Ele transforma em dinheiro o que você jogaria fora
ALEXANDRE MANSUR
10/04/2014 11h54 - Atualizado em 10/04/2014 12h10
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Para a maior parte das empresas e pessoas, o lixo é um problema. Para a TerraCycle, não. A empresa chegou ao Brasil em 2010 com planos de receber restos de embalagens de vários produtos e com eles fazer novos bens de valor, gerando lucros, empregos e reduzindo a carga nos lixões. O negócio prosperou no mundo e aqui. Em 2010 a TerraCycle ainda estava em 6 países. Agora, em 2014, eles irão para o 26º país com Japão e Coréia do Sul. No Brasil, a empresa tem mais de 8.000 pontos de coleta dos resíduos, incluindo em grande parte escolas e universidades. Estes pontos de coleta concentram aproximadamente 700 mil consumidores engajados na coleta destes resíduos nunca antes reciclados aqui no país. A TerraCycle também lançou em outros países o primeiro programa de reciclagem de resíduos de cigarros (bitucas) que tem sido um grande sucesso e deve ser lançado aqui no Brasil no 2º semestre de 2014. Criaram ainda a primeira solução para goma de mascar usada, que já pode ser incorporada ao plástico para fabricação de novos produtos. Para ouvir as novidades da empresa, entrevistamos Bruno Massote, diretor geral da TerraCycle no Brasil. Ele é um dos participantes do Sustainable Brands Rio 2014, fórum sobre soluções sustentáveis para os negócios.
ÉPOCA: Como ganhar dinheiro com reciclagem ou reuso de resíduos?
Bruno Massote: A reciclagem é na verdade uma grande cadeia de oportunidades, pois envolve coleta, pesquisa, processo de transformação e diversas aplicações finais. Cada um destes elos oferece oportunidades específicas. Temos no Brasil um sistema ainda bastante deficiente de coleta de materiais reciclados. Investimentos nesta área podem gerar grandes oportunidades. De todos os materiais que consumimos, apenas uma pequena parcela é reaproveitada atualmente. Investimentos em pesquisa e soluções para o reaproveitamento destes outros materiais podem também trazer uma série de oportunidades de negócio.
ÉPOCA: Alguns materiais podem ser reciclados, como plástico ou vidro. Outros são mais complicados, como os plásticos metalizados de molho de tomate em sachê ou bolachas. Qual é a solução para esses materiais difíceis?
Bruno: Tecnicamente qualquer resíduo por ser reciclado. Basta que se invista em pesquisa aplicada com foco em novos processos de transformação. O grande desafio é a viabilidade econômica. Os resíduos comumente reciclados como alguns tipos de plásticos, papelão, alumínio e vidro só são reciclados pois o custo de coleta mais o custo de transformação (reciclagem) é inferior ao valor da matéria-prima resultante deste processo. A já existente demanda pelo produto final desta reciclagem permite que todas estas etapas (coleta, triagem, transformação) sejam economicamente viáveis. Entretanto, outros resíduos como algumas embalagens plásticas flexíveis compostas por diferentes tipos de materiais não oferecem a mesma viabilidade. O desafio neste caso é gerar demanda pelo produto final resultante do processo de transformação destas embalagens e à medida que a escala aumentar, as outras etapas começam a ganhar atratividade.
Bruno Massote: A reciclagem é na verdade uma grande cadeia de oportunidades, pois envolve coleta, pesquisa, processo de transformação e diversas aplicações finais. Cada um destes elos oferece oportunidades específicas. Temos no Brasil um sistema ainda bastante deficiente de coleta de materiais reciclados. Investimentos nesta área podem gerar grandes oportunidades. De todos os materiais que consumimos, apenas uma pequena parcela é reaproveitada atualmente. Investimentos em pesquisa e soluções para o reaproveitamento destes outros materiais podem também trazer uma série de oportunidades de negócio.
ÉPOCA: Alguns materiais podem ser reciclados, como plástico ou vidro. Outros são mais complicados, como os plásticos metalizados de molho de tomate em sachê ou bolachas. Qual é a solução para esses materiais difíceis?
Bruno: Tecnicamente qualquer resíduo por ser reciclado. Basta que se invista em pesquisa aplicada com foco em novos processos de transformação. O grande desafio é a viabilidade econômica. Os resíduos comumente reciclados como alguns tipos de plásticos, papelão, alumínio e vidro só são reciclados pois o custo de coleta mais o custo de transformação (reciclagem) é inferior ao valor da matéria-prima resultante deste processo. A já existente demanda pelo produto final desta reciclagem permite que todas estas etapas (coleta, triagem, transformação) sejam economicamente viáveis. Entretanto, outros resíduos como algumas embalagens plásticas flexíveis compostas por diferentes tipos de materiais não oferecem a mesma viabilidade. O desafio neste caso é gerar demanda pelo produto final resultante do processo de transformação destas embalagens e à medida que a escala aumentar, as outras etapas começam a ganhar atratividade.
ÉPOCA: É possível resolver a destinação dos nossos resíduos apenas reciclando ou reusando? Ou em algum momento também é preciso pensar em como reduzir a produção e o uso de matéria-prima?
Bruno: A reciclagem é hoje a melhor solução para destinar os resíduos gerados mas isso não significa que sozinha consiga dar conta de todo o volume gerado pela sociedade. A experiência internacional mostra que a reciclagem é muito mais eficaz quando acompanhada de incentivos voltados para a não geração ou uso racional de matérias-primas. Esta é na verdade a grande mudança. Se continuarmos apenas focados em dividir o custo do tratamento dos resíduos gerados, não chegaremos a índices de reciclagem elevados. O caminho é sim criar incentivos para que a indústria repense o design dos produtos (processo conhecido como Ecodesign) para que estes usem matérias-primas mais sustentáveis e para que o resíduo final seja mais facilmente reaproveitado.
ÉPOCA: Hoje existe uma certa demonização do plástico. O plástico é um problema ambiental ou é só uma questão de como usá-lo?
Bruno: Esta é uma questão discutida há muitos anos. O plástico pode sim se tornar um impactante passivo ambiental caso não haja uma cadeia estruturada para o seu descarte correto e posterior reaproveitamento. Por outro lado, o plástico viabilizou uma série de benefícios para a sociedade como maior proteção dos alimentos, diminuição do peso total do lixo gerado (já que o plástico é mais leve que outros materiais substitutos), entre outros.
ÉPOCA: Muitos países desenvolvidos encaminham o lixo não reciclável para incineração. Gera energia e elimina os restos nos aterros sanitários. Seria uma solução para o Brasil?
Bruno: Enquanto a reciclagem se caracteriza como uma solução cíclica, a incineração é uma solução linear que não permite o reaproveitamento dos resíduos como matéria-prima. O resultado é que com esta solução não conseguimos reduzir o ritmo de extração de recursos naturais para a fabricação de matérias-primas. Temos ainda no Brasil uma grande oportunidade para fomentar a reciclagem e gerar valor com este processo, promovendo ao mesmo tempo inclusão social e inovação em processos.
ÉPOCA: Se as empresas fossem responsáveis pelo recolhimento e destinação final das embalagens dos produtos, eles ficariam impagáveis?
Bruno: O conceito de responsabilizar os fabricantes (conhecido como Extended Producer Responsibility) pelos custos decorrentes do processo de tratamento dos resíduos pós-consumo já é observado em vários países há alguns anos. A consequência direta desta medida é que estes fabricantes passam a fazer opções mais inteligentes na escolha dos materiais utilizados para a fabricação de seus produtos a fim de baratear o custo do tratamento final. Inevitavelmente estes custos acabam sendo repassados para o consumidor que passa então a optar por produtos mais sustentáveis e consequentemente mais baratos.
ÉPOCA: Teríamos que mudar muito nossos hábitos de consumo?
Bruno: Independentemente das soluções existentes para coleta e reciclagem dos resíduos, temos enquanto consumidores um papel fundamental neste processo. Precisamos adotar hábitos mais conscientes de consumo mas principalmente do descarte correto dos resíduos pós-consumo.
Bruno: A reciclagem é hoje a melhor solução para destinar os resíduos gerados mas isso não significa que sozinha consiga dar conta de todo o volume gerado pela sociedade. A experiência internacional mostra que a reciclagem é muito mais eficaz quando acompanhada de incentivos voltados para a não geração ou uso racional de matérias-primas. Esta é na verdade a grande mudança. Se continuarmos apenas focados em dividir o custo do tratamento dos resíduos gerados, não chegaremos a índices de reciclagem elevados. O caminho é sim criar incentivos para que a indústria repense o design dos produtos (processo conhecido como Ecodesign) para que estes usem matérias-primas mais sustentáveis e para que o resíduo final seja mais facilmente reaproveitado.
ÉPOCA: Hoje existe uma certa demonização do plástico. O plástico é um problema ambiental ou é só uma questão de como usá-lo?
Bruno: Esta é uma questão discutida há muitos anos. O plástico pode sim se tornar um impactante passivo ambiental caso não haja uma cadeia estruturada para o seu descarte correto e posterior reaproveitamento. Por outro lado, o plástico viabilizou uma série de benefícios para a sociedade como maior proteção dos alimentos, diminuição do peso total do lixo gerado (já que o plástico é mais leve que outros materiais substitutos), entre outros.
ÉPOCA: Muitos países desenvolvidos encaminham o lixo não reciclável para incineração. Gera energia e elimina os restos nos aterros sanitários. Seria uma solução para o Brasil?
Bruno: Enquanto a reciclagem se caracteriza como uma solução cíclica, a incineração é uma solução linear que não permite o reaproveitamento dos resíduos como matéria-prima. O resultado é que com esta solução não conseguimos reduzir o ritmo de extração de recursos naturais para a fabricação de matérias-primas. Temos ainda no Brasil uma grande oportunidade para fomentar a reciclagem e gerar valor com este processo, promovendo ao mesmo tempo inclusão social e inovação em processos.
ÉPOCA: Se as empresas fossem responsáveis pelo recolhimento e destinação final das embalagens dos produtos, eles ficariam impagáveis?
Bruno: O conceito de responsabilizar os fabricantes (conhecido como Extended Producer Responsibility) pelos custos decorrentes do processo de tratamento dos resíduos pós-consumo já é observado em vários países há alguns anos. A consequência direta desta medida é que estes fabricantes passam a fazer opções mais inteligentes na escolha dos materiais utilizados para a fabricação de seus produtos a fim de baratear o custo do tratamento final. Inevitavelmente estes custos acabam sendo repassados para o consumidor que passa então a optar por produtos mais sustentáveis e consequentemente mais baratos.
ÉPOCA: Teríamos que mudar muito nossos hábitos de consumo?
Bruno: Independentemente das soluções existentes para coleta e reciclagem dos resíduos, temos enquanto consumidores um papel fundamental neste processo. Precisamos adotar hábitos mais conscientes de consumo mas principalmente do descarte correto dos resíduos pós-consumo.