A AUDÁCIA


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06.06.2017, 13:15

UM SENTIMENTO ENTRE A RAZÃO E A EMOÇÃO

A capacidade de assumir riscos nasce, antes de tudo, de um bom conhecimento de si mesmo. Claro, a bravura pode ser uma questão de temperamento. Mas o que conta mesmo é escolher a própria vida totalmente em função daquilo que se é, considerando que a integridade e a coerência pessoal são as verdadeiras forças estimulantes.


Por: Pascale Senk – Le Figaro Santé

“Sempre tive vontade de testar meus limites, sobretudo quando acompanhava meu irmão mais velho ao subir até o galho mais alto das árvores. Sentia-me realmente uma garota corajosa”, reconhece Linda Bortoletto, ex-comandante de polícia na França que se tornou aventureira, conferencista e organizadora, na atualidade, de uma “Marcha pela Audácia”, manifestação que acontece em vários países (*). “Estranhamente, no entanto, sempre fui muito tímida na minha relação com os outros”, acrescenta Linda.
“Quando meu pai morreu, entendi o quanto a vida é precária. Esse acontecimento me colocou em movimento, me desequilibrou, e esta foi a primeira fase da libertação”, prossegue Linda Bortoletto.
Um outro caso exemplar fala de uma espécie de incapacidade inata para se ficar parado no mesmo lugar. É isso que testemunha uma segunda pessoa audaciosa, a humorista Olivia Moore, que atualmente triunfa nos palcos franceses com o seu one-woman show “Mère indigne” (Mãe indigna), e seu livro best-seller “Seja mãe e cale a boca”(Edições Tut-Tut) nos quais ela desencana muitas ideias preconcebidas sobre a gravidez, a maternidade, os filhos, etc. “Para mim, o verdadeiro risco sempre foi o de permanecer enclausurada na rotina, física ou mental. Tenho um apetite natural para a mudança”, ela revela. “Outro detonador: as falsas aparências. Não consigo me impedir de arrancar as máscaras ocasionalmente!”
Um temperamento de base
Assim seja. Existiria, portanto, um temperamento de base favorável à tomada de riscos. Na psicologia, uma abordagem se mostrou particularmente interessada nessa aptidão que, entre bravura e coragem, permite a alguns atingir seus objetivos e até mesmo realizar os seus sonhos: a teoria do apego, elaborada pela psiquiatra John Bowlby. Ela possibilitou a identificação de dois tipos de pessoas: aquelas que, tendo sido demasiado ou pouco amadas durante os seus primeiros anos, desenvolveram um apego inseguro que as condena durante toda sua vida a sentir temor: temer a separação, temer ser abandonado, temer o fracasso, etc. E os outros, que foram alvos de poucos cuidados e de pouca atenção, que adquiriram um apego seguro e “fortalecedor” que lhes servirá durante toda a vida de base sólida, a partir da qual poderão alçar voo e assumir riscos.
Mas tudo isso é apenas um ponto de partida. Se alguns possuem uma natureza pessoal que os estimula a se lançar, ela precisa de certas condições para que possa florescer. Para Linda Bortoletto da mesma forma que para Olivia Moore, os grandes desencadeadores foram, paradoxalmente, momentos de mergulho na própria fragilidade. Linda decidiu romper todas as suas amarras (casamento, posto de alta funcionária, segurança material) após a morte de seu pai. “Para ele, eu tinha construído a imagem de filha perfeita”, ela analisa. “Mas quando ele morreu, compreendi o quanto a vida é precária. Esse acontecimento me pôs em movimento, em desequilíbrio, e essa foi a primeira fase da liberação”, ela explica.
“O medo, que é sempre um sinal de alerta, permanece sempre lá. Mas eu posso decidir se quero antes de tudo dar ouvidos a ele, ou não. Dessa forma, o medo não pode mais controlar a minha vida”.
Seguir a própria paixão
Para Olivia Moore, tudo começou com um a tremenda estafa quando ela ocupava um posto de muita responsabilidade na área de marketing da empresa L’Oréal. “Esse ‘tombo’ acabou invalidando quase quinze anos de dedicação à empresa”, ela recorda. “Senti lá dentro de mim que a partir daí deveria seguir minha paixão, fazer aquilo que realmente me dava vontade... E me inscrevi em cursos de teatro”.
Para essas duas trintonas, o que as fez abrir as asas e alçar voo foi um maior conhecimento de si mesmas. “Para assumir riscos, com frequência é preciso antes responder à pergunta ‘eu me sinto mesmo à vontade nesta situação em que me encontro?’ e, quando obtemos uma resposta clara, é essa mesma resposta que nos dá o impulso necessário para avançar no bom sentido, ou seja, no seu próprio sentido”, considera Linda Bortoletto. “Escolhi minha vida atual totalmente em função daquilo que sou, considerando que a integridade e a coerência pessoal são as verdadeiras forças estimulantes”, resume Olivia Moore.
Intuição, ouvir a voz interior, conhecimento dos seus trunfos e também dos seus limites, “Vá para onde manda o seu coração”, nos aconselham essas duas mulheres audazes. “Esta é a única maneira de não permanecer em estado de servidão voluntária”, opina Linda Bortoletto.
Mas a verdade a respeito da verdadeira audácia talvez seja o fato de que ela é estimulada por um coquetel sábio feito de razão e de emoção. “Enquanto não dermos o primeiro passo, permaneceremos ancorados em uma concepção amedrontada que bloqueia tudo”, resume Olivia Moore. “O medo, pelo fato de ser um sinalizador, permanece lá. Mas posso manter uma certa distância dele e decidir se devo escutá-lo ou não. Desse modo, ele não pode mais controlar minha vida”. É então que os sonhos podem começar a se transformar em realidade.



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