QUE MUDARAM O MUNDO. DO DIA D AO MENINO AYLAN, 14 FOTOS QUE GRITAM
Uma foto fala mais que mil palavras, mas apenas algumas raras imagens passam um recado significativo e contundente o bastante para galvanizar todo o público. As fotos abaixo gritam tão alto que, quando foram publicadas, o mundo todo parou para ouvi-las.
9 DE SETEMBRO DE 2015 ÀS 17:13
Por: Ransom Riggs. Fonte: Mental Floss magazine
1. O fotógrafo que inventou o fotojornalismo: “Praia de Omaha, Normandia, França”. Robert Capa, 1944.
“Se suas fotos não forem suficientemente boas”, costumava dizer o fotógrafo de guerra Robert Capa, “é porque você não se aproximou o bastante”. Ele sabia do que falava. Afinal, suas fotografias mais memoráveis foram tomadas na manhã do Dia D, 6 de junho de 1944, quando aportou na Praia Omaha, na Normandia, junto com as primeiras fileiras da infantaria aliada.
Em meio ao fogo da artilharia pesada desde o primeiro momento, Capa procurou se esconder como foi possível. Do esconderijo, gastou todos os rolos de película que trouxera colhendo flagrantes dos combates. Por milagre conseguiu escapar vivo daquele inferno. Mas, dos quatro rolos de filme que fizera dos horríveis embates do Dia D, apenas 11 imagens se salvaram. Todas as outras foram destruídas por um desastrado assistente que velou as imagens ao tentar revelá-las com demasiada pressa. Ele não queria perder o fechamento do próximo número da Life Magazine, revista norte-americana para a qual trabalhava.
Numa irônica virada da sorte, no entanto, esse mesmo erro deu às poucas imagens restantes aquele famoso “look” surreal, que a revista Life, ao publicá-las, definiu erroneamente como sendo “ligeiramente fora de foco”. Mais de 50 anos depois, o diretor Steven Spielberg penou para reproduzir esse mesmo efeito na sequência que produziu sobre o desembarque do Dia D, no filme “O resgate do soldado Ryan”.
2. A fotógrafa que deu um rosto para a Grande Depressão: “Migrant Mother”. Dorothea Lange, 1936.
Como fotografia que define toda uma era histórica, “Migrant Mother” é séria candidata ao primeiro prêmio. Para muitos, Florence Owens Thompson é a face da Grande Depressão, graças à legendária fotógrafa Dorothea Lange. Ela captou a imagem quando visitou um campo empoeirado de colhedores de ervilha na Califórnia, em fevereiro 1936. Ao fazê-lo, capturou também a resiliência de toda uma nação que enfrentava tempos desesperados.
A história de Florence Thompson, incrivelmente, é tão pungente quanto o seu retrato. Ela tinha apenas 32 anos de idade quando Lange a abordou (“como atraída por um ímã”, disse a fotógrafa). Florence era uma mãe de sete filhos quando perdeu o marido, vítima de tuberculose. Encalhada, sem um centavo no bolso, numa fazenda de boias-frias em Nipomo, na Califórnia, ela e sua família se sustentavam graças a passarinhos que seus filhos conseguiam caçar e a verduras colhidas no campo. O impacto causado pela foto foi avassalador. Reproduzido por jornais em toda a parte, a face assombrada de Florence Thompson desencadeou inúmeros protestos populares, obrigando os políticos da organização federal Resettlement Administration a enviar comida e suprimentos para aquela região. Infelizmente, Florence e sua família já tinham partido quando a ajuda chegou. Com efeito, ninguém conhecia a identidade da mulher fotografada até o ano de 1976, quando Florence decidiu revelá-la em artigo escrito para um jornal.
3 O fotógrafo que trouxe o campo de batalha para o interior das casas: “Federal Dead on the Field of Battle of First Day, Gettysburg, Pennsylvania”. Mathew Brady, 1863
Como um dos primeiros fotógrafos da Primeira Grande Guerra, Mathew Brady começou sua carreira de maneira bem mais prosaica. Era um cavalheiro bem sucedido da elite norte-americana, e bem conhecido como fotógrafo de celebridades como Abraham Lincoln e Robert E. Lee. Ninguém o imaginaria como um fotógrafo nas trincheiras.
Com efeito, Brady tinha tudo a perder promovendo um tal desvio em sua carreira – seu dinheiro, seus negócios, e possivelmente a sua própria vida. Apesar disso, ele decidiu se arriscar e se juntou ao Exército da União na batalha com sua câmera. Ele declarou: “Um espírito se apoderou de meus pés e disse: Vá!” E ele foi e permaneceu – pelo menos até se ver frente a frente com a ponta de uma baioneta confederada.
Após escapar por pouco da captura na primeira Batalha de Bull Run, o espírito nos pés de Brady se aquietou um pouco, e ele passou a mandar assistentes para o front de combate, em vez de ir ele mesmo. No espaço de apenas uns poucos anos, Brady e sua equipe tiraram mais de 7 mil fotografias – um número espantoso, quando consideramos que, naqueles tempos, para revelar uma única chapa era necessário trazer um carroção cheio de equipamentos e perigosas substâncias químicas. As coisas não eram exatamente o que chamamos de “focar e clicar”.
Apesar das dificuldades, Brady produziu fotografias de guerra bem impactantes. Graças a ele os americanos puderam, pela primeira vez, se confrontar com a dura realidade dos campos de guerra.
4 O fotógrafo que pôs fim a uma guerra, mas arruinou uma vida: “Murder of a Vietcong by a Saigon Police Chief”. Eddie Adams, 1968
“Fotógrafos em campo constituem a arma mais poderosa do mundo”, escreveu certa vez o fotógrafo Eddie Adams, da Agência Associated Press. Uma frase acertada para ele mesmo, já que sua fotografia de um oficial atirando à queima-roupa num prisioneiro vietcongue, tirada em 1968, não apenas venceu o Prêmio Pulitzer em 1969, mas também fez o giro do mundo numa campanha contra as atitudes ilícitas cometidas pelos americanos na Guerra do Vietnã.
A imagem provocou enorme impacto político, embora, como depois se soube, a situação não era de fato tão maniqueísta como parecia. O que a foto de Adams não mostra é que o capitão vietcongue assassinado chefiava um “esquadrão da vingança” que, naquele mesmo dia, tinha executado dezenas de cidadãos desarmados. Apesar disso, a foto tornou-se imediatamente um ícone da selvageria da guerra e transformou o oficial que puxou o gatilho – General Nguyen Ngoc Loan – no vilão por excelência.
O testemunho do fotógrafo perseguiu e assombrou Loan pelo resto da sua vida. Depois da guerra, ele era hostilizado onde quer que fosse. Depois que um hospital de veteranos na Austrália recusou recebe-lo para tratamento, ele foi transferido para os Estados Unidos, onde teve de enfrentar uma maciça (embora não bem sucedida) campanha pela sua deportação. Loan finalmente se estabeleceu na Virgínia e abriu um pequeno restaurante, mas foi forçado a fechá-lo assim que seu passado foi revelado na localidade. Vândalos picharam suas paredes com frases do tipo “sabemos quem você é”, e os negócios minguaram até a falência.
Sentindo-se mal, Adams pediu desculpas a Loan por ter tirado a foto, e escreveu: “O general matou o vietcongue; eu matei o general com a minha câmera”.
5. O fotógrafo que não foi tão romântico quanto parecia: “O beijo - V-J Day, Times Square, Nova York”. Alfred Eisenstaedt, 1945
No dia 14 de agosto de 1945 surgiu nos Estados Unidos a notícia da rendição do Japão, assinalando o final da Segunda Grande Guerra. A multidão saiu às ruas em festa, mas talvez ninguém estava mais aliviado do que aqueles que vestiam fardas. Embora muitos deles tivessem recentemente voltado vitoriosos da Europa, havia a possibilidade de embarcarem novamente para um campo de batalha, desta vez nas águas sangrentas do Pacífico.
No meio da multidão reunida em Times Square naquele dia estava um dos mais talentosos fotojornalistas do século 20, um imigrante alemão chamado Alfred Eisenstaedt. Enquanto tirava fotos da celebração, ele viu um marinheiro “correndo pela rua e abraçando toda e qualquer moça que encontrava”. Mais tarde ele explicou: “Pouco importava se se tratava de uma vovó, gorda, velha, nada fazia diferença”.
Claro, uma foto do marinheiro lascando um beijo na boca de uma senhora idosa iria parar direto na capa da revista Life, mas quando Alfred viu o marinheiro atracado nos lábios de uma enfermeira muito atraente, ele não pestanejou e disparou. A imagem apareceu em praticamente todos os jornais do país. Não é preciso dizer que “O beijo” não captura a imagem de um esperado reencontro entre dois namorados, mas a foto também não foi montada, como muitos críticos acusaram. De qualquer forma, esta imagem permanece como um símbolo duradouro da exuberância americana e do fim de um grande embate.
6. O fotógrafo que destruiu uma indústria. “Hindenburg". Murray Becker, 1937
Esqueçam o Titanic, o Lusitânia, e o comparativamente pouco fotogênico acidente nuclear de Chernobyl. Graças ao poder das imagens, a explosão do dirigível Hindenburg, no dia 6 de maio de 1937, merece a honra de ser a quintessência das imagens de desastres do século 20.
Contas feitas, no entanto, o Hindenburg não foi assim tão desastroso. Surpreendentemente, das 97 pessoas a bordo, 62 sobreviveram. Na verdade, esse não foi sequer o maior desastre com o Zeppelin no século 20. Apenas quatro anos antes, o U.S.S. Akron arrebentou e caiu no Atlântico matando mais que o dobro de pessoas. Mas quando se calcula o status épico de uma catástrofe, a existência de terríveis fotos-documento contam mais do que o número de vítimas!
Reunidos pela empresa alemã construtora do Hindenburg, com vistas a uma maciça campanha publicitária, nada menos de 22 fotógrafos, repórteres e cameramen estavam em Lakehurst, Nova Jersey, quando a aeronave em chamas veio abaixo. A publicidade maciça realmente aconteceu, mas foi totalmente negativa para os Zeppelins, que eram considerados, até então, o modo mais seguro para se viajar pelo ar.
Durante os anos 1920 e 1930, Zeppelins operaram voos regulares, levando e trazendo passageiros entre a Alemanha e as Américas, inclusive o Brasil. Mas tudo parou em 1937. O acidente realmente acabou com o uso de dirigíveis como um modo comercialmente viável de transporte aéreo, encerrando a carreira com uma horrível explosão seguida de incêndio que foi fotografada e fez o giro do mundo.
7. O fotógrafo que salvou o planeta: “The Tetons - Snake River”. Ansel Adams, 1942
Alguns historiadores dizem que a fotografia pode ser dividida em duas eras: antes de Adams e depois de Adams. Antes desse fotógrafo, a fotografia não era em geral considerada uma forma de arte. Os fotógrafos tentavam fazer suas fotos mais “artísticas” (ou seja, mais parecidas com pinturas) submetendo-as a uma grande variedade de manipulações que podiam ser extremas. Essas técnicas iam desde melar as lentes da câmera com geleia de petróleo a riscar e perfurar os negativos das películas com agulhas. E aí chegou Ansel Adams, para ajudar seus colegas manipuladores a sair dos seus complexos de inferioridade.
De modo até um tanto temerário, Adams passou a declarar que a fotografia era “uma incrível poesia do real”. Ele evitava todas as manipulações, alegando que essas técnicas eram simplesmente derivadas de outras formas de arte. Em vez disso, ele pregava o valor da “pura fotografia”. Em uma época em que a tecnologia das câmeras começou a evoluir com rapidez, criando dispositivos como o disparador automático, Adams e outros fotógrafos da natureza, especializados em paisagens, mantiveram-se fieis às suas volumosas e antiquadas câmeras de grande formato.
Adams conseguiu transformar fotografias em verdadeiras obras de arte. Mais ainda, ele moldou o modo que os americanos passaram a ver e a considerar as suas próprias extensões naturais selvagens, e graças a essa visão, desenvolver uma consciência de preservação da natureza.
A paixão de Adams pela Terra não se limitava à produção de fotografias muito bem enquadradas. Em 1936, por exemplo, ele levou suas fotos e se juntou ao ativismo de um grupo que se manifestou em Washington em prol da preservação de toda a áreas dos grandes cânions da Califórnia. A iniciativa foi bem sucedida, e a região se tornou parque nacional.
8. O fotógrafo que manteve viva a memória do Che: “O cadáver de Che Guevara”. Freddy Aborta, 1967.
Bandido sociopata? Socialista iluminado? Ou, como o definiu o filósofo Jean-Paul Sartre, “o mais completo ser humano da nossa era”? Apesar das controvérsias, não há como negar que Ernesto Che Guevara tornou-se o santo patrono dos revolucionários. Sem dúvida, ele é um homem de status mítico - uma reputação que persiste por causa da forma como ele viveu, e de como morreu.
Levado à Bolívia – na época uma nação com exército treinado e equipado pelos militares dos Estados Unidos e da CIA – pelo seu desejo de incitar a revolução entre os pobres e oprimidos, Guevara foi capturado e executado em 1967. A primeira ideia dos militares bolivianos foi se livrar em segredo do seu corpo. Mas, sob o aconselhamento dos seus instrutores norte-americanos, decidiram desencadear um plano estratégico com o uso de fotografias do revolucionário morto. O objetivo era mostrar e provar ao mundo que Che estava realmente morto, e levara com ele, na morte, todo o seu movimento político. Inclusive, para evitar alguma acusação de que a foto tinha sido falsificada, seus captores amputaram suas mãos e as conservaram em formaldeíde.
Mas, ao assassinar o homem, os oficiais bolivianos, a contragosto, deram origem a um mito. A foto rodou o mundo e apresenta uma impressionante semelhança com as pinturas renascentistas do Cristo morto, ao ser retirado da cruz. Inclusive, no momento em que os oficiais estão reunidos ao seu redor (um deles, à direita, parece apontar para um ferimento no corpo do Che situado bem próximo ao lugar onde o Cristo teria recebido sua estocada final), o rosto do Che mostra uma expressão tranquila e pacífica, o que para muitos foi rapidamente descrito como demonstração de perdão. O significado alegórico dessa foto certamente não foi perdido. Pelo contrário, passou a ser uma imagem sempre presente nos protestos e demais manifestações revolucionárias que se sucederam naquele período. Elas logo adotaram o grito “Che vive!”, como um slogan internacional. Graças a esse fotógrafo, “a paixão do Che” assegurou a sua sobrevivência para todo o sempre como um mártir da causa socialista.
9. O fotógrafo que permitiu aos gênios desfrutar do senso de humor. “Einstein mostra a língua”. Arthur Sasse, 1951
Podemos apreciar esse memorável retrato como sendo o do amigo da porta ao lado, e por isso é justo cogitar se ele realmente mudou a história. Certamente, sim. Ao mesmo tempo em que Albert Einstein mudou a história com suas contribuições à física nuclear e à mecânica quântica, essa fotografia mudou o modo como a história via Einstein. Ela humanizou um homem que, antes disso, era conhecido quase que apenas pelo brilho da sua inteligência. Essa imagem é a razão pela qual o nome de Einstein tornou-se sinônimo não apenas de “gênio”, mas também, de “gênio amalucado”.
Mas afinal, por que Einstein decidiu mostrar a língua? Parece que ele, querendo desfrutar do seu 72oaniversário em paz, deparou-se no campus da Princeton University com uma perseguição incessante de um batalhão de jornalistas e fotógrafos. Após sorrir para as câmeras centenas de vezes, ele decidiu presentear o fotógrafo Arthur Sasse com uma bela e total visão da... sua língua. Como não se tratava de uma língua qualquer, a foto resultante tornou-se imediatamente um clássico que assegurou ao notável Prêmio Nobel ser lembrado não apenas por seu cérebro mas também pela sua personalidade.
10. O fotógrafo que fez o surreal se tornar real: “Dalí Atômico”. Philippe Halsman, 1948
Philippe Halsman é possivelmente o único fotógrafo do mundo que construiu uma inteira carreira tirando retratos de pessoas saltando. Ele alegava que o ato de saltar revelava a “verdadeira natureza” dos seus sujeitos. Ao olharmos sua mais famosa fotografia de um salto, “Dalí Atômico”, fica difícil não concordar com ele.
Essa fotografia é a homenagem de Halsman tanto à nova era atômica (com a então recente afirmação da física de que toda matéria existe em constante estado de suspensão) quanto à obra-prima surrealista de Dali, a tela “Leda Atômica” (que pode ser observada à direita, atrás dos gatos, e ainda inacabada na época). Foram necessárias seis horas, 28 saltos, e uma sala cheia de assistentes atirando ao ar gatos e baldes cheios de água até se conseguir a foto perfeita.
Mas até chegar à “fórmula” do “Dalí Atômico” que conhecemos hoje, Halsman rejeitou várias outras sugestões de conceitos para a foto. Uma delas era a de se usar leite em vez de água, mas ela foi abandonada por medo de que o público, recém saído das privações da Segunda Grande Guerra, a condenasse por desperdício de leite.
Os métodos de Halsman eram únicos e muito eficazes. Seus retratos de saltos de celebridades apareceram pelo menos em sete capas da revista Life e foram decisivos para que a fotografia entrasse numa nova – e radicalmente mais aventurosa – era do retrato fotográfico.
11. O fotógrafo que mentiu. “O monstro de Loch Ness”. Ian Wetherell, 1934
Embora relatos de coisas estranhas avistadas nas imediações e na superfície do lago Loch Ness, na Escócia, tenham começado no distante ano de 565, foi apenas depois que a fotografia chegou à beira do lago que a “febre Nessie” realmente se desencadeou. Depois que a agora-legendária foto, alegadamente tirada em abril de 1934, rodou o mundo, uma verdadeira indústria do turismo foi instalada na localidade. Desde então, ela é responsável pelo aporte de muitos milhões de dólares trazidos todos os anos por turistas desejosos de ver o “monstro”.
Mas a festa quase acabou em 1994, quando uma reportagem foi publicada afirmando que o construtor de maquetes e modelos Christian Spurling admitira ter falsificado a foto. De acordo com o testemunho de Spurling, seu padrasto, Marmaduke Wetherell, que trabalhava como caçador de animais de grande porte, fora contratado pelo jornal londrino Daily Mail para encontrar o monstro. Mas, ao invés de dizer a verdade, ele decidiu fazer uma foto falsificada. Wetherell, acompanhado de Spurling e seu filho, Ian, construíram o seu próprio monstro, capaz de flutuar na superfície do lago, com o uso de um brinquedo submarino e algumas placas de madeira. Foi Ian quem tirou a foto, mas para dar maior credibilidade à história eles convenceram um figurão da comunidade – o cirurgião Robert Kenneth Wilson – a declarar que ele mesmo fora o autor. Tudo para provar o velho ditado dos fotógrafos: “A câmera nunca mente”. As pessoas, por seu lado, sim.
12. A fotógrafa que quase não foi: “Gandhi com sua roca e seu fuso”. Margaret Bourke-White, 1946
Este retrato definidor de uma das figuras mais influentes do século 20, quase não pode ser feito, por causa das exigências estritas do Mahatma. Ele representou uma rara oportunidade de fotografar o líder pacifista indiano. Margaret Bourke-White, fotógrafa da revista Life, estava pronta para o trabalho quando as secretárias de Gandhi a interromperam: Se ela fosse fotografar Gandhi manejando a roca e o fuso (um símbolo da luta indiana pela independência), ela teria primeiro que aprender a manejar aqueles instrumentos.
E isso não foi tudo. O ascético Mahatma não diria uma única palavra durante os trabalhos, já que aquele era o seu dia de silêncio. E porque ele detestava luzes fortes, Bourke-White só estava autorizada a usar três lâmpadas. Esclarecidas e acertadas todas essas condições, persistia no entanto mais uma – o clima indiano excessivamente úmido, estava provocando defeitos em sua câmera e estragando o resto do equipamento. Quando, finalmente, chegou o momento de clicar, a primeira lâmpada explodiu. E quando a segunda funcionou, ela esqueceu de inserir a película.
Margaret pensou que tudo estava perdido, mas, por sorte, a terceira tentativa deu resultado. No final, ela foi embora com uma imagem que se tornou a representação mais expressiva e durável de Gandhi. Foi também, um dos últimos retratos que ele tirou em sua vida; o Mahatma foi assassinado menos de dois anos depois.
13. O fotógrafo que previu o futuro: “O violino de Ingres”. Man Ray, 1924.
Antes de existir o Photoshop, existiu Man Ray. Um dos fotógrafos mais originais jamais surgidos, Ray era um experimentador incansável. De fato, seu trabalho era tão inventivo que ele chegou a não usar a câmera, criando suas “Rayografias” inteiramente na sala escura.
“O violino de Ingres” é possivelmente a sua fotografia mais conhecida, e uma das suas primeiras. Como muitas obras do movimento dadaísta (que Ray levou para os Estados Unidos), trata-se de um “trocadilho visual”. Ao desenhar claves musicais no corpo de sua modelo, ele aponta as semelhanças que existem entre o corpo da mulher e a forma de um violino. Tanto a roupagem da modelo quando a sua pose lembram a famosa pintura do artista francês Jean-Auguste-Dominique Ingres, que gostava de pintar mulheres nuas e de tocar violino.
O trabalho de Man Ray estava muito à frente do seu tempo. Ao ridicularizar o agora obsoleto conceito de que a imagem fotográfica é interpretação literal da realidade, suas imagens antecipam a atual era da revolução digital.
14 A foto que ainda não mudou o mundo. Mas esperamos que o faça: “O menino na praia de Bodrum”. Nilufer Demir, 2015
A imagem do menino sírio Aylan Kurdi, que se afogou ao largo da praia de Bodrum, na Turquia, quando tentava chegar à ilha grega de Kós numa balsa, em companhia dos familiares, chocou o mundo há poucos dias. Nilufer Demir, fotógrafa da imprensa turca, estava fotografando um grupo de imigrantes paquistaneses na praia quando encontrou o corpo sem vida de Aylan Kurdi.
Demir fez o que qualquer fotógrafo faria: tirou fotos. Sua foto mais forte mostrava o garoto sírio de três anos de idade caído sozinho e com o rosto enterrado na areia. Suas mãos estavam abertas e viradas para cima.
"Eu tive que tirar a foto e não hesitei", afirmou ela à agência de notícias onde trabalha, a DHA. "A única coisa que eu podia fazer é ter certeza de que essa tragédia fosse vista".
Ela não previa a comoção que a imagem provocaria na Europa e no mundo. "Eu nunca acreditei que uma foto poderia causar esse impacto", disse. "Gostaria que isso mudasse o curso das coisas".
Pode-se dizer que a foto não apenas documentou, mas influenciou o desenrolar da crise dos refugiados na Europa. Se providências realmente forem tomadas para resolver o drama desses refugiados, a morte de Aylan não terá sido em vão. Sem o saber, ele emprestou seu pequeno corpo para a elaboração de uma imagem destinada a permanecer na história dos desatinos humanos.
http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/196033/Fotos-que-mudaram-o-mundo-Do-Dia-D-ao-menino-Aylan-14-fotos-que-gritam.htm