UM ANO SEM AÇÚCAR


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15.02.2016, 17:27

MINHA SAÚDE MELHOROU CLARAMENTE


Danièle Gerkens, jornalista da revista Elle , não ingeriu qualquer alimento a base de açúcar por um ano. Uma experiência da qual ela conta os altos e baixos em um livro Zero açúcar.



Por Pauline Fréour – Le Figaro

Jornalista especializada na saúde e na alimentação, Danièle Gerkens gosta de cozinhar tanto quanto ela gosta de comer. No entanto, ela se propôs a um desafio inédito na França: retirar qualquer açúcar simples de sua alimentação por um ano. Se ela se permitiu açúcares complexos (arroz, batatas, farinha…), ela disse adeus aos bolos, iogurtes, compotas, sucos de frutas, geleias, pratos industriais... Uma experiência inédita na França que ela disseca, com argumentos científicos como apoio, em seu livro Zero açúcar (Editora Les Arènes)

Le Figaro - Um ano sem açúcar, parece muito tempo. Foi uma experiência difícil?
Danièle Gerkens – Não devemos nos enganar, é frustrante. Ainda mais que sou muito gulosa, adoro cozinhar, que vejo bolos magníficos desfilarem no escritório e eu nunca tinho realizado uma dieta na minha vida até agora! No começo, a frustração é fisiológica, emocional e gustativa e as quatro primeiras semanas foram… duras. Somente após 15 dias as coisas melhoraram e depois de 6 a 8 semanas, é fascinante: entramos numa nova fase na qual não temos mais vontade. Podemos manter vontades intelectuais que levam a se dizer na frente de um bolo magnífico «eu me pergunto que gosto isso tem », mas não é mais um impulso. No entanto, ainda poderá haver uma frustração social porque somos rapidamente remetidas à imagem da menina sem graça, que não sabe curtir a vida.
Você conta justamente que seu projeto provocou reações por vezes agressivas em seu entorno.
Eu não esperava. Minha própria mãe que tem diabetes levou a mal que eu recusasse um bolo que ela havia preparado. Esta reação negativa é sintomática de pessoas que têm uma relação complicada com um produto viciante, como o álcool ou o tabaco. Penso que houve um efeito espelho. Meu projeto as remetia a uma incapacidade de controlar um comportamento viciante. Além disso, o Prof. Michel Lejoyeux do Hospital Bichat em Paris (especialista das dependências, NDLR) notou que minha abordagem estava questionando um produto ultra-comum e socialmente aceito, o que significa de alguma forma, questionar os valores da sociedade.
Você acha, no entanto, ter se beneficiado muito com esse regime atípico.
Sim, bastante. Eu não parei de ingerir açúcar para emagrecer, mas perdi seis quilos sem esforço, sendo que como muito mais gordura. Além disso, derreti no nível da barriga – uma gordura que é conhecida por ser particularmente prejudicial para a saúde. Nunca mais tive quedas de energias como antes, sendo que não alterei nada no meu ritmo de vida: não durmo mais do que antes, não faço mais esporte do que antes… Estou digerindo melhor e me cumprimentaram sobre a qualidade da minha pele. Mas acima de tudo, eu que sou muito sensível no plano ORL, com 8 a 10 sinusites por ano, eu só tive duas esse ano. É um ganho de bem-estar colossal.  Da mesma forma, uma forte alergia aos pólens me obriga geralmente a tomar anti-histamínicos diários, de janeiro a maio. Ano passado, quando estava em plena dieta sem açúcar, cheguei ao final de abril sem precisar dos antialérgticos, apesar das viagens que fiz a países onde havia plantas às quais sou muito alérgica.
Você encontrou uma explicação para isso?
Muito pouco, pois isso não foi estudado. Alguns estudos científicos parecem dizer que o açúcar tem um efeito inflamatório, o que poderia explicar o desaparecimento da minha celulite também, porque sabemos que se trata de uma inflamação das gorduras. Para se ter uma perspectiva científica convincente e extrapolável, seria preciso que centenas de outras pessoas fizessem a mesma experiência que eu fiz, o que parece improvável.
Em que o ano passado mudou sua percepção da nossa dieta?
Os hábitos alimentares são uma construção social. Eles são, portanto, o produto de nossa época e também, há um século, do marketing. Acredito sinceramente que nosso organismo não é feito para acumular quantidades importantes de açúcar. O homem apareceu em um ambiente onde os açúcares simples eram muito raros e me parece que devemos devolver esta raridade. Mas nos últimos cinquenta anos, o açúcar está em toda parte, especialmente nos pratos industriais. Eu não diria que é uma substância perigosa, mas não devemos abusar desse produto. Aliás, recomecei a consumir um pouco de açúcar pouco antes do final deste ano «sem açúcares », mas percebo que não tenho muita vontade dele, espontaneamente. Quando como um bom bolo, me contento apenas com algumas garfadas: acho isso delicioso e isso é suficiente. Atualmente, como açúcar uma ou duas vezes por semana, além de dois quadrados de chocolate por semana. O que é preocupante, no entanto, é que me dei conta que desde que eu como pouco de açúcar, penso nele com mais frequência do que antes.




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