REDESCOBERTA APÓS 75 ANOS
Conhecida como rolinha-do-planalto, a Columbina cyanopis está criticamente ameaçada de extinção. O último registro comprovado da espécie antes da redescoberta aconteceu há 75 anos, em 1941. Agora, um grupo de pesquisadores anunciou para a comunidade de especialistas a redescoberta da ave, que é uma das mais raras do mundo
30 DE MAIO DE 2016 ÀS 13:17
Um grupo de pesquisadores, com o apoio do Observatório de Aves - Instituto Butantan e da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil), anunciou recentemente para a comunidade de especialistas a redescoberta de uma das aves mais raras do mundo. Conhecida como rolinha-do-planalto, a Columbina cyanopis está criticamente ameaçada de extinção. O último registro comprovado da espécie antes da redescoberta aconteceu há 75 anos, em 1941.
Nos últimos meses, os pesquisadores têm trabalhado simultaneamente no registro científico da redescoberta e em um plano de conservação, com o objetivo de assegurar a sobrevivência da ave no longo prazo. A rolinha-do-planalto, espécie exclusiva do Brasil, está ameaçada principalmente pela destruição do Cerrado brasileiro, seu habitat. Até o momento, os ornitólogos encontraram apenas 12 indivíduos da espécie.
"Nossa preocupação agora é a conservação da ave. Estamos estudando diversas linhas de atuação no desenho deste plano. A principal delas é garantir que a região onde a espécie foi detectada seja transformada em uma área de conservação, o que beneficiaria não apenas a rolinha-do-planalto, mas também outras espécies ameaçadas que ocorrem na área", explica o ornitólogo Rafael Bessa, que redescobriu a espécie.
As principais características da ave são olhos azuis claros e manchas azuis escuras nas asas, que se destacam da plumagem predominantemente castanho-avermelhada. "É uma ave linda e extremamente rara. Redescobrir uma espécie exclusiva do Brasil praticamente desconhecida e tão emblemática é um feito científico extraordinário. É um acontecimento que está sendo muito celebrado, já que alguns especialistas cogitavam que a espécie poderia estar extinta. Conhecer melhor a biodiversidade brasileira é o primeiro passo para garantirmos sua conservação. E, ao fazer isso, estamos contribuindo com o aumento da qualidade de vida e a saúde de todas as espécies, incluindo a nossa", afirma Luciano Lima, do Observatório de Aves - Instituto Butantan.
Assim que avistou a ave, em junho de 2015, o ornitólogo Rafael Bessa estabeleceu contato com Lima, do Observatório de Aves - Instituto Butantan. Com o apoio do Instituto e da SAVE Brasil, representante da BirdLife International que apoia e financia a pesquisa, foram iniciados os estudos sobre a espécie. Para isso, foi montada uma equipe de cinco pesquisadores que inclui também os ornitólogos Wagner Nogueira, Marco Rego e Glaucia Del-Rio, os dois últimos associados ao Museum of Natural Science of Louisiana State University (EUA).
No âmbito do plano de conservação, os pesquisadores desenvolvem estudos sobre a biologia da espécie, que abordam aspectos como o comportamento, reprodução e alimentação, por exemplo. Além disso, os ornitólogos ainda realizam expedições a alguns lugares com geografia e características similares às do primeiro ponto de incidência, em busca de novos indivíduos. Os locais de busca são identificados por imagens de satélite e por uma técnica chamada modelagem ecológica. Com base nas características ambientais das áreas onde a espécie ocorre, um software cruza informações e aponta lugares com características semelhantes.
"Até o momento visitamos diversas áreas em três estados, mas a espécie só foi localizada em dois locais muito próximos, ambos no estado de Minas Gerais, o que reforça a necessidade de medidas urgentes para garantir a sua sobrevivência", alerta o ornitólogo Wagner Nogueira. Com o objetivo de preservar o animal, os pesquisadores não divulgarão o local exato de ocorrência da ave até que o plano de conservação seja concluído e as ações possam ser viabilizadas.
O anúncio da redescoberta foi feito para a comunidade de ornitólogos, cientistas e observadores de aves durante o 11º Encontro Brasileiro de Observação de Aves (AvistarBrasil 2016), realizado no Instituto Butantan. Até a redescoberta não eram conhecidas imagens e filmagens da rolinha-do-planalto viva, ou mesmo de seu canto. Durante o evento, os ornitólogos que integram a equipe de pesquisa apresentaram esses registros e informações sobre a espécie, até então conhecida apenas por exemplares em museus e relatos sem comprovação.
Sobre o Observatório de Aves - Instituto Butantan
Fundado em 2014, sob a coordenação do Museu Biológico do Instituto Butantan, o Observatório de Aves - Instituto Butantan é a primeira iniciativa dessa natureza no Brasil. O foco do Observatório é o monitoramento de longo prazo da avifauna de diferentes áreas com o objetivo de acompanhar mudanças nas populações de aves silvestres ocasionadas por fenômenos como as mudanças climáticas e de realizar vigilância ambiental em saúde. Além disso, também são estudados aspectos ligados à biologia e à ecologia das aves. O Observatório também desenvolve atividades educativas para a difusão da ciência a diversos públicos. Entre elas está o #vempassarinhar, caminhada mensal de observação de aves promovida no campus do próprio Instituto, uma ilha de 80 hectares de floresta dentro da área urbana da cidade de São Paulo.
Sobre a SAVE Brasil
A Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil) nasceu de um projeto da BirdLife International, aliança global que compartilha políticas e programas de conservação, para identificação e ações imediatas com foco em evitar a extinção de espécies no território brasileiro. A organização trabalha na elaboração e implantação de estratégias de conservação em parceira com organizações locais, órgãos públicos, empresas, líderes comunitários, pesquisadores e membros da sociedade civil.
http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/235132/Ave-rara-brasileira-%C3%A9-redescoberta-ap%C3%B3s-75-anos.htm