Jesus Cristo -3

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Perspetivas judaicas

A corrente dominante do judaísmo rejeita a proposta de Jesus ser Deus, um mediador de Deus, ou parte de uma Trindade.[379] Argumenta que Jesus não é o Messias por não ter nem realizado as profecias messiânicas do Tanach, nem apresentar as qualificações pessoais do Messias.[380] De acordo com a tradição judaica, não houve qualquer profeta após Malaquias,[381] que enunciou as profecias no século V a.C.[382] Um grupo denominado judaísmo messiânico considera Jesus o Messias, embora seja disputado se este grupo corresponde ou não a uma seita do judaísmo.[383]
A crítica do judaísmo a Jesus é de longa data. O Novo Testamento afirma que Jesus foi criticado pelas autoridades judaicas do seu tempo. Os fariseus e escribas criticavam Jesus e os seus discípulos por não respeitarem a Lei de Moisés, por não lavarem as mãos antes das refeições (Marcos 7:1-23Mateus 15:1-20) e por apanharem cereais durante o sabat (Marcos 2:23Marcos 3:6).[384] O Talmude, escrito e compilado entre os séculos III e V d.C.,[385] inclui narrativas que alguns consideram ser relatos de Jesus. Numa dessas narrativas, Yeshu ha-nozri (“Jesus, o Cristão”) é executado por um tribunal judaico por promover idolatria e praticar magia.[386] Há um amplo espectro de opiniões entre académicos no que respeita a estas narrações.[387] A maioria dos historiadores contemporâneos consideram que este material não oferece qualquer informação do Jesus histórico.[388] A ‘’Mishné Torá’’, uma obra de lei judaica escrita por Maimónides em finais do século XII, afirma que Jesus é uma “força de bloqueio” que “faz com que a maioria do mundo peque e sirva outro deus que não o verdadeiro”.[389]

Perspetiva islâmica

Ver artigo principal: Isa (profeta)

Maomé une em oração Jesus,Abraão e Moisés, entre outros
islão considera Jesus (“Isa”) um mensageiro de Deus (Alá) e o Messias (‘’al-Masih’’) enviado para guiar as tribos de Israel (bani isra'il) através de novas escrituras, o Evangelho (‘’Injil’’).[21] [390] Os muçulmanos não reconhecem a autenticidade do Novo Testamento e acreditam que a mensagem original de Jesus foi perdida, sendo mais tarde reposta por Maomé.[391] A crença em Jesus, e em todos os outros mensageiros de Deus, faz parte dos requisitos para ser um muçulmano.[392] O Alcorão menciona o nome de Jesus vinte e cinco vezes, mais do que o próprio Maomé,[393] [394] e enfatiza que Jesus foi também um ser humano mortal que, tal como todos os outros profetas, foi escolhido de forma divina para divulgar a mensagem de Deus.[395] No entanto, o islão considera que Jesus nem é a encarnação nem o filho de Deus. Os textos islâmicos sublinham a noção estrita de monoteísmo (‘’tawhid’’) e proíbem a associação de elementos a Deus, o que seria considerado idolatria.[396] O Alcorão refere que o próprio Jesus nunca alegou ser divino,[397] e profetiza que durante o julgamento final, Jesus negará ter alguma vez alegado tal (Alcorão 5:116).[398] Tal como todos os profetas do islão, Jesus é considerado um muçulmano, acreditando-se que tenha pregado que os seus seguidores deveriam prosseguir um modo de vida correto, conforme ordenado por Deus.[399] [400]
O Alcorão não menciona José, mas descreve a Anunciação a Maria (‘’Mariam’’), na qual um anjo a informa de que daria à luz Jesus ao mesmo tempo que permaneceria virgem. O nascimento virginal é descrito como milagre realizado pela vontade de Deus.[401] [402] [403] O Alcorão (21:91 e 66:12) afirma que Deus soprou o Seu Espírito a Maria enquanto era ainda casta.[401] [402] [403] No islão, Jesus é denominado “Espírito de Deus” por ter nascido através da ação do Espírito,[401] embora essa crença não inclua a doutrina da Sua preexistência, como acontece no cristianismo.[404] [405]
Os muçulmanos acreditam que Jesus foi o último profeta enviado por Deus para guiar os Israelitas.[406] Para o auxiliar no seu ministério entre os Judeus, Deus teria dado permissão a Jesus para realizar milagres.[397] [407] Jesus é visto como precursor de Maomé e os muçulmanos acreditam que previu a sua chegada.[395] [408] Os muçulmanos negam que Jesus tenha sido crucificado, que tenha ressuscitado dos mortos ou que se tenha sacrificado pelos pecados da Humanidade.[397] De acordo com a tradição muçulmana, Jesus não foi crucificado, mas foi erguido fisicamente por Deus para o Paraíso.[397] [408] A Comunidade Ahmadi acredita que Jesus foi um mortal que sobreviveu à sua própria crucificação e morreu de causas naturais aos 120 anos em Caxemira.[409] [410] A maior parte dos muçulmanos acredita que Jesus regressará à terra pouco depois do Juízo Final para derrotar o Anticristo (‘’dajjal’’).[21] [408]

Outras perspetivas

No sincretismo das religiões africanas com o catolicismo, no Brasil, a imagem de Jesus foi associada no Candomblé ao orixá Oxalá, o maior de todos no panteão desta religião; o sincretismo também vale para a imagem de "Jesus Menino", equivalente à personificação de Oxalá quando jovem, em Oxaguian.[411]
fé bahá'í considera Jesus uma manifestação de Deus, um conceito para profetas,[412] e aceita Jesus enquanto Filho de Deus.[413] Seus textos confirmam muitos, mas não todos, os aspetos do Jesus retratado nos evangelhos. Os crentes acreditam no nascimento virginal e na crucificação,[414] [415] mas interpretam a ressurreição e os milagres de Jesus como meramente simbólicos.[413] [415]
Alguns hinduístas consideram que Jesus seja um avatar ou um ‘’sadhu’’ e enumeram várias semelhanças entre os ensinamentos de Jesus e os do hinduísmo.[416] [417]Paramahansa Yogananda, um guru hinduísta, afirmou que Jesus foi a reencarnação de Eliseu e aluno de João Batista, reencarnação de Elias.[418] Alguns budistas, entre os quais Tenzin Gyatso, XIV Dalai Lama, veem Jesus como um ’’bodisatva’’ que dedicou a vida ao bem-estar do próximo.[419]
Na perspetiva espírita, Jesus é o modelo humano de perfeição, segundo diz Allan Kardec em O Livro dos Espíritos.[420] Para a doutrina espírita Jesus veio com a missão divina de cumprir a lei, que fora anteriormente revelada por Moisés (primeira e segunda revelações); ele, contudo, não disse tudo, e foi completado pela "terceira revelação": oEspiritismo.[421] Kardec examina a natureza do Cristo nas Obras Póstumas, onde é taxativo: as discussões sobre a natureza corpórea do Cristo foi causa dos principais cismas da Igreja, e refuta todos os fundamentos para o dogma da divindade de Jesus, razão pela qual a crença na “trindade” não tem qualquer embasamento no Espiritismo.[422]
Teosofia, a partir da qual derivam muitos textos new age,[423] refere-se a Jesus como Mestre Jesus e acredita que Cristo, depois de várias reencarnações, ocupou o corpo de Jesus.[424] A cientologia reconhece Jesus (a par de outras figuras religiosas como Zaratustra, Maomé e Buda) como parte da sua herança religiosa.[425] [426] No gnosticismo, hoje em dia uma religião praticamente extinta,[427] Jesus foi enviado do reino divino para oferecer o conhecimento secreto essencial para a salvação (gnose). A maior parte dos gnósticos acreditavam que Jesus era um humano que foi possuído pelo espírito de Cristo no momento do batismo. O espírito abandonou o corpo de Jesus durante a crucificação, porém mais tarde ressuscitou o corpo do mundo dos mortos. No entanto, alguns gnósticos eram docéticos, acreditando que Jesus não teve qualquer corpo físico, apenas aparentando ter um.[428] O maniqueísmo, uma seita gnóstica, aceitava Jesus enquanto profeta, a par de Siddhartha Gautama e Zaratustra.[429] [430]
ateísmo rejeita a divindade de Jesus, embora muitos ateus tenham sobre ele uma perspetiva positiva; Richard Dawkins, por exemplo, refere-se a Jesus como um excelente mestre de moral.[431]
Entre os críticos de Jesus estão Celso no século II e Porfírio, o qual escreveu uma obra em quinze volumes na qual criticava o cristianismo no seu todo.[432] [433] No século XIX,Nietzsche foi um dos mais críticos em relação a Jesus, cujos ensinamentos considerava serem antinaturais no que diz respeito a tópicos como a sexualidade.[434] Já noséculo XXBertrand Russell escreveu em Why I Am Not a Christian que Jesus “não foi tão sábio como outras pessoas, e com certeza não o foi de forma tão superlativa”.[435]

Relíquias associadas a Jesus

Ver artigos principais: Prepúcio sagradoSanto GraalSudário de Turim e Vera Cruz

O Sudário de Turim
A destruição total que se seguiu ao cerco de Jerusalém pelos romanos em 70 d.C. fez com que os artigos sobreviventes da Judeia do primeiro século se tornassem extremamente raros e com que praticamente não existam registos da história do judaísmo na última parte do século I e ao longo de todo o século II.[436] [437] [nota 8] Margaret M. Mitchell afirma que embora Eusébio de Cesareia relate que os primeiros cristãos tenham deixado Jerusalém para se instalar em Pela pouco antes da sua destruição, deve-se aceitar que não tenham chegado até nós artigos cristãos em primeira mão sobreviventes do período inicial da Igreja de Jerusalém.[439] No entanto, ao longo da história do cristianismo são várias as alegações de relíquias atribuídas a Jesus, às quais estão sempre associadas dúvidas e controvérsias. No século XVI o teólogo Erasmo de Roterdão escreveu de forma satírica acerca da proliferação de relíquias e dos edifícios que poderiam ser construídos com a quantidade de madeira que se alegava ter pertencido à cruz usada durante a Crucificação.[440] De igual modo, enquanto os teólogos debatem se Jesus foi crucificado com três ou quatro pregos, por toda a Europa continuam a ser veneradas as relíquias de pelo menos trinta pregos da cruz.[441] Algumas relíquias, como os alegados vestígios da coroa de espinhos, são visitados apenas por um reduzido número de peregrinos, enquanto outras, como o Sudário de Turim (o qual está associado com a devoção católica aprovada da Santa Face de Jesus) são veneradas por milhões de pessoas,[442] entre as quais os papas João Paulo II e Bento XVI.[443] [444] Não existe consenso académico sobre a autenticidade de qualquer relíquia atribuída a Jesus.[445] [nota 9]

Representação na arte

Ver artigos principais: Representação de Jesus na arte e Vida de Cristo

Fresco da da cura em Betesda no batistério da igreja de Dura Europos, uma das primeiras representações de Jesus; c. 235
Apesar da falta de referências na Bíblia ou de registos históricos, a representação de Jesus ao longo dos séculos tem assumido diversas formas e características, muitas vezes influenciada pelo contexto cultural, político e teológico.[448] [334] [346] Ao longo do século I, não existiu praticamente qualquer arte figurativa na Judeia romana, dada a adesão rigorosa àquilo que é indicado por um dos Dez Mandamentos: "Não farás para ti imagem de escultura, nem figura alguma" (Êxodo 20:4-6). No entanto, a partir do século III a interpretação deste mandamento passa a ser mais tolerante, o que proporciona o aparecimento das primeiras representações figurativas na sinagoga de Dura Europos e uma das primeiras representações de Jesus na igreja de Dura Europos, ambas datadas de um período anterior a 256.[449] No entanto, é nas catacumbas romanas que se encontra o mais significativo espólio sobrevivente até aos nossos dias.[450]
A Oriente, a iconoclastia bizantina, que nos séculos VIII e IX proibiu o uso da figura humana em temas religiosos, foi um fator de resistência ao progresso artístico.[451] A Transfiguração foi um dos principais temas na arte cristã oriental, e qualquer monge que se iniciasse na pintura de ícones deveria fazer prova da sua mestria com um ícone sobre esse tema.[452] O Renascimento colocou em destaque uma série de artistas que se focaram em representações de Jesus, entre os quais Giotto e Fra Angelico.[453] A Reforma Protestante trouxe consigo movimentos que defendiam a abolição da representação gráfica de figuras religiosas, embora a proibição total tenha sido rara e as objeções tenham diminuído após o século XVI. Embora evitem imagens de grande dimensão, hoje em dia poucos protestantes se opõem a representações de Jesus em livros.[454] [455] Por outro lado, o uso de representações de Jesus é defendido pelos líderes religiosos católicos e anglicanos[456] [457] [458] e é um elemento-chave na tradição Ortodoxa oriental.[459] [460]

Ver também

Notas

  1. Ir para cima John Meier afirma que o ano de nascimento de Jesus é cerca de 7/6 a.C.[1] Por outro lado, Karl Rahner afirma que o consenso entre historiadores é c. 4 a.C.[2] Sanders é favorável a 4 a.C. e aponta o consenso geral para essa data.[3] Finegan aponta como provável c. 3/2 a.C., em função de tradições do cristianismo primitivo.[4]
  2. Ir para cima A maior parte dos historiadores estima que Jesus foi crucificado entre os anos 30 e33 d.C.[6]
  3. Ir para cima Os cristãos acreditam que Maria concebeu o filho através do milagre do Espírito Santo. Os muçulmanos acreditam que concebeu o filho de forma milagrosa por ordem de Deus. Segundo as perspectivas religiosas, José foi quem desempenhou o papel de pai no mundo físico.
  4. Ir para cima James D.G. Dunn afirma que os episódios do batismo e crucificação de Jesus são consensuais e universalmente aceites enquanto factos históricos pelos historiadores contemporâneos, sendo praticamente impossível duvidar ou negar a sua existência, pelo que muitas vezes são o próprio ponto de partida para a investigação científica do Jesus histórico.[7] Bart D. Ehrman refere que a crucificação de Jesus sob a ordem de Pôncio Pilatos é o elemento biográfico de Jesus sobre o qual há maior certeza.[8] John Dominic Crossan e Richard G. Watts afirmam que a crucificação de Jesus demonstra o mesmo nível de certeza como qualquer outro facto histórico consensual.[9] Paul R. Eddy e Gregory A. Boyd referem que a confirmação da crucificação fora dos meios cristãos está seguramente determinada.[10]
  5. Ir para cima Numa revisão em 2011 do estado da arte da investigação contemporânea, Bart Ehrmanescreveu: "Com certeza existiu, já que praticamente qualquer investigador clássico competente concorda, seja ou não cristão".[11] Richard A. Burridge afirma: "Há aqueles que argumentam que Jesus é produto da imaginação da Igreja e que nunca houve qualquer Jesus. Devo dizer que não conheço nenhum académico de renome que ainda afirme isso".[12] Robert M. Price não acredita que Jesus tenha existido, mas reconhece que o seu ponto de vista é contrário à maioria dos académicos.[13] James D.G. Dunn chama às teorias da inexistência de Jesus "uma tese completamente morta".[14] Michael Grant (um classicista) escreveu em 1977: "em anos recentes, nenhum académico sério se aventurou a postular a não historicidade de Jesus, e os poucos que o fazem não tiveram qualquer capacidade de contrariar as evidências no sentido contrário, muito mais abundantes e fortes.[15] Robert E. Van Voorst declara que os académicos bíblicos e historiadores clássicos encaram as teorias da inexistência de Jesus como completamente refutadas[16]
  6. Ir para cima O Novo Testamento afirma em três passagens diferentes que Jesus era judeu ("Ioudaios" no grego do Novo Testamento), embora o próprio Jesus nunca se refira a si como tal. EmMateus 2:, os Reis Magos referem-se a Jesus como "Rei dos Judeus" (basileus ton ioudaion). É também referido como judeu em João 4: pela samaritana no poço, no momento em que abandona a Judeia, e pelos romanos durante o episódio da Paixão, em todos os quatro evangelhos, os quais usam a frase "Rei dos Judeus".[342]
  7. Ir para cima Posteriormente ao período apostólico, decorreram na Igreja primitiva vários debates acesos e muitas vezes politizados sobre vários temas relacionados entre si. A cristologia era um dos pontos principais destes debates, sendo debatida em cada um dos primeiros sete concílios ecuménicos.
  8. Ir para cima Flávio Josefo afirma em A Guerra dos Judeus (escrito cinco anos depois do cerco, em75 d.C.) que Jerusalém fora de tal forma destruída que quem ali chegasse dificilmente acreditaria que alguma vez fora habitada.[438] E após o que restava ter sido convertido no assentamento romano de Élia Capitolina, foi impedida a entrada aos Judeus.[437]
  9. Ir para cima Existem conclusões bastantes polarizadas sobre o Sudário de Turim.[446] De acordo com o antigo diretor da revista NaturePhilip Ball, "é justo afirmar que, apesar dos exames definitivos realizados em 1988, o estatuto do Sudário de Turim é mais turvo do que nunca. A própria natureza da imagem e como foi fixada no tecido permanecem um mistério profundo".[447]



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