Expressionismo III

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Outros artistas[editar | editar código-fonte]

Alguns artistas não se adscreveram a nenhum grupo, desenvolvendo de jeito pessoal um expressionismo fortemente intuitivo, de diversas tendências e estilos:
  • Paula Modersohn-Becker: estudou em Bremen e Hamburgo, instalando-se posteriormente na colônia de artistas de Worpswede(1897), enquadrada então num paisagismo próximo da Escola de Barbizon. Contudo, o seu interesse por Rembrandt e pelos pintores alemães medievais levaram para a procura de uma arte mais expressiva. Influenciada pelo pós-impressionismo, bem como por Nietzsche e Rilke, começou a empregar nas suas obras cores e formas aplicados simbolicamente. Numas visitas a Paris entre 1900 e 1906 recebeu a influência de Cézanne, Gauguin e Maillol, combinando de um modo pessoal as formas tridimensionais de Cézanne e os desenhos lineais de Gauguin, nomeadamente em retratos e cenas maternas, bem como nus, evocadores de uma nova concepção na relação do corpo com a natureza.90
  • Lovis Corinth: formado no impressionismo –do qual foi uma das principais figuras na Alemanha, junto a Max Liebermann e Max Slevogt–, derivou na sua maturação para o expressionismo com uma série de obras de introspeção psicológica, com uma temática centrada no erótico e macabro. Após um ataque cerebral que padeceu em 1911 e que paralisou a sua mão direita, aprendeu a pintar com a esquerda. Se bem que seguiu ancorado na impressão óptica como método de criação das suas obras, cobrou um crescente protagonismo a expressividade, culminando em O Cristo vermelho (1922), cena religiosa de notável angústia próxima às visões de Nolde.91
  • Christian Rohlfs: de formação acadêmica, dedicou-se nomeadamente à paisagem em estilo realista, até terminar no expressionismo quase em cinquenta anos de idade. O fato determinante para a mudança pôde ser a sua contratação em 1901 como professor da escola-museu Folkwang de Hagen, na qual pôde contatar com as melhores obras da arte moderna internacional. Assim, a partir de 1902 começou a aplicar a cor mais sistematicamente, à maneira pontilhista, com um colorido luminoso. Recebeu mais tarde a influência de Van Gogh, com paisagens de pincelada rítmica e pastosa, em faixas onduladas, sem profundeza. Finalmente, após uma exposição de Die Brücke no Folkwang em 1907, provou novas técnicas, como a xilografia e o linóleo, com acentuados contornos pretos. A sua temática era variada, embora focada em temas bíblicos e damitologia nórdica.92
  • Wilhelm Morgner: aluno de Georg Tappert, pintor vinculado à colônia de Worpswede, cujo paisagismo lírico influiu-no em primeiro lugar, evoluiu mais tarde a um estilo mais pessoal e expressivo, influenciado pelo cubismo órfico, onde ganham importância as linhas de cor, com pinceladas pontilhistas que se justapõem formando algo parecido com um tapiz. Ao acentuar a cor e a linha, abandonou a profundeza, em composições planas nas que os objetos se situam em paralelo, e as figuras costumam serem representadas de perfil. Desde 1912 ganhou importância na sua obra a temática religiosa, em composições quase abstratas, com linhas simples traçadas com a cor.93

O grupo de Viena[editar | editar código-fonte]


Casal de mulheres (1915), deEgon Schiele, Magyar Szépmüvészeti Múzeum,Budapeste.
Em Áustria, os expressionistas receberam a influência do modernismo alemão (Jugendstil) e austríaco (Sezession), bem como dos simbolistas Gustav Klimt e Ferdinand Hodler. O expressionismo austríaco destacou-se pela tensão da composição gráfica, deformando a realidade subjetivamente, com uma temática nomeadamente erótica –representada por Schiele– ou psicológica –representada por Kokoschka–.94 Em contraste com o impressionismo e a arte acadêmica do século XIX preponderante na Áustria do novo século, os novos artistas austríacos seguiram a estela de Klimt, à procura de uma maior expressividade, refletindo nas suas obras uma temática existencial de grande fundo filosófico e psicológico, focado na vida e a morte, a doença e o dor, o sexo e o amor.95
Os seus principais representantes foram Egon SchieleOskar KokoschkaRichard GerstlMax OppenheimerAlbert Paris von Gütersloh eHerbert Boeckl, além de Alfred Kubin, membro de Der Blaue Reiter. Caberia destacar-se a obra de dois artistas:
  • Egon Schiele: discípulo de Klimt, a sua obra girou em uma temática baseada na sexualidade, a solidão e a incomunicação, com certo ar de voyeurismo, com obras explícitas pelas quais até mesmo esteve preso, acusado de pornografia. Dedicado nomeadamente ao desenho, outorgou um papel essencial à linha, com a que baseou as suas composições, com figuras estilizadas imersas num espaço opressivo, tenso. Recriou uma tipologia humana reiterativa, com um cânone alongado, esquemático, afastado do naturalismo, com cores vivas, exaltadas, destacando-se o caráter linear, o contorno.96
  • Oskar Kokoschka: recebeu a influência de Van Gogh e do passado clássico, nomeadamente o barroco (Rembrandt) e a escola veneziana (TintorettoVeronese). Também esteve ligado à figura de Klimt, bem como do arquiteto Adolf Loos. Contudo, criou o seu próprio estilo pessoal, visionário e atormentado, em composições nas quais o espaço cobra grande protagonismo, um espaço denso, sinuoso, no qual se vem submergidas as figuras, que aboiam nele imersas numa corrente centrífuga que produz um movimento espiral. A sua temática costumava ser o amor, a sexualidade e a morte, dedicando-se também por vezes ao retrato e à paisagem.97 As suas primeiras obras tinham um estilo medieval e simbolista próximo dos Nabis ou da época azul de Picasso. Desde 1906, em que conheceu a obra de Van Gogh, começou num tipo de retrato de corte psicológico, que visava a refletir o desequilíbrio emocional do retratado, com supremacia da linha sobre a cor. As suas obras mais puramente expressionistas destacam-se pelas figuras retorcidas, de expressão torturada e apaixonamento romântico, como A esposa do vento (1914). Desde os anos 1920 dedicou-se mais à paisagem, com um certo aspecto barroco, de pincelada mais leve e cores mais brilhantes.98

Escola de Paris[editar | editar código-fonte]


Nu deitado (1919), de Amedeo ModiglianiMuseum of Modern ArtNova York.
Denomina-se Escola de Paris a um grupo heterodoxo de artistas que trabalharam em Paris no período entre-guerras(19051940), ligados a diversos estilos artísticos como o pós-impressionismo, o expressionismo, o cubismo e o surrealismo. O termo abrange uma grande variedade de artistas, tanto franceses quanto estrangeiros que residiam na capital francesa no intervalo entre as duas guerras mundiais. Naquela época, Paris era um fértil centro de criação e difusão artística, tanto pelo seu ambiente político, cultural e econômico, quanto por ser a origem de diversos movimentos da vanguarda, como o fauvismo e o cubismo, além de ser lugar de residência de grandes mestres como Picasso, Braque, Matisse e Léger. Também era um remarcável centro de colecionismo e de galerias de arte. A maioria de artistas residia nos bairros de Montmartre e Montparnasse, e caracterizava-se pela sua vida mísera e boêmia.99
Na Escola de Paris houve uma grande diversidade estilística, se bem que a maioria estiveram ligados com maior ou menor intensidade ao expressionismo, embora interpretado de jeito pessoal e heterodoxo: artistas como Amedeo ModiglianiChaïm SoutineJules Pascin e Maurice Utrillo foram conhecidos como Les maudits ("Os malditos"), pela sua arte boêmia e torturada, reflexo de um ambiente notâmbulo, miserável e desesperado. Por outro lado, Marc Chagall representa um expressionismo mais vitalista, mais dinâmico e colorista, sintetizando a sua iconografia russa natal com o colorido fauvista e com o espaço cubista.100
Os membros mais destacados da escola foram:
  • Amedeo Modigliani: instalou-se em Montmartre em 1906, onde se reunia em "O coelho ágil" com Picasso, Max JacobApollinaire, Soutine, etc. Influenciado pelo simbolismo e pelo maneirismo (PontormoParmigianino), dedicou-se nomeadamente à paisagem, o retrato e o nu, com figuras alongadas inspiradas nos mestres italianos doCinquecentoHedonista, procurava a felicidade, o agradável, pelo qual não lhe interessava a corrente destrutiva nietzscheana do expressionismo alemão. Nas suas obras sublinhava com força o contorno, de linhas fluidas, herdeiras do arabesco modernista, enquanto o espaço se formava por justaposição de planos de cor. Os seus retratos eram de grande introspeção psicológica, ao que contribuía uma certa deformação e a transmissão desse ar melancólico e desolado próprio da sua visão boêmia e angustiada da vida. Dedicou-se também à escultura, com influência de Brâncuşi, bem como maneirista e africana, com obras simétricas, alongadas, frontais, próximas à escultura arcaica grega.101
  • Marc Chagall: instalado em Paris em 1909, realizou obras de caráter onírico, próximas a um certo surrealismo, distorcendo a realidade ao seu capricho. Empregava uma gama de cor exaltada, principal nexo de união com o expressionismo alemão –embora ele não se considerasse expressionista–, em temas populares e religiosos, com desproporção e falta de interesse pela hierarquização na narração dos fatos. Influenciado pelo fauvismo, o cubismo e o futurismo, as suas cenas encontram-se num espaço irreal, alheio a regras de perspectiva ou de escala, num mundo no que evoca as suas lembranças infantis e os temas populares russos e judeus, misturados com o mundo dos sonhos, com a música e com a poesia. Tomou de Delaunay a transparência de planos e cores, bem como a criação de espaço através da cor e da simultaneidade temporária mediante a justaposição de imagens. Entre 1914 e 1922 voltou para a Rússia, onde foi comissário cultural na Escola de Belas-Artes de Vitebsk. De volta para Paris, evoluiu para o surrealismo.102
  • Georges Rouault: ligado em princípio ao simbolismo –foi discípulo de Gustave Moreau– e ao fauvismo, a sua temática de índole moral –centrada no religioso– e o seu colorido obscuro acercaram-no ao expressionismo. As suas obras mais emblemáticas foram as de nus femininos, com um ar amargo e desagradável, com figuras lânguidas e esbranquiçadas (Odaliscas, 1907); cenas circenses, nomeadamente de palhaços, com ar caricaturesco, sublinhando notavelmente os contornos (Cabeça de um palhaço trágico, 1904); e cenas religiosas, com desenho mais abstrato e colorido mais intenso (A Paixão, 1943). A obra de Rouault –especialmente as obras religiosas– tinha uma forte carga de denúncia social, de increpação para os vícios e defeitos da sociedade burguesa; até mesmo numa temática como a circense enfatizava o seu lado mais negativo e deprimente, sem concessões cômicas ou sentimentais, com um aspecto sórdido e cruel. Sentia predileção pelo guache e pela aquarela, com tons obscuros e superfícies salpicadas, em camadas superpostas de pigmentos translúcidos, com um grafismo de linhas quebradas que enfatizava a expressividade da composição.103

Cena de café, de Jules PascinMuseum of Fine ArtsBoston.
  • Jules Pascin: de origem búlgara e ascendência judaica, instalou-se em Paris após breves estadias em Berlim, Viena ePraga; em 1914 transladou-se aos Estados Unidos, voltando para Paris em 1928 até o seu suicídio dois anos depois. A sua obra expressava o desarraigo e a alienação do desterrado, bem como as obsessões sexuais que marcaram desde a sua adolescência. Nos seus inícios mostrou a influência do fauvismo e do cubismo, bem como de Toulouse-Lautrec e Degas nos nus. Tinha uma delicada técnica, com uma linha finamente sugestionada e uma cor de tons iridescentes, mostrando nos seus despidos um ar lânguido e evanescente.104
  • Chaïm Soutine: russo de família judaica, instalou-se em Paris em 1911. A sua personalidade violenta e autodestrutiva provocava uma relação apaixonada com a sua obra, levando-o muitas vezes a romper os seus quadros, e refletindo-se numa pincelada forte e incontrolada e uma temática angustiosa e desolada, como no seu Boi aberto de cima a baixo(1925), inspirado no Boi esfolado de Rembrandt. Pintor impulsivo e espontâneo, tinha uma necessidade irrefreável de plasmar imediatamente na tela a sua emotividade interior, motivo pelo qual as suas obras carecem de qualquer preparação prévia. Influenciado por Rembrandt, El Greco e Tintoretto, o seu colorido é intenso, expressando com a direção das pinceladas os sentimentos do artista. Assim mesmo, segue o rasto de Van Gogh na impulsividade do gesto pictórico, sobretudo nas suas paisagens.105
  • Maurice Utrillo: artista boêmio e torturado, a sua atividade artística foi paralela à sua adição ao álcool. De obra autodidata e com certo aspecto naïf, dedicou-se nomeadamente à paisagem urbana, retratando magistralmente o ambiente popular do bairro de Montmartre, enfatizando o seu aspecto de solidão e opressão, refletido com uma técnica depurada e linear, de certa herança impressionista.106
Outros artistas que desenvolveram a sua obra no seio da Escola de Paris foram Lasar SegallEmmanuel Mané-KatzPinchus KrémègneMoïse KislingMichel Kikoïne e ojaponês Tsuguharu Foujita.

Outros países[editar | editar código-fonte]


Fertilidade, de Frits Van den Berghe, Kunstmuseum aan Zee,Oostende.
  • Bélgica: o expressionismo belga foi herdeiro do simbolismo primitivista, acusando igualmente uma forte influência do pintor renascentistaflamengo Pieter Brueghel, o Velho, bem como a de James Ensor, mestre dos expressionistas belgas. O primeiro grupo surgiu em 1914 na colônia de artistas de Sint-Martens-Latem, integrado por Albert ServaesGustave Van de WoestijneGustave De SmetFrits Van den Berghe e Constant Permeke. Contudo, a guerra dispersou o grupo: Permeke refugiou-se na Grã-Bretanha, e De Smet e Van den Berghe em Holanda. Fora do seu ambiente receberam numerosas influências, nomeadamente do cubismo e da arte africana. Passada a guerra, o expressionismo belga reviveu com notável força, sobretudo em torno à revista Selection e à galeria do mesmo nome, em Bruxelas. As influências do momento foram a do cubismo e da Escola de Paris, plasmadas num certo ar monumental e um enfoque social tendente ao ruralismo, com cenas costumbristas inspiradas nos clássicos flamengos. O movimento perdurou praticamente até o começo da Segunda Guerra Mundial, se bem que com um contínuo declínio desde 1930.107
  • Brasil: neste país temos a presença de Cândido Portinari, pintor de renome universal. De família pobre, estudou na Escola Nacional de Belas Artes de Rio de Janeiro. Em 1929 viajou para Europa, estabelecendo-se em Paris após percorrer Espanha, a Itália e Inglaterra, para voltar em 1931. Com influência de Picasso, na sua obra expressou o mundo dos pobres e desfavorecidos, dos operários e os agricultores. Outro nome a destacar-se seria o de Anita Malfatti, considerada a introdutora das vanguardas europeias e norte-americanas no Brasil. Em1910 viajou para Berlim, onde estudou com Lovis Corinth. A sua obra caracterizou-se pelas cores violentas, em retratos, nus, paisagens e cenas populares. Desde 1925 abandonou o expressionismo e começou uma carreira mais convencional.108 O xilógrafo carioca Oswaldo Goeldi, também é um representante do Expressionismo no Brasil juntamente com Lívio Abramo e Lasar Segall. Na Europa frequentou diversos ateliês onde aprimorou suas habilidades, aproximando-se da xilogravura, técnica muito difundida pelos Expressionistas Alemães da Die Brücke. Na década de 30 lançou o Álbum 10 Gravuras em Madeira de Oswaldo Goeldi e foi prolífico gravador, tendo trabalho quase exclusivamente com a Xilogravura até sua morte em 1961.109

Hipnotizador (1912), de Bohumil Kubišta, Galerie výtvarných uměni,Ostrava.
  • Checoslováquia: país surgido após a Primeira Guerra Mundial com a desmembração do Império Austro-Húngaro, as vanguardas chegaram com atraso, o que se traduziu numa certa mistura de estilos, decorrendo um expressionismo fortemente misturado com o cubismo. Os seus principais representantes foram Bohumil KubištaEmil Filla e Antonín Procházka. A obra de Filla é uma profunda reflexão sobre a guerra –ficou fortemente pontuado pela sua experiência no campo de concentração de Buchenwald–, com uma grande influência da pintura holandesa do século XVII. Procházka expressou a beleza e a poesia dos objetos mundanos, que visava transcender extraindo de eles uma visão idealizada mas muito descritiva, empregando com frequência a técnica da encáustica. Kubišta, influenciado por Van Gogh e Cézanne, foi membro temporariamente de Die Brücke. De formação autodidata e interessado pela filosofia e a óptica, estudou as cores e a construção geométrica da pintura. A sua obra evoluiu desde 1911 a um estilo mais influenciado pelo cubismo.110
  • Equador: cabe sublinhar a obra de Oswaldo Guayasamín. Estudou na Escola de Belas Artes de Quito. Entre 1942 e 1943 viajou pelos Estados Unidos e México, onde foi ajudante de Orozco. Um ano depois viajou por diversos países da América Latina, entre eles PeruBrasilChileArgentina e Uruguai, encontrando em todos eles uma sociedade indígena oprimida, temática que, desde então, apareceu sempre nas suas obras. Nas suas pinturas posteriores figurativas tratou temas sociais, simplificando as formas. A sua obra refletiu o dor e a miséria que suporta a maior parte da humanidade, denunciando a violência que lhe tocou viver ao ser humano no século XX, pontuado pelas guerras mundiais, os genocídios, os campos de concentração, as ditaduras e as torturas. Tem murais em Quito, Madrid (Aeroporto de Barajas), Paris (Sede da UNESCO), etc.
  • Estados Unidos: destacou-se Edward Hopper, membro da Escola Ashcan, caracterizada pelas suas representações de temática social nas grandes cidades, especialmente Nova Iorque. A sua pintura caracterizou-se por um peculiar e rebuscado jogo entre luzes e sombras, pela descrição dos interiores e pela representação da solidão, que implica um aspecto de incomunicação. Outro nome a sublinhar seria o de Max Weber, pintor de origem russa, que estudou no Pratt Institute de Brooklyn e em Paris (1905-1908), onde recebeu a influência de Cézanne. As suas primeiras obras foram de signo cubista e expressionista (Restaurante chinês, 1915, Museu Whitney de Arte Americana, Nova Iorque), evoluindo desde 1917 para a abstração, destacando-se pelo colorido brilhante, as distorções violentas e um forte tom emocional. Além disso, os Estados Unidos acolheram numerosos artistas expressionistas que emigraram por causa do nazismo, pelo qual este movimento cobrou aí um grande auge, exercendo uma poderosa influência entre os novos artistas, o qual se viu refletido no surgimento do expressionismo abstrato norte-americano.
  • Finlândia: destaca-se a obra de Akseli Gallen-Kallela, pintor adscrito por um tempo ao grupo Die Brücke. As suas primeiras pinturas estiveram impregnadas de romantismo, mas após a morte da sua filha realizou trabalhos mais agressivos, tais como a Defesa do SampoA vingança de Joujahainen ou A mãe de Lemminkainen. A sua obra focou-se no folclore finlandês, com um senso reivindicativo da sua cultura frente à ingerência russa. Outro importante expoente foi Tyko Sallinen: estudou arte em Helsínquia, residindo em Paris entre 1909 e 1914, onde recebeu a influência do fauvismo. A sua temática focou-se na paisagem carélia e na vida rural, com cores brilhantes de traço forte. Foi membro do Novembergruppe.112
  • França: posteriormente à Escola de Paris, desenvolveu-se na França entre 1920 e 1930 um "expressionismo francês" focado na obra de três artistas: Marcel Gromaire,Édouard Goerg e Amédée de La Patellière. Este grupo viu-se influenciado pelo cubismo, desenvolvendo um estilo mais sóbrio e conteúdo que o expressionismo alemão, com múltiplos pontos de contato com a escola flamenga. Também cabe salientar a figura individual de Gene Paul, pintor autodidata influenciado por Van Gogh e Cézanne, bem como por Velázquez, Goya e El Greco. As suas obras caracterizaram-se pelas pinceladas gestuais, composições atrevidas, perspectivas forçadas, uso de diagonais e zigue-zagues, e áreas planas de cor. Ao contrário de outros expressionistas da época, como Soutine e Rouault, as suas obras estão cheias de optimismo, impulsionado pela sua paixão pela vida e pelo desejo de superar a sua deficiência –foi ferido durante a guerra–. Pelo dinamismo e pelo movimento inerente nas suas pinturas, alguns críticos consideram Gene Paul um precursor do expressionismo abstrato.113

Cedro solitário (1907), de Tivadar Kosztka Csontváry, Csontváry Museum,Pécs.
  • Hungria: destaca-se a figura de Tivadar Kosztka CsontváryFarmacêutico de profissão, aos vinte e sete anos começou na pintura após uma visão mística que lhe revelou que seria um grande pintor. Desde 1890 realizou uma longa viagem pelo Mediterrâneo (DalmáciaItália e Grécia), pelo norte da África e pelo Oriente Médio (LíbanoPalestinaEgito e Síria). Embora a sua arte começasse a ser reconhecida, o seu caráter solitário, a sua progressiva esquizofrenia e os seus delírios religiosos levaram-no a afastar-se da sociedade. Pintou mais de um centenar de imagens, destacando-se o seu emblemático Cedro solitário (1907). A sua arte ligou com o pós-impressionismo e o expressionismo, embora fosse um autodidata e o seu estilo seja dificilmente classificável. Passou à História como um dos mais importantes pintores húngaros.
  • Itália: o expressionismo não teve grande implantação, apenas na obra de determinados artistas individuais, geralmente influenciado pelo futurismo, estilo predominante na Itália de princípios de século. Lorenzo Viani, de filiação anarquista, retratou na sua obra a vida das pessoas humildes, os pobres, os deserdados, com uma linguagem antiacadêmica, tosca, violenta, refletindo um mundo de rebelião e sofrimento. Ottone Rosai passou por uma etapa futurista para terminar no expressionismo, refletindo na sua obra motivos populares florentinos, com personagens tristes, melancólicos, encerrados em si mesmos. Mario Sironi também evoluiu do futurismo para refletir desde 1920 um expressionismo focado na paisagem urbana, em cenas de cidades industriais que absorvem o indivíduo, refletido por figuras solitárias de operários imersos nos palcos de grandes fábricas e bairros industriais cruzados por trens, camiões e bondes. Scipione (pseudônimo de Gino Bronchi) criou cenas fantásticas, de corte romântico, com influência de Van Gogh e El Greco, com uma pincelada nervosa, fluidos arabescos e perspectivas abruptas.114
  • México: neste país o expressionismo esteve estreitamente ligado à revolução, destacando-se o aspecto social da obra, geralmente em formatos de grande tamanho, como o mural. Assim mesmo, teve grande importância a temática folclórica e indigenista. O muralismo foi um estilo de vocação sócio-política que enfatizava o conteúdo reivindicativo da sua temática, centrada nas classes pobres e desfavorecidas, com formatos monumentais de grande expressividade, trabalhando sobre uma superfície de concreto ou sobre a fachada de um edifício. Os seus máximos expoentes foram José Clemente OrozcoDiego RiveraDavid Alfaro Siqueiros e Rufino Tamayo. O expressionismo também influiu na obra pessoal e inclassificável de Frida Kahlo.108
  • Países Baixos: neste país a pintura expressionista não se desenvolveu tanto como a arquitetura, representada pela notável Escola de Amsterdão, e foi um movimento heterogêneo que acusou diversas influências, se bem que a principal fosse a de Van Gogh. Em Bergen surgiu uma escola formada por Jan SluytersLeo Gestel e Charley Toorop, que de seguida se orientou para a Nova Objetividade alemã. Em 1918 o grupo De Ploeg (A Carreta) foi criado em Groninga, formado por Jan Wiegers e Hendrik Nicolaas Werkman, próximos a Die Brücke mas com tendência à abstração. Outros artistas a destacar-se foram Hermam Kruyder, próximo a Der Blaue Reiter e os artistas flamengos, e Hendrik Chabot, com um estilo similar a Permeke. Cabe destacar-se também a Kees Van Dongen, membro ocasional de Die Brücke, pintor proveniente do fauvismo especializado em nus e retratos femininos.115

Kiki de Montparnasse (1920), de Gustaw Gwozdecki.
  • Polônia: destaca-se a figura de Henryk Gotlib, pintor profundamente influenciado por Rembrandt. Viveu em Paris de 1923 a1929, participando nas exposições do salão de Outono e do salão dos Independentes. Entre 1933 e 1938 realizou estadias na Itália, Grécia e Espanha, estabelecendo-se definitivamente em Londres no começo da Segunda Guerra Mundial. Pertenceu ao grupo vanguardista polaco Formiści, que se opunha à arte acadêmica e naturalista, com um estilo no que destacava a deformação da natureza, a subordinação das formas, a abolição de um único ponto de vista e um colorido crudo. Outro membro de Formiści foi Gustaw Gwozdecki, que também morou em Paris (1903-1916) e Nova Iorque, excelente retratista que praticou a pintura a óleo, bem como o desenho, o guache e a gravura.116
  • Suécia: o seu principal representante foi a pintora Sigrid Hjertén. Estudou artesanato e desenho em Estocolmo, graduando-se como professora de desenho. Passou um tempo em Paris, recebendo a influência de Matisse e de Cézanne, o que se demonstra na utilização da cor em contraste com contornos muito simplificados, procurando as formas e as cores que possam transmitir as suas emoções. Em 1912 realizou a sua primeira exposição em Estocolmo, participando desde então em numerosas exposições tanto na Suécia quanto no estrangeiro. Na sua obra descreveu o papel que desempenhava como artista, mulher e mãe, diferentes identidades em mundos diferentes. Entre 1920 e 1932 morou em Paris, começando a manifestar-se a sua dolência esquizofrênica, o que se denotou na sua obra, com cores mais obscuras e composições retesas, refletindo o seu sentimento de angústia e abandono. De volta ao seu país, desde 1938 viveu hospitalizada.
  • Suíça: neste país o expressionismo acusou a influência de Hodler e de Böcklin, dois destacados artistas da geração anterior. O expressionismo chegou à Suíça com um pouco de atraso frente à sua vizinha Alemanha: em 1912 realizou-se uma exposição emZurique com obras de Paul Klee, Der Blaue Reiter, de Matisse e do grupo Der Moderne Bund, fundado em 1910 em Lucerna porHans ArpWalter Helbig e Oskar Lüthy. Durante a Primeira Guerra Mundial muitos artistas estabeleceram-se na Suíça, contribuindo para a difusão do expressionismo. Diversos grupos de artistas foram assim criados, como Röt-Blau ("Vermelho-Azul"), fundado em 1925 por Hermann SchererAlbert MüllerPaul Camenisch e Werner NeuhausDer Schritt Weiter (A passagem falsa), fundado em Berna em 1931; Gruppe 33, surgido em Basileia em 1933; e Dreigestirn ("Tríade"), formado por Fritz Eduard PauliIgnaz Epper e Johann Robert Schürch.117 O principal representante do expressionismo suíço foi Paul Klee, membro destacado de Der Blaue Reiter, junto a Cuno Amiet, que foi membro de Die Brücke. Amiet provinha do simbolismo –cujo espírito manteve até mesmo durante a sua etapa expressionista–; na sua obra é palpável um sentimento vitalista de ar bucólico, com um cromatismo reduzido propenso às vezes à monocromia.118

Literatura[editar | editar código-fonte]


Número de Die Aktion de 1914 com uma ilustração de Egon Schiele.
A literatura expressionista desenvolveu-se em três fases principais: de 1910 a 1914, de 1914 a 1918 –coincidindo com a guerra– e de 1918 a 1925. Aparecem como temas destacados –assim como na pintura– a guerra, a urbe, o medo, a loucura, o amor, o delírio, a natureza e a perda da identidade individual. Nenhum outro movimento até a data apostara de igual maneira pela deformidade, a doença e a loucura como o motivo das suas obras. Os escritores expressionistas criticaram a sociedade burguesa da sua época, o militarismo do governo do cáiser, a alienação do indivíduo na era industrial e a repressão familiar, moral e religiosa, pelo qual se sentiam vazios, sós, entediados, numa profunda crise existencial. O escritor apresenta a realidade do seu ponto de vista interior, expressando sentimentos e emoções mais do que impressões sensitivas. Já não se imita a realidade, não se analisam causas nem fatos, mas o autor busca a essência das coisas, mostrando a sua particular visão. Assim, deformam a realidade mostrando o seu aspecto mais terrível e descarnado, adentrando-se em temáticas até então proibidas, como a sexualidade, a doença e a morte, ou enfatizando aspectos como o sinistro, o macabro, o grotesco. Formalmente, recorrem a um tom épico, exaltado, patético, renunciando à gramática e às relaçõessintáticas lógicas, com uma linguagem precisa, crua, concentrada. Procuram a significação interna do mundo, abstraindo-o numa espécie de romantismo trágico que vai do misticismo socializante de Werfel ao absurdo existencial de Kafka. O mundo visível é uma prisão que impede atingir a essência das coisas; se tem de superar as barreiras do tempo e do espaço, à procura da realidade mais "expressiva".119
Os principais precursores da literatura expressionista foram Georg BüchnerFrank Wedekind e o sueco August Strindberg. Büchner foi um dos principais renovadores do drama moderno, com obras como A morte de Danton (Dantons Tod, 1835) e Woyzeck (1836), que se destacam pela introspeção psicológica das personagens, a reivindicação social das classes desfavorecidas e uma linguagem entre culta e coloquial, misturando aspectos cômicostrágicos e satíricos. Wedekind evoluiu do naturalismo para um tipo de obra de tom expressionista, pela sua crítica à burguesia, a rapidez da ação, os reduzidos diálogos e os efeitos cênicos, em obras como O despertar da Primavera (Frühlings Erwachen, 1891), O espírito da terra (Erdgeist, 1895) e A caixa de Pandora (Die Büchse der Pandora, 1902). Strindberg inaugurou com Camino de Damasco (Till Damaskus, 1898) a técnica estacional seguida pelo drama expressionista, consistente em mostrar a ação por estações, períodos que determinam a vida das personagens, num senso circular, pois as suas personagens intentam resolver as suas problemas sem o lograr.120
O expressionismo foi difundido por revistas como Der Sturm e Die Aktion, bem como o círculo literário Der Neue Club, fundado em 1909 por Kurt Hiller e Erwin Loewenson, reunindo-se no Neopathetisches Cabaret de Berlim, no qual realizavam leituras de poesia e davam conferências. Mais tarde Hiller, por desavenças com Loewenson, fundou o cabaré literário GNU (1911), que desempenhou o papel de plataforma para difundir a obra de novos escritores. Der Sturm apareceu em Berlim em 1910, editada por Herwarth Walden, sendo centro difusor da arte, da literatura e da música expressionistas, contando também com uma editorial, uma livraria e uma galeria artística. Die Aktion foi fundada em 1911 em Berlim por Franz Pfemfert, com uma linha mais comprometida politicamente, sendo um órgão da esquerda alemã. Outras revistas expressionistas foram Der Brenner (1910-1954), Die weißen Blätter (1913-1920) e Das junge Deutschland (1918-1920).121
Primeira Guerra Mundial implicou uma forte comoção para a literatura expressionista: enquanto alguns autores consideraram a guerra como uma força arrasadora e renovadora que acabaria com a sociedade burguesa, para outros o conflito cobrou tintes negativos, plasmando na sua obra os horrores da guerra. No pós-guerra, e em paralelo ao movimento da Nova Objetividade, a literatura adquiriu maior compromisso social e de denúncia da sociedade burguesa e militarista que levou a Alemanha ao desastre da guerra. As obras literárias desta época adquiriram um ar documental, de reportagem social, perceptível em obras como A montanha mágica (1924) de Thomas Mann e Berlim Alexanderplatz (1929) de Alfred Döblin.122

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