ENVELHECIMENTO

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28.10.2015, 13:45

NÃO NEGÁ-LO, NEM SE SUBMETER A ELE

Benoît Verdon, psicólogo clínico, psicanalista, professor na Universidade Paris Descartes, escreveu «Le Vieillissement psychique» (O envelhecimento psíquico), Coleção Que sais-je? , Editora PUF. Nesta entrevista, ele diz que o envelhecimento é sempre acompanhado de alguma depressão. Mas o importante é não cair na patologia depressiva.



Por: Pascale Senk - Le Figaro

LE FIGARO – Podemos dizer que a psique, tal como o corpo, «envelhece»?
Benoît Verdon. – De fato, isso não é assim tão simples. Há evidências da passagem do tempo no fato de envelhecer. O corpo é marcado pela mudança: há mudanças amplamente compartilhadas como os problemas auditivos e visuais, uma redução da capacidade de  andar e, às vezes, patologias mais incapacitantes como a catarata, a osteoporose, etc.
Alguns recursos do funcionamento cognitivo se tornam frágeis. Pode-se questionar a capacidade pessoal de ser parte da dinâmica social, econômica, política e cultural no meio em que vive. Mas, novamente, isso não deve ser generalizado. Há pessoas idosas cuja capacidade de investir na sociedade ainda está muito viva, assim como há artistas que  ao envelhecer desenvolvem novos talentos.
A capacidade de criar, inventar, encontrar um lugar no meio dos outros e ter prazer, não pode ser abolida usando-se como pretexto o envelhecimento. É isso que nos impede de pensar no envelhecimento psíquico usando como imagem o envelhecimento fisiológico. No nível psíquico, o tempo não é linear: a criança ou o adolescente que fomos, com suas frustrações, seus projetos de juventude realizados ou não, continua a existir em cada pessoa idosa.
Estar ciente disso permite envelhecer bem?
«Envelhecer bem » é uma expressão complicada. Atualmente, existe uma liminar para «envelhecer bem», para «envelhecer jovem », que na verdade, consiste em não envelhecer, a não deixar transparecer o que existe de desagradável na idade avançada. Isto sugere que, como uma pessoa idosa, só somos amáveis se tivermos uma página no Facebook, uma vida sexual agitada, se cuidarmos de nosso corpo, se eliminarmos déficits com certas pílulas.
Associações como a Old'Up (http://www.oldup.fr/) se mobilizam de forma inteligente, de modo tranquilo apesar das dificuldades, por mais difícil que seja para o idoso ser proativo na nossa sociedade obcecada pela juventude. Tais associações não negam as realidades dolorosas, por vezes violentas, do envelhecimento e da velhice. Elas se recusam a permanecer inertes, e lutam para que a sociedade cuide das pessoas idosas e não façam delas simples objetos de comiseração. Acho que, no seu espírito, essas associações mostram a possibilidade de se aceitar o envelhecimento, sem negá-lo e nem suportá-lo. Este é um equilíbrio que deve ser mantido sempre em funcionamento, embora se trate de um equilíbrio sutil e difícil de se encontrar.
Há altos e baixos no complexo processo do envelhecimento: muitas coisas que nos pertencem permanecem nossas, apesar da passagem do tempo, ao mesmo tempo em que outras coisas são perdidas. Não é raro ficarmos sem tranquilidade interior, nos deprimirmos na medida em que as perdas vão acontecendo e a perspectiva da morte se aproximando.
Significa que a depressão relacionada com a idade é inevitável?
Sim. Mas o importante é não baixarmos a capacidade depressiva ao nível da patologia depressiva. Envelhecer é uma experiência difícil, embora natural. Atravessamos nela momentos nos quais ficamos desanimados, e aí percebemos o quanto é importante nos darmos ao luxo de nos reconhecermos vulneráveis. Alguns adultos idosos podem encontrar certa paz interior através de lembranças da infância onde prevalece uma figura benevolente que cuida deles.
Uma maneira de se preparar para o prazo final?
É verdade que alguns «abandonam o barco» mais facilmente, talvez porque eles já tenham domesticado inúmeras perdas em suas vidas, e agora, são capazes de uma renúncia autêntica. Mas eu não acho que podemos «domar» nosso envelhecimento.



http://www.brasil247.com/pt/saude247/saude247/202830/Envelhecimento-N%C3%A3o-neg%C3%A1-lo-nem-se-submeter-a-ele.htm