Quando o ônibus espacial Discovery foi lançado pela Nasa em 24 de abril de 1990, levando a bordo o telescópio espacial Hubble, ninguém, nem mesmo os cientistas que o construíram, podiam imaginar tudo aquilo que ele iria produzir durante os seus 22 anos de atividades
1 DE AGOSTO DE 2012 ÀS 23:18
Os resultados alcançados pelo telescópio espacial Hubble, em atividade no espaço há 22 anos, são simplesmente incríveis: miríades de imagens em alta definição das profundezas do espaço exterior, estrelas, novos sistemas planetários, galáxias, nuvens de gás e poeira, buracos negros, toda uma variedade de entidades cósmicas cujo verdadeiro aspecto, até então, não fora possível imaginar.
Graças ao Hubble pela primeira vez se tornou possível ver mais longe do que as estrelas da nossa própria galáxia, a Via Láctea, e estudar estruturas do universo até então desconhecidas ou pouco observadas. Esse extraordinário telescópio deu à civilização uma nova visão do universo, proporcionando à ciência astronômica um salto equivalente ao dado pela luneta de Galileu no século 17.
Não foi fácil, nem barato, construí-lo e colocá-lo em órbita. Desde a concepção original, em 1946, a iniciativa de construir um telescópio espacial sofreu inúmeros atrasos e problemas orçamentais. Logo após o lançamento ao espaço, o Hubble apresentou uma aberração esférica no espelho principal que parecia comprometer todas as potencialidades do telescópio. Porém, a situação foi corrigida numa missão especialmente concebida para a reparação do equipamento, em 1993. Graças a ela, o telescópio voltou à operacionalidade, tornando-se uma ferramenta vital para a astronomia. Imaginado nos anos 40, projetado e construído nos anos 70 e 80 e em funcionamento desde 1990, o Telescópio Espacial Hubble foi batizado em homenagem a Edwin Powell Hubble, que revolucionou a astronomia ao constatar que o Universo estava se expandindo.
Os dias do Hubble, infelizmente, estão contados. O telescópio gradualmente se aproxima da Terra, um pouco mais a cada giro de órbita. Ele reentrará na atmosfera terrestre, transformando-se numa bola de fogo, em algum momento entre os anos 2019 e 2030, dependendo de vários fatores, entre os quais está o "vento" produzido pela atividade solar. Até lá, suas câmeras deverão permanecer em funcionamento e, até o fim, ninguém pode prever o que mais elas serão capazes de nos revelar a respeito dos segredos da imensidão do espaço sideral.
A galeria a seguir elenca algumas das melhores e mais impressionantes fotografias obtidas pelo Google. Completa a série um vídeo preparado pela Nasa, em comemoração ao 22º aniversário do telescópio. São imagens para copiar, colar e guardar. O Hubble colocou o universo a nosso alcance.
1 Cachoeira de estrelas
Iguaçu, Niágara, Vitória, qualquer grande cachoeira terrestre pareceria reduzida a pó diante dessa espetacular cascata cósmica. O "rio" celeste que aparece no centro dessa foto feita pelo Hubble é na verdade um conjunto de grupos estelares contendo, cada um deles, muitos milhões de astros em formação. O que os alimenta, segundo os especialistas, é a contínua interação entre os núcleos galácticos colocados na sua extremidade superior. Mais "solitária" é, no entanto, a galáxia inferior, onde a cascata parece se acumular, devido a um jogo de perspectiva, no interior de uma espécie de pequeno lago. O inteiro grupo é chamado Arp 194, e é um dos sistemas estelares mais inquietos do cosmos. Localiza-se a cerca 600 milhões de anos luz de nós.
Foto: NASA, ESA, e o Hubble Heritage Team (STScI/AURA)
2 Buraco da fechadura
A nebulosa Buraco da Fechadura recebe o seu nome devido à sua estranha forma. Com o nome oficial de NGC 3324, ela se sobrepõe à nebulosa Eta Carina, de maiores proporções. Ambas foram criadas pela mega estrela Eta Carina, que é dada a erupções violentas durante os seus tempos finais. Foi observada e discutida em 1840, quando uma espetacular explosão se tornou visível. O sistema Eta Carina parece agora passar por um estranho período de mudança. Nebulosa de emissão que contem muito pó, a nebulosa Buraco de Fechadura situa-se aproximadamente a 9 mil anos-luz de distância. Objeto celeste muito fotogênico, ela pode ser observada até por pequenos telescópios. Recentemente descobriu-se que a Buraco da Fechadura contém nuvens altamente estruturadas de gás molecular.
Foto: NASA e o The Hubble Heritage Team (STScl)
3 Roedores galáticos
Tem medo de ratos? No espaço existem pelo menos dois. Mas pode ficar tranquilo: estão a quase 300 milhões de anos-luz, além do que têm pouco a ver com nossos pequenos roedores. Os "ratos", na foto, são na verdade duas galáxias em colisão, assim chamadas pelas longas "caudas" de gás e poeira que deixam atrás de si quando passam. As duas galáxias, num futuro distante, irão se fundir, criando um novo único objeto celeste.
Foto: ACS Science & Engineering Team, Hubble Space Telescope, Nasa
4 Janela no céu
A causa principal que deu origem a essa belíssima nebulosa planetária foi uma estrela gigante cujo "carburante" se esgotou. Quando chegou ao fim a fusão de hidrogênio e de hélio presentes no seu núcleo, uma estrela perdida a mais de 10 mil anos-luz de nós começou a difundir ao redor de si mesma camadas de azoto (em vermelho), hidrogênio (verde) e oxigênio (azul). Também o nosso Sol, ao final da sua evolução, poderá se comportar do mesmo modo... dentro de 5 bilhões de anos.
Foto: NASA, ESA e o The Hubble Heritage Team (STScI/AURA)
5 Aprovado com distinção
Depois de um mês de paralisação – devido a um problema técnico – o Hubble novamente despertou. Uma das primeiras imagens que captou foi a deste "número 10" cósmico, que brilha a mais de 400 milhões de anos-luz de nós. Ele se formou graças à colisão de duas galáxias. Durante a colisão, a galáxia mais estreita (à esquerda) passou através da outra que, devido ao choque, mudou de forma. Ela, agora, parece um zero.
Foto: Nasa
6 Manchas planetárias
Na atmosfera gasosa e turbulenta do planeta Júpiter formou-se uma nova mancha vermelha, que podemos admirar nessa fota obtida pelo Hubble.
É a última a aparecer, na extrema esquerda da imagem, juntando-se às outras duas manchas já conhecidas: a Grande Mancha Vermelha (à direita) e a Mancha Vermelha Junior (em baixo). Todas essas manchas são na realidade enormes tempestades, fenômenos frequentes na superfície de Júpiter. A Grande Mancha Vermelha tem diâmetro duas vezes maior que o da Terra.
É a última a aparecer, na extrema esquerda da imagem, juntando-se às outras duas manchas já conhecidas: a Grande Mancha Vermelha (à direita) e a Mancha Vermelha Junior (em baixo). Todas essas manchas são na realidade enormes tempestades, fenômenos frequentes na superfície de Júpiter. A Grande Mancha Vermelha tem diâmetro duas vezes maior que o da Terra.
Foto: NASA, ESA, M. Wong e I. de Pater (University of California, Berkeley)
7 A galáxia dos mistérios
A trinta milhões de anos-luz da Terra encontra-se uma galáxia muito curiosa para os astrônomos. Ela se chama Ngc 1512 e a sua forma em espiral ainda não tem uma verdadeira explicação. O tamanho dessa galáxia é de 70 mil anos luz, quase o tamanho da nossa Via Láctea. O que a torna especial é o anel de poeira que a circunda, e que poderia ser uma verdadeira "fábrica" de estrelas.
Foto: D. Maoz (Tel-Aviv Univ./Columbia Univ.) et al., ESA, NASA
8 O último show de uma estrela
O ponto avermelhado visível no centro da imagem é uma estrela que, um dia, foi muito parecida com o nosso Sol. Agora, ela é um astro em fim de vida, que produz a seu redor uma nuvem de gases e poeira cintilante: a nebulosa NGC 2371.
Graças a filtros especiais, Hubble conseguiu evidenciar as áreas onde prevalece o hidrogênio – em verde – e as mais ricas em oxigênio (em azul).
Os dois jatos rosados situados nos lados opostos da estrela são de azoto e enxofre que, nos últimos milhares de anos, mudaram com frequência de direção. Astrônomos ainda não conseguiram explicar esse comportamento.
Graças a filtros especiais, Hubble conseguiu evidenciar as áreas onde prevalece o hidrogênio – em verde – e as mais ricas em oxigênio (em azul).
Os dois jatos rosados situados nos lados opostos da estrela são de azoto e enxofre que, nos últimos milhares de anos, mudaram com frequência de direção. Astrônomos ainda não conseguiram explicar esse comportamento.
Foto: NASA, ESA, e o Hubble Heritage Team (STScI/AURA)
9 Faróis acesos
Esta é Sirius, a estrela mais luminosa visível aqui na Terra. Na foto ela se tornou ainda mais brilhante graças a uma técnica particular do sistema fotográfico do Hubble. Graças a esse sistema pode-se ver também, em baixo, à esquerda, Sirius B, a pequena estrela companheira de Sirius. Esse pequeno ponto luminoso é tudo o que sobrou de um astro muito parecido com o Sol. Mas que, agora, pode ser ainda mais "pesado" do que o Sol: um único centímetro cúbico dessa estrela poderia pesar, na face da Terra, cerca de 100 quilogramas.
Foto: NASA, H.E. Bond e E. Nelan (Space Telescope Science Institute, Baltimore, Md.) / M. Barstow e M. Burleigh (University of Leicester, U.K.) / J.B. Holberg (University of Arizona)
10 Aurora extraterrestre
Saturno também apresenta auroras e crepúsculos. Hubble tirou várias fotos revelando a permanência durante vários dias de um fenômeno desse tipo na altura do polo sul do planeta. A diferença é que, na Terra uma autora pode durar de poucos minutos a algumas horas, mas em Saturno ela pode durar vários dias. Em Saturno o fenômeno é causado pela pressão do vento solar (um tipo de corrente de partículas provenientes do Sol) e não pelo campo magnético do Sol, como ocorre em nosso planeta.
Foto: Nasa
11 Olho de Gato à espreita
Esta é a nebulosa planetária NGC 6543, conhecida como Olho de Gato, um dos mais belos e curiosos objetos celestes jamais encontrados. A mais recente foto obtida pelo Hubble mostra onze, ou talvez mais, anéis de gás concêntricos ao redor dessa nebulosa. Quando uma estrela como o nosso Sol envelhece, começa a expelir as suas camadas mais externas. Ao mesmo tempo em que a estrela-mãe se contrai, transformando-se em uma anã branca, o gás ejetado forma uma nuvem a seu redor. É essa nuvem que chamamos de nebulosa planetária.
Foto: Nasa
12 A morte da borboleta
As lentes do Hubble captaram os últimos espasmos de vida de uma estrela moribunda chamada de "Nebulosa do Inseto" devido a sua curiosa forma, semelhante às asas de uma gigantesca borboleta. A faixa escura que se encontra entre as asas deve esconder a própria estrela, que é uma das mais quentes jamais encontradas (suas temperaturas superam 250 mil graus centígrados).
Foto: Nasa
13 Um bracelete celeste
A galáxia AM 0644-741 parece um bracelete incrustado de diamantes. Trata-se, no entanto, de um anel de estrelas que envolve o núcleo amarelado daquilo que foi, há tempos, uma galáxia espiralada normal. Esse corpo celeste dista 300 milhões de anos-luz da Terra, e é o resultado do choque tremendo entre duas galáxias.
Foto: Hubble/Nasa
14 O colecionador de galáxias
Nessa fotomontagem, foram colocadas lado a lado 80 galáxias, dentre as fotografadas pelo Hubble. O telescópio espacial proporcionou descobertas inestimáveis para a moderna pesquisa astronômica.
Foto: Hubble/Nasa
15 A Bela Adormecida no Espaço
A galáxia M64 fascina os astrônomos por causa da zona escura que apresenta em seu interior: trata-se de uma faixa de poeira que absorve a luz. Por esse motivo é chamada de Olho Negro ou de A Bela Adormecida.
Foto: Nasa/HHT
16 O Senhor dos Anéis
Esta é uma fotografia em ultravioleta dos anéis de Saturno, captada em abril de 2003 pelo telescópio Hubble. Esse sistema de anéis só se torna bem visível para nós a cada 15 anos, devido ao seu grau de inclinação em relação à eclíptica.
Foto: Nasa/Hubble
17 O sombrero fotogênico
Muitos a definem como a galáxia mais fotogênica do Universo: trata-se da galáxia Messier 104 , também chamada de Sombrero por sua forma de chapéu mexicano. Dista 28 milhões de anos-luz de nosso planeta, e é quase visível a olho nu. Porém está rapidamente se afastando.
Foto: Nasa /Hubble
18 Primavera em Netuno
É primavera em Netuno: Isso parece paradoxal? Pode parecer, visto que se trata de um dos planetas mais distantes e mais frios do Sistema Solar, distando 4 bilhões e meio de quilômetros de nossa estrela e com 200 graus negativos de temperatura média em sua superfície. Apesar disso, tudo leva a crer que também em Netuno observa-se o fenômeno das estações do ano. Só que, cada estação, dura cerca de 40 anos, enquanto uma inteira rotação desse planeta ao redor do Sol dura 165 anos.
Foto: Nasa/Hubble
19 Formiga Cósmica
A Nebulosa da Formiga (também chamada Menzel 3, ou Mz3) é uma dessas massas de gás expulsos de uma estrela na sua última fase de vida (uma nebulosa planetária, como já explicamos). Sua particularidade é apresentar uma intrigante estrutura simétrica. É possível que essa forma seja determinada pela presença de uma estrela que orbita nas proximidades.
Foto: Nasa (Hubble Space Telescope)
20 A bela morte de uma estrela
Este é o aspecto de uma estrela moribunda: a nebulosa planetária IC 4406. Ela apresenta uma forma retangular e forte simetria, típica das nebulosas planetárias. Dista da Terra cerca de 5000 anos-luz. As cores da imagem são reflexos de diversos gases presentes nessa nebulosa: o oxigênio reflete a luz azul; o hidrogênio a luz verde; os traços avermelhados revelam a presença de azoto.
Foto: Nasa (Hubble Heritage Team)
VÍDEO - A história do Hubble em imagens
Para celebrar o 22º aniversário do telescópio espacial, as agências ESA e NASA produziram um vídeo com algumas das mais belas fotos tirados pelo Hubble. Este vídeo tem fundo musical, porém não é narrado. Há legendas explicativas que podem ser ativadas clicando no botão "CC", à direita da tela.
http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/72299/Hubble-22-anos-de-bons-servi%C3%A7os.htm