João Calvino 4

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Miguel Servet[editar | editar código-fonte]


Estátua de Miguel Servet na praça Aspirant Dunand, emParisMiguel Servet foi um cientista e reformador protestante, sentenciado à morte a fogueira por suas ideias teológicas pelo Conselho de Genebra.
Miguel Servet foi um cientista e reformador, primeiro a descrever a circulação pulmonar,[7] condenado à morrer na fogueira por suas idéias teológicas pelo Conselho de Genebra. A relação entre Servet e Calvino inicia-se em 1553, quando Servet publicou uma obra religiosa com exibições anti- trinitárias, intitulada Restituição do Christianismo, um trabalho que rejeitou a ideia depredestinação e que Deus condenava almas para oinferno, independentemente do valor ou mérito. Deus, insistiu Servet, não condenaria ninguém, Calvino, que havia recentemente escrito o resumo de sua doutrina emInstitutas da Religião Cristã, considerou o livro de Servet um ataque a suas teorias, e enviou uma cópia de seu próprio livro como resposta. Servet prontamente devolveu, cuidadosamente anotando observações críticas. Servet escreveu a Calvino "eu não te odeio, nem te desprezo, nem quero vos perseguir, mas eu gostaria de ser tão duro como o ferro, quando eis que insultaste a doutrina com som e audácia tão grande."
As resposta de Calvino ficaram cada vez mais violentas, até que ele parou de falar com Servet.[8] Servet enviou diversas outras cartas, mais Calvino se recusou à respondê-las e considerou-as heréticas. [9] Posteriormente Calvino demonstrou suas opinões sobre Servet, quando escreve ao seu amigo Guilherme Farel em 13 de fevereiro de 1546:
Servet acaba de me enviar um volume considerável dos seus delírios. Se ele vir aqui (...), se minha autoridade valer algo, eu nunca lhe permitiria sair vivo ("Si venerit, modo valeat mea autoritas, patiar nunquam vivum exire"). [10]
Em 13 de agosto de 1553, Servet passou em Genebra, e quando ouvia um sermão de Calvino em Genebra e foi imediatamente reconhecido e preso. [11] Calvino insistiu na condenação de Servet usando todos os meios ao seu comando.
Em seu julgamento pelo Conselho de Genebra, segundo a maioria dos historiadores, Servet foi condenado pela difusão e pregação do antitrinitarismo e por ser contra o batismo infantil.[12] O procurador (procurador-chefe público), acrescentou algumas acusações como "se ele não sabia que sua doutrina era perniciosa, considerando que ela favorece os judeus e os turcos, por inventar desculpas para eles, e se ele não estudou o Alcorão, a fim de desmentir e rebater as doutrina e a religião das igrejas cristãs(...)".
Calvino acreditava que Servet mereceu ser morto por causa do que ele denominou como "blasfêmias execráveis". Todavia, não concordou que ele fosse morto à fogueira, mas sim à guilhotina. Porém, o Conselho não deu ouvidos à Calvino.[13] Calvino então consultou outros reformadores sobre a questão de Servet, como os sucessores imediatos de Martinho Lutero,[14] bem como reformadores de locais como ZuriqueBernaBasel e Schaffhausen, todos concordaram universalmente com sua execução.[14] Em 24 de outubro Servet foi condenado à morte na fogueira por negar a Trindade e o batismo infantil. Calvino sugeriu que Servet fosse executado por decapitação, em vez de fogo, mais seu pedido não foi atendido.[15] Em 27 de outubro de 1553 a pena foi aplicada nos arredores de Genebra com o que se acreditava ser a última cópia de seu livro acorrentado a perna de Servet.[16] Após o ocorrido Calvino escreveu:
Quem sustenta que é errado punir hereges e blasfemadores, pois nos tornamos cúmplices de seus crimes (…). Não se trata aqui da autoridade do homem, é Deus que fala (…). Portanto se Ele exigir de nós algo de tão extrema gravidade, para que mostremos que lhe pagamos a honra devida, estabelecendo o seu serviço acima de toda consideração humana, que não poupamos parentes, nem de qualquer sangue, e esquecemos toda a humanidade, quando o assunto é o combate pela Sua glória.[17]

Relacionamento com a reforma inglesa[editar | editar código-fonte]

Por volta de 1550, Calvino escreveu ao rei Eduardo VI de Inglaterra, um protestante, encorajando-o nas suas reformas. O rei Eduardo VI fez acolher protestantes franceses, perseguidos no país natal. Após o reinado de Eduardo VI (1547-1553) o catolicismoregressou à Inglaterra sob a liderança de Maria Tudor.

A discordância com Lutero[editar | editar código-fonte]


Martinho Lutero (retrato Lucas Cranach o Velho - 1529).
No movimento reformista, Lutero não concordou com o "estilo" de reforma de João Calvino. Martinho Lutero queria reformar a Igreja Católica,[18] enquanto João Calvino acreditava que a Igreja estava tão degenerada que não havia como reformá-la. Calvino se propunha a organizar uma nova Igreja que, na sua doutrina (e também em alguns costumes), seria idêntica à Igreja Primitiva. Já Lutero decidiu reformá-la, mas afastou-se desse objetivo, fundando, então, o protestantismo, que não seguia tradições, mas apenas a doutrina registrada na Bíblia, e cujos usos e costumes não ficariam presos a convenções ou épocas. A doutrina luterana está explicitada no "Livro de Concórdia", e não muda, embora os costumes e formas variem de acordo com a localidade e a época.

Novas dificuldades[editar | editar código-fonte]

Entre 1553 e 1555, em Genebra, a relação tensa entre a igreja - particularmente oconsistório, onde Calvino era uma figura de relevo - e as autoridades seculares da cidade, eleitas entre os habitantes (ricos) da cidade, atingiu o seu auge. Discutia-se, então, a questão de saber se o consistório teria ou não o direito de excomungar pessoas, algo que se vinha a passar com relativa frequência. As amargas trocas de palavras entre estes dois pólos multiplicaram-se. Por um lado, o zelo religioso dos Calvinistas, do outro, a autoridade política da cidade. Em janeiro de 1555, houve uma procissão noturna de pessoas em Genebra, caminhando de vela na mão, com a pretensão de ridicularizar Calvino.
Apesar disso, e em parte por causa do peso relativo da população protestante francesa que se tinha refugiado na cidade, as eleições dos quatro novos "Syndics" de Genebra em Fevereiro de 1555 é favorável aos Calvinistas, que se impõem contra os "Enfants de Genève" sob a liderança de Perrin. Após as eleições, porém, há desacatos na rua entre as duas partes. Perrin e outros líderes da revolta são presos e serão decapitados e esquartejados. Os pedaços dos cadáveres foram, depois, exibidos nas ruas da cidade.
Também a doutrina da Predestinação foi muito atacada nestes anos, principalmente por um monge carmelita chamado Hiérome Bolsec, nascido em Paris, que se tinha estabelecido em Genebra. Argumentava que se Deus fosse o responsável por tudo o que se passa, então, também seria responsável pelos nossos pecados. Calvino responde que nunca disse isso e as autoridades apoiam-no. Em Berna, os críticos de Calvino foram expulsos da cidade em 1555.
Em 1555, são erguidas as primeiras igrejas calvinistas em França, nomeadamente em Paris,MeauxAngersPoitiers e Loudun. Nos três anos seguintes surgiram as comunidades deOrleãesRouenLa RochelleToulouseRennes e Lyon.
Em 8 de junho de 1558, Calvino escreve a Antoine de Bourbon, o rei de Navarra e consorte de Jeanne d'Albret, exortando-o a seguir na sua vida privada os mesmos valores ascéticos que os seus súbditos.
Entre 26 e 29 de maio de 1559, realizou-se em Paris um sínodo nacional protestante. Cerca de 30 paróquias aparecem aí representadas. O sínodo foi responsável pela elaboração de um texto de linhas orientadoras (com a participação de Calvino na sua criação), que se chamou Confession de La Rochelle (texto confirmado nesta cidade em 1571).
Em 1559 Calvino, fundou uma escola e um hospital.
Em abril de 1559, foi assinado o pacto de paz entre a França e a Espanha, em Cateau-Cambrésis.

Morte[editar | editar código-fonte]

Nos seus últimos anos de vida, a saúde de Calvino começou a vacilar. Sofrendo de enxaquecas, hemorragia pulmonar, gota e pedras nos rins foi, por vezes, levado carregado para o púlpito. Calvino continuava a ter detratores declarados que lhe dirigiam ameaças constantes.
Entretanto, apreciava passar os seus tempos livres no lago de Genebra, lendo as escrituras e bebendo vinho tinto. No fim de sua vida disse a seus amigos que estavam preocupados com o seu regime diário de trabalho: "Qual quê? Querem que o Senhor me encontre ocioso quando ele chegar?"
João Calvino morreu em Genebra a 27 de maio de 1564. Foi enterrado numa sepultura simples e não marcada, conforme o seu próprio pedido no Cimetière des RoisGenebra naSuíça.[3] [19]

Publicações de Calvino[editar | editar código-fonte]


O livro Institutas da Religião Cristã (edição genebrina de 1559).

Calvinismo[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Calvinismo
As suas publicações espalharam as suas ideias de uma igreja correctamente reformada, para muitas partes da Europa. O calvinismo tornou-se a religião principal naEscócia (Ver: John Knox), nos Países Baixos e em partes da Alemanha, tendo sido influente na Hungria e na Polónia. A maioria dos colonos de certas zonas do novo mundo, como Nova Inglaterra, eram igualmente calvinistas, incluindo os puritanos e os colonos neerlandeses que se estabeleceram em Nova Amsterdam (Nova Iorque). A África do Sul foi fundada em grande parte por colonos neerlandeses (também com franceses e portugueses) calvinistas do início de século XVII, que ficaram conhecidos como africânderes.
Em França, os calvinistas eram chamados de Huguenotes.
Serra Leoa foi em grande parte colonizada por colonos calvinistas da Nova Escócia. John Marrant tinha organizado a congregação local sob o auspício da conexão Huntingdon. Os colonos eram na sua maioria loialistas negros, afro-americanos que tinham combatido pelos ingleses na guerra da independência americana.

Calvino, inventor do capitalismo?[editar | editar código-fonte]


O livro A ética protestante e o espírito do capitalismo (edição alemã de 1904).
São muitos os que atribuem a Calvino a invenção do capitalismobaseados na leitura do livro A ética protestante e o espírito do capitalismo, do sociólogo alemão Max Weber. Em um artigo para a revista Portugal Evangélico, em sua edição nº 933, opastor protestante espanhol Carlos Capó rebate essa afirmação: "Tratar Calvino como fundador do capitalismo é simplesmente cair num anacronismo e num reducionismo. Não se trata de desmerecer a obra de Weber. Pelo contrário, com ela, ele levava a cabo uma meticulosa e acertada análise dosmecanismos que levaram ao desenvolvimento do capitalismo. Mecanismos, certamente relacionados com a ética protestante. Mas o capitalismo é um conceito que não pertence ao tempo de Calvino, tendo sido definido posteriormente a ele. É um conceitoeconómico e é um conceito político sujeito a uma polémica nummundo dividido entre dois modos de entender a sociedade e a economia: o capitalista e o comunista. Querer meter Calvino nessa polémica está fora de questão".[21] Outros pensadores que contestam tal afirmação são o teólogo Franklin Ferreira[22] e o cientista da religião Antônio Máspoli de Araújo Gomes[23]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Ir para cima Biografia de João Calvino (emportuguês) Página visitada em 26 de maio de 2012.
  2. ↑ Ir para:a b c Cottret, Bernard (2000). Calvin: A Biography (Grand Rapids, Michigan: Wm. B. Eerdmans). 0-8028-3159-1. Traduzido para o inglês do original Calvin: Biographie, Edição de Jean-Claude Lattès, 1995.
  3. ↑ Ir para:a b c Alderi Souza de Matos. «João Calvino - Cronologia». Portal Mackenzie. Consultado em 31 de março de 2010.
  4. ↑ Ir para:a b c d «João Calvino - Vida e Obra». 500 Anos de Calvino-IPI do Brasil. Consultado em 13 de abril de 2010.
  5. Ir para cima da palavra grega "pan-nychis" = "ficar acordado a noite inteira"
  6. Ir para cima História do medo do Ocidente (São Paulo: Companhia das Letras). 2002. p. 366. |nome1= sem |sobrenome1= em Authors list (Ajuda)
  7. Ir para cima «Texto de Servet "CHRISTIANISMI RESTITUTIO", em que expôe suas idéias teológicas e sobre a circulação pulmonar, site "God Glorified" (em [[Língua inglesa|inglês]])». Ligação wiki dentro do título da URL (Ajuda)
  8. Ir para cima Downton, An Examination of the Nature of Authority, Chapter 3.
  9. Ir para cima Will Durant The Story of Civilization: The Reformation Chapter XXI, page 481
  10. Ir para cima Ibid., 2
  11. Ir para cima The Heretics, p. 326.
  12. Ir para cima Hunted Heretic, p. 141.
  13. Ir para cima Owen, Robert Dale (1872). The debatable Land Between this World and the Next (New York: G.W. Carleton & Co.). p. 69, notes.
  14. ↑ Ir para:a b Schaff, Philip: History of the Christian Church, Vol. VIII: Modern Christianity: The Swiss Reformation, William B. Eerdmans Pub. Co., Grand Rapids, Michigan, USA, 1910, página 780.
  15. Ir para cima The History & Character of Calvinism, p. 176.
  16. Ir para cima "Out of the Flames" by Lawrence and Nancy Goldstone - Salon.com
  17. Ir para cima John Marshall, John Locke, Toleration and Early Enlightenment Culture (Cambridge Studies in Early Modern British History), Cambridge University Press, p. 325, 2006, ISBN 0-521-65114-X
  18. Ir para cima História e Vida integrada. Nelson Piletti e Claudino Piletti. 2008. Editora ática. Pág.: 81. ISBN 978-85-08-10049-1.
  19. Ir para cima João Calvino (em inglês) no Find a Grave
  20. Ir para cima Hermisten Maia Pereira da Costa. «Breve História das Institutas». Teologia Calvinista. Consultado em 13 de abril de 2010.
  21. Ir para cima João Calvino - desfazendo rumores
  22. Ir para cima Erro em Lua em Módulo:Citação/CS1 na linha 2140: attempt to call upvalue 'year_date_check' (a nil value).
  23. Ir para cima Gomes, Antônio Máspoli de Araújo (2002). «O Pensamento de João Calvino e a Ética Protestante de Max Weber, Aproximações e Contrastes» (PDF). Universidade Mackenzie. Consultado em 27/08/2014.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Hunted Heretic: The Life and Death of Michael Servetus 1511–1553 de Roland H. Bainton. Revised Edition edited by Peter Hughes with an introduction by Ángel Alcalá. Blackstone EditionsISBN 0-9725017-3-8.
  • The Heretics: Heresy Through the Ages by Walter Nigg. Alfred A. Knopf, Inc., 1962. (Republished by Dorset Press, 1990ISBN 0-88029-455-8)
  • The History and Character of Calvinism by John T. McNeill, New York: Oxford University Press, 1954. ISBN 0-1119-500743-3.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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