Visitas a Jerusalém nos Atos e nas Epístolas[editar | editar código-fonte]
Esta tabela foi adaptada da obra de White, From Jesus to Christianity[31]. Este pareamento entre as viagens de Paulo como narradas nos Atos e nas Epístolas não é consenso entre os acadêmicos.
Atos dos Apóstolos | Epístolas |
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Prisão e morte[editar | editar código-fonte]
Paulo chegou em Jerusalém em 57 com uma coleta de dinheiro que tinha feito para a comunidade local[6] e, segundo Atos, ele foi recebido calorosamente. Porém, o relato continua afirmando que ele foi interrogado por Tiago por ensinar a «...todos os judeus que estão entre os gentios a apostatarem de Moisés, dizendo-lhes que não circuncidem seus filhos nem andem segundo os nossos ritos» (Atos 21:22). Paulo então realizou um ritual de purificação para não dar aos judeus nenhum motivo para acusá-lo por não seguir os mandamentos da Lei[6].
Paulo porém continuava a pregar contra a circuncisão, contra as restrições alimentares e contra os requerimentos da Torá e isto provocou o rompimento final com os judeus[6]. Paulo causou um alvoroço ao aparecer no Templo e somente escapou da morte por ter sido preso[6]. Ele foi então mantido prisioneiro por dois anos em Cesareia até que um novo governador reabrisse seu caso em 59[6]. Quando Paulo foi acusado de traição apelou ao César, alegando seu direito, como cidadão romano, de ser levado a um tribunal apropriado e de se defender das acusações[6].
Atos 28:1 relata que no caminho para Roma, Paulo sofreu um naufrágio em "Melite"(Malta)[6], onde ele se encontrou com Públio[nota o1] e foi recebido pelos habitantes da ilha com "muita humanidade"[nota p1]. Ele chegou a Roma por volta do ano 60 e passou mais dois anos em prisão domiciliar[nota q1]. Contando esta vez, Paulo passou entre cinco e seis anos preso em celas ou prisioneiro em casa.
Ireneu de Lyon acreditava que Pedro e Paulo tinham sido os fundadores da Igreja de Roma, sendo eles a nominarem São Lino como bispo e sucessor:
“ | ...Igreja fundada e organizada em Roma pelos dois mais gloriosos apóstolos, Pedro e Paulo; também [ensinando] a fé pregada aos homens, que chegou aos nossos dias através da sucessão dos bispos....Os abençoados apóstolos, então, tendo fundado e abençoado a Igreja, entregaram nas mãos de Lino o episcopado. | ” |
Paulo, porém, não foi bispo de Roma e nem levou o cristianismo para lá, pois já havia cristãos em Roma quando ele chegou lá[nota r1]. É evidente também que Paulo já tinha escrito uma epístola para a Igreja de Roma antes de ter visitado a cidade[nota o]. Porém, Paulo pode ter tido um importante papel na formação da Igreja na capital romana.
Tradição sobre a morte de Paulo[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Santa Tradição
Nem a Bíblia e nem outra história qualquer conta explicitamente como ou quando Paulo morreu. De acordo com a tradição cristã, Paulo foi decapitado em Roma durante o reino do imperador Nero em meados dos anos 60 na Abadia das Três Fontes (em italiano: Tre Fontane)[41]. O tratamento mais "humano" dado a Paulo, em contraste com a crucificação invertida de São Pedro, foi graças à sua cidadania romana[42].
Vários autores cristãos da Antiguidade já propuseram mais detalhes sobre a morte de Paulo. I Clemente, uma carta escrita pelo bispo de Roma, Clemente, por volta do ano 90 d.C. relata o seguinte sobre Paulo[43]:
“ | "Por causa de inveja e brigas, Paulo, pelo exemplo, mostrou a recompensa da resistência paciente. Após ele ter sido preso por sete vezes, ter sido exilado, apedrejado e ter pregado no ocidente e no oriente, ele recebeu o reconhecimento que era o prêmio da sua fé, tendo ensinado a retidão para o mundo inteiro e tendo chegado aos confins do ocidente. E quando ele já tinha dado seu testemunho perante os governantes, partiu deste mundo e foi para um lugar sagrado, tendo encontrado um notável padrão de resistência paciente. | ” |
— I Clemente, Clemente de Roma.
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Comentando sobre esta passagem, Raymond Brown escreve que, ainda que ela não afirme categoricamente que Paulo foi martirizado em Roma, "...algo assim é a mais provável interpretação".[44]
Eusébio de Cesareia, que escreveu no século IV d.C., afirma que Paulo foi decapitado durante o reino do imperador romanoNero[45]. Este evento tem sido datado ou no ano de 64 d.C., quando Roma foi devastada por um incêndio, ou alguns anos depois, em 67 d.C. A festa de São Pedro e São Paulo, da Igreja Católica, é comemorada em 29 de junho, o que pode refletir uma data tradicional para o seu martírio. Outras fontes também apontaram uma tradição de que Pedro e Paulo teriam morrido no mesmo dia (e, possivelmente, no mesmo ano)[46].
O apócrifo Atos de Pedro sugere que Paulo sobreviveu a Roma e viajou para o oeste, para a Hispânia[47]. Alguns mantém o ponto de vista que ele poderia ter visitado a Grécia e a Ásia Menor após a sua viagem à Hispânia e que ele pode ter sido finalmente preso em Troas e enviado a Roma para ser executado[48](veja-se a discussão acimasobre as epístolas a Timóteo).
Túmulo e relíquias[editar | editar código-fonte]
A tradição cristã mantém que Paulo foi enterrado com São Pedro ad Catacumbas na Via Ápia e lá permaneceu até seu corpo ser levado para a Basílica de São Paulo Extra-Muros, em Roma. O venerável Beda, em sua Historia ecclesiastica gentis Anglorum, escreveu que o Papa Vitaliano, em 665, deu algumas relíquias de Paulo (incluindo a cruz feita com as correntes que o prenderam) ao rei Oswiu da Nortúmbria, no norte da Inglaterra[49].
Ainda segundo a tradição, o túmulo de Paulo estaria localizado na Basílica de São Paulo Extra-Muros, em Roma[50]. Escavações foram realizadas conforme o relato feito em um comunicado da Agência Católica Internacional de Imprensa (APIC - Agence de Presse Internationale Catholique), de 17 de fevereiro de 2005[51]:
“ | Um sarcófago que pode conter as relíquias do apóstolo Paulo foi identificado na Basílica de São Paulo Extra-Muros, de acordo com Giorgio Filippi, chefe do departamento epigráfico do Museu do Vaticano.
Sob o altar elevado, está uma laje de mármore do século IV, que sempre esteve visível, contém uma inscrição PAULO APOSTOLO MART (Paulo Apóstolo Mártir). A placa tem três furos e provavelmente está relacionada com o culto funerário de São Paulo. De acordo com Giorgio Filippi, esses buracos foram usados para a "criação de relíquias" por meio de simples contato com o túmulo do apóstolo.
Ao longo da Via Ostiense, um santuário foi erguido sobre o túmulo do apóstolo Paulo ainda no século I d.C. Como já fizera com São Pedro, o imperador romano Constantino, começou, no início do século IV, a construir uma basílica para abrigar o túmulo. Então, em 386, meio século após a do imperador e por conta do afluxo de peregrinos, uma basílica ainda maior foi construída por ordem dos imperadores Valentiniano II, Teodósio I e Arcádio. | ” |
Em junho de 2009 o Papa Bento XVI anunciou os resultados das escavações ali realizadas. O sarcófago em si não foi aberto, mas foi examinado por meio de uma sonda e revelou pedaços de incenso e de linho, azul e púrpura, assim como pequenos fragmentos de osso, que foram datados por radiocarbono como sendo do século I ou II d.C. De acordo com o Vaticano, isto é uma evidência a favor da tradição de que ali está efetivamente o túmulo de Paulo.[52].
Obras[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Epístolas paulinas
Quatorze epístolas do Novo Testamento são atribuídas a Paulo, das quais sete têm a autoria quase que universalmente aceita, enquanto que as outras sete são disputadas: Efésios, Colossenses, 2 Tessalonicenses, 1 Timóteo, Titoe Hebreus. Destas, quatro são consideradas como sendo de outro autor que não Paulo por razões textuais e gramaticais, enquanto que as outras três são disputadas por alguns acadêmicos[53]. Paulo aparentemente ditou todas as suas epístolas (exceto Gálatas) através de um secretário (ou amanuense), que geralmente parafraseava o tom de sua mensagem, como era a prática entre os escribas do século I d.C.[2]:316-320[54].
Estas epístolas circularam entre as comunidades cristãs e eram lidas em público por membros da igreja, juntamente com outras obras[55]. Elas foram citadas ainda no século I, por volta de 96 d.C., por Clemente de Roma em sua epístola Clemente aos Coríntios[43].
Atribuição de suas obras[editar | editar código-fonte]
As epístolas paulinas foram na sua maioria escritas para igrejas que Paulo visitou e o apóstolo era um grande viajante. Ele passou por Chipre, por toda a Ásia Menor, pela Grécia, Creta e Roma. Elas estão repletas de exposições sobre o que os cristãos deveriam acreditar e como deveriam viver, ao passo que ele não relata ao destinatário (e aos leitores modernos) muito sobre a vida de Jesus. Suas mais explícitas referências são passagens sobre a Última Ceia[nota s1] e a crucificação e ressurreição[nota t1]. As referências aos ensinamentos de Jesus são também esparsos[nota u1], levantando a questão, ainda em disputa, sobre o quão consistente é seu relato sobre a fé com o que está nos quatro evangelhos canônicos, os Atos e a Epístola de Tiago. O ponto de vista de que o Cristo de Paulo é diferente do Jesus histórico foi proposta pelo teólogo Adolf Harnack[56]. De toda maneira, ele nos dá o primeiro relato escrito do que é ser cristão e da espiritualidade cristã.
Das catorze cartas atribuídas a Paulo e incluídas no cânone do Novo Testamento, há pouca ou nenhuma disputa de que Paulo tenha escrito pelo menos sete[57]:p. 411:
- Epístola aos Romanos
- Primeira Epístola aos Coríntios
- Segunda Epístola aos Coríntios
- Epístola aos Gálatas
- Epístola aos Filipenses
- Primeira Epístola aos Tessalonicenses
- Epístola a Filêmon
A Epístola aos Hebreus, que foi atribuída a ele ainda na antiguidade, já era questionada na época, e atualmente não é considerada como tendo sido escrita por ele pela maior parte dos especialistas (veja Antilegomena). Há variados graus de disputa a respeito da autoria das demais epístolas[58].
A autenticidade da Epístola aos Colossenses tem sido questionada[59] por conter uma descrição de Jesus não encontrada em nenhuma outra de Paulo, descrevendo-o como a "imagem do Deus invisível"[nota v1], uma cristologia que só tem paralelo no Evangelho de João[nota w1]. Evidências internas demonstram uma conexão próxima com a Epístola aos Efésios[60], que é muito similar a Colossenses (dos 155 versículos, 78 são idênticos[60]), mas quase sem referências pessoais. O estilo de Colossenses é único entre as epístolas paulinas, não se encontrando a ênfase na cruz que se vê nas demais e nem referência à Segunda vinda de Cristo, além de uma exaltação do casamento que contrasta com a encontrada em 1 Coríntios 7:8-9. Finalmente, segundo R.E. Brown, ela exalta a Igreja de uma forma que só se tornaria comum numa segunda geração de cristãos, "construída sobre a fundação deixada pelos apóstolos e profetas", já passada[61]. Os defensores da autoria paulina argumentam que ela foi escrita para ser lida uma quantidade grande de igrejas (daí a similaridade com Efésios) e marca um estágio final do desenvolvimento de Paulo de Tarso. Deve ser lembrado também que a porção moral da epístola, que é composta dos dois últimos capítulos, tem uma afinidade muito maior com os trechos equivalentes em outras epístolas enquanto que o restante casa perfeitamente com os detalhes que conhecemos sobre a vida de Paulo, dando-nos ainda mais pistas sobre ela[60]. Ela confirma, por exemplo, que ele estava preso quando a escreveu[nota x1].
As epístolas pastorais, 1 Timóteo, 2 Timóteo e Epístola a Tito também já tiveram a autoria questionada. As três principais razões são:
- As diferenças em vocabulário, estilo e teologia em relação às demais obras de Paulo. Os defensores da autenticidade afirma que elas foram provavelmente escritas em nome do apóstolo sob sua autoridade por algum de seus discípulos, a quem ele teria explicado claramente o que deveria ser escrito, ou a quem ele havia passado um sumário por escrito dos pontos a serem desenvolvidos, e que, uma vez escritas, Paulo as teria lido, aprovado e assinado[48].
- A dificuldade de alinhá-las com a biografia conhecida de Paulo[62]. Estas epístolas, assim como as dirigidas aos Colossenses e aos Efésios, foram escritas no período em que Paulo estava preso, mas ao contrário delas, afirmam que o apóstolo foi solto e viajou depois disso. Os defensores argumentam que Paulo foi preso pela primeira vez não por algum crime contra os romanos, mas para salvá-lo da prisão. Em Filêmom, ele parece ter a esperança de ser libertado logo[nota y1] e haveria bastante tempo para ele ter visitado Creta e escrever as epístolas a Timóteo antes de sua segunda - e final - prisão pelos romanos[48].
- Finalmente, foram levantadas diversas objeções sobre o estado avançado da Igreja que a epístola deixa transparecer. Novamente, os defensores alegam que a epístola usa termos como "bispo", "diácono" e "padres" como sinônimos para indicar os que foram legados pelos apóstolos com a missão evangélica e não no sentido organizacional que termo viria a adquirir nos anos seguintes. Alegam também que se estas epístolas fossem mesmo, como alegam os críticos, uma defesa da sucessão apostólica pelos bispos, elas já deveriam ter sido atacadas como fraudes na antiguidade, argumenta que não encontra nenhum suporte evidencial[48].
O principal argumento contra a autoria de Paulo da Segunda Epístola aos Tessalonicenses é que a sua escatologia parece contradizer a da Primeira Epístola aos Tessalonicenses[63]. Enquanto a primeira epístola parece indicar que a parousia é iminente[nota z1], na segunda ele a coloca num futuro desconhecido[nota a2], o que implicaria num "erro" do apóstolo em uma epístola que, segundo os crentes, teve inspiração divina. A defesa principal é que a frase mais polêmica, «Então nós que estivermos vivos, e formos deixados, seremos arrebatados em nuvens...» (1 Tessalonicenses 4:17) teve tradução problemática já na Vulgata (em latim: Nos, qui vivimus, qui residui sumus), mas que o texto original em grego não deixa dúvidas, hemeis oi zontes oi paraleipomenoi, ama syn autois arpagesometha, que seria melhor traduzido como "Nós, se estivermos vivos - se deixados para trás - [na terra], seremos arrebatados..."[63].
Redenção[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Expiação
A teologia da redenção foi um dos principais assuntos abordados por Paulo[64]. Paulo ensinou que os cristãos foram redimidos da Lei (veja supersessionismo) e do pecadopela morte de Jesus e sua ressurreição[64]. Sua morte foi uma expiação e, pelo sangue de Cristo, a paz foi estabelecida entre Deus e o homem[64]. Pelo batismo, um cristão toma sua parte na morte de Jesus e na sua vitória sobre a morte, recebendo, gratuitamente, uma renovada condição de filho de Deus[64].
Relação com o judaísmo[editar | editar código-fonte]
A teologia de Paulo sobre o evangelho acelerou a separação da seita messiânica dos cristãos do judaísmo, algo que Paulo não desejava[6]. Ele escreveu que somente a fé em Cristo (como Messias) era suficiente e decisiva para a salvação, tanto de judeus quanto de gentios, tornando o cisma entre os cristãos e os judeus não só inevitável, mas permanente[6]. Ele argumentou que os gentios convertidos não precisavam se tornar judeus ou ser circuncidados, nem tampouco seguir as leis alimentares[6]. Porém, em Romanos, ele insiste numa visão positiva do valor da Lei Mosaica como um guia moral[nota b2].
Escatologia[editar | editar código-fonte]
Veja também: Escatologia cristã e Segunda vinda de Cristo
De acordo com Ehrman, Paulo acreditava que Jesus iria retornar ainda durante a sua vida[13]. Ele afirma que Paulo acreditava que os cristãos que tinham morrido nesse meio tempo seriam ressucitados para poder participar do Reino de Deus. Acreditava também, segundo ele, que os salvos seriam transformados e assumiriam formas sobrenaturais[13].
O ensinamento de Paulo sobre o fim do mundo aparece muito claramente nas suas epístolas à igreja de Tessalônica. Muito perseguidos, é possível que eles tenham escrito para o apóstolo primeiro perguntando sobre os que já tinham morrido e sobre o que deveriam esperar no final. Paulo então os assegura que os mortos se levantarão primeiro e serão seguidos pelos que ainda estão vivos[nota c2]. Veja a discussão mais acima sobre as epístolas aos tessalonicenses, o que pode sugerir uma iminência do fim, mas ele não foi específico sobre a cronologia e encoraja seus ouvintes a terem paciência na epístola seguinte[65]. O final dos tempos será uma batalha entre Jesus e o "Homem da iniquidade" [nota p], cuja conclusão será o triunfo final de Cristo.
Parte 1 - Parte 2 - Parte 3
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_de_Tarso