investigação realizada pelo Pr. Psi. Jor Jônatas David Brandão Mota
(1) ABDIAS — BIOGRAFIA, TEXTO, ATRIBUIÇÃO E RELIGIÃO
Abdias (no hebraico, ʿObadyā́h / Obadiah) é tradicionalmente identificado como o autor do pequeno Livro de Abdias — o menor dos livros proféticos do Antigo Testamento. O livro que leva seu nome (um único capítulo, na tradição bíblica) tem sido atribuído a “Obadias” desde muito cedo na tradição judaico-cristã e está incluído tanto no cânon hebraico (como parte dos Doze Profetas Menores) quanto na Bíblia Cristã (Antigo Testamento). A data tradicional mais aceita por muitos comentaristas situa o oráculo de Abdias logo após a queda de Jerusalém (c. 587 a.C.), embora haja debates acadêmicos que colocam partes do texto ou sua finalização em momentos posteriores; de todo modo, o livro desempenha papel canônico no Judaísmo e é lido e comentado na tradição cristã. WikipediaYale University Press
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(2) RESUMO DO CONTEÚDO E OBJETIVO PRINCIPAL DO TEXTO
O Livro de Abdias é um oráculo curto e vigoroso: denuncia o orgulho e a violência de Edom (parentes/descendentes de Esaú) contra Israel, anuncia o juízo divino sobre Edom por sua conduta opressora (v. 1–14), amplia o julgamento como manifesto do “dia do Senhor” contra nações e, por fim, anuncia a restauração de Israel e a soberania de Yahweh sobre as nações (v. 15–21). O objetivo teológico central é afirmar que Deus é justo e que a opressão e a traição contra o seu povo não ficarão impunes; simultaneamente, o oráculo contém esperança escatológica para a restauração do povo escolhido e a consumação do domínio de Deus. Essas temáticas — juízo contra opressores, defesa da justiça e restauração final — são o núcleo prático e teológico do livro. (Ver especialmente Obadias 1:1; 1:10–15; 1:18–21). WikipediaGoogle Livros
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(3) CONVERGÊNCIAS COM A VIDA E ENSINO DE JESUS
Há convergências importantes entre as preocupações de Abdias e o ensino de Jesus: ambos denunciam a injustiça e a exploração dos mais fracos, apontam para a responsabilidade moral diante de Deus e partilham uma escatologia em que Deus corrigirá as iniquidades e estabelecerá a sua justiça. Além disso, a ênfase em que “o Senhor reinará” e que haverá restauração para o povo de Deus encontra eco no ministério de Jesus, que proclama o Reino de Deus (cf. temas de restauração, juízo moral e futuro vindouro). No plano ético, tanto a mensagem profética (como em Abdias) quanto o ensino de Jesus valorizam a defesa dos oprimidos e a denúncia do orgulho que precede a queda (temas proféticos clássicos). Google Livros
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(4) DIVERGÊNCIAS COM A VIDA E ENSINO DE JESUS
Apesar das convergências, há diferenças de ênfase e de horizonte: Abdias é um oráculo nacional e conjuntural (centrado no conflito Israel–Edom e na vindicação de justiça histórica), enquanto Jesus amplia o horizonte para uma renovação moral e espiritual universal, centrada em ética pessoal, perdão e transformações do coração. Jesus, além disso, relativiza (ou cumpre) certos ritos e interpretações legais ao falar do cumprimento da Lei (por exemplo, Mateus 5:17) e enfatiza misericórdia e reconciliação; já o oráculo de Abdias é mais direto no tom de juízo nacional e menos preocupado com formulações éticas de misericórdia no estilo do Sermão do Monte. Em suma: Abdias fala num registro profético judaico-antigo de juízo e restauração nacional; Jesus, embora não negue o juízo, prioriza redenção pessoal, inclusão e o cumprimento da revelação em amor e serviço. Bible Gateway
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(5) COMO JESUS CONCERTA DIVERGÊNCIAS SEM CONDENAR O JUDAÍSMO — E A APLICAÇÃO A ABDIAS
O padrão do ministério de Jesus foi corrigir práticas e interpretações (onde necessário) mantendo relação com a tradição: ele “cumpriu” a Lei e os Profetas (Mateus 5:17) — reformulando interpretações, mostrando o alcance ético e espiritual mais profundo — sem renegar o judaísmo como revelação de Deus. Do mesmo modo, a história do cristianismo processou tensões e reformas internas sem mera aniquilação do passado; assim podemos tratar Abdias e sua tradição profética com respeito: reconhecer a necessidade de revisar leituras literais ou vingativas quando incompatíveis com o mandamento do amor, ao mesmo tempo em que valorizamos a fidelidade profética à justiça. Ou seja: Jesus corrige e eleva o entendimento das Escrituras (cumprimento, não anulação), e essa mesma postura permite ler Abdias como inspirador de justiça e esperança, ao invés de descartá-lo. Bible Gateway
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(6) CONVENCIMENTO DO ESPÍRITO, IRMANDADE E RECONHECIMENTO ECUMÊNICO
Ao reconhecer que Abdias e sua comunidade foram alcançados pelo “convencimento do Espírito Santo” (modo de falar teológico), podemos afirmar: 1) muitos profetas expressaram experiências espirituais e preocupações morais profundamente compatíveis com Cristo (justiça, denúncia do mal, esperança de restauração); 2) mesmo em tradições religiosas diferentes, há convergência espiritual sobre o que Deus chama de justo; 3) portanto, o autor de Abdias — embora de religião e época distintas da cristandade posterior — pode ser considerado um “irmão na fé” no sentido espiritual: suas palavras, inspiradas pela tradição profética do povo de Deus, apontam para os mesmos valores fundamentais que Cristo encarnou (justiça, zelo por Deus, confiança na restauração divina). Esse reconhecimento não apaga diferenças doutrinárias, mas favorece diálogo e fraternidade. (Na leitura cristã, os profetas são vistos como anunciadores da vontade de Deus que se realiza em Cristo; ver Hebreus e as leituras messiânicas do AT). Wikipedia
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(7) BIBLIOGRAFIA (10 obras selecionadas — autor, título e ano)
Aqui indico obras de referência úteis para estudo histórico, exegético e teológico do Livro de Abdias (incluindo comentários acadêmicos e obras clássicas):
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Paul R. Raabe — Obadiah (Anchor Yale Bible Commentaries). Yale University Press, 1996. Yale University Press
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Leslie C. Allen — The Books of Joel, Obadiah, Jonah, and Micah (New International Commentary on the Old Testament — NICOT). Eerdmans, 1976. Logos
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Jeffrey J. Niehaus — “Obadiah,” em The Minor Prophets (ed. Thomas E. McComiskey). Baker Academic, 1992. Google Livros
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Daniel I. Block — Obadiah (Zondervan Exegetical Commentary on the Old Testament). Zondervan, 2017. Logos
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Daniel Timmer — Obadiah, Jonah, Micah (Tyndale Commentary). InterVarsity Press / IVP, 2016. InterVarsity Press
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David W. Baker — Joel, Obadiah, Malachi (NIV Application Commentary). Zondervan/HarperCollins, 2006 (versão atualizada). Ligonier Ministries
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Edward Marbury — A Commentary or Exposition upon the Prophecy of Obadiah. (Comentário histórico/puritano), 1865 (reimpressões posteriores). Reformed Books Online
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Matthew Henry — Commentary on the Whole Bible (seção sobre Obadias). Publicação original: 1706 (volumes compilados). Bible Study Tools
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Keil & Delitzsch — Biblical Commentary on the Old Testament (seção: Obadiah). Século XIX (coleção clássica; ed. inglesa: c. 1864–1870s). StudyLight.org
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Thomas Edward McComiskey (ed.) — The Minor Prophets: An Exegetical and Expository Commentary (contendo o estudo de Niehaus sobre Obadiah). Baker Academic, 1992/1993. Google Livros
Referências bíblicas e notas rápidas: consulte o próprio Livro de Abdias (Obadias 1:1; 1:10–15; 1:18–21) para o texto canônico; sobre o modo como Jesus trata a Lei e os Profetas, ver Mateus 5:17. Sobre a fala de Jesus ao ladrão na cruz: Lucas 23:43 (“hoje estarás comigo no Paraíso”). Sobre a atitude de Paulo (que valoriza viver em Cristo e ver a morte como encontro com Cristo), ver Filipenses 1:21–23. WikipediaBible Gateway+2Bible Gateway+2