FENÔMENO EUREKA! - BOAS IDEIAS CHEGAM QUANDO MENOS SE ESPERA
Deixar de vez em quando a mente livre para divagar não é uma simples perda de tempo: é um hábito comportamental que pode abrir caminho para o aparecimento de intuições geniais
9 DE AGOSTO DE 2012 ÀS 18:46
Imagens: Divulgação
Conta-se que quando o filósofo grego Arquimedes exclamou “Eureka!” (A luz se fez!) ele estava relaxando, completamente nu, na banheira: a ideia inspiradora que iria revolucionar a física dos fluídos surgiu em sua mente quando ele tomava o seu banho.
É coisa bem sabida que as grandes intuições chegam quase sempre nos momentos em que não estamos particularmente concentrados naquele problema específico. O que ainda não está claro é por que isso acontece dessa forma. Recente estudo norte-americano sugere que não são tanto os momentos de pausa que favorecem a criatividade e a intuição genial, mas sim os momentos em que deixamos que nossa mente divague, livre e solta. Exatamente aqueles momentos em que acreditamos estar perdendo nosso tempo...
A experiência
Para estudar esse fenômeno, Benjamin Baird e Jonathan Schooler, dois psicólogos da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, submeteram 145 estudantes a dois exercícios que consistiam fazer o elenco, em dois minutos, do maior número possível de usos alternativos para objetos de uso comum, como escovas de dente, cabides e caixas de fósforo. Esgotado esse tempo, os estudantes podiam gozar de uma pausa de 12 minutos, durante a qual alguns simplesmente repousaram, outros se dedicaram a alguma atividade que demandava o uso da memória e a plena concentração, e os restantes foram envolvidos numa atividade pouco exigente que favorecia a divagação da mente. Um outro grupo de voluntários não desfrutou de nenhum momento de pausa.
Os mais criativos
Ao final da pausa, os estudantes tiveram de fazer novamente a tarefa inicial. Resultado: aqueles cuja mente tinha divagado obtiveram desta vez um resultado 41% melhor do que na vez anterior em relação a seus companheiros. Nos demais sujeitos não foi observada nenhuma melhora das performances, como explica em detalhes recente artigo publicado na revista científica Psychological Science. Um momento análogo no qual a divagação favorece a criatividade já tinha sido observado durante as fases de “rapid eye movements” que costumam acontecer durante o sono.
Elogio da distração
Fato importante, os estudantes que tiveram a possibilidade de divagar com a mente não tinham alcançado nenhum resultado mais expressivo em relação a seus colegas na primeira parte do exercício. “A divagação mental parece funcionar apenas para as tarefas que nosso cérebro já tivera oportunidade de ‘mastigar”, explicou Banjamin Baird, “mas não parece trazer melhorias nas tarefas genéricas que envolvem a solução de problemas”.
O estudo poderá auxiliar na solução de um dos mistérios ainda não resolvidos do funcionamento da mente: por que nos desconcentramos? Do ponto de vista evolutivo, de fato, esse comportamento tipicamente humano é contraproducente. Ele compromete as performances física e mental dos indivíduos: se a evolução permitiu ao cérebro desenvolver esse mecanismo, tudo leva a crer que isso aconteceu para que seja deixado espaço para as intuições mais criativas.
O estudo poderá auxiliar na solução de um dos mistérios ainda não resolvidos do funcionamento da mente: por que nos desconcentramos? Do ponto de vista evolutivo, de fato, esse comportamento tipicamente humano é contraproducente. Ele compromete as performances física e mental dos indivíduos: se a evolução permitiu ao cérebro desenvolver esse mecanismo, tudo leva a crer que isso aconteceu para que seja deixado espaço para as intuições mais criativas.
Na história da ciência e ainda em nossas histórias pessoais, não são poucos os momentos em que alguém encontra a solução de um problema quando já deixou de se empenhar na busca e quando cansado de dar voltas no assunto infrutiferamente, decide tomar um banho ou sair para caminhar ou realizar qualquer outra atividade que o mantenha longe do objeto de seus cuidados. Assim Arquimedes, assim Newton, assim Einstein. E curiosamente, foi nesse momento de distração quando cada um destes descobriu a peça que faltava no seu quebra-cabeças.
Por outra parte Baird assegura que estes resultados são válidos apenas para aquelas situações em que a mente lidou antes com um problema em específico, mas ao que parece não foi possível concluir que o vazio mental incremente por si só a habilidade criativa para resolver problemas.
Leia mais, em inglês, em artigo no site da revista Nature
http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/73211/Fen%C3%B4meno-Eureka!---Boas-ideias-chegam-quando-menos-se-espera.htm