Expressionismo I

Expressionismo

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Fränzi perante uma cadeira talhada(1910), de Ernst Ludwig KirchnerMuseu Thyssen-BornemiszaMadrid.
expressionismo foi um movimento artístico e cultural de vanguarda surgido na Alemanha no início do século XX, transversal aos campos artísticos da arquiteturaartes plásticasliteraturamúsicacinemateatrodança e fotografia. Manifestou-se inicialmente através da pintura, coincidindo com o aparecimento do fauvismo francês, o que tornaria ambos os movimentos artísticos os primeiros representantes das chamadas "vanguardas históricas". Mais do que meramente um estilo com características em comum, o Expressionismo é sinónimo de um amplo movimento heterogéneo, de uma atitude e de uma nova forma de entender a arte, que aglutinou diversos artistas de várias tendências, formações e níveis intelectuais. O movimento surge como uma reacção ao positivismoassociado aos movimentos impressionista e naturalista, propondo uma arte pessoal e intuitiva, onde predominasse a visão interior do artista – a "expressão" – em oposição à mera observação da realidade – a "impressão".
O expressionismo compreende a deformação da realidade para expressar de forma subjectiva a natureza e o ser humano, dando primazia à expressão de sentimentos em relação à simples descrição objetiva da realidade. Entendido desta forma, o expressionismo não tem uma época ou um espaço geográfico definidos, e pode mesmo classificar-se como expressionista a obra de autores tão diversos como o holandês Piet ZwiersMatthias GrünewaldPieter Brueghel, o VelhoEl Greco ou Francisco de Goya. Algunshistoriadores, de forma a estabelecer uma distinção entre termos, preferem o uso de "expressionismo" – em minúsculas – como termo genérico, e "Expressionismo" – com inicial maiúscula – para o movimento alemão.1
Através de uma paleta cromática vincada e agressiva e do recurso às temáticas da solidão e da miséria, o expressionismo é um reflexo da angústia e ansiedade que dominavam os círculos artísticos e intelectuais da Alemanha durante os anos anteriores à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e que se prolongaria até ao fim do período entre-guerras (1918-1939). Angústia que suscitou um desejo veemente de transformar a vida, de alargar as dimensões da imaginação e de renovar a linguagem artística. O expressionismo defendia a liberdade individual, o primado da subjectividade, o irracionalismo, o arrebatamento e os temas proibidos – o excitante, diabólico, sexual, fantástico ou perverso. Pretendeu ser o reflexo de uma visão subjectiva e emocional da realidade, materializada através da expressividade dos meios plásticos, que adquiriram uma dimensão metafísica, abrindo os sentidos ao mundo interior. Muitas vezes visto como genuína expressão da alma alemã, o seu carácter existencialista, o seu anseio metafísico e a sua visão trágica do ser humano são características inerentes a uma concepção existencial aberta ao mundo espiritual e às questões da vida e da morte. Fruto das peculiares circunstâncias históricas em que surge, o expressionismo veio revelar o lado pessimista da vida e a angústia existencialista do indivíduo, que na sociedade moderna, industrializada, se vê alienado e isolado.
O expressionismo não foi um movimento homogéneo, coexistindo vários polos artísticos com uma grande diversidade estilística, como a corrente modernista (Munch), fauvista (Rouault), cubista e futurista (Die Brücke), surrealista (Klee), ou a abstracta(Kandinsky). Embora o seu maior polo de difusão se encontrasse na Alemanha, o expressionismo manifestou-se também por meio de artistas provenientes de outras partes da Europa como ModiglianiChagallSoutine ou Permeke, e no continente americanocomo, por exemplo, os mexicanos OrozcoRiveraSiqueiros e o brasileiro Portinari. Na Alemanha existiram dois grupos dominantes:Die Brücke (fundado em 1905), e Der Blaue Reiter (fundado em 1911), embora tenha havido artistas independentes e não afiliados com nenhum dos grupos. Depois da Primeira Guerra Mundial surge a Nova Objetividade que, embora tenha sido uma reação aoindividualismo expressionista e procurasse a função social na arte, a sua distorção das formas e o seu intenso colorido fazem do grupo um herdeiro directo da primeira geração expressionista.

Definição[editar | editar código-fonte]


Ecce homo (1925), de Lovis Corinth, Pinacoteca de Basileia.
A transição do século XIX para XX assistiu a inúmeras transformações políticas, sociais e culturais. A burguesia vive um período áureo de grande ostentação económica e influência política, a Belle Époque, que se manifestaria nas artes através do modernismo, movimento artístico que responde ao luxo e ostentação copiosos procurados pela nova classe dirigente. No entanto o receio perante a ocorrência de um novo episódio revolucionário, face às constantes revoluções ocorridas ao longo de todo o século XIX desde aRevolução Francesa (o último em 1871, durante a Comuna de Paris), levou a classe política a decretar uma série de concessões sociais, como a reforma laboral, a segurança social e o ensino básico obrigatório. A queda da taxa de analfabetismo e o aumento daliteracia traduziu-se no crescimento assinalável dos meios de comunicação social, e numa difusão dos fenómenos culturais a uma escala e velocidade sem precedentes que estaria na origem da cultura de massas.2
O progresso tecnológico no campo das artes, sobretudo depois da aparição da fotografia e do cinema, faz com que toda a comunidade artística se interrogue sobre o seu papel na sociedade. A imitação da realidade deixou de fazer sentido, uma vez que as novas técnicas tornaram o processo mais fácil, rápido e reprodutível. As novas teorias científicas como a teoria da relatividade deEinstein, a psicanálise de Freud ou a subjectividade do tempo de Bergson, abriram a porta a noções subjectivas da realidade, fornecendo elementos para que o mundo artístico se questionasse sobre as próprias fronteiras da objectividade. A procura de novas linguagens artísticas e novas formas de expressão traduziu-se na formação de vários movimentos de vanguarda que exploravam uma nova relação do artista com o público. Os vanguardistas pretendem integrar a arte com a própria sociedade e fazer da sua obra uma expressão do inconsciente coletivo da sociedade que representava. Por sua vez, a interacção com o espectador leva a que este se envolva na percepção e compreensão da obra, assim como na sua difusão e mercantilização, factor que estará na origem do crescimento exponencial das galerias de arte e dos museus.3
O expressionismo integra aquilo que se convencionou designar por "vanguardas históricas"; o imenso grupo de movimentos artísticos surgidos desde o início do século XX anterior à I Guerra Mundial até o fim da II Guerra Mundial em 1945. Esta designação inclui ainda, entre outros, o fauvismo, o cubismo, o futurismo, o construtivismo, oneoplasticismo, o dadaísmo e o surrealismo. A vanguarda está intimamente ligada ao conceito de modernidade, caracterizado pelo fim do determinismo e da supremacia da religião, substituídos pela razão e pela ciência, pelo objectivismo e pelo individualismo, e pela a confiança na tecnologia, no progresso e nas próprias capacidades do ser humano. O artista pretende desta forma colocar-se a si próprio na linha da frente do progresso social e dar voz às ideias progressistas através da sua obra.4
O termo "expressionismo" foi utilizado pela primeira vez pelo pintor francês Julien-Auguste Hervé, que usou a palavra "expressionisme" para designar uma série de quadros apresentados no Salão dos Independentes de Paris em 1901, assumindo a sua diferença em relação ao impressionismo. O termo alemão "expressionismus" foi adaptado directamente do francês5 , tendo sido referido pela primeira vez no catálogo da XXII Exposição da Secessão de Berlim em 1911, que reunia obras de artistas alemães e franceses. Na literatura, foi usado pela primeira vez em 1911 pelo crítico Kurt Hiller.6 Já numa fase posterior, o termo "expressionismo" foi popularizado pelo escritor Herwarth Walden, editor da revista Der Sturm (A tormenta), que se viria a tornar o principal meio de divulgação do expressionismo alemão. Walden usou inicialmente o termo para todas as vanguardas surgidas entre 1910 e 1920. O seu uso de forma exclusiva para a arte alemã de vanguarda surge a partir de uma proposta de Paul Fechter no seu livro Der Expressionismus (1914) que, com base nas teorias de Worringer, veio a estabelecer uma relação entre as novas manifestações artísticas e a expressão da alma coletiva alemã.7

Tirol (1914), de Franz Marc, Staatsgalerie Moderner Kunst, Munique.
O expressionismo surge a partir de uma reacção ao impressionismo. Ao contrário dos impressionistas, que procuravam no espaço da tela transmitir uma "impressão" do mundo à sua volta, os expressionistas procuravam representar o seu próprio mundo interior, uma "expressão" dos seus próprios sentimentos. A linha e a cor são usadas de forma emotiva e carregadas de simbolismo. Esta ruptura com a geração precedente fez com que o expressionismo se tornasse sinónimo de arte moderna durante os primeiros anos do século XX.8 O expressionismo implicou um novo conceito da arte, entendida como uma forma de captar a existência, de transluzir em imagens o substrato que subjace sob a realidade aparente, de refletir o imutável e eterno do ser humano e a natureza. Assim, o expressionismo foi o ponto de partida de um processo de transmutação da realidade que cristalizou no expressionismo abstrato e oinformalismo. Os expressionistas utilizavam a arte como uma forma de refletir os seus sentimentos, o seu estado anímico, propenso pelo general à melancolia, à evocação, a um decadentismo de corte neorromântico. Assim, a arte era uma experiência catárquica, onde se purificavam os desafogos espirituais, a angústia vital do artista.9
Na gênese do expressionismo, um fator fundamental foi a recusa do positivismo, do progresso cientificista, da crença nas possibilidades ilimitadas do ser humano baseadas na ciência e a técnica. Por outro lado, começou um novo clima de pessimismo, de ceticismo, de descontentamento, de crítica, de perda de valores. Vislumbrava-se uma crise no desenvolvimento humano, que efetivamente foi confirmada com o estouro da Primeira Guerra Mundial.10 Também cabe destacar-se na Alemanha a recusa do regime imperialista de Guilherme II por parte de uma minoria intelectual, afogada pelo militarismo pangermanista do cáiser. Estes fatores propiciaram um caldo de cultura no que o expressionismo se foi gestando progressivamente, com umas primeiras manifestações no terreno da literatura: Frank Wedekind denunciou nas suas obras a moral burguesa, frente à qual opunha a liberdade passional dos instintos; Georg Trakl evadiu-se da realidade refugiando-se num mundo espiritual criado pelo artista; Heinrich Mann foi quem mais diretamente denunciou a sociedade guilhermina.11
A aparição do expressionismo num país como a Alemanha não foi um fato aleatório, mas é explicado pelo profundo estudo da arte durante o século XIX pelos filósofos, artistas e teóricos alemães, do romantismo e as múltiplas contribuições para o campo da estética de personagens como Wagner e Nietzsche, para a estética cultural e para a obra de autores como Konrad Fiedler ("Para julgar obras de arte visual", 1876), Theodor Lipps ("Estética", 1903-1906) e Wilhelm Worringer ("Abstração e empatia", 1908). Esta corrente teórica deixou uma profunda marca nos artistas alemães de finais do século XIX e princípios do XX, centrada sobretudo na necessidade de se expressar do artista (a "innerer Drang" ou necessidade interior, princípio que assumiu posteriormente Kandinsky), bem como a constatação de uma ruptura entre o artista e o mundo exterior, o ambiente que o envolve, fato que o torna num ser introvertido e alienado da sociedade. Também influiu a mudança acontecida no ambiente cultural da época, que se afastou do gosto clássicogreco-romano para admirar a arte popular, primitiva e exótica –sobretudo da ÁfricaOceania e Extremo Oriente–, bem como a arte medieval e a obra de artistas como Grünewald, Brueghel e El Greco.12

"O ginete circense" (1913), de Ernst Ludwig Kirchner, Pinakothek der Moderne,Munique.
Na Alemanha, o expressionismo foi mais um conceito teórico, uma proposta ideológica, do que um programa artístico coletivo, se bem que se aprecia um selo estilístico comum a todos os seus membros. Frente ao academicismo imperante nos centros artísticos oficiais, os expressionistas agruparam-se em torno de diversos centros de difusão da nova arte, especialmente em cidades comoBerlimColôniaMuniqueHanôver e Dresde. Assim mesmo, o seu trabalho difusor através de publicações, galerias e exposições ajudaram a estender o novo estilo por toda Alemanha e, mais tarde, toda Europa.8 Foi um movimento heterogêneo que, à parte da diversidade das suas manifestações, realizadas em diversas linguagens e meios artísticos, apresentou numerosas diferenças e até mesmo contradições no seu seio, com grande divergência estilística e temática entre os diversos grupos que surgiram ao longo do tempo, e até mesmo entre os próprios artistas que os integravam. Até mesmo os limites cronológicos e geográficos desta corrente são imprecisos: se bem que a primeira geração expressionista (Die BrückeDer Blaue Reiter) foi a mais emblemática, a Nova Objetividade e a exportação do movimento a outros países implicou a sua continuidade no tempo ao menos até a Segunda Guerra Mundial; geograficamente, se bem que o centro neurálgico deste estilo se situou na Alemanha, pronto se estendeu por outros países europeus e inclusive do continente americano.13
Depois da Primeira Guerra Mundial o expressionismo passou na Alemanha da pintura ao cinema e ao teatro, que utilizavam o estilo expressionista nos seus décors, mas de modo puramente estético, desprovido do seu significado original, da subjetividade e do pungimento próprios dos pintores expressionistas, que se tornaram paradoxalmente em artistas malditos.14 Com o advento donazismo, o expressionismo foi considerado como "arte degenerada" (Entartete Kunst), relacionando-o com o comunismo e tachando-o de imoral e subversivo, ao tempo que consideraram que a sua fealdade e inferioridade artística eram um signo dadecadência da arte moderna (o decadentismo, pela sua vez, fora um movimento artístico que teve certo desenvolvimento). Em 1937uma exposição foi organizada no Hofgarten de Munique com o título precisamente de Arte degenerada, visando injuriá-lo e mostrar ao público a baixa qualidade da arte produzida na República de Weimar. Para tal fim foram confiscadas cerca de 16 500 obras de diversos museus, não apenas de artistas alemães, mas de estrangeiros comoGauguinVan GoghMunchMatissePicassoBraque e Chagall. A maioria dessas obras foram vendidas posteriormente a galeristas e marchands, sobretudo num grande leilão celebrado em Lucerna em 1939, embora cerca de 5000 dessas obras foram diretamente destruídas em março de 1939, supondo um notável prejuízo para a arte alemã.15
Após a Segunda Guerra Mundial o expressionismo desapareceu como estilo, se bem que exercesse uma poderosa influência em muitas correntes artísticas da segunda metade de século, como o expressionismo abstrato norte-americano (Jackson PollockMark RothkoWillem de Kooning), o informalismo (Jean FautrierJean Dubuffet), o grupo CoBrA(Karel AppelAsger JornCorneillePierre Alechinsky) e o neoexpressionismo alemão –diretamente herdeiro dos artistas de Die Brücke e Der Blaue Reiter, o qual é patente no seu nome, e artistas individuais como Francis BaconAntonio SauraBernard BuffetNicolas de Staël e Horst Antes.16

Origens e influências[editar | editar código-fonte]


A Crucificação, tábua central do Retábulo de Issenheim (1512-1516), de Matthias GrünewaldMuseu de UnterlindenColmar.
Embora por expressionismo fosse conhecido nomeadamente o movimento artístico desenvolvido na Alemanha em princípios do século XX, muitos historiadores e críticos da arte também empregam este termo mais genericamente para descrever o estilo de grande variedade de artistas ao longo de toda a História. Entendida como a deformação da realidade para buscar uma expressão mais emocional e subjetiva da natureza e do ser humano, o expressionismo é pois extrapolável a qualquer época e espaço geográfico. Assim, com frequência qualificou-se de expressionista a obra de diversos autores como Hieronymus BoschMatthias GrünewaldQuentin MatsysPieter Brueghel, o VelhoEl GrecoFrancisco de Goya e Honoré Daumier.1
As raízes do expressionismo encontram-se em estilos como o simbolismo e o pós-impressionismo, bem como nos Nabis e em artistas como Paul CézannePaul Gauguin e Vincent Van Gogh. Assim mesmo, têm pontos de contato com o neoimpressionismo e ofauvismo pela sua experimentação com a cor.8 Os expressionistas receberam numerosas influências: em primeiro lugar a da arte medieval, especialmente a gótica alemã. De signo religioso e caráter transcendente, a arte medieval punha ênfase na expressão, não nas formas: as figuras tinham pouca corporeidade, perdendo interesse pela realidade, as proporções, a perspectiva. Por outro lado, acentuava a expressão, sobretudo na olhada: as personagens eram simbolizas mais que representadas. Assim, os expressionistas inspiraram-se nos principais artistas do gótico alemão, desenvolvido através de duas escolas fundamentais: o estilo internacional (finais do século XIV-primeira metade do XV), representado por Conrad Soest e Stefan Lochner; e o estilo flamengo(segunda metade do século XV), desenvolvido por Konrad WitzMartin Schongauer e Hans Holbein, o Velho. Também se inspiraram na escultura gótica alemã, que salientou pela sua grande expressividade, com nomes como Veit Stoss e Tilman Riemenschneider. Outro ponto de referência foi Matthias Grünewald, pintor tardo-medieval que, embora conhecesse as inovações do Renascimento, seguiu numa linha pessoal, caracterizada pela intensidade emocional, uma expressiva distorção formal e um intenso colorido incandescente, como na sua obra mestra, o Retábulo de Isenheim.17
Outro dos referentes da arte expressionista foi a arte primitiva, especialmente a da África e Oceania, difundida desde finais do século XIX pelos museus etnográficos. As vanguardas artísticas encontraram na arte primitiva uma maior liberdade de expressão, originalidade, novas formas e materiais, uma nova concepção do volume e da cor, bem como uma maior transcendência do objeto, pois nestas culturas não eram simples obras de arte, mas tinham uma finalidade religiosa, mágica, totêmica, votiva, suntuária. São objetos que expressam uma comunicação direta com a natureza e com as forças espirituais, com cultos e rituais, sem nenhum de tipo de mediação ou interpretação.18

A igreja de Auvers-sur-Oise(1890), de Vincent Van Gogh,Musée d'OrsayParis.
Mas a maior inspiração veio do pós-impressionismo, especialmente da obra de três artistas: Paul Cézanne, que começou um processo de desfragmentação da realidade em formas geométricas que terminou no cubismo, reduzindo as formas a cilindroscones e esferas, e dissolvendo o volume a partir dos pontos mais essenciais da composição. Colocava a cor por camadas, imbricando umas cores com outras, sem necessidade de linhas, trabalhando com manchas. Não utilizava a perspectiva, mas a superposição de tons cálidos e frios davam sensação de profundeza. Em segundo lugar Paul Gauguin, que contribuiu uma nova concepção entre o plano pictórico e a profundeza do quadro, através de cores planas e arbitrárias, que têm um valor simbólico e decorativo, com cenas de difícil classificação, situadas entre a realidade e um mundo onírico e mágico. A sua estadia em Tahiti provocou que a sua obra derivasse em um certo primitivismo, com influência da arte da Oceania, refletindo o mundo interior do artista em vez de imitar a realidade. Finalmente, Vincent Van Gogh elaborava a sua obra segundo critérios de exaltação anímica, caracterizando-se pela falta de perspectiva, a instabilidade dos objetos e cores, roçando a arbitrariedade, sem imitar a realidade, mas provêm do interior do artista. Devido à sua frágil saúde mental, as suas obras são reflexo do seu estado de ânimo, depressivo e torturado, refletindo-se em obras de pinceladas sinuosas e cores violentas.19
Cabe sublinhar a influência de dois artistas que os expressionistas consideraram como precedentes imediatos: o norueguês Edvard Munch, influenciado nos seus começos pelo impressionismo e o simbolismo, pronto derivou para um estilo pessoal que seria fiel reflexo do seu interior obsessivo e torturado, com cenas de ambiente opressivo e enigmático –centradas no sexo, a doença e a morte–, caracterizadas pela sinuosidade da composição e um colorido forte e arbitrário. As imagens angustiosas e desesperadas de Munch –como em O Grito(1893), paradigma da solidão e da incomunicação– foram um dos principais pontos de arranque do expressionismo.20 Igual de influente foi a obra do belga James Ensor, que recolheu a grande tradição artística do seu país –em especial Brueghel–, com preferência por temas populares, traduzindo-o em cenas enigmáticas e irreverentes, de caráter absurdo e burlesco, com um senso do humor ácido e corrosivo, centrado em figuras de vagabundos, borrachos, esqueletos, máscaras e cenas de carnaval. Assim, "A entrada de Cristo em Bruxelas" (1888) representa a Paixão de Jesus no meio de um desfile de carnaval, obra que causou um grande escândalo no seu momento.21

Arquitetura[editar | editar código-fonte]


Goetheanum (1923), de Rudolf Steiner,Dornach.
arquitetura expressionista desenvolveu-se nomeadamente na AlemanhaPaíses BaixosÁustriaChecoslováquia e Dinamarca. Caracterizou-se pelo uso de novos materiais, suscitado ocasionalmente pelo uso de formas biomórficas ou pela ampliação de possibilidades oferecida pela fabricação massiva de materiais de construção como o tijolo, o aço ou o vidro. Muitos arquitetos expressionistas combateram na Primeira Guerra Mundial, e a sua experiência, combinada com os câmbios políticos e sociais produto da Revolução Alemã de 1918-1919, terminaram em perspectivas utópicas e um programa socialista romântico. A arquitetura expressionista recebeu a influência do modernismo, sobretudo da obra de arquitetos como Henry van de VeldeJoseph Maria Olbrich e Antoni Gaudí. De caráter fortemente experimental e utópico, as realizações dos expressionistas destacam-se pela sua monumentalidade, o emprego do tijolo e da composição subjetiva, que outorga às suas obras certo ar de excentricidade.22
Um contribuinte teórico à arquitetura expressionista foi o ensaio Arquitetura de cristal (1914) de Paul Scheerbart, no que ataca ofuncionalismo pela sua falta de artisticidade e defende a substituição do tijolo pelo cristal. Assim, por exemplo, o Pavilhão de Cristal da Exposição de Colônia de 1914, de Bruno Taut, autor que também plasmou o seu ideário por escrito (Arquitetura alpina, 1919).23A arquitetura expressionista desenvolveu-se em diversos grupos, como a Deutscher WerkbundArbeitsrat für KunstDer Ring e Neus Bauen, ligado este último à Nova Objetividade; também cabe destacar-se a Escola de Amsterdam. Os principais arquitetos expressionistas foram Bruno TautWalter GropiusErich MendelsohnHans Poelzig,Hermann FinsterlinFritz HögerHans Scharoun e Rudolf Steiner.

Deutscher Werkbund[editar | editar código-fonte]


Pavilhão de Cristal para a Exposição deColônia de 1914, de Bruno Taut.
Deutscher Werkbund (Federação alemã do trabalho) foi o primeiro movimento arquitetônico relacionado ao expressionismo na Alemanha. Fundada em Munique a 9 de outubro de 1907 por Hermann MuthesiusFriedrich Naumann e Karl Schmidt, incorporou posteriormente figuras como Walter Gropius, Bruno Taut, Hans Poelzig, Peter BehrensTheodor FischerJosef HoffmannWilhelm KreisAdelbert Niemeyer e Richard Riemerschmidt. Herdeira do Jugendstil e da Sezession vienesa, e inspirada no movimento Arts & Crafts, o seu objetivo era a integração de arquitetura, indústria e artesanato através do trabalho profissional, da educação e da publicidade, bem como introduzir o desenho arquitetônico na modernidade e conferir-lhe um caráter industrial. As principais características do movimento foram o uso de novos materiais como o vidro e o aço, a importância do desenho industrial e o funcionalismo decorativo.24
Deutscher Werkbund organizou diversas conferências publicadas posteriormente em forma de anuários, como A arte na indústria e no comércio (1913) e O transporte (1914). Assim mesmo, em 1914 celebraram uma exposição em Colônia que obteve um grande sucesso e difusão internacional, destacando-se o pavilhão de vidro e aço desenhado por Bruno Taut. O sucesso da exposição provocou um grande auge do movimento, que passou de ter 491 membros em 1908 a 3000 em 1929.25 Durante a Primeira Guerra Mundial esteve prestes a desaparecer, mas ressurgiu em 1919 após uma convenção em Stuttgart, onde Hans Poelzig foi eleito presidente –substituído em 1921 por Riemerschmidt–. Durante esses anos decorreram várias controvérsias sobre se devia primar o desenho industrial ou o artístico, ocorrendo diversas dissensões no grupo.
Na década de 1920 o movimento derivou do expressionismo e do artesanato para o funcionalismo e a indústria, incorporando novos membros como Ludwig Mies van der Rohe. Uma nova revista foi editada, Die Form (1922-1934), que difundiu as novas ideias do grupo, centradas no aspecto social da arquitetura e no desenvolvimento urbanístico. Em1927 celebraram uma nova exposição em Stuttgart, construindo uma grande colônia de moradias, a Weissenhofsiedlung, com desenho de Mies van der Rohe e edifícios construídos por Gropius, Behrens, Poelzig, Taut, etc., junto a arquitetos de fora da Alemanha como Jacobus Johannes Pieter OudLe Corbusier e Victor Bourgeois. Esta amostra foi um dos pontos de partida do novo estilo arquitetônico que começava a surgir, conhecido como estilo internacional ou racionalismo. A Deutscher Werkbunddissolveu-se em 1934 devido nomeadamente à crise econômica e ao nazismo. O seu espírito influiu enormemente na Bauhaus, e inspirou a fundação de organismos parecidos em outros países, como SuíçaÁustriaSuécia e Grã-Bretanha.26

Escola de Amsterdam[editar | editar código-fonte]

Paralelamente à Deutscher Werkbund alemã, entre 1915 e 1930 uma notável escola arquitetônica de caráter expressionista desenvolveu-se em Amsterdam (Países Baixos). Influenciados pelo modernismo (nomeadamente Henry van de Velde e Antoni Gaudí) e por Hendrik Petrus Berlage, inspiraram-se nas formas naturais, com edifícios de desenho imaginativo onde predomina o uso do tijolo e do concreto. Os seus principais membros foram Michel de KlerkPiet Kramer e Johan van der Mey, que trabalharam conjuntamente múltiplas vezes, contribuindo em grande maneira ao desenvolvimento urbanístico de Amsterdam, com um estilo orgânico inspirado na arquitetura tradicional holandesa, destacando-se as superfícies onduladas. As suas principais obras foram Scheepvaarthuis (Van der Mey, 1911-1916) e Eigen Haard Estate (De Klerk, 1913-1920).27

Arbeitsrat für Kunst[editar | editar código-fonte]

Arbeitsrat für Kunst (Conselho de trabalhadores da arte) foi fundado em 1918 em Berlim pelo arquiteto Bruno Taut e o crítico Adolf Behne. Surgido após o fim da Primeira Guerra Mundial, o seu objetivo era a criação de um grupo de artistas que pudesse influir no novo governo alemão, com vistas à regeneração da arquitetura nacional, com um claro componente utópico. As suas obras destacam-se pelo uso do vidro e do aço, bem como pelas formas imaginativas e carregadas de um intenso misticismo. De seguida captaram membros provenientes da Deutscher Werkbund, como Walter Gropius, Erich Mendelsohn, Otto Bartning e Ludwig Hilberseimer, e contaram com a colaboração de outros artistas, como os pintoresLyonel FeiningerErich HeckelKarl Schmidt-RottluffEmil Nolde e Max Pechstein, e os escultores Georg KolbeRudolf Belling e Gerhard Marcks. Esta variedade é explicada porque as aspirações do grupo eram mais políticas que artísticas, visando a influir nas decisões do novo governo em torno à arte e à arquitetura. Contudo, após os acontecimentos de janeiro de 1919 relacionados à Liga Espartaquista, o grupo renunciou aos seus fins políticos, dedicando-se a organizar exposições. Taut demitiu como presidente, sendo substituído por Gropius, embora finalmente se dissolvessem a 30 de maio de 1921.28

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https://pt.wikipedia.org/wiki/Expressionismo