Paulo de Tarso
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Nota: Este artigo é sobre o apóstolo Paulo de Tarso (São Paulo). Para outros significados, veja São Paulo (desambiguação).
São Paulo Apóstolo | |
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Estátua de São Paulo em frente à Basílica de São Pedro (Adamo Tadolini). | |
Apóstolo dos Gentios e Mártir | |
Nascimento | ca. 5[1] em Tarso, na Cilícia[nota a] |
Morte | 67 (62 anos)[2]:p. 411 |
Veneração por | Toda cristandade |
Principal templo | Basílica de São Paulo Extra-Muros, na Via Ostiense, Roma |
Festa litúrgica | 29 de junho (Festa de São Pedro e São Paulo[3] 25 de janeiro (Festa da Conversão de São Paulo)[4][5] |
Atribuições | um homem segurando uma espada e um livro[3] |
Padroeiro | autores, Imprensa, editoras e escritores[3] |
Polêmicas | Controvérsia da circuncisão |
Portal dos Santos |
Paulo de Tarso, também chamado de Apóstolo Paulo, Saulo de Tarso e São Paulo, foi um dos mais influentes escritores do cristianismo primitivo, cujas obras compõem parte significativa do Novo Testamento. A influência que exerceu no pensamento cristão, chamada de "paulinismo", foi fundamental por causa do seu papel como proeminente apóstolo do Cristianismo durante a propagação inicial do Evangelho pelo Império Romano[6].
Conhecido também como Saulo , se dedicava à perseguição dos primeiros discípulos de Jesus na região de Jerusalém[nota b]. De acordo com o relato na Bíblia, durante uma viagem entre Jerusalém e Damasco, numa missão para que, encontrando fiéis por lá, "os levasse presos a Jerusalém", Saulo teve uma visão de Jesus envolto numa grande luz, ficou cego, mas teve a visão recuperada após três dias por Ananias que também o batizou. Começou então a pregar o Cristianismo[nota c].
Juntamente com Simão Pedro e Tiago, o Justo, ele foi um dos mais proeminentes líderes do nascente cristianismo[7]. Era também cidadão romano, o que lhe conferia uma situação legal privilegiada[8].
Treze epístolas no Novo Testamento são atribuídas a Paulo, mas a sua autoria em sete delas é contestada por estudiosos modernos[6]. Agostinho desenvolveu a ideia de Paulo que a salvação é baseada na fé e não nas "obras da Lei"[6]. A interpretação de Martinho Lutero das obras de Paulo influenciou fortemente sua doutrina de "sola fide"[6].
A conversão de Paulo mudou radicalmente o curso de sua vida. Com suas atividades missionárias e obras, Paulo acabou transformando as crenças religiosas e a filosofia de toda a região da bacia do Mediterrâneo. Sua liderança, influência e legado levaram à formação de comunidades dominadas por grupos gentios que adoravam o Deus de Israel, aderiam ao código moral judaico, mas que abandonaram o ritual e as obrigações alimentares da Lei Mosaica por causa dos ensinamentos de Paulo sobre a vida e obrade Jesus e seu "Novo Testamento", fundamentados na morte de Jesus e na sua ressurreição[nota d].
Índice
[esconder]Fontes de informação[editar | editar código-fonte]
A principal fonte para informações históricas sobre a vida de Paulo são as pistas encontradas em suas epístolas e nos Atos dos Apóstolos. Os Atos recontam a carreira de Paulo, mas deixam de fora diversas partes de sua vida, como a sua alegada execução em Roma[6].
Estudiosos como Hans Conzelmann e o teólogo John Knox (não deve ser confundido com John Knox do século XVI), disputam a confiabilidade histórica dos Atos dos Apóstolos[9][10]. O relato do próprio Paulo sobre seu passado está principalmente na Epístola aos Gálatas. De acordo com alguns acadêmicos, o relato da visita de Paulo a Jerusalém em Atos 11 contradiz o relato nas epístolas paulinas[6]. Outros consideram o relato de Paulo nas epístolas como sendo mais confiável do que os encontrados nos "Atos"[2]:p. 316-320.
Nomes[editar | editar código-fonte]
O nome original de Paulo era "Saulo" (em hebraico: שָׁאוּל- Sha'ul; tiberiano: Šāʼûl - "o que se pediu, o que se orou por" e traduzido em grego antigo: Σαούλ - Saul - ou Σαῦλος - Saulos)[11][12], nome que divide com o bíblico Rei Saul, um outro benjaminita e primeiro rei de Israel, que foi sucedido pelo Rei Davi, da tribo de Judá[8][13]. Segundo suas próprias palavras, era um fariseu[nota e].
O uso de "Paulo" (em grego: Παῦλος - Paulos; em latim: Paulus ou Paullus - "baixo"; "curto"[14]) aparece nos "Atos" pela primeira vez quando ele começou sua primeira jornada missionária em território desconhecido. Em Atos 13:6-13, Paulo aparece, juntamente com Barnabé e João Marcos, conversando com Sérgio Paulo, um oficial romano em Chipre que será convertido por ele. Paulus era um sobrenome romano e alguns argumentam que Paulo o adotou como seu primeiro nome[15]. Outra teoria, apontada pelo Vaticano, afirma que era costume para os judeus romanizados da época adotarem um nome romano e o pai de Paulo provavelmente quis agradar à família dos Pauli[16]. Por fim, há ainda os que consideram possível a homenagem a Sérgio Paulo e mais provável que a mudança esteja mais relacionada a um desejo do apóstolo em se distanciar da história do Rei Saul, que perseguiu Davi[17].
Antes da conversão[editar | editar código-fonte]
Em "Atos dos Apóstolos", Paulo afirma ter nascido em Tarso (na província de Mersin, na parte meridional da Turquia central) e faz breves menções à sua família. Um sobrinho é mencionado em Atos 23:16 e sua mãe é citada entre os que moram em Roma em Romanos 16:13. É ali também que o apóstolo confessa que «Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas e, arrastando homens e mulheres, os entregava à prisão.» (Atos 8:3) [nota f].
Mesmo tendo nascido em Tarso, foi criado em Jerusalém, "aos pés de Gamaliel"[nota r], que é considerado um dos maiores professores nos anais do judaísmo" e cujo equilibrado conselho (Atos 5:34-39), pedindo que os judeus contivessem a fúria contra os discípulos, contrasta com a temeridade de seu estudante que, após a morte de Estevão, saiu num rompante perseguindo os "santos" [nota g].
Conversão e a sua missão[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Conversão do apóstolo Paulo
A conversão de Paulo pode ser datada entre os anos de 31 e 36[18][19][20] pela referência que ele fez em uma de suas epístolas[6]. De acordo com os "Atos dos Apóstolos", sua conversão (metanoia) ocorreu na "estrada para Damasco", onde ele afirmou ter tido uma visão de Jesus ressuscitado que o deixou temporariamente cego [nota h].
Testemunho pós-conversão[editar | editar código-fonte]
Nos versículos iniciais da Epístola aos Romanos, Paulo nos dá uma litania de sua própria alegação apostólica e de suas convicções pós-conversão sobre a ressurreição de Cristo.
Os seus próprios textos nos dão alguma ideia sobre o que ele pensava de sua relação com o Judaísmo. Se por um lado se mostrava crítico, tanto teologicamente quanto empiricamente, das alegações de superioridade moral ou de linhagem dos judeus[nota s], por outro defendia fortemente a noção de um lugar especial reservado aos filhos de Israel[nota t].
Ele ainda afirmou que recebeu as "boas novas" não de qualquer um, mas por uma revelação pessoal de Jesus Cristo[nota i]. Por isso, ele se entendia independente da comunidade de Jerusalém[2]:p. 316 - 320 (possivelmente no Cenáculo), embora alegasse sua concordância com ela no que tangia ao conteúdo do Evangelho [nota j]. O que é mais impressionante nessa conversão é a mudança na forma de pensar que ocorreu. Ele teve que mudar seu conceito sobre quem o Messias era e, particularmente, aceitar a ideia, então absurda, de um Messias crucificado. Ou talvez o mais difícil tenha sido a mudança de seus conceitos sobre a superioridade dos judeus. Ainda há debates sobre se Paulo já se considerou como o veículo de evangelização dos gentios no momento de sua conversão ou se isto se deu mais tarde[21].
Primeiros anos de ministério[editar | editar código-fonte]
Após a sua conversão, Paulo foi para Damasco, onde os "Atos" afirmam que foi curado de sua cegueira e batizado por Ananias de Damasco[22]. Paulo afirma em 2 Coríntios 11:32 que foi em Damasco que ele escapou por pouco da morte, indo em seguida primeiro para a Arábia e depois de volta para Damasco[nota u][23]. Esta viagem de Paulo para a Arábia não é mencionada em nenhum outro lugar no Novo Testamento e alguns autores acreditam que ele tenha na realidade viajado até o Monte Sinai para meditar no deserto[24][25]. Ele descreve em Gálatascomo, três anos após a sua conversão, ele viajou para Jerusalém, onde se encontrou com Tiago, o Justo, e ficou com Simão Pedropor 15 dias[nota v].
A narrativa em Gálatas continua afirmando que, quatorze anos após a sua conversão, ele foi de novo a Jerusalém[nota w]. Não se sabe exatamente o que aconteceu neste período, conhecido como "anos desconhecidos", mas tanto os Atos quanto os Gálatas nos dão algumas pistas[26]. Ao final deste período, Barnabé foi ao encontro de Paulo e o trouxe de volta para Antioquia[nota x]. O autor F. F. Bruce sugeriu que os quatorze anos podem ser contados a partir da conversão de Paulo ao invés de sua primeira visita a Jerusalém[27].
Quando uma grande fome ocorreu na Judeia[28], Paulo e Barnabé viajaram para Jerusalém para entregar a ajuda financeira da igreja de Antioquia[29]. De acordo com os Atos, Antioquia já tinha se tornado um centro importante para os fiéis após a dispersão dos crentes que se seguiu ao martírio de Estêvão[2] e foi lá que os seguidores de Jesus foram, pela primeira vez, chamados de cristãos[nota k].
Primeira viagem missionária[editar | editar código-fonte]
Nos Atos, relatam-se três viagens de Paulo: a primeira, liderada primeiro por Barnabé, levou Paulo de Antioquia até Chipre, passando depois pela Ásia Menor (Anatólia) e de volta a Antioquia. Em Chipre, Paulo enfrenta e cega Elimas, o mago, que estava criticando seus ensinamentos ao procônsul Sérgio Paulo. Deste ponto em diante, passa a ser chamado de Paulo e aparece como o líder do grupo[30]. Quando chegaram em Perge, João Marcos, que acompanhava o grupo, voltou para Jerusalém e os dois foram para Antioquia na Pisídia, Paulo profere um longo discurso e converte muitos, mas o grupo acaba expulso da cidade (Atos 13). Em Icônio, foram novamente expulsos e seguiram para Listra, onde foram confundidos com os deuses romanos Júpiter e Mercúrio depois que Paulo curou um coxo. Por conta da intriga dos judeus, Paulo foi preso e apedrejado, mas sobreviveu e, com Barnabé, seguiu para Derbe. De lá, retornaram passando novamente pelas mesmas cidades para reforçar as comunidades recém-fundadas e terminaram a viagem em Antioquia (Atos 14).
Segunda viagem missionária[editar | editar código-fonte]
Concílio de Jerusalém[editar | editar código-fonte]
Mais informações: Concílio de Jerusalém e Controvérsia da circuncisão
Paulo partiu para sua segunda viagem de Jerusalém, onde estava sendo realizado o concílio com os outros apóstolos no qual a obrigatoriedade da circuncisão foi retirada. A maior parte dos acadêmicos concorda que houve uma reunião vital entre Paulo e a igreja de Jerusalém em algum momento entre os anos de 48 e 50[6], descrita em Atos 15:2 e geralmente entendido como o mesmo evento mencionado por Paulo em Gálatas 2:1[6]. A principal questão discutida ali foi se os gentios convertidos precisavam ou não ser circuncidados, conforme o relato nos Atos e em Gálatas. Paulo alega em sua epístola que terá sido neste encontro que Pedro, Tiago e João aceitaram a missão de Paulo aos gentios[31].
Com o objetivo de levar a Antioquia o resultado do concílio, os fiéis realizaram uma eleição para escolher dois mensageiros que acompanhariam Paulo e Barnabé nessa missão. Os eleitos então foram Silas e Judas, "chamado Barsabá"[nota y].
Paulo, Barnabé, Judas e Silas partiram então de Jerusalém levando os decretos dos apóstolos aos fiéis em Antioquia e nas províncias romanas da Síria e Cilícia. Chegando a Antioquia, eles cumprem a missão que lhes foi dada, sendo que Judas retorna para Jerusalém e desaparece da história, enquanto Silas permanece na cidade[nota z].
Paulo e Silas[editar | editar código-fonte]
Em Antioquia, Paulo e Barnabé tiveram uma dura discussão sobre se deveriam levar João Marcos com eles. Em Atos 13, é mencionado que o menino já os tinha deixado em uma viagem anterior para retornar para casa. Paulo acreditava que ele ainda não estava pronto para este tipo de evangelização e, por isso, ele e Barnabé decidiram se separar. Barnabé acabou levando João Marcos consigo para Chipre e Silas se juntou a Paulo[32].
Paulo e Silas viajaram para diversas cidades diferentes, como Tarso, Derbe e Listra (todas na Ásia Menor). Nesta última, eles encontraram Timóteo, um discípulo que tinha uma boa reputação, e decidiram levá-lo com eles. Em Filipos (na Grécia), uma multidão incitada por homens insatisfeitos com o exorcismo de uma escrava que dava muitos lucros aos seus patrões com suas adivinhações, se insurgiu contra os missionários, açoitando e prendendo Paulo e Silas. Após um milagroso terremoto, os portões da prisão se abriram e os dois puderam escapar, o que levou por sua vez à conversão do carcereiro[nota a1]. Eles seguem então para Bereia, de onde Paulo segue para Atenas, deixando ali Silas e Timóteo[nota b1]. Na capital grega, Paulo prega no Areópago contra os muitos ídolos que encontra, converte Dionísio, o Areopagita e parte [nota c1].
Por volta de 50 a 52, Paulo passou 18 meses em Corinto[6], onde reencontrou Timóteo e Silas. A referência nos Atos ao procônsul Gálio permite inferir a data (vide Inscrição de Gálio[6]). Lá ele trabalhou com Silas e Timóteo[6] e conheceu Priscila e Áquila, que se tornaram fiéis crentes e ajudaram Paulo em suas viagens missionárias. A dupla seguiu Paulo e seus companheiros até Éfeso e o grupo permaneceu ali para iniciar aquela que seria a mais forte e fiel igreja cristã daquele tempo, um importante centro da cristandade a partir do ano 50. Em 52, Partiu para Cesareia Marítima, passou por Jerusalém e finalmente chegou em Antioquia[32].
Terceira viagem missionária[editar | editar código-fonte]
Paulo iniciou sua terceira viagem missionária passando por toda a região da Galácia e da Frígia para reforçar a fé e ensinar para os fiéis, além de repreender os que estavam em erro. Quando chegou em Éfeso, ficou ali por pouco menos de três meses e realizou uma série de milagres, como curas e exorcismos. Depois de provocar uma revolta na cidade, o apóstolo seguiu para a Macedônia[33], passando novamente por Corinto, onde permaneceu por três meses. Quando ele estava pronto para retornar para a Síria, mudou de ideia por conta de um plano que os judeus tinham feito contra sua vida, voltando então para a Macedônia e dali seguiu para a Trôade, onde ressuscitou o jovem Êutico depois de ele ter caído três andares e ter sido «levantado morto» (Atos 20:9)[34]. A viagem de Paulo, que pretendia chegar em Jerusalém para celebrar o Pentecostes (entre maio e junho), continuou passando por Assos, Mitilene, Quios, Samos e Mileto (Atos 20). A dura jornada passou ainda por Cós, Rodes e Pátara, onde Paulo embarca num navio com destino à Tiro, na Fenícia. Depois de sete dias na cidade, o grupo de Paulo segue para Ptolemaida, Cesareia, onde visitaram Filipe, o Evangelista, e finalmente Jerusalém (Atos 21).
Embora Paulo tenha escrito sobre uma visita que fez a Ilíria, ele estava se referindo ao que hoje chamamos de Ilíria Grega[35], parte da província romana da Macedônia, onde hoje está atualmente a Albânia[36].
Viagem a Roma[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Viagem de Paulo para Roma
Paulo e seus companheiros seguiram então para Roma, naquela que foi provavelmente a última das viagens missionárias, em 60. A viagem começou em Jerusalém, onde os irmãos foram recebidos em festa. Lá, Paulo foi espancado e quase morto, preso e enviado para Cesareia Marítima, onde esteve detido durante aproximadamente um ano e meio. Foi transferido para Roma depois de apelar a César, um direito que tinha por ser cidadão romano, ao perceber que não receberia julgamento justo de seu povo. Paulo passou então a pregar na capital imperial[37].
O Incidente em Antioquia[editar | editar código-fonte]
Ver artigos principais: Incidente em Antioquia e Epístola aos Gálatas
Apesar do acordo encontrado no Concílio de Jerusalém, como tinha entendido Paulo, o apóstolo relata como ele depois confrontou publicamente Pedro, no que ficou conhecido como "Incidente em Antioquia", por causa da relutância dele em realizar suas refeições com os cristãos gentios em Antioquia[38].
Escrevendo depois sobre o incidente, relata ter dito a Pedro e os demais presentes «Se tu, sendo judeu, vives como gentio, e não como judeu, como obrigas os gentios a viver como os judeus?» (Gálatas 2:11-14). Paulo também menciona que até mesmo Barnabé, seu companheiro de viagem até aquele momento, ficou do lado de Pedro[38][nota l].
O resultado final do incidente permanece incerto. A Enciclopédia Católica afirma que "o relato de Paulo sobre o incidente não deixa dúvidas de que Pedro viu justiça na reprimenda". Em contraste, a obra "From Jesus to Christianity", de L. Michael White, alega que "o confronto com Pedro foi uma falha completa, uma bravata política, e Paulo logo deixou Antioquia como persona non grata para nunca mais voltar"[39]......
Parte 1 - Parte 2 - Parte 3
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