GELO ÁRTICO - CALOTA POLAR CHEGOU AO MÍNIMO
A 27 de agosto, a calota de gelo do Oceano Ártico bateu o seu recorde histórico de descongelamento. Ao mesmo tempo, quase todas as geleiras do mundo regridem a velocidades preocupantes
12 DE SETEMBRO DE 2012 ÀS 09:30
Por: Equipe Oásis
No final de julho último, o gelo do Polo Norte começou a derreter num ritmo e intensidade nunca antes observado. Há pouco, precisamente no dia 27 de agosto, bateu-se o recorde de redução sasonal (verão). A banquisa polar, com efeito, estendeu-se nesse dia por 4 milhões e 100 mil quilômetros quadrados – 70 mil quilômetros quadrados a menos do que o recorde precedente de redução, registrado em 2007. A área da banquisa no final de agosto era, portanto, cerca de 2 milhões de quilômetros quadrados inferior à média calculada entre 1979 e 2000.
Durante o mês de maio, parecia que os gelos se aproximassem das médias do vintênio 1979-2000, mas, no início de junho, o derretimento teve início como nunca antes fora observado. Depois, entre o final de julho e o início de agosto a situação começou a apresentar os mesmos contornos daquile que se verificou em 2007, para depois se precipitar a partir do início de agosto.
Como não poderia deixar de ser, abriu-se também este ano a Passagem Nordeste, ou seja, o trecho de mar ao norte da Rússia que permitiu a várias naves alcançar os Estados Unidos economizando mais de 7 mil quilômetros do seu trajeto. E agora, o que acontecerá? A redução dos gelos continua até a metade de setembro, informa o National Snow and Ice Center dos Estados Unidos que controla os gelos polares através de vários satélites. O recorde, já alcançado e ainda crescendo, poderá assumir um valor realmente preocupante. É difícil, com efeito, que o inverno possa levar a extensão dos gelos aos antigos valores. Se nos próximos anos a situação não mudar, é muito provável que dentro de poucas décadas não haverá mais nenhum gelo no Polo Norte durante o verão.
Ao mesmo tempo, em todo o mundo, as geleiras (glaciares) estão em retirada, perdendo a cada ano entre dezenas e centenas de metros de gelo que não mais será reposto.
Ao redor de 20 de agosto último, na Suíça, visitei o glaciar conhecido como “Plaines Mortes”, nas proximidades da cidadezinha de Gstaad. A 1050 metros de altitude, o clima junto a essa conhecida geleira era simplesmente inusitado. O sol brilhava e os visitantes passeavam sobre o gelo usando simplesmente uma camiseta: a temperatura do ar era de cerca 25 graus centígrados! Um calor de rachar para as imediações de uma geleira. De rachar inclusive o seu gelo. A superfície do Plaines Mortes, normalmente lisa e plana, tornara-se um verdadeiro labirinto de riachos de água correndo por toda parte. Os próprios guias locais que me acompanhavam diziam nunca ter visto aquilo. Um deles segredou: há sete anos, sobre esse glaciar, não cai mais neve suficiente para permitir a prática do esqui.
Geleiras em retirada, a notícia não é nova, mas a situação está assumindo aspectos dramáticos. Neste verão, no hemisfério norte, semanas seguidas de calor intenso provocaram um desgaste sem precedentes em todas as geleiras alpinas. Basta dizer que, durante alguns dias, o zero térmico, ou seja a quota na qual se chega ao zero grau de temperatura era de 4600 metros, praticamente o cume do Monte Rosa! Isso significa que para 90% dos glaciares alpinos existiu uma temperatura capaz de derretê-los.
Perigo para os alpinistas
Para os alpinistas as coisas se tornaram muito perigosas: nas paredes norte o gelo diminuiu de forma notável, colocando à luz partes de paredões de rocha que nos anos passados nunca apareciam. Esses paredões tornam-se perigosos porque ainda devem se estabilizar.
Não se sabe exatamente quanto gelo desapareceu neste verão, mas os primeiros cálculos revelam que alguns glaciares regrediram cerca de 10 metros, e diminuíram sua espessura em mais de dois metros.
A situação é dramática quando se toma conhecimento dos dados recolhidos por pesquisadores da Universidade de Milão, por exemplo, para o período entre 1979 e 2005. Segundo esses dados, na Lombardia, as áreas ocupadas por geleiras baixaram de 117 quilômetros quadrados para 92 quilômetros quadrados (menos 21%), com uma redução particularmente acentuada do ano 2000 em diante. Os mais prejudicados são os glaciares menores que sofrem mais intensamente com as altas temperaturas do verão. No Val d’Aosta, a redução no período foi de 27%.
Drama europeu
A situação é similar também na Alemanha. Cientistas preveem que dentro de 30 anos o glaciar Höllentalferner (2.962 metros de altitude), o pico mais alto da Alemanha, poderá ser o único glaciar ainda existente na Bavária. Atualmente, nessa região existem cinco glaciares com uma extensão total de apenas 0,7 quilômetros quadrados (em 1820 essa extensão era de 4 quilômetros quadrados). Três desses glaciares – entre eles o Schneeferner do Sul e o Blaueis Watzmann – tornaram-se tão pequenos que deverão desaparecer completamente nos próximos 20 a 30 anos no máximo.
Não basta a neve que cai no inverno
Embora durante o inverno, nos últimos anos, as quantidades de neve tenham sido importantes, isso não foi suficiente para a formação de uma nova geleira. Já no final da primavera, por causa do calor intenso, toda a neve derreteu.
Um outro dado importante descoberto pelos pesquisadores: o derretimento dos glaciares traz à superfície dos mesmos material rochoso de cor escura que aumenta a absorção dos raios solares, incrementando ainda mais o derretimento do gelo.
Um outro dado importante descoberto pelos pesquisadores: o derretimento dos glaciares traz à superfície dos mesmos material rochoso de cor escura que aumenta a absorção dos raios solares, incrementando ainda mais o derretimento do gelo.
A solução das telas
Administrações locais tentam conter o derretimento das geleiras colocando sobre elas telas geotêxteis. O geotêxtil é um “tecido”sintético leve e resistente a rasgões, e seu uso reduz a incidência da radiação solar sobre o gelo. O método está sendo utilizado em vários países, como a Áustria e a Suíça, sobretudo nas áreas onde existem pistas de esqui e onde, portanto, o gelo assume um valor econômico notável. Mas é impensável cobrir as geleiras do Monte Branco, do Monte Rosa e os que pertencem a outros grupos de montanhas. Sua extensão é de várias dezenas de quilômetros quadrados, tornando impossíveis os custos de uma tal operação.
VÍDEO:
Também na região andina, particularmente na Bolívia e no Peru, os glaciares de montanha estão derretendo a olhos vistos. A situação é preocupante, já que muitas cidades, inclusive a capital La Paz, bem como a agricultura da região, utilizam a água dos glaciares. Veja o vídeo a respeito, produzido em conjunto pelas ONGs Christian Aid e a Agua Sustentable.
http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/79726/Gelo-%C3%A1rtico---Calota-polar-chegou-ao-m%C3%ADnimo.htm