NO CARIBE, UM ESPAÇO REPLETO DE VIDA PARA EXPOSIÇÕES DE ARTE
Para o escultor Jason deCaires Taylor, o oceano é um espaço para exposições e um museu. Taylor cria em terra esculturas de formas humanas e vida mundana e as mergulha no fundo do oceano, onde elas são abrigadas pelo mar e se transformam de pedra sem vida em habitats vibrantes para os corais, crustáceos e outras criaturas. Resultado: comentários enigmáticos, assombrosos e coloridos sobre a nossa existência passageira, a sacralidade do oceano e seu extraordinário poder de regeneração.
16 DE FEVEREIRO DE 2016 ÀS 14:07
Vídeo: TED – Ideas Worth Spreading
Tradução: Maricene Crus. Revisão: Cláudia Sander
As instalações subaquáticas de Jason deCaires Taylor oferecem visões de um outro mundo, no qual os esforços artísticos do homem encontram os poderes vivificadores da natureza. Nascido em 1974 de pai inglês e mãe guianense, Taylor cresceu e se formou vivendo em vários países da Europa e da Ásia. Desde a infância, ele explorou os recifes de coral da Malásia. Formado pelo London Institute of Arts em 1998, ele trabalha também como mergulhador e naturalista profissional. Com mais de 20 anos de experiência em mergulho, Taylor é também fotógrafo subaquático de renome, bem conhecido por suas imagens dramáticas, nas quais captura o efeito de metamorfose que o mar provoca em suas esculturas.
Situado na costa oeste da ilha de Granada, no Caribe, seu parque de esculturas entrou para a lista das 25 Maravilhas do Mundo pelo National Geographic. A zona é agora parque marinho protegido pelo governo.
Vídeo: Palestra de Jason deCaires Taylor no TED
Tradução integral da palestra de Jason de Caires Taylor no TED:
Há dez anos, eu fiz a minha primeira exibição aqui. Eu não tinha ideia se daria certo, ou até se seria possível, mas com alguns pequenos passos e uma curva de aprendizado muito íngreme, fiz a minha primeira escultura, chamada "O Correspondente Perdido". Juntando-me com um biólogo marinho e um centro de mergulho local, mergulhei o trabalho ao largo da costa de Granada, em uma área dizimada pelo furacão Ivan. E então uma coisa incrível aconteceu. A escultura se transformou. Uma escultura se tornou em duas. Duas rapidamente se tornaram em 26. E antes que eu percebesse, tínhamos o primeiro parque de esculturas subaquáticas do mundo.
Em 2009, me mudei para o México e comecei a recrutar pescadores locais. Isso cresceu e fez surgir uma pequena comunidade, e depois quase um movimento total de pessoas em defesa do mar. E então, finalmente, surgiu um museu subaquático, com mais de 500 esculturas vivas. Jardinagem, ao que parece, não é apenas para estufas. Temos ampliado os projetos desde então: "Ocean Atlas", nas Bahamas, erguendo-se 4,8 metros até a superfície e pesando mais de 40 toneladas; e atualmente em Lanzarote, onde estou fazendo um jardim botânico subaquático, o primeiro desse tipo no Oceano Atlântico.
Em cada projeto, usamos materiais e projetos que ajudam a estimular a vida; um cimento de pH neutro de longa duração fornece a plataforma estável e permanente. A escultura é texturizada para permitir que pólipos de coral se fixem. Nós as posicionamos abaixo das correntes dos recifes naturais de modo que, após a desova, existam áreas para se fixarem. As formações são todas configuradas de modo a agregar peixes em uma escala muito grande. Até mesmo este Fusca tem um habitat de vida interna para encorajar crustáceos como lagostas e ouriços-do-mar.
Então, por que expor o meu trabalho no oceano? Porque, honestamente, não é nada fácil. Quando você está no meio do mar, sob um guindaste de 30,5 metros, tentando baixar oito toneladas para o fundo do mar, começa a se perguntar se não deveria estar pintando aquarelas em vez disso.
Mas, no final, os resultados sempre me surpreendem.
O oceano é o espaço de exposição mais incrível que um artista pode desejar. Você tem efeitos de iluminação surpreendentes mudando a cada hora, explosões de areia cobrindo as esculturas em uma nuvem de mistério, uma qualidade atemporal singular e a procissão de visitantes curiosos, cada um emprestando seu próprio toque especial para o local.
Mas ao longo dos anos, percebi que a coisa mais legal daquilo que fazemos, a coisa realmente humilde sobre o trabalho, é que assim que mergulhamos as esculturas, elas não nos pertencem mais, pois assim que as afundamos, as esculturas pertencem ao mar. Com a formação de novos recifes, um novo mundo literalmente começa a evoluir, um mundo que me encanta continuamente. É um pouco clichê, mas nada feito pelo homem jamais pode se comparar à imaginação da natureza.
Esponjas se parecem com veias nos rostos. O coral chifre-de-veado altera as formas. "Fireworms" rabiscam linhas brancas enquanto se alimentam. Tunicados explodem dos rostos. Ouriços-do-mar rastejam seus corpos alimentando-se à noite. Algas calcárias se apresentam como uma espécie de tinta roxa. O vermelho mais profundo que já vi na minha vida vive debaixo da água. Gorgônias oscilam com as ondas. Esponjas roxas respiram água como o ar. E os peixes-anjo-cinzentos deslizam silenciosamente por cima.
E a resposta incrível que tivemos a estas obras confirma que conseguimos nos ligar a algo realmente primitivo, porque parece que estas imagens se traduzem em todo o mundo, e isso me fez focar minha responsabilidade como artista e o que estou tentando alcançar. Estou aqui hoje neste barco no meio do oceano, e esse não poderia ser um lugar melhor para falar sobre um efeito muito importante do meu trabalho, pois, como todos sabemos, nossos recifes estão morrendo, e os nossos oceanos estão em apuros.
Então é o seguinte: a imagem mais utilizada, pesquisada e compartilhada de todo o meu trabalho, até agora, é esta. E acho que isso tem um motivo, ou pelo menos espero que tenha. O que espero é que as pessoas estejam começando a compreender que, quando pensamos no ambiente e na destruição da natureza, temos que começar a pensar nos nossos oceanos, também.
Desde a construção desses locais, nós vimos alguns resultados fenomenais e inesperados. Além de criar mais de 800 metros quadrados de novos habitats e recifes vivos, visitantes do parque marinho em Cancún agora dividem metade do seu tempo entre o museu e os recifes naturais, proporcionando um descanso significativo a áreas naturais sobrecarregadas. Visitantes do Ocean Atlas, nas Bahamas, apontaram um vazamento vindo de uma refinaria de petróleo nas proximidades. A mídia internacional subsequente forçou o governo local a se comprometer com US$ 10 milhões para a limpeza das costas. O parque de esculturas em Granada colaborou com o governo ao designar o como área marinha protegida. O valor dos ingressos do parque agora ajudam os fiscais a gerenciar as cotas de turismo e pescaria. O local foi, na verdade, listado como uma "maravilha do mundo" pela revista National Geographic.
Então, por que estamos aqui hoje neste auditório? O que todos temos em comum? Acho que todos compartilhamos um medo de que não protegemos os nossos oceanos o suficiente. E uma maneira de pensar sobre isso é que não consideramos nossos oceanos como sagrados, e deveríamos. Quando vemos lugares incríveis como o Himalaia ou a La Sagrada Família, ou até mesmo a Mona Lisa... Quando vemos esses lugares e coisas incríveis, entendemos sua importância. Nós os chamamos de sagrados, e fazemos o nosso melhor para cuidar deles, protegê-los e mantê-los seguros. Mas, para fazermos isso, somos nós que precisamos atribuir esse valor; caso contrário, eles serão profanados por alguém que não compreende esse valor.
Então, quero terminar essa noite falando de coisas sagradas. Quando pensamos em dar um nome ao local em Cancún, nós o chamamos de museu por uma razão muito importante e simples: museus são lugares de preservação, de conservação e de educação. São lugares onde mantemos objetos de grande valor para nós, onde simplesmente os estimamos por eles serem o que são. Se alguém jogasse um ovo na Capela Sistina, nós todos ficaríamos furiosos. Se alguém quisesse construir um hotel sete estrelas aos pés do Grand Canyon, então poderíamos expulsá-los do Arizona. Porém, todo dia dragamos, poluímos e pescamos em excesso nos nossos oceanos.
E acho que é mais fácil para nós fazermos isso, porque quando vemos o oceano, não vemos a devastação que estamos causando, pois para a maioria das pessoas, o mar é isso aqui. E é realmente difícil pensar que algo tão simples e enorme possa ser tão frágil. É simplesmente muito grande, demasiado vasto e infinito. E o que vocês veem aqui? Acho que a maioria das pessoas, na verdade, olha para além do horizonte. Há um perigo real de que nós nunca realmente "vemos o mar", e se não o vemos, se ele não tem a sua própria iconografia, se perdemos a sua grandiosidade, há um grande risco de não darmos a ele o devido valor.
Cancún é famoso pelas férias de primavera, tequila e festas da espuma. Em suas águas, universitários podem dar voltinhas de "jet skis" e "banana boats". Mas por causa de nosso trabalho lá, há agora um cantinho de Cancún que é simplesmente precioso por ser o que é. E não queremos nos deter em Granada, em Cancún ou nas Bahamas. No mês passado, eu instalei esses Quatro Cavaleiros do Apocalipse no Rio Tâmisa, no centro de Londres, bem na frente do Parlamento, transmitindo uma mensagem severa sobre a mudança climática na frente das pessoas que têm o poder de ajudar a mudar as coisas.
Pois, para mim, este é apenas o início da missão. Queremos nos juntar a outros inventores, criadores, filantropos, educadores e biólogos, para ver um futuro melhor para os nossos oceanos. E queremos ver além da escultura, até mesmo além da arte.
Digamos que você seja um garoto da cidade, de 14 anos de idade, que nunca viu o mar, e em vez de ser levado ao museu de história natural ou a um aquário, você é levado para o oceano, para uma Arca de Noé subaquática, e pode acessá-la através de um túnel de visualização de vidro, pelo qual você pode ver todos os animais selvagens da terra serem colonizados pelos animais selvagens do oceano. Certamente, isso lhe surpreenderia muito.
Então, vamos pensar grande e profundamente. Quem sabe aonde nossa imaginação e força de vontade pode nos levar? Espero, ao trazer nossa arte para o oceano, que não apenas tiremos vantagem da incrível criatividade e do impacto visual do ambiente, mas que possamos também dar algo em retorno, ao incentivar novos ambientes a prosperar, e de algum modo abrir um novo, ou talvez uma forma muito antiga, de ver os mares: como lugares delicados e preciosos, dignos de nossa proteção.
Nossos oceanos são sagrados!
Obrigado.
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