Luta armada de movimentos de esquerda
Ver artigo principal: Luta armada de esquerda no Brasil
Logo após a tomada do controle do governo brasileiro pelo regime militar, movimentos de esquerda por todo o país começaram a tomar diversos tipos de ações para desestabilizar e, por fim, derrubar o regime autoritário ditatorial.
A respeito da tática de guerrilha, usada por parte da oposição esquerdista ao regime militar, o seu maior incentivador foi Carlos Marighella, que assim se posicionou sobre guerrilhas, especialmente sobre a guerrilha rural como a "guerrilha do Araguaia':
“O princípio básico estratégico da organização é o de desencadear, tanto nas cidades como no campo, um volume tal de ações, que o governo se veja obrigado a transformar a situação política do País em uma situação militar, destruindo a máquina burocrático- militar do Estado e substituindo-a pelo povo armado. A guerrilha urbana exercerá um papel tático em face da guerrilha rural, servindo de instrumento de inquietação, distração e retenção das forças armadas, para diminuir a concentração nas operações repressivas contra a guerrilha rural! |
— Carlos Marighela
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A esquerda alega ter iniciado as guerrilhas como reação ao AI-5. Outras fontes porém afirmam que dezenove brasileiros foram mortos por guerrilheiros antes ter sido baixado o AI-5. Entre eles, estava o soldado Mário Kozel Filho morto em junho de 1968 em ação da VPR, e os mortos do Atentado do Aeroporto dos Guararapes, supostamente por ação da Ação Popular (esquerda cristã), em 1966.130 Concomitantemente a uma tímida abertura política, no governo Geisel, na mesma época em que a "resistência democrática" do MDB saia vitoriosa nas eleições de 15 de novembro de 1974 fazendo 16 das 21 cadeiras de senador em disputa, as guerrilhas acabaram perdendo força. Isso também se deveu a operações repressivas governamentais que visavam eliminar a oposição (fosse armada, ou não armada que apoiasse a guerrilha), e que ocasionou o fim da Guerrilha do Araguaia, ocorrido entre 1973 e 1974.131 Em entrevista à revista IstoÉ, concedida no ano de 2004, um general afirmou que, concluiu-se em 1973 que "ou se matava todo mundo ou essas guerrilhas nunca mais teriam fim”.132
As famílias dos presos, mortos e desaparecidos no período, que foram identificados, foram indenizadas pelo governo brasileiro a partir da década de 1990. De acordo com o livro “Direito à memória e à verdade”, publicado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos do governo Lula, 475 pessoas morreram ou desapareceram por motivos políticos naquele período133 . As indenizações somam mais de R$ 4 bilhões.134 O processo indenizatório é alvo de críticas, como a de que seria injusto por considerar a renda perdida e não o dano causado pelo Estado135 que indenizaria pessoas que não fariam juz ao benefício.136
Cerca de 119 pessoas foram mortas por guerrilheiros de esquerda no mesmo período, segundo dados do jornalista Reinaldo Azevedo.137 138 139 140 Algumas vítimas dos guerrilheiros também foram indenizados. A família do soldado Mário Kozel Filho foi indenizada com pensão mensal de 1.150 reais. Kozel Filho teve seu corpo dilacerado num atentado assumido pelo grupo do guerrilheiro Carlos Lamarca.141 Orlando Lovecchio, que perdeu a perna em explosão planejada por guerrilheiros de esquerda, recebe uma pensão vitalícia de R$571.142
Principais ações
O Atentado do Aeroporto dos Guararapes, em Recife, em 25 de julho de 1966, visando atingir o candidato a presidente Costa e Silva. Foram mortos o jornalista Edson Regis de Carvalho e o almirante Nelson Gomes Fernandes e mais 20 feridos graves.143
No dia 4 de novembro de 1969, o deputado Carlos Marighella, líder da Aliança Libertadora Nacional (ALN), foi morto a tiros, na Alameda Casa Branca, em São Paulo. Esta operação teve a participação direta do delegado Sérgio Paranhos Fleury, considerado como um dos mais brutais torturadores deste período. Coube ao Delegado Fleury, entre outras operações, a eliminação de Carlos Lamarca, o mesmo que matou, a coronhadas, o tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Alberto Mendes Júnior, que foi torturado antes de morrer.144
Em 24 de janeiro de 1969, é atacado e assaltado o quartel do 4º RI, em Quitaúna São Paulo, com o roubo de grande quantidade de armas e munições, com intuito de fortalecer os armamentos dos guerrilheiros. No dia 4 de setembro de 1969, militantes da Ação Libertadora Nacional (ALN) e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), capturaram o embaixador dos Estados Unidos, com intuito de trocá-lo por presos políticos e estudantes que corriam risco de morte.145 No dia 18 de julho de 1969, guerrilheiros brasileiros roubam o famoso "cofre do Adhemar". De acordo com os revolucionários, esse dinheiro deveria ser empregado na luta contra a ditadura, pois era fruto dos atos de corrupção do ex-governador paulista Adhemar de Barros, conhecido pelo slogan "rouba, mas faz".146
Em 11 de março de 1970, revolucionários brasileiros sequestraram o cônsul japonês em São Paulo, Nobuo Okushi, com a intenção de libertar presos políticos. Na noite de 8 de maio de 1970, o tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo Alberto Mendes Júnior, depois de preso por guerrilheiros após confronto armado no Vale da Ribeira, São Paulo, foi executado a golpes de coronhadas no rosto por Yoshitane Fujimori, membro do grupo do ex-capitão desertor do exército Carlos Lamarca. Alberto tinha se entregue como refém em troca da liberação de seus subordinados, que haviam se ferido no confronto com o grupo de Lamarca.147
No dia 4 de setembro de 1969, o grupo de resistência armada Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), sequestra o embaixador americano no Brasil, Charles Burke Elbrick. Em 5 de Setembro de 1969, é mandado cumprir o Ato Institucional Número Treze, ou AI-13, que institui o …(sic) banimento do território nacional o brasileiro que, comprovadamente, se tornar inconveniente, nocivo ou perigoso à segurança nacional. Em 7 de setembro de 1969 é liberado o Embaixador americano e os 15 guerrilheiros presos libertados, e em função do AI-13, são banidos para o México. Foram também sequestrados o embaixador alemão Ehrenfried von Holleben e o embaixador suiço Giovanni Bucher.148
Cultura popular
Filmes
- Que Bom Te Ver Viva (Lucia Murat, 1989)
- "Você Também Pode Dar Um Presunto Legal" (Sérgio Muniz, 1971/2006)149
- O que é isso, companheiro? (Bruno Barreto, 1997)
- Lamarca (Sérgio Rezende, 1994)
- Casseta & Planeta: A Taça do Mundo é Nossa (2003)
- Cabra-cega (filme) (Toni Ventura, 2004)
- Batismo de Sangue (Helvecio Ratton, 2006)
- Hércules 56 (Silvio Da-Rim, 2006)
- Zuzu Angel (filme) (Sérgio Rezende, 2006)
- Muito além do Cidadão Kane (Simon Hartog, 1993)
- Pra frente, Brasil (Roberto Faria, 1982)
- "Blablablá" (Andrea Tonacci, 1975) 150
- Araguaya - Conspiração do Silêncio (Ronaldo Duque, 2004)
- "Vlado: 30 anos depois (João Batista de Andrade, 2005)151
- "Caparaó" (Flávio Frederico, documentário, 2007)152
- Sonhos e Desejos (Marcelo Santiago, 2006)
- Ação entre Amigos (Beto Brant, 1998)
- Quase Dois Irmãos (Lúcia Murat, 2004)
- Brazil, a Report on Torture (Saul Landau & Haskell Wexler, 1971)
- Barra 68 - Sem Perder a Ternura (Vladimir Carvalho, 2001)
- Estado de Sítio (filme) (Costa-Gravas, 1972)
- "Cidadão Boilesen" (Chaim Litewski, 2009)
- "Nada será como antes. Nada?" (Renato Tapajós, 1985)
- O Dia que Durou 21 Anos (Camilo Tavares, 2011)
- "Contos da Resistência" (Getsemane Silva, Glória Varela, Marcya Reis, André Carvalheira, Guilherme Bacalhao, 2005)
- "Tira os óculos e recolhe o homem" (André Sampaio, 2008)
- O Bom Burguês (Oswaldo Caldeira, 1979)
- "Tempo de Resistência" (Andre Ristum, 2004)
- Condor (filme)(Roberto Mader, 2007)
- "Golpe de 64: a procissão está nas ruas" (Mauro Lima, 2000)
- "O Bravo Guerreiro" (Gustavo Dahl, 1969)
- Cabra Marcado para Morrer (Eduardo Coutinho, 1984)
- "Jango" (Sílvio Tendler, 1984)
- Nunca Fomos tão Felizes (Murilo Salles, 1984)
- "Céu Aberto" (João Batista de Andrade, 1985)
- Muda Brasil (Oswaldo Caldeira, 1985)
- "Patriamada" (Tizuka Yamazaki, 1985)
- "Primeiro de Abril Brasil" (Maria Letícia, 1988)
- "Frei Tito" (Marlene França, 1983)
- Reis e Ratos (2012) - um filme de Mauro Lima (com Selton Mello, Rodrigo Santoro e Seu Jorge no elenco).
- Marighella - Retrato Falado do Guerrilheiro, um documentário de Silvio Tendler
- O Quintal dos Guerrilheiros (João Massarolo, 2005) curta-metragem com Caio Blat no elenco
- "Perdão Mister Fiel - O Operário que Derrubou a Ditadura no Brasil" (Jorge Oliveira, 2010)
- "Marighella", 2012, Documentário de Isa Grinspum Ferraz
- Três Irmãos de Sangue (dirigido por Ângela Patrícia Reiniger, 2006)
- O Caso dos Irmãos Naves filme brasileiro de 1967 dirigido por Luís Sérgio Person
- "Memórias do Medo" (Alberto Graça, 1981)
- Eles não Usam Black-tie (filme) (Leon Hirszman, 1981)
- O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (Cao Hamburguer, 2006)
- "Tanga - Deu No New York Times?" (Henfil, 1987)153
- O Corpo (José Antônio Garcia, 1991)
- As Meninas (filme) (Emiliano Ribeiro, 1995)
- O Desafio (Paulo Cesar Saraceni, 1965)
Ver também
- Ações da KGB no Brasil
- Anos de chumbo (Brasil)
- Atentado do Riocentro
- Atentado do Aeroporto dos Guararapes
- Atividades da CIA no Brasil
- Comando de Caça aos Comunistas
- VAR-Palmares
- Constituição brasileira de 1946
- Constituição brasileira de 1967
- Departamento de Ordem Política e Social - DOPS
- Desaparecidos políticos no Brasil
- Charles Burke Elbrick
- Memorial da Resistência de São Paulo
- Junta militar brasileira
- Reformas de base
- Regime militar do Chile
- Pressão social sobre o Regime Militar de 1964
- Processo de Reorganização Nacional
- The War on Democracy
Notas
- ↑ Pela Constituição de 1946 (artigos 66, 88 e 89) a declaração de vacância do Presidente da República tinha amparo legal apenas nas três formas: por renúncia, por impedimento votado pelo Congresso, ou por se afastar do país sem aprovação legislativa.
- ↑ Em meados de 1963, Goulart criou o Conselho Nacional de Política Salarial, com competência para fixar salários do setor público e de economia mista, e de "empresas privadas licenciadas para prestar serviços públicos".
- ↑ Este modelo permitiu formar um grupo de pelegos e um sindicato com vida meramente formal e sem força de comando ou de articulação.
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Ligações externas
- Memórias da Ditadura - Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
- Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985) - Ministério da Justiça
- Site oficial da Comissão Nacional da Verdade
- Acervo da Luta Contra a Ditadura (em português)
- Projeto Orvil - Relatório do Exército Brasileiro sobre a luta armada no Brasil
- Inventário DEOPS (em português)
- Prisões de Maio de 1977 (em português)
- Documentos da Comissão da Verdade (em português)
- Aos que defendem a volta da ditadura - El País Brasil
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