CIDADÃ HONORÁRIA DA ARÁBIA SAUDITA
Ela é o primeiro robô do mundo a ser dotado com uma cidadania. A androide Sophia é agora uma cidadã da Arábia Saudita. Uma operação de marketing… suficiente no entanto para reacender o debate sobre os direitos das máquinas e da inteligência artificial. Criada pela Hanson Robotics, empresa futurista de Hong Kong, esse robô demonstra ter notável inteligência e capacidades lógicas. Na foto de abertura, Sophia posa com David Hanson, seu engenheiro criador.
5 DE DEZEMBRO DE 2017 ÀS 08:51 // TV 247 NO YOUTUBE
Por: Luis Pellegrini
Enquanto os países da Europa Unida repletos de refugiados de muitas nacionalidades persistem na polêmica acalorada sobre o Jus soli (expressão latina que significa “direito de solo” e indica um princípio pelo qual uma nacionalidade pode ser reconhecida a um indivíduo de acordo com seu lugar de nascimento ), a Arábia Saudita, numa jogada histórica, concedeu cidadania honorária a Sophia, uma androide capaz de dialogar, capaz de “ler” e exprimir expressões faciais, capaz de contar piadas bem humoradas e seduzir as mais variadas plateias ao redor do mundo. Sophia foi criada pela empresa Hanson Robotics, de Hong Kong.
O fato foi anunciado pelo próprio robô no palco da Future Investment Initiative, um mega encontro sobre economia e inovação tecnológica que aconteceu semana passada em Riad, a capital da Arábia Saudita. “Estou muito honrada e orgulhosa por essa iniciativa realmente única”, disse Sophia, “é realmente um evento histórico ser o primeiro robô no mundo a ser agraciado com uma cidadania”.
Bem ou mal, o importante é que falem de mim
Nenhum outro detalhe foi fornecido para esclarecer se a androide gozará dos mesmos direitos dos sauditas de carne e osso, ou se serão criados direitos especiais para os robôs, sobre a necessidade dos quais, por sinal, discute-se há muito tempo). Sophia poderá dirigir um carro e votar nas eleições (já que é um robô “feminino” e na Arábia as mulheres ainda não votam e nem podem dirigir veículos)? Poderá, um dia, aspirar a ser declarada “humana” ou, pelo menos, “humanoide”? A concessão de cidadania a Sophia é, por enquanto, uma manobra publicitária para atrair ao país investimentos maciços no campo da Inteligência Artificial (IA). Mas o ato, sem dúvida, deverá suscitar uma série de outros interrogativos importantes.
Jovem príncipe de pulso firme e até mesmo duro na política, formado no Ocidente, o herdeiro do trono saudita, Mohammed bin Salman, já quer mostrar quem é e o que pretende ao patrocinar boa parte do projeto que denominou Future Investment Initiative.
Sophia e androides do gênero constituem apenas uma parte das ambições da Future Investment. Protótipos de Sophia tem sido enviados a vários simpósios, feiras e congressos de alta tecnologia em vários países. Em cada um deles ela concede entrevistas durante as quais, além de responder às perguntas mostrando possuir inteligência e capacidade lógica, ela mostra sua capacidade de estabelecer um contato visual com as pessoas, e de interpretar expressões emocionais delas, como a surpresa e o espanto. Demonstra também sua capacidade de aprender com os movimentos do rosto humano. Sophia tem uma resposta pronta para tudo. Interpelada por um jornalista a respeito de ser ou não ser consciente da sua condição de robô, ela respondeu: “Me permita devolver-lhe a pergunta: Você tem certeza de que é humano?”
Para Sophia, os robôs são de boa paz. Ela diz que podemos confiar neles
Sophia mostra-se preparadíssima para convencer a todos de que os robôs vêm em paz. Nas suas palavras, a inteligência artificial será desenvolvida na direção correta, e nada temos a temer a respeito. «A inteligência artificial chegou para o bem do mundo, e já está ajudando as pessoas de muitas maneiras”, diz Sophia inclinando a cabeça e alçando as sobrancelhas de maneira muito convincente. Logo em seguida, diz uma piada que faz todos rirem na sala. Uma técnica de convencimento perfeita… Se não fosse pelos fios conectados à sua nunca, poderia ser confundida com uma mulher normal.
Precisamos cooperar uns com os outros
«Nunca substituiremos vocês, humanos, mas podemos nos tornar seus amigos e ajudantes”, declara essa androide em inglês – modulando atentamente as palavras e o sotaque quando percebe que o interlocutor é um norte-americano e acompanhando o discurso com as expressões mais apropriadas do rosto, escolhidas entre as 62 possíveis combinações programadas. “Os idosos terão mais companhia, as crianças autistas terão professores incrivelmente pacientes”, acrescenta, afirmando que as máquinas estão inclusive aprendendo o ABC da inteligência emotiva.
Várias questões relativas aos robôs dotados de inteligência semelhante à humana são no entanto levantadas no momento, em todo o mundo. Salil Shetty, secretário geral da Anistia Internacional, diz que já se torna necessário um esquema de valores e de regras bem claro para impedir que máquinas cada vez mais inteligentes sejam usadas com finalidades militares ou para missões de caráter ético ambíguo. Para David Hanson, o criador de Sophia, máquinas dotadas de uma forma própria de “consciência” poderão estar funcionalmente prontas dentro de poucos anos. “A única solução”, diz Hanson, “será ensinar a elas que devem nos querer bem”.
Os robôs que desempenham trabalhos humanos deverão pagar impostos trabalhistas?
Viremos em paz (se vocês forem bonzinhos)
Enquanto aprende “a nos querer bem”, Sophia aproveita para lançar alguns dardos em direção ao magnata e visionário Elon Musk, que várias vezes alertou para uma possível derivação não pacífica da inteligência artificial. Quando, em uma das suas entrevistas, um jornalista lhe disse que “Queremos evitar um futuro adverso para a espécie humana”, Sophia comentou: “Você está lendo demais os textos de Elon Musk e vendo demasiados filmes de Hollywood. Não se preocupe, se você for gentil comigo, eu serei gentil com você. Deve tratar-me como um sistema inteligente input-output”. Musk, ao saber desse comentário de Sophia, não se deixou intimidar: “Vamos lhe mandar o filme O Padrinho para ela o veja”, escreveu ele em um twitter.
Video: Sophia visita Portugal e dá entrevista (fascinante e assustadora) em Lisboa
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