HARMONIA QUE TOCA A ALMA E O CÉREBRO
Uma sonata de Mozart, uma canção de Tom Jobim, uma performance de puro ritmo executada por atabaques africanos, não importa: a boa música provoca efeitos positivos surpreendentes no corpo, na psique e na mente de quem a escuta.
23 DE ABRIL DE 2019 ÀS 16:18
Por: Equipe Oásis
“Efeito Mozart” é expressão cunhada para designar certas alterações positivas que a boa música pode desencadear não apenas nas pessoas, mas também, aparentemente, em alguns animais e vegetais. Vários estudos concluíram que, entre outras coisas, a audição de obras desse compositor pode provocar melhora da performance matemática, redução de sintomas epilépticos, redução da pressão sanguínea e da frequência cardíaca e… aumento da produção do leite em vacas.
Raríssimos são aqueles que nunca conseguiram se entregar à beleza de uma boa composição musical. Não à toa o compositor americano George Gershwin entendia a música como uma “ciência das emoções”. A ciência moderna não apenas incorporou definições do gênero, como hoje vai mais longe, tentando decifrar o poderoso efeito que a música exerce sobre nossos corpos, emoções e mente.
Música atinge o cérebro e a alma
Estudo recentemente publicado na revista Nature Neuroscience demonstra pela primeira vez que uma sequência de notas organizada com talento e critério musical não se limita a tocar a alma de quem a ouve; ela atinge também o cérebro desse ouvinte. A audição de música agradável, com efeito, provoca no ouvinte uma descarga de dopamina. A dopamina é um neurotransmissor bem conhecido pelos cientistas por causa do papel fundamental que desempenha na indução e na manutenção de comportamentos que são necessários ao organismo, tais como o consumo de alimentos ou o sexo. Esse mesmo neurotransmissor é também o responsável por comportamentos de dependência, como no caso das drogas.
O estudo foi feito pelo Neurological Institute and Hospital – The Neuro, da McGill University de Montreal, e pelo Centre for Interdisciplinary Research in Music, Media, and Technology (CIRMMT). Ele revelou também que não apenas a escuta direta, mas inclusive a antecipação do prazer associado a um trecho musical induz a liberação de dopamina no organismo, exatamente como acontece no caso da comida e das drogas. A resposta emotiva que acompanha a audição de música foi medida pelos pesquisadores não apenas em termos de liberação de dopamina, mas também de variações da condutância (em física, o inverso da resistência elétrica) cutânea, do batimento cardíaco, da respiração e da temperatura. Todas essas variáveis mostraram uma correlação direta com o nível de apreciação da música. Combinando diversas técnicas de brain imaging (ou seja, de visualizações de estruturas do cérebro), tais quais a PET e a fMRI, os pesquisadores foram além e demonstraram que nos pacientes analisados os picos de dopamina aparecem apenas quando existe um deleite real no momento da audição da música; não existe porém quase nenhuma alteração se o trecho musical deixa o ouvinte indiferente. Em outras palavras, mais a resposta emotiva ao trecho musical é acentuada, mais dopamina é liberada no organismo.
Alterações neuroquímicas cerebrais
Com base nesse estudo, sabe-se agora que até mesmo um estímulo abstrato como a música – ou a sua antecipação –, quando produz uma sensação de satisfação e prazer, pode desencadear uma alteração neuroquímica que implica os circuitos cerebrais mais antigos de modo análogo ao que acontece com a comida e o sexo. Sempre através de técnicas de brain imaging foi ainda possível demonstrar que partes diversas de um trecho musical estimulam áreas diferentes do cérebro. Durante a fase de construção progressiva da tensão do trecho são ativadas as áreas cognitiva e motora; na fase de resolução acontece a ativação do sistema límbico, ou seja, a parte do cérebro ligada às respostas emotivas. Que a música seja literalmente capaz de nos fazer arrepiar é fato há muito tempo conhecido por todos. Compreender por quais motivos a experiência da escuta musical seja capaz de tocar circuitos cerebrais evolutivamente antigos e à frente de funções importantes para a sobrevivência é um aspecto que agora está sendo descoberto.
E agora, um exemplo de música que dá prazer até à alma mais insensível, o Arioso, de Bach:
Vídeo: Arioso, Sinfonia da Cantata No 156 de Johann Sebastian Bach, pela Sinfônica de Londres com regência de Leopold Stokowski.
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