,
Um era bruto, o outro de gestos postos.
Isaque amava a caça de Esaú,
Rebeca, a ternura do filho mais nu.
E um dia Esaú, faminto de pão,
Vendeu por lentilha sua condição.
Refrão
Abraão partiu em paz e herança,
Isaac seguiu na fé e esperança.
E Jacó mostrou que sem paciência,
Perde-se o dom pela conveniência.
Estrofe 4
Desprezou Esaú seu direito ancestral,
Trocou bênção eterna por gosto banal.
Jacó, oportuno, firmou-se astuto,
A herança passou com sabor e luto.
Aqui vemos bem como o valor
Pode ser trocado por algo menor.
Quando o ter cega o que é divino,
O futuro se perde num gesto mesquinho.
Estrofe 5
O texto revela a história dos dois,
Mas convida o leitor a refletir depois:
Que escolhas fazemos com pressa ou paixão?
E o que sacrificamos por tentação?
Pois Deus continua a falar em cada fato,
Mas o Cristo é a luz que ajusta o relato.
Se for coerente com Seu amor,
É Revelação que exala o Senhor.
Ponte para o último refrão
Só é Palavra se for luz que liberta,
Se honra a justiça e a porta aberta.
Velho ou Novo, o que é de Deus,
Combina com Cristo e os passos Seus.
Refrão (repetição)
Abraão partiu em paz e herança,
Isaac seguiu na fé e esperança.
E Jacó mostrou que sem paciência,
Perde-se o dom pela conveniência.
DISCERNIMENTO DAS ESCRITURAS – GÊNESIS 25
SÓ É PALAVRA DE DEUS O QUE É COERENTE COM JESUS
O capítulo 25 de Gênesis traz narrativas importantes, mas que devem ser lidas à luz do critério central: tudo o que estiver nas Escrituras só pode ser considerado Revelação divina se for coerente com Jesus, seus ensinos e sua vivência. Isso está em total sintonia com o que o próprio Cristo disse: “Quem me vê, vê o Pai” (João 14:9), e com o que Hebreus declara: “Havendo Deus falado muitas vezes... a nós falou pelo Filho” (Hebreus 1:1-3). A venda do direito de primogenitura por parte de Esaú (Gn 25:29-34) não é aprovada por Deus como exemplo, mas narrada como advertência. A preferência parental entre os filhos, favorecendo um sobre o outro (Gn 25:27-28), pode ser entendida como acréscimo humano, culturalmente aceito à época, mas que não se harmoniza com o Evangelho de Jesus, que ensina igualdade e acolhimento de todos os filhos como únicos e amados. Portanto, mesmo este capítulo nos chama à leitura crítica e cristocêntrica — pois o Cristo é o critério absoluto.
(Estrofe 1)
Houve fome na terra, como já houvera antes,
E Isaque foi a Gerar, a terra dos filisteus distantes.
O Senhor apareceu e lhe ordenou:
“Fica onde estás, e Eu serei teu favor.”
“Darei tuas sementes esta região inteira,
Porque jurei a Abraão, com promessa verdadeira.”
“Multiplicarei tua descendência sem medida,
Como estrelas do céu e bênção estendida.”
(Estrofe 2)
Isaque habitou ali com temor e cuidado,
Disse que Rebeca era sua irmã, por ter se assustado.
Abimeleque viu a mentira em um gesto revelado,
E repreendeu Isaque, por ter enganado.
Mas o Senhor o abençoou com tanta fartura,
Que inveja nasceu da sua fartura pura.
Os filisteus entulharam seus poços de outrora,
E o expulsaram, dizendo: “Vai-te embora.”
(Estrofe 3)
Isaque cavou de novo os poços de seu pai,
Mas por cada um brigaram, dizendo: “Este é nosso, sai!”
Mudou-se e cavou mais um — enfim, sem disputa.
Chamou-lhe Reobote, lugar de bênção absoluta.
Depois subiu a Berseba, e Deus lhe apareceu,
Confirmou a promessa que já lhe prometeu.
Ali edificou um altar e fez morada,
E seus servos cavaram outra fonte abençoada.
(Refrão)
Isaque andou por terras e dissabores,
Mas foi guiado por bênçãos e amores.
Mesmo na dor, o Senhor lhe apareceu,
E por onde passou, a paz floresceu.
(Estrofe 4)
Abimeleque veio com seu exército em mão,
Mas buscava aliança e reconciliação.
“Vimos que Deus contigo está,” ele falou,
E Isaque, em paz, uma festa organizou.
Na manhã seguinte fizeram aliança,
E os servos acharam água com esperança.
Chamaram o poço de Seba, com alegria,
Ali nasceu Berseba, por sabedoria.
(Estrofe 5)
E no fim do capítulo, outro detalhe ficou:
Esaú tomou mulheres, e isso pesou.
Casou-se com hititas, o que trouxe desgosto,
Aos olhos de Isaque e Rebeca, um encosto.
Mas a história principal nos ensinou,
Que Deus confirma aquilo que jurou.
E toda bênção só se afirma com justiça,
Se a luz de Cristo em nós for premissa.
(Ponte)
Pois mesmo neste texto antigo e complexo,
A luz de Jesus é o real reflexo.
Velho ou Novo, só é voz do Senhor,
O que revela o Evangelho do Amor.
(Refrão – repetição)
Isaque andou por terras e dissabores,
Mas foi guiado por bênçãos e amores.
Mesmo na dor, o Senhor lhe apareceu,
E por onde passou, a paz floresceu.
SÓ É PALAVRA DE DEUS O QUE SE COERENTE COM JESUS
DISCERNIMENTO DAS ESCRITURAS – GÊNESIS 26
Gênesis 26 é um capítulo de tradições patriarcais com foco na figura de Isaque, que revive situações parecidas às de seu pai Abraão. Contudo, para entender o que neste capítulo é de fato Revelação divina, devemos aplicar o critério absoluto: somente é Palavra de Deus aquilo que é coerente com os ensinos e a prática de Jesus. Isaque mente dizendo que Rebeca é sua irmã (v.7), exatamente como seu pai também fizera — um padrão de medo, autodefesa e opressão que, apesar de narrado, não é aprovado por Deus, nem está em harmonia com Cristo, que disse: “Seja o vosso falar sim, sim; não, não” (Mateus 5:37). Jesus também afirmou que a verdade liberta (João 8:32), portanto qualquer prática de engano — mesmo se bem intencionada — deve ser vista como acréscimo humano, fruto do contexto cultural, e não como revelação normativa. As alianças de paz e reconciliação, sim, refletem o espírito do Cristo. Por isso, o leitor cristão deve discernir entre narrativa histórica e ensino divino à luz do Evangelho.
(Estrofe 1)
Isaque estava velho, os olhos sem luz,
Chamou Esaú e a bênção conduz.
Pede caça e comida com gosto e sabor,
Pois quer abençoar com seu último ardor.
Rebeca escuta e logo prepara um plano,
Chama Jacó e trama com engano.
Vestido com pelos e cheiro de irmão,
Jacó engana com fala e mão.
(Estrofe 2)
Isaque duvida, mas cede à fala,
A voz é de um, mas a pele embala.
Com vinho e caça que a mãe preparou,
Jacó recebe a bênção que o pai destinou.
Palavras de bênção, futuro e poder,
Sem saber que ao outro iria doer.
Logo Esaú volta e descobre a traição,
Chora, suplica, mas recebe maldição.
(Estrofe 3)
Isaque treme, vê o erro profundo,
Mas jura que a bênção já está no mundo.
Jacó foge com medo da ira do irmão,
Rebeca manda-o ao tio com precaução.
Esaú jura vingança, coração em brasas,
Semeia-se a dor nas futuras casas.
A bênção, que devia ser sinal de amor,
Vira fruto de astúcia, mágoa e rancor.
(Refrão)
Jacó enganou com fala e aparência,
Recebeu a bênção sem consciência.
Esaú chorou, clamando justiça,
Mas colheu silêncio, dor e cobiça.
(Estrofe 4)
Essa história, marcada por disfarce,
Revela o quanto o poder é uma face.
Mas nem tudo narrado é vontade do céu,
Pois Jesus veio e rasgou esse véu.
Não é pela astúcia que Deus abençoa,
Nem por engano que a verdade ressoa.
A bênção do Reino é partilha e perdão,
Não se herda com truques, mas com o coração.
(Estrofe 5)
Por isso, ao lermos o texto ancestral,
Busquemos no Cristo a leitura final.
Pois Ele é a luz que limpa os enganos,
O centro da fé de todos os planos.
Se a história narra falha ou opressão,
É o Cristo que diz: "Isso é só tradição".
Pois a Palavra só é divina e fiel,
Se reflete o Cordeiro, servo e Emanuel.
(Ponte para o último refrão)
Entre Velho ou Novo, a chave do juízo
É Jesus, o pobre, o pão, o sorriso.
Se o texto não traz sua face e seu tom,
É acréscimo humano, não vem do bom dom.
(Refrão)
Jacó enganou com fala e aparência,
Recebeu a bênção sem consciência.
Esaú chorou, clamando justiça,
Mas colheu silêncio, dor e cobiça.
DISCERNIMENTO DAS ESCRITURAS – GÊNESIS 27
SÓ É PALAVRA DE DEUS O QUE É COERENTE COM JESUS
Gênesis 27 é uma das passagens mais densas do Velho Testamento, repleta de conflitos familiares, enganos e consequências. É vital lembrar que o critério absoluto de inspiração divina, como ensina Hebreus 1:1-3, está em sua coerência com a revelação encarnada em Jesus. O próprio Cristo declarou que veio “para dar testemunho da verdade” (João 18:37) e que “tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos, a mim o fizestes” (Mateus 25:40). O episódio em que Jacó engana Isaque, com a cumplicidade de Rebeca, para obter a bênção prometida a Esaú, não pode ser lido como aprovação de Deus, mas como uma narrativa humana de disputa e manipulação — um exemplo claro de “acréscimo humano” cultural, como Paulo advertiria sobre a necessidade de discernir “espiritualmente” as coisas (1 Coríntios 2:14). A teologia cristã verdadeira precisa denunciar esse tipo de uso da fé como ferramenta de dominação, como também se vê na distorção de textos bíblicos para justificar a escravidão ou sistemas desiguais. A revelação plena está em Jesus, servo humilde, que jamais abençoaria um engano para benefício próprio. Assim, a Palavra de Deus só é tal quando reflete sua graça, justiça e amor libertador.
(Estrofe 1)
Isaque chamou Jacó com instrução:
“Não tomes mulher de Canaã, meu irmão.
Vai a Padã-Arã, à casa de tua mãe,
E escolhe entre filhas de Labão, sem desdém.”
Deus te abençoe, te faça frutificar,
Como Abraão, que viu a promessa brilhar.
Possuas a terra, que Deus prometeu,
A ti e à tua semente, no plano do céu.
(Estrofe 2)
Viu Esaú que não agradava a seus pais,
Tomou outra esposa, de Ismael, entre os demais.
Jacó partiu de Berseba, em caminho sagrado,
Chegou a um lugar e dormiu deitado.
Uma pedra por travesseiro escolheu,
E ali em sonho Deus lhe apareceu.
Uma escada da terra ao céu se erguia,
E anjos subiam e desciam com harmonia.
(Estrofe 3)
O Senhor estava no alto a declarar:
“Eu sou o Deus de Abraão, teu lugar.
Esta terra te dou e à tua descendência,
Serás bênção às nações, com minha presença.”
“Estou contigo e te guardarei,
Aonde fores, contigo andarei.
Jamais te deixarei, é minha promessa,
Cumprirei o que disse, com firmeza e pressa.”
(Refrão)
Jacó viu o céu e a escada da visão,
Recebeu de Deus eterna missão.
Chamou o lugar de Betel, santo e fiel,
E fez voto ao Senhor de Israel.
(Estrofe 4)
Jacó acordou e disse, com temor:
“O Senhor está aqui, e eu não vi, Senhor.”
Chamou o lugar de Betel, portão dos céus,
Pois ali viu Deus, rompeu seus véus.
Fez voto ao Senhor com devoção:
“Se fores comigo nesta missão,
Darei o dízimo de tudo o que vier,
E tua casa será o meu viver.”
(Estrofe 5)
Não é só a visão que garante o sentido,
Mas a vida que honra o Deus bendito.
Pois Cristo, a escada que une os mundos,
Revela o amor em gestos profundos.
Se o sonho revela a glória e o altar,
É Jesus que nos ensina a caminhar.
Ele é o Céu que tocou nosso chão,
A verdadeira revelação do coração.
(Ponte)
Seja Velho ou Novo o Testamento,
A Palavra é luz, jamais tormento.
Só é divina se em Jesus tiver raiz,
Se não for como Ele, não nos diz o que condiz.
(Refrão)
Jacó viu o céu e a escada da visão,
Recebeu de Deus eterna missão.
Chamou o lugar de Betel, santo e fiel,
E fez voto ao Senhor de Israel.
DISCERNIMENTO DAS ESCRITURAS – GÊNESIS 28
SÓ É PALAVRA DE DEUS O QUE É COERENTE COM JESUS
Gênesis 28 mostra uma das mais belas teofanias da Bíblia: Deus revelando-se em sonho a Jacó, com uma escada ligando terra e céu. No entanto, mesmo dentro desta visão espiritual, é preciso aplicar o crivo da coerência com Jesus (João 1:51), que é a escada viva, o mediador entre o alto e o baixo. A experiência de Jacó é símbolo da presença divina que caminha conosco, mas seu voto (Gênesis 28:20-22), de só servir a Deus caso tudo lhe corra bem, mostra um tipo de fé condicional, que difere da entrega total ensinada por Cristo (Lucas 9:23). Logo, reconhecemos aqui um “acréscimo humano”: a tentativa de barganhar com Deus — uma prática comum nos tempos antigos, mas desfeita por Jesus, que ensinou a confiar mesmo sem garantias (Mateus 6:25-34). A inspiração divina se mantém somente quando o texto leva à justiça, misericórdia e fidelidade (Mateus 23:23), jamais a manipulações, trocas ou exigências contratuais.
(Estrofe 1 – 8 versos)
Jacó seguiu seu caminho e chegou ao oriente,
Viu um poço, três rebanhos, e gente.
Perguntou-lhes: “Conhecem Labão, filho de Naor?”
“Sim”, disseram, “e Raquel vem com o pastor.”
Quando viu Raquel com as ovelhas de seu pai,
Jacó rolou a pedra, e os animais ele atrai.
Beijou Raquel e chorou com emoção,
Contou que era parente, fruto da mesma geração.
(Estrofe 2 – 8 versos)
Labão o recebeu com festa e calor,
Jacó por amor ofereceu labor.
Sete anos por Raquel ele serviria,
Mas na noite nupcial, a troca ocorreria.
Labão lhe deu Lia em lugar da mais nova,
E disse: “Aqui não se dá a menor sem a mais velha.”
Jacó então aceitou o novo acordo,
Mais sete anos por Raquel, sem revolta ou desaforo.
(Estrofe 3 – 8 versos)
Lia era desprezada, e Deus a viu,
Fez-lhe fecunda, pois seu amor era sutil.
Gerou Rúben, Simeão e Levi,
Depois Judá, enquanto Raquel só assistia ali.
Raquel, estéril, via Lia prosperar,
E sua dor a fazia se calar.
O Senhor abençoava a injustiçada,
Pois cada lágrima sua era contada.
(Refrão)
Jacó amou, mas sofreu por engano,
Labão usou o amor como plano.
Lia chorou, mas Deus lhe deu valor,
E dela veio Judá, o tronco do Senhor.
(Estrofe 4 – 8 versos)
Rachel mais tarde daria servas e disputa,
Mas no silêncio, Deus via e escuta.
O capítulo mostra o amor em tensão,
Marcado por engano, dor e paixão.
Mas no meio de tudo, o plano divino
Tece redenção com fio cristalino.
Mesmo em meio à dor e à confusão,
O Senhor trabalha com compaixão.
(Estrofe 5 – 8 versos)
Jacó colheu o que outros plantaram,
Mas seguiu fiel, mesmo quando o enganaram.
Lia foi esquecida pelos que a rodeavam,
Mas por Deus os filhos a exaltavam.
Entre esses filhos viria o Redentor,
Jesus, que revelou o verdadeiro amor.
E é Nele que a história tem coerência,
Pois só Ele nos ensina a ter consciência.
(Ponte para o último refrão)
O livro é antigo, mas o critério é atual:
Só é Palavra se aponta ao bem e ao ideal.
Jesus é a chave de toda revelação,
Sem Ele, a Bíblia vira religião.
(Refrão)
Jacó amou, mas sofreu por engano,
Labão usou o amor como plano.
Lia chorou, mas Deus lhe deu valor,
E dela veio Judá, o tronco do Senhor.
DISCERNIMENTO DAS ESCRITURAS – GÊNESIS 29
O AMOR DE DEUS NÃO SEGUE TRADIÇÕES INJUSTAS
Gênesis 29 traz o relato de Jacó, Raquel e Lia — um episódio marcado por engano, sofrimento e patriarcalismo. A prática cultural de trocar esposas, submeter mulheres a disputas e usá-las como moeda de barganha é retrato de um tempo humano e limitado, não de um mandamento divino. Embora o texto esteja na Bíblia, não podemos tomar sua estrutura social como revelação inspirada. Jesus nunca validou esse tipo de conduta; ao contrário, Ele valorizou as mulheres, rompeu com tradições injustas (Lucas 10:39; João 4:27), e ensinou que o amor é mais importante do que qualquer costume social (Marcos 12:33). O “acréscimo humano” neste capítulo está na normalização da troca de mulheres entre homens, algo que fere frontalmente a ética de Jesus. Como afirmou Paul Ricoeur, a Escritura exige interpretação crítica, sempre em busca da coerência com o Cristo encarnado. E como disse João Calvino: "A Palavra de Deus nos revela Sua vontade quando interpretada à luz de Cristo."
(Estrofe 1 – 8 versos)
Raquel, sem filhos, a Lia invejava,
E a Jacó, em angústia, reclamava.
Deu-lhe Bila, sua serva, como mãe,
Gerando Dã, e depois Naftali também.
Lia, que já dera quatro antes,
Viu a disputa reacender-se constante.
Zilpa, sua serva, a Jacó entregou,
E de Gade e Aser o lar se encheu de clamor.
(Estrofe 2 – 8 versos)
Rúben achou mandrágoras no campo,
Raquel quis trocá-las com desejo franco.
Lia, com Jacó, teve nova ocasião,
E deu à luz Issacar e Zebulom, então.
Depois nasceu Diná, a filha entre os varões,
Enquanto Raquel chorava suas aflições.
Mas Deus ouviu Raquel com compaixão,
E José nasceu com bênção e redenção.
(Estrofe 3 – 8 versos)
Jacó quis partir, mas Labão insistia,
“Fui abençoado por tua companhia.”
Combinaram salários com astúcia e cor,
Jacó usou varas e Deus lhe deu favor.
Os fortes ficavam com ele, os fracos não,
Deus o abençoava sem engano ou ilusão.
E Jacó enriqueceu, prosperando no campo,
Enquanto Labão sofria por seu próprio plano.
(Refrão)
Filhos nascidos em meio à rivalidade,
Bênçãos misturadas com vaidade.
Mas Deus seguiu ouvindo cada clamor,
E em meio à dor, semeava amor.
(Estrofe 4 – 8 versos)
Cada nascimento tinha nome e sentido,
Mas a dor das mulheres nunca era ouvido.
Era Deus quem via e abençoava,
Mesmo quando a cultura as ignorava.
Jacó, apesar de toda confusão,
Buscava em Deus sua direção.
A bênção vinha sem precisar trapaça,
Pois o Senhor abençoava sem ameaça.
(Estrofe 5 – 8 versos)
O texto mostra disputa e possessão,
Como se filhos fossem prova de salvação.
Mas Jesus mostrou outro tipo de família,
Onde o amor e o cuidado brilham em vigília.
Se lido sem o Cristo, parece apenas cultura,
Mas em Jesus, tudo ganha nova estrutura.
E é Nele que a Palavra se faz luz,
Revelando o Deus que liberta e conduz.
(Ponte para o último refrão)
Só é Palavra o que reflete a cruz,
O amor de Jesus que à vida conduz.
Se não for coerente com o Cristo encarnado,
É acréscimo humano, ainda que bem-intencionado.
(Refrão)
Filhos nascidos em meio à rivalidade,
Bênçãos misturadas com vaidade.
Mas Deus seguiu ouvindo cada clamor,
E em meio à dor, semeava amor.
DISCERNIMENTO DAS ESCRITURAS – GÊNESIS 30
DEUS NÃO APROVA O QUE JESUS NÃO FARIA
O capítulo 30 de Gênesis retrata a contínua disputa entre Raquel e Lia pelo amor e aprovação de Jacó, usando a maternidade como instrumento de rivalidade. Servas são entregues como esposas secundárias, evidenciando uma estrutura patriarcal e opressiva. Ao tomarmos Jesus como critério hermenêutico (Lucas 4:18; João 8:11), percebemos que o uso de mulheres como meio para alcançar bênçãos, ou de filhos como troféus de ego, não representa a Vontade divina. Tais práticas são “acréscimos humanos”, frutos de culturas patriarcais e machistas, não da revelação de Deus. Karl Barth e Leonardo Boff nos lembram que a Escritura é Palavra de Deus quando revela o amor e a justiça do Cristo. Fora disso, é cultura registrada, mas não normativa.
(Estrofe 1 – 8 versos)
Jacó viu o rosto de Labão se fechar,
E Deus lhe falou: “É hora de voltar.”
Chamou Raquel e Lia ao campo aberto,
Contou como Deus o guiava por perto.
Labão o enganou muitas vezes, sem fim,
Mas o Deus dos seus pais o fez forte assim.
Suas ovelhas cresceram, seu gado aumentou,
Mesmo com astúcia, Jacó prosperou.
(Estrofe 2 – 8 versos)
Raquel e Lia se disseram traídas,
Por um pai que as tratava como perdidas.
Apoiaram Jacó, juntaram seus bens,
E partiram ocultos, deixando os desdéns.
Raquel roubou ídolos do pai sem temor,
E fugiram com tudo, sob o favor do Senhor.
Labão perseguiu, com ímpeto e raiva,
Mas Deus lhe advertiu: “Não o toques com mágoa.”
(Estrofe 3 – 8 versos)
Labão alcançou, mas foi contido por Deus,
Que lhe disse em sonho: “Fala com bons olhos seus.”
Labão queixou-se dos deuses roubados,
Jacó, sem saber, jurou inocentes lados.
Raquel os escondeu sob seu assento,
E com desculpas, enganou o intento.
Depois disso, Jacó censurou o sogro,
Por anos de dor sem justo socorro.
(Refrão)
Deus apareceu e deu proteção,
Fez do fraco, forte em oposição.
Mesmo entre erros e idolatria,
O Senhor guiava com sabedoria.
(Estrofe 4 – 8 versos)
Ergueram uma pilha de pedras no chão,
Marcando aliança e separação.
Labão não podia mais ultrapassar,
Jacó seguiu firme, pronto a caminhar.
Prometeram paz, ainda que tardia,
Com testemunhas diante do dia.
Juraram no Deus de Abraão e Naor,
E ceiaram juntos, firmando o amor.
(Estrofe 5 – 8 versos)
Esse capítulo mostra muitas camadas:
Mentiras, fugas, alianças seladas.
Mas mesmo ali, Deus se revelou,
Na coragem de Jacó que não hesitou.
A Palavra, porém, só se ilumina em Jesus,
Que veio com graça e não com cruz de acusação.
O Deus da Bíblia é visto por inteiro
Quando no rosto de Cristo brilha verdadeiro.
(Ponte)
A verdadeira Escritura se filtra na cruz,
Onde o amor reina e ninguém é conduz
Ao medo ou opressão — mas ao bem viver:
Só é Palavra o que Jesus fizer.
(Refrão)
Deus apareceu e deu proteção,
Fez do fraco, forte em oposição.
Mesmo entre erros e idolatria,
O Senhor guiava com sabedoria.
DISCERNIMENTO DAS ESCRITURAS – GÊNESIS 31
JESUS É A CHAVE DA REVELAÇÃO
O capítulo 31 mostra a tensão entre Jacó e Labão, marcada por engano, idolatria e proteção divina. Embora Deus apareça como guia e defensor de Jacó (Gn 31:3, 24), vemos costumes e valores culturais permeando as ações — como o roubo dos ídolos (v.19) e o papel das mulheres reduzidas a bens trocados. Aqui se destaca um exemplo claro de acréscimo humano: o valor dado aos terafins (ídolos domésticos), aceito como parte natural da vida patriarcal sem qualquer reprovação direta. Contudo, à luz de Jesus, o Deus conosco (Mt 1:23), que libertou o ser humano de toda idolatria, percebemos que nem tudo no texto é revelação eterna. Como lembra Rubem Alves, “a Bíblia é o retrato do encontro do divino com o humano – e às vezes o humano grita mais alto.” O critério final é o Cristo (Jo 1:1-18), que ensina que o amor é o maior mandamento (Mt 22:37-40). Assim, só é Palavra de Deus o que for coerente com sua graça libertadora.
– Jacó envia mensageiros a Esaú (v.3–5)
– Os mensageiros retornam com notícias (v.6)
– Jacó teme o reencontro e ora a Deus (v.7–12)
– Jacó prepara presentes para Esaú (v.13–21)
– Jacó atravessa o vau de Jaboque (v.22–23)
– Jacó luta com um homem e recebe novo nome (v.24–30)
– Jacó manca de uma perna (v.31–32)
(estrofe 1)
Encontrou Jacó os anjos de Deus,
E disse: “Este é o acampamento dos céus!”
Mandou mensageiros a Esaú, seu irmão,
Temendo vingança, com o coração na mão.
Os servos voltaram com recado severo:
“Quatrocentos vêm com ele, não é mero!”
Temeu Jacó e orou ao Senhor:
“Livra-me, ó Deus, de tão grande dor.”
(estrofe 2)
Disse: “Tu disseste: Eu te farei bem,
Multiplicarei tua descendência além.
Mas Esaú pode vir me ferir,
E os meus filhos podem cair.”
Mandou presente, rebanho e cuidado,
Esperando o irmão ser tocado.
“Dissiparei sua ira com presente,
Talvez veja seu rosto mais contente.”
(estrofe 3)
Ficou só, do outro lado do rio,
E lutou com um homem, no desafio.
“Não te deixo ir”, Jacó insistiu,
“Se não me abençoares”, ele pediu.
“Qual teu nome?”, o homem então falou,
“Jacó”, ele respondeu sem temor.
“Não serás Jacó, e sim Israel,
Pois lutaste com Deus e foste fiel.”
(refrão)
Do medo à coragem, da dor ao poder,
Jacó aprendeu a não mais correr.
Deus se revela no toque e na dor,
Transforma quem luta com fé e amor.
(estrofe 4)
“Tenho visto a Deus e preservei minha vida!”
Disse Jacó, com alma rendida.
Chamou Peniel aquele lugar sagrado,
Ali fora por Deus transformado.
Ao nascer do sol, andava mancando,
Mas com um novo nome, caminhando.
Israel seguiu com marca no corpo,
Sinal da alma que vence o estorvo.
(estrofe 5)
O nervo da coxa, os filhos não comem,
Pois ali Deus tocou no homem.
De um fugitivo a servo do alto,
Israel vive um novo salto.
E se a Bíblia aqui se torna Palavra,
É porque em Jesus a luz se lavra.
Deus é quem luta conosco na estrada,
Mas só em Jesus a voz é sagrada.
(ponte para o último refrão)
Nem toda narrativa é mandamento;
Há lições do tempo e do pensamento.
Mas só é Palavra que guia e renova
Aquilo que em Jesus se comprova.
(refrão)
Do medo à coragem, da dor ao poder,
Jacó aprendeu a não mais correr.
Deus se revela no toque e na dor,
Transforma quem luta com fé e amor.
(2d) EXPLICAÇÃO FINAL – PRINCÍPIO DE JESUS COMO CRITÉRIO
A PALAVRA VERDADEIRA É JESUS COMO CHAVE DE LEITURA
O capítulo 32 de Gênesis descreve momentos de luta, medo e transformação na vida de Jacó. A experiência mística da luta com o "homem" (v.24–30), reconhecido por ele como Deus, pode ser interpretada como um símbolo da transformação interior provocada pela fé e pelo confronto com a própria história. No entanto, essa imagem de um Deus que entra em luta física com o ser humano deve ser lida à luz do caráter revelado de Jesus, que nunca impôs dor física como meio de transformação. A ferida de Jacó pode simbolizar marcas da caminhada de fé, mas não pode ser vista como regra divina de ação. Portanto, mesmo aqui, seguimos o princípio absoluto de que só pode ser considerado inspiração verdadeira e Revelação de Deus aquilo que for coerente com os ensinos, a compaixão e a não-violência de Jesus (cf. João 1:18; Hebreus 1:1-3; Lucas 24:27). A luta de Jacó pode conter elementos humanos projetados no texto – um exemplo possível de acréscimo ou dramatização cultural daquele tempo. O que permanece como Palavra é o Deus que transforma o nome e a identidade de quem se entrega à sua graça – exatamente como Cristo fez com cada discípulo e discípula, sem espada, mas com amor.
Referências bíblicas: Gênesis 32; João 1:18; Hebreus 1:1-3; Lucas 24:27
Referência bibliográfica: MOLTMANN, Jürgen. O Deus Crucificado. Vozes, 2007.
TÍTULOS DOS EVENTOS: conforme listado acima, com versículos.
– Jacó viaja para Sucote e Siquém (Gênesis 33:12–20)
(estrofe 1)
Ergueu Jacó os olhos de repente,
E viu Esaú com quatrocentos homens.
Dividiu os filhos, cauteloso e prudente,
Temendo o passado e seus próprios nomes.
Adiantou-se sete vezes, curvando-se ao chão,
E Esaú correu, o abraçou e o beijou.
Choraram juntos, de coração a coração,
Pois o tempo a mágoa transformou.
(estrofe 2)
As esposas vieram, com seus meninos,
E cada um se inclinou com respeito.
Esaú pergunta: “E os rebanhos vizinhos?”
Jacó responde: “Para achar graça em teu peito.”
Esaú recusa o presente primeiro,
Mas Jacó insiste com grande amor:
“Ver teu rosto é como ver o de um anjo inteiro,
Aceita, pois Deus tem me dado favor.”
(estrofe 3)
Esaú quer ir junto no caminho,
Mas Jacó pede: “Andares em paz é melhor.
O gado e os filhos andam devagarzinho,
E não quero que morram no calor ou suor.”
Então Esaú voltou ao seu lugar,
E Jacó foi a Sucote construir abrigo.
Depois ergueu tendas, foi repousar,
E fez altar chamando-o de "Deus é amigo".
(refrão)
Abraço supera a espada do erro,
Perdão desfaz o medo antigo.
Mesmo feridos, há novo desterro:
Deus reescreve com gesto amigo.
(estrofe 4)
Jacó segue, sem pressa, sem fuga,
Até Siquém, em paz, firme e inteiro.
Compra terras, planta fé sem julga,
Com prata limpa, sem engano ou dinheiro.
Ergue altar ao Deus de Israel,
Que não se envergonha de ser companheiro,
Não por poder, mas por ser fiel,
Não por temor, mas por ser verdadeiro.
(estrofe 5)
Pois Deus é aquele que muda o destino,
Com reconciliação, ternura e verdade.
Não precisa guerra, nem dom divino,
Só precisa amor que cura e liberdade.
(ponte)
Eis que neste capítulo antigo,
A Palavra é só o que vem do Cristo amigo.
Se for coerente com Jesus, é luz,
O resto é sombra que a verdade reduz.
(refrão)
Abraço supera a espada do erro,
Perdão desfaz o medo antigo.
Mesmo feridos, há novo desterro:
Deus reescreve com gesto amigo.
EXPLICAÇÃO FINAL
DEUS ESCREVE COM ABRAÇOS, NÃO COM VINGANÇA
Gênesis 33 traz um dos momentos mais belos do livro: o reencontro de Jacó com Esaú. Depois de anos separados pela dor e engano, o abraço entre irmãos marca o triunfo da reconciliação sobre a vingança. A figura de Esaú, que corre para perdoar, antecipa a figura do Pai na parábola do filho pródigo (Lucas 15:20), e assim nos mostra que o amor reconstrói onde o medo destrói.
Não há aqui ordem divina para matar ou dominar, mas sim o gesto humano de perdão — esse sim, coerente com Jesus. Tudo no texto que caminha na direção da paz, da humildade e da fraternidade pode ser entendido como Palavra viva de Deus. Mas se houvesse sugestão de subjugação ou engano como justiça divina (como em textos anteriores), deveríamos identificar como acréscimo humano, mesmo se bem intencionado.
Como nos ensina Hebreus 1:1–3, é em Jesus que se revela o verdadeiro caráter de Deus. Assim, a reconciliação entre Jacó e Esaú, sem violência ou dominação, espelha o coração do Pai revelado no Filho.
Referências bíblicas: Gênesis 33; Lucas 15:20; Hebreus 1:1–3
Referência bibliográfica: RENÉ GIRARD, A Violência e o Sagrado, 1972.
Deseja agora que continuemos com Gênesis 38?
– Siquém ama Diná e pede para casar (v.3–4)
– Jacó e os filhos reagem (v.5–7)
– Hamor pede o casamento ao pai de Diná (v.8–12)
– Filhos de Jacó exigem circuncisão (v.13–17)
– Todos os homens da cidade se circuncidam (v.18–24)
– Simeão e Levi matam todos e tomam vingança (v.25–29)
– Jacó condena a violência dos filhos (v.30–31)
(estrofe 1)
Saiu Diná, filha de Lia, para ver
As filhas da terra, sem saber.
Siquém, filho de Hamor, a viu e tomou,
A forçou e depois se apaixonou.
Falou com o pai e disse com ardor:
“Quero esta moça como esposa, por amor.”
Hamor falou com Jacó e pediu,
Mas os filhos dele ficaram com frio.
(estrofe 2)
“Não podemos dar irmã sem sinal,
Só se forem como nós: ritual.”
Circuncidem-se todos em sua cidade,
E só assim será feita a amizade.
Hamor e Siquém aceitaram o plano,
E os homens da terra fizeram o engano.
Ao terceiro dia, quando a dor era viva,
Simeão e Levi fizeram a investida.
(estrofe 3)
Tomaram a espada e mataram a todos,
Saquearam a cidade, tomaram os povos.
Levaram mulheres, filhos, bens e mais,
Por vingança cruel, e atos fatais.
Jacó ficou triste e os censurou,
“Me fizestes cheirar mal”, acusou.
Mas eles disseram: “Era irmã nossa,
E ele a tratou como coisa sem troça.”
(refrão)
A justiça não vem pela espada,
Nem Deus se agrada da alma armada.
A vingança é humana, cheia de dor,
Mas o caminho de Deus é amor.
(estrofe 4)
Tomaram os rebanhos, bois e jumentos,
Tudo o que havia em todos os assentamentos.
Levaram riqueza, crianças, mulheres,
Feridas abertas sem se saber os porquês.
Jacó ficou temendo vingança vizinha,
“Poucos somos, e a desgraça caminha.”
Mas os filhos não viram erro ou dor,
Só defenderam a honra com rancor.
(estrofe 5)
E nesse capítulo, sem lei ou consolo,
O nome de Deus sequer toma o solo.
Tudo é humano, trama e desatino,
Sem justiça divina em nenhum destino.
E se há Palavra que guia, consola,
É só a que vem do Cristo que acolhe e mola.
Nem toda ação escrita é inspiração,
Pois Deus é Jesus em revelação.
(ponte)
Só é Palavra o que espelha o Senhor,
Jesus é o filtro, o caminho, o amor.
Se algo fere, oprime ou destrói,
Não veio do Deus que conosco se dói.
(refrão)
A justiça não vem pela espada,
Nem Deus se agrada da alma armada.
A vingança é humana, cheia de dor,
Mas o caminho de Deus é amor.
(2d) EXPLICAÇÃO FINAL
SÓ É PALAVRA DE DEUS O QUE REFLETE JESUS
O capítulo 34 de Gênesis traz uma história marcada por violência, vingança e ausência explícita de Deus. A violação de Diná (v.1–2) é um evento doloroso e terrível, mas o modo como os filhos de Jacó reagem (v.25–29), promovendo um massacre após exigir circuncisão, é uma típica resposta humana baseada em honra e represália, e não em justiça restaurativa. Em nenhum momento do texto há indicação de que tais ações foram dirigidas ou aprovadas por Deus. É fundamental lembrar, como base de fé cristã, que só pode ser considerada Palavra de Deus a narrativa que se alinha ao caráter de Jesus: compassivo, justo, pacificador e não-violento (cf. Mateus 5:9; Lucas 6:27–36; João 1:17–18). A atitude dos filhos de Jacó é, portanto, um exemplo claro de acréscimo humano inserido na narrativa — um reflexo da cultura patriarcal e tribal da época, não da vontade de Deus. Como bem afirmado em Hebreus 1:1–3, a revelação final e perfeita é Jesus. E como Isaías 1:15–17 também declara, Deus rejeita violência mascarada de religião.
Referências bíblicas: Gênesis 34; Hebreus 1:1–3; João 1:17–18; Lucas 6:36; Mateus 5:9
Referência bibliográfica: WRIGHT, N. T. Simplesmente Jesus. Ultimato, 2016.
Eventos registrados: conforme listado no item (2b).
(estrofe 1)
Deus disse a Jacó: “Sobe a Betel,
E faz um altar a quem te foi fiel.”
Tiraram os deuses e brincos pagãos,
Esconderam sob carvalho em Siquém, em mãos.
O terror de Deus caiu sobre os povos,
E ninguém seguiu Jacó nos seus passos novos.
Chegaram a Luz, a terra prometida,
E ali ergueu altar pela nova vida.
(estrofe 2)
Chamou o lugar El-Betel, por sinal,
Ali Deus falou quando fugia o mal.
Débora, ama de Rebeca, então morreu,
Enterrada sob Betel, e o nome cresceu.
Deus apareceu e lhe abençoou,
Chamou de Israel a quem Jacó soou.
“Multiplicarei tua descendência,”
“E darei esta terra em herança imensa.”
(estrofe 3)
Ergueu coluna onde Deus lhe falou,
Derramou azeite, o altar consagrou.
Depois partiu de Betel pra Efrata,
Mas Raquel morreu ali, sem mais carta.
Chamou o filho de Benoni no fim,
Mas Jacó disse: “Benjamim é o nome, sim!”
Fez uma coluna, memória de dor,
Raquel dorme ali, sob pranto e flor.
(refrão)
O Deus de aliança renova os caminhos,
Mesmo entre perdas e tombos sozinhos.
A dor não anula o que Deus prometeu,
A bênção persiste, pois Ele é fiel.
(estrofe 4)
Israel seguiu, parou além da dor,
Mas Rúben pecou sem nenhum temor.
Deitou-se com Bila, de Jacó mulher,
E isso foi contado com peso e pesar.
Filhos de Jacó, doze no total,
Cada um nasceu de um laço desigual.
Judá, José, Benjamim também,
Filhos da promessa em meio ao desdém.
(estrofe 5)
Chegou então à casa de Isaque, o pai,
E em Hebrom o velho já não estava mais.
Morreu Isaque, velho e satisfeito,
Sepultado por Esaú e Jacó com respeito.
Assim se cumpre a vida e o final,
Na terra onde tudo foi tão crucial.
(ponte)
Mas o que é palavra divina e eterna
Não é só o que a história externa.
Se não for coerente com Cristo, o amor,
Não é de Deus — é do homem o sabor.
(refrão)
O Deus de aliança renova os caminhos,
Mesmo entre perdas e tombos sozinhos.
A dor não anula o que Deus prometeu,
A bênção persiste, pois Ele é fiel.
(2d) EXPLICAÇÃO FINAL
JESUS É A CHAVE PARA TODA REVELAÇÃO
O capítulo 35 de Gênesis relata momentos decisivos na jornada de Jacó, como o retorno a Betel (v.1), a renovação da aliança com Deus (v.9–13), a morte de Raquel no parto de Benjamim (v.16–20), o pecado de Rúben (v.21–22) e a morte de Isaque (v.27–29). A narrativa mostra elementos que refletem experiências religiosas, perdas humanas e conflitos morais. Contudo, há aspectos que apenas podem ser considerados Revelação divina se estiverem em conformidade com os ensinamentos de Jesus. Por exemplo, o episódio em que Rúben deita com Bila (v.22) é registrado sem juízo moral ou consequência divina clara, o que revela a natureza histórica e não normativa do texto. A coerência com Jesus é o filtro absoluto: se algo contradiz sua misericórdia, seu amor e sua justiça, como visto em Lucas 6:36 ou Mateus 5:44, deve ser lido como expressão cultural e não como vontade de Deus. Hebreus 1:1–3 afirma que Deus falou plenamente por meio de seu Filho, e é sob essa luz que toda Escritura deve ser interpretada. Como bem aponta Leonardo Boff, em Jesus Cristo Libertador, “tudo deve ser julgado segundo o projeto de Jesus, o revelador definitivo.”
Referências bíblicas: Gênesis 35; Hebreus 1:1–3; Lucas 6:36; Mateus 5:44; João 14:9
Referência bibliográfica: BOFF, Leonardo. Jesus Cristo Libertador. Vozes, 1972.
– Esaú muda-se para Seir (v.6–8)
– Lista dos descendentes em Seir (v.9–14)
– Príncipes dos filhos de Esaú (v.15–19)
– Povos originais de Seir (v.20–30)
– Reis de Edom antes de Israel (v.31–39)
– Chefes tribais de Esaú (v.40–43)
(estrofe 1)
E estas são gerações de Esaú,
Que é Edom, segundo Gênesis nos dá.
Tomou Ada, Oolibama, Basemate,
E filhos gerou com grande debate.
Elifaz, Reuel, Jeús e Corá,
São nomes que a linhagem mostrará.
Mudou-se de Canaã para Seir,
Pois muitos bens não podiam coexistir.
(estrofe 2)
Esaú, pai dos edomitas, partiu,
Para onde seu destino o conduziu.
Elifaz teve Temã e Omar,
E filhos de Reuel vieram a formar:
Naate, Zerá, Samá e Mizá,
Seus nomes ecoam na história já.
Eis os príncipes que em Edom surgiram,
Com força, famílias e tribos subiram.
(estrofe 3)
Elifaz teve Timna como mulher,
De quem nasceu Amaleque também, sem mister.
O povo de Seir, horeu habitante,
Gerou Lotã, Sobal, e um povo constante.
Ana, que achou água no deserto,
Gerou Oolibama, no tempo certo.
Depois vieram reis que Israel não tinha,
Bela, Jobabe, Hadade na linha.
(refrão)
Gerações surgem e reinos se vão,
Mas Deus mantém seu plano em ação.
Mesmo em Edom, sem saber do Messias,
História caminha com sabedoria.
(estrofe 4)
Hadar reinou com sua mulher Meetabel,
Filha de Matrede, com nome fiel.
Esses são os príncipes finais citados,
Cada um em seu lugar assentado.
Doze chefes foram estabelecidos,
Edom teve reis e povos reunidos.
Mas sua história, ainda que brilhante,
Ficou distante do amor constante.
(estrofe 5)
Esaú gerou muitos, com grande poder,
Mas nenhum como o Reino que vem a nascer.
Genealogia extensa, sem compaixão,
Sem a promessa da encarnação.
(ponte)
Mas mesmo em registros de homens e clãs,
Só é divina a Palavra que avança
Com coerência à vida de Jesus,
De amor, justiça e paz sem cruz.
(refrão)
Gerações surgem e reinos se vão,
Mas Deus mantém seu plano em ação.
Mesmo em Edom, sem saber do Messias,
História caminha com sabedoria.
EXPLICAÇÃO FINAL
JESUS É A CHAVE PARA DISCERNIR A REVELAÇÃO
Gênesis 36 apresenta uma longa lista genealógica dos descendentes de Esaú (também chamado de Edom), incluindo seus filhos, chefes tribais e reis, além dos habitantes originais de Seir. Esse tipo de capítulo histórico não traz, por si, orientações éticas ou espirituais explícitas. No entanto, ele compõe a memória do povo e sua herança. O que deve ser compreendido aqui é que nenhuma linhagem, povo ou reinado carrega, automaticamente, o selo da vontade divina, a menos que seus frutos sejam coerentes com os princípios vividos e ensinados por Jesus — o amor ao próximo, a justiça e a humildade (Mateus 5–7).
Neste capítulo, não há ordens divinas nem ações espirituais diretas, o que nos convida a considerar que sua inspiração é histórica e cultural, não normativa. Como afirma a Carta aos Hebreus (1:1–3), a revelação plena de Deus se dá em Cristo. Assim, qualquer uso dessas genealogias para justificar supremacias étnicas ou privilégios hereditários não tem base em Jesus, e sim em acréscimos humanos, mesmo que bem intencionados.
Referências bíblicas: Gênesis 36; Mateus 5–7; Hebreus 1:1–3
Referência bibliográfica: MOLTMANN, Jürgen. O Deus Crucificado. Vozes, 1974.
– Sonhos de José (v.5–11)
– José é enviado aos irmãos (v.12–17)
– José é traído e lançado na cova (v.18–24)
– José é vendido aos ismaelitas (v.25–28)
– Enganam Jacó com a túnica (v.29–35)
– José vendido a Potifar (v.36)
(estrofe 1)
Habitou Jacó na terra de Canaã,
José era jovem, filho de sua velhice.
O pai lhe deu túnica de grande afã,
E os irmãos o odiaram com avidez e mesquinhez.
Contou-lhes um sonho: feixes se curvavam,
Eram os irmãos em sinal de submissão.
Depois, outro sonho: o sol, a lua o saudavam,
E os onze astros também lhe prestavam atenção.
(estrofe 2)
Jacó ponderava, os irmãos zombavam,
E foram a Siquém apascentar.
Enviado por Jacó, ele os procurava,
De Hebrom a Dotã foi caminhar.
Viram-no de longe e tramaram o mal,
“Lá vem o sonhador!” foi a acusação.
Planejaram matá-lo, sem sinal moral,
Mas Rúben tentou livrá-lo da destruição.
(estrofe 3)
Lançaram José numa cova sem água,
Enquanto comiam, viram mercadores.
Judá então disse: “Que lucro há na mágoa?
Vendê-lo é melhor que matar com horrores.”
Tiraram-no da cova e o entregaram
A ismaelitas por prata sem dor.
Levaram-no ao Egito, e nem repararam
Na dor que brotava do jovem sonhador.
(refrão)
Traído por sangue da mesma raiz,
José é vendido, mas Deus o conduz.
A túnica manchada não cala a verdade:
Quem sonha com Deus ressurge da dor com luz.
(estrofe 4)
Rúben voltou e se desesperou,
Jacó ao saber rasgou suas vestes.
“José foi despedaçado!” — chorou,
E não quis consolo entre as preces.
“Descerei a meu filho ao túmulo!” dizia,
Enquanto a dor queimava em silêncio.
E no Egito, Potifar recebia
O jovem vendido sem juízo ou ciência.
(estrofe 5)
Mas o silêncio de Deus não é recusa,
Nem o mal triunfa sobre o bem eterno.
Na história de José, há uma luz difusa
Que aponta ao Cristo justo e terno.
(ponte)
Pois mesmo nesse capítulo antigo,
Só é Palavra o que ecoa o Cristo amigo.
O Deus que salva e jamais oprime,
Cujo amor ao fraco é o que define.
(refrão)
Traído por sangue da mesma raiz,
José é vendido, mas Deus o conduz.
A túnica manchada não cala a verdade:
Quem sonha com Deus ressurge da dor com luz.
EXPLICAÇÃO FINAL
O SONHO DE DEUS NÃO MORRE NA COVA
O capítulo 37 de Gênesis inicia a saga de José, uma figura que antecipa Jesus em muitos aspectos: rejeitado pelos seus, traído por irmãos, vendido por prata (como em Mateus 26:15), mas sustentado por Deus. O que se revela aqui é uma linha de sofrimento injusto que, mais adiante, servirá a um bem maior — como o próprio Jesus afirmou em João 12:24: “Se o grão de trigo não morrer, fica só; mas, se morrer, dá muito fruto.”
Ainda assim, é importante entender que o plano divino se cumpre apesar — e não por causa — das ações humanas violentas. A venda de José e a crueldade dos irmãos não são atos inspirados por Deus, mas exemplos do que chamamos de acréscimos humanos. A mentira sobre sua morte, por exemplo (Gênesis 37:31–33), não é algo divino, mas um reflexo da dureza do coração humano, como Jesus denunciou em Mateus 15:19.
Segundo Hebreus 1:1–3, tudo deve ser lido à luz de Jesus. Ele é a revelação perfeita de Deus. Logo, qualquer evento das Escrituras só pode ser entendido como Palavra de Deus se for coerente com seus ensinamentos de amor, justiça e perdão.
Referências bíblicas: Gênesis 37; Salmos 147:6; Lucas 14:11; João 12:24; Hebreus 1:1–3; Mateus 15:19
Referência bibliográfica: BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. Ed. Sinodal, 2002.
– Judá recusa dar seu filho a Tamar (Gênesis 38:6–11)
– Tamar se disfarça para gerar descendência (Gênesis 38:12–19)
– Judá reconhece Tamar e assume a culpa (Gênesis 38:20–26)
– Nascimento de Perez e Zerá (Gênesis 38:27–30)
(estrofe 1)
Desceu Judá e habitou com um homem,
Chamado Hira, amigo adulado.
Casou com filha de cananeu, Suá,
Teve três filhos: Er, Onã e Selá, nomeado.
Er tomou Tamar por mulher,
Mas o Senhor o viu mau e o tirou.
Onã, chamado a gerar pro irmão,
Derramava no chão, e também tombou.
(estrofe 2)
Judá mandou Tamar voltar pra casa,
“Até que Selá cresça”, ele prometeu.
Mas temia que ela também o matasse,
E o compromisso nunca cumpriu.
Morreu a esposa de Judá com o tempo,
E ele subiu a Timna tosquiar.
Tamar se disfarça, cobre o rosto ao vento,
E se senta no caminho a esperar.
(estrofe 3)
Judá a toma por prostituta na estrada,
Promete cabrito, mas deixa penhor.
Tamar concebe e volta calada,
Guardando a justiça no próprio labor.
Judá não encontra a mulher no lugar,
E teme zombaria por buscar a perdida.
Três meses passam, e vem a acusar:
“Tamar pecou!” – sem saber da vida.
(refrão)
Deus não se cala ante a injustiça,
Mesmo quando homens mentem e escondem.
No ventre de Tamar há esperança,
E dos rejeitados, Deus responde.
(estrofe 4)
Tamar envia o selo, o cordão, o cajado,
“Do dono disto, eu concebi meu par.”
Judá se curva, vê o erro passado:
“Mais justa que eu, não vou condenar.”
E ela dá à luz dois filhos de uma vez:
Zerá, com a mão, sai primeiro à luz,
Mas Perez rompe e ganha o “depois”,
E é dele que virá o Cristo Jesus.
(estrofe 5)
Entre enganos, culpas e traições,
Deus tece história com justiça e verdade.
Tamar, mulher ferida entre os leões,
É raiz de fé, força e maternidade.
(ponte)
Mas lembremos, nem tudo aqui é divino,
Só é Palavra o que reflete Jesus.
No Velho ou Novo, o sagrado ensino
É o que traz misericórdia, e não cruz.
(refrão)
Deus não se cala ante a injustiça,
Mesmo quando homens mentem e escondem.
No ventre de Tamar há esperança,
E dos rejeitados, Deus responde.
(2d) EXPLICAÇÃO FINAL
A PALAVRA DE DEUS É O QUE REVELA JESUS
O capítulo 38 de Gênesis é denso e desconfortável. Mostra Judá, que abandona seus irmãos, trata Tamar com descaso, nega-lhe o direito à descendência e, mais tarde, tenta condená-la por uma gravidez da qual ele mesmo é o responsável. No entanto, é a coragem silenciosa de Tamar que revela o que há de mais justo no texto, e não a conduta de Judá.
Como nos ensina Hebreus 1:1–3, somente Jesus é a perfeita revelação de Deus. Assim, neste capítulo, o que reflete justiça, defesa da dignidade e reviravolta em favor dos oprimidos pode ser lido como Palavra inspirada. Já a normalização da mentira, do engano e da exclusão feminina (como se Tamar fosse mercadoria) deve ser entendido como acréscimo humano, ainda que bem intencionado, fruto de uma sociedade patriarcal.
Jesus, ao contrário, dignificou mulheres como a samaritana (João 4) e a adúltera (João 8), oferecendo-lhes não julgamento, mas justiça e acolhimento.
Referências bíblicas: Gênesis 38; Hebreus 1:1–3; João 4:7–26; João 8:1–11
Referência bibliográfica: Phyllis Trible – Texts of Terror (1984)
– O Senhor está com José e ele prospera (v. 2–6)
– A mulher de Potifar tenta José (v. 7–12)
– José é acusado falsamente (v. 13–18)
– Potifar manda José para a prisão (v. 19–20)
– Deus continua com José mesmo preso (v. 21–23)
(estrofe 1)
José foi levado ao Egito estrangeiro,
E Potifar o comprou como seu.
Mas o Senhor estava com o moço inteiro,
E prosperava em tudo o que ocorreu.
Achou graça aos olhos do capitão,
E sua casa José governou.
Desde então veio a multiplicação
Do que a mão fiel do servo tocou.
(estrofe 2)
Era formoso e de boa aparência,
A mulher de seu senhor o desejou.
“Deita-te comigo” – com insistência,
Mas José fugia, fiel como mostrou:
“Teu marido confiou em minhas mãos,
E não farei tal mal contra o céu!”
Ela, furiosa, urde planos vãos,
Até que um dia o prende em seu véu.
(estrofe 3)
Ele foge, deixando a capa no chão,
E ela grita, chamando os da casa.
Acusa-o com ódio e enganação,
Inventa mentira, fala com raiva.
Potifar ouve e se enfurece,
Põe José no cárcere dos reis.
Mas o Senhor, mesmo ali, aparece,
E faz José brilhar mais uma vez.
(refrão)
Mesmo injustiçado e aprisionado,
Deus segue agindo com fidelidade.
Com José o céu está firmado,
E o bem floresce em meio à maldade.
(estrofe 4)
O carcereiro logo viu a mão de Deus
Na vida do hebreu preso e honrado.
Entregou a ele os presos seus,
Pois tudo dava certo ao seu lado.
O Senhor com ele sempre estava,
E o que fazia era bem-sucedido.
Mesmo na dor, a fé o sustentava,
Num caminho justo e ungido.
(estrofe 5)
Não houve ódio que o fizesse tombar,
Nem mentira que o silenciasse.
José aprendeu a sempre esperar
A justiça que Deus lhe mostrasse.
Seu exemplo aponta à eternidade,
E brilha nas páginas da verdade.
(ponte)
Mas saibamos: só é Palavra eterna
O que se alinha com o amor de Jesus.
Seja em José, ou no monte ou na caverna,
A vontade divina é paz, não cruz.
(refrão)
Mesmo injustiçado e aprisionado,
Deus segue agindo com fidelidade.
Com José o céu está firmado,
E o bem floresce em meio à maldade.
(2d) EXPLICAÇÃO FINAL
INSPIRAÇÃO VERDADEIRA É O QUE REFLETE JESUS
O capítulo 39 de Gênesis mostra a integridade de José diante da tentação e da injustiça. Perseguido pela esposa de Potifar, ele escolhe a fidelidade a Deus, mesmo quando isso lhe custa a liberdade. Em nenhum momento José revida ou amaldiçoa. Ele simplesmente confia.
A mensagem deste capítulo é coerente com Jesus, que também foi injustiçado, caluniado e preso, mas respondeu com fé e misericórdia (Lucas 23:34; João 18:36). José é, portanto, uma figura que antecipa o Cristo: não por sua glória, mas por sua obediência silenciosa, pacífica e perseverante.
Por outro lado, a cultura patriarcal que aceita, sem crítica, a compra de pessoas (v. 1) ou o tratamento da mulher como objeto de escândalo é parte de um contexto social e histórico – um acréscimo humano – que precisa ser compreendido à luz da ética de Jesus, que nunca justificou escravidão nem condenou inocentes sem ouvir (João 8:15).
Referências bíblicas: Gênesis 39; João 8:15; Lucas 23:34; João 18:36
Referência bibliográfica: José Comblin – O Caminho: Ensaio sobre o seguimento de Jesus (1993)
– Os sonhos dos dois prisioneiros (Gênesis 40:5–8)
– José interpreta o sonho do copeiro (Gênesis 40:9–15)
– José interpreta o sonho do padeiro (Gênesis 40:16–19)
– O sonho do copeiro se cumpre; o de José é esquecido (Gênesis 40:20–23)
(estrofe 1)
Aconteceu depois de algum tempo,
Que o copeiro e o padeiro do rei,
Ofenderam o senhor do tempo,
E para a prisão foram como a lei.
José ali os servia no cárcere real,
Onde estavam detidos por um erro.
Certa noite, sonharam igual,
Cada qual com seu próprio enredo.
(estrofe 2)
Pela manhã, José os encontrou tristes,
E perguntou: “Por que tais semblantes?”
Contaram-lhe os sonhos que eram mistos,
Sem quem os explicasse diante.
José então disse: “A Deus pertence
Toda interpretação do que é sonhado.”
Pediu que cada um dispusesse
O sonho que o tinha espantado.
(estrofe 3)
O copeiro contou seu devaneio:
“Havia uma vide com três ramos,
Ela brotou, floresceu, deu cacho cheio,
E eu espremi uvas nos copos do amo.”
José sorriu e logo interpretou:
“Três dias e estarás restaurado.”
“Mas lembra-te de mim, por favor,
Quando estiveres do rei ao lado.”
(refrão)
Deus revela e dá sentido ao tempo,
Ainda que o cárcere pareça fim.
Quem vive o sonho com discernimento,
Sabe que Deus age até no sim.
(estrofe 4)
Vendo que foi boa a resposta,
O padeiro também se apressou:
“Sonhei com cestos de fina aposta,
E pães para o rei, que o céu levou.
Mas aves vinham e os devoravam.”
José, porém, deu triste notícia:
“Três dias e te enforcarão,
E as aves comerão tua justiça.”
(estrofe 5)
Ao terceiro dia, era aniversário
De Faraó, e os servos chamou.
O copeiro foi posto no cenário,
Mas o padeiro não mais voltou.
Contudo, o copeiro esqueceu José,
E sua dor ficou no escuro.
Mesmo assim, Deus via a fé
Do servo justo e puro.
(ponte)
Mas lembremos: só é Palavra divina
O que em Jesus encontra razão.
Nem sonho, nem sina, nem doutrina,
Se firmam fora do Cristo em ação.
(refrão)
Deus revela e dá sentido ao tempo,
Ainda que o cárcere pareça fim.
Quem vive o sonho com discernimento,
Sabe que Deus age até no sim.
(2d) EXPLICAÇÃO FINAL
SÓ É INSPIRAÇÃO DIVINA O QUE REVELA JESUS
O capítulo 40 de Gênesis trata dos sonhos de dois servos de Faraó, interpretados por José na prisão. Ele age com humildade, reconhecendo que a interpretação dos sonhos pertence a Deus (Gênesis 40:8), e pede que, ao sair, o copeiro lembre-se dele. A narrativa, embora ambientada num contexto carcerário e político, ressalta a confiança de José mesmo quando é esquecido – o que ecoa o ensinamento de Jesus: “o último será o primeiro” (Lucas 13:30).
Entretanto, devemos recordar que só é Palavra de Deus o que for coerente com Jesus (Hebreus 1:1–3). A execução do padeiro (Gênesis 40:19–22), embora narrada como fato, não expressa a vontade redentora do Pai revelada no Cristo – que perdoa o ladrão na cruz (Lucas 23:43) e ensina a misericórdia, não a punição como destino final (Mateus 5:7).
Assim, a mensagem principal do capítulo — fidelidade mesmo no esquecimento, e confiança no agir de Deus — pode ser acolhida como revelação divina. Mas as estruturas penais e punitivas narradas devem ser vistas como acréscimos humanos de uma cultura ainda sem a luz total de Jesus.
Referências bíblicas: Gênesis 40; Lucas 13:30; Lucas 23:43; Hebreus 1:1–3; Mateus 5:7
Referência bibliográfica: Leonardo Boff – Jesus Cristo Libertador (1972)