COMO EU ME ENCONTREI ATRAVÉS DA MÚSICA
“Música está em toda parte e em todas as coisas”, diz a jovem musicista Anika Paulson. Ao dedilhar as cordas do seu violão, ela explora as formas através das quais a musica conecta as pessoas com o mundo.
12 DE SETEMBRO DE 2017 ÀS 15:29 // 247 NO TELEGRAM // 247 NO YOUTUBE
Palestra de: Anika Paulson, musicista
Vídeo: TED Ed Clubs
Tradução: Maricene Crus. Revisão: Denise Pelush
A paixão que Anika Paulson tem pela música permeia a compreensão que ela possui de si mesma, do mundo que a circunda e “os mistérios que fazem parte indissociável dos pequenos e grandes fatos da vida”.
Vídeo: “Como eu me encontrei através da música”, palestra de Anika Paulson
Tradução integral da palestra de Anika Paulson
O filósofo Platão disse certa vez: “A música dá uma alma ao universo, asas à mente, voo para a imaginação e a vida para tudo”. A música sempre foi uma grande parte da minha vida. Criar e executar música nos liga às pessoas de países e vidas distantes. Ela nos conecta com aqueles com quem tocamos, com a plateia e com nós mesmos. Quando estou feliz ou triste, quando estou aborrecida ou estressada, eu escuto e crio música.
Eu tocava piano quando era mais jovem; depois passei para o violão. E quando comecei o ensino médio, a música se tornou parte da minha identidade. Eu estava em todas as bandas, me envolvia em todos os eventos musicais. A música me cercava. Ela fazia de mim quem eu era, e me dava senso de pertencimento.
Sempre tive um “quê” por ritmos. Lembro-me de mim mesma mais jovem, caminhando pelos corredores da minha escola e batendo ritmos nas minhas pernas com as mãos, ou batendo meus dentes. Era um tique nervoso, e eu estava sempre nervosa. Acho que gostava da repetição do ritmo; ela me acalmava.
Então, no ensino médio, comecei a estudar teoria da música, e foi a melhor matéria que já tive. Aprendíamos sobre música, coisas que eu não sabia, como a teoria e a história. Era uma aula na qual basicamente ouvíamos uma canção, discutíamos o significado dela para nós, a analisávamos e descobríamos por que ela “mexia” com a gente. Toda quarta-feira, fazíamos um “ditado rítmico”, e eu me saia muito bem. Nosso professor nos dava alguns compassos e a fórmula de compasso, e então ele nos passava um ritmo e tínhamos que anotá-lo com as devidas notas e pausas. Assim: ta ta tacataca ta, ta tacata-ca ta-ca. E eu adorava! A simplicidade do ritmo, uma linha básica de dois a quatro compassos, e, no entanto, cada um deles quase contava uma história. Eles tinham tanto potencial, e tudo que você tinha a fazer era acrescentar uma melodia.
Ritmos estabelecem a base pra que melodias e harmonias sejam tocadas em cima deles. Dão estrutura e estabilidade. A música tem essas partes: ritmo, melodia e harmonia, assim como a nossa vida. Onde a música tem ritmo, nós temos rotinas e hábitos, coisas que nos ajudam a lembrar o que fazer e nos mantermos focados, e simplesmente seguirmos adiante. E vocês podem não perceber, mas ele está sempre lá.
E pode parecer simples, ou maçante por si só, mas ele dá o andamento e o batimento cardíaco. Então as coisas da sua vida se somam a isso, criando textura; esses são seus amigos e sua família, e tudo mais que cria uma estrutura harmônica em sua vida e na sua canção, como harmonias, cadências e tudo o que o torna polifônico. E eles criam acordes e padrões lindos.
E aí entra você. Você toca em cima de todo o restante, em cima dos ritmos e da batida porque você é a melodia. E as coisas podem mudar e se desenvolver, mas não importa o que façamos, ainda somos as mesmas pessoas. As melodias se desenvolvem ao longo de uma canção, mas ela continua sendo a mesma. Não importa o que você faça, seus ritmos ainda estão lá: o andamento e os batimentos cardíacos. Isso até eu me formar, e ir para a faculdade e tudo desapareceu.
Assim que cheguei na universidade, me senti perdida. E não me levem a mal, algumas vezes eu adorava e era ótimo, mas em outras, me sentia abandonada tendo que me defender sozinha. É como se eu tivesse sido retirada do meu ambiente natural, e colocada em algum lugar novo, onde os ritmos, as harmonias e a forma tinham ido embora, e só sobraram eu…
silêncio e minha melodia. E mesmo isso começou a oscilar, pois eu não sabia o que estava fazendo, não tinha acordes para me estruturar, ou um ritmo ou uma batida para saber o andamento.
E então comecei a ouvir todos esses outros sons que estavam fora do tempo e fora das escalas musicais. E quanto mais eu ficava em meio a eles, mais minha melodia começava a soar como a deles. E lentamente, comecei a me perder, como se estivesse sendo arrastada para longe. Mas então, no momento seguinte,
eu conseguia ouvi-lo. E conseguia senti-lo. E era eu. E eu estava aqui. E era diferente, mas não pior. Apenas havia mudado um pouco.
A música é minha maneira de lidar com as mudanças na minha vida. Há uma bela conexão entre a música e a vida. Ela pode nos unir à realidade ao mesmo tempo que nos permite escapar dela. A música é algo que vive dentro de nós. Somos o criador e a criatura. Nossa vida não é apenas conduzida pela música, mas também é composta por ela.
Isso pode parecer um pouco de exagero, mas me escutem: a música é uma parte fundamental do que somos e de tudo ao nosso redor. A música é minha paixão, mas eu também costumava me interessar pela física. E quanto mais eu aprendia, mais via conexões entre as duas, especialmente em relação à teoria das cordas. Sei que esta é só uma das muitas teorias, mas mexeu comigo. Então, um aspecto da teoria das cordas, na sua forma mais simples, é esta: a matéria é composta de átomos, que são constituídos por prótons, nêutrons e elétrons, que são feitos de quark. É aqui que entra a parte da corda. Este quark é supostamente feito de pequenas cordas enroladas, e são as vibrações dessas cordas que fazem com que tudo seja o que é.
Michio Kaku já explicou isso numa palestra chamada, “O Universo em Poucas Palavras”, na qual ele diz: “A teoria das cordas é a simples ideia de que as quatro forças do universo, gravidade, a força eletromagnética, e as duas forças poderosas, podem ser vistas como música. A música de pequeninhos elásticos”. Nesta palestra, ele explica a física como as leis da harmonia entre estas cordas; química, como as melodias que podem ser tocadas nessas cordas; e ele afirma que o universo é uma “sinfonia de cordas”. Essas cordas ditam o universo; elas compõem tudo o que vemos e tudo o que sabemos. Elas são notas musicais, mas nos fazem o que somos e nos mantêm unidos. Então vejam, tudo é música.
Quando observo o mundo, vejo música ao nosso redor. Quando olho para mim mesma, eu vejo música. Minha vida tem sido definida pela música. Eu me encontrei através da música. A música está em todo lugar, e ela está em tudo. E ela muda, ela constrói e ela diminui. Mas está sempre lá, nos apoiando, nos conectando uns aos outros e nos mostrando a beleza do universo.
Então, se vocês se sentirem perdidos, parem e escutem sua música.
Obrigada.
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