Lascaux


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Pix.gifGrutas decoradas do vale do Vézère *
Welterbe.svg
Património Mundial da UNESCO

Lascaux painting.jpg
Pintura em Lascaux
PaísFrança
Critérios(i) (iii)
Referência85
Coordenadas44° 56' 36.8" N1° 2' 31.6" E
Histórico de inscrição
Inscrição1979  (3ª sessão)
Nome como inscrito na lista do Património Mundial.
Lascaux é um complexo de cavernas ao sudoeste de França, famoso pela suas pinturas rupestres.
A disposição da caverna, cujas paredes estão pintadas com bovídeoscavaloscervoscabras selvagens, felinos, entre outros animais, permite pensar tratar-se de um santuário. As investigações levadas a cabo durante os últimos decénios permitem situar a cronologia das pinturas no final do Solutrense e princípio do Madalenense, ou seja, 17.000 anos AP. Todavia, certos indícios, tanto temáticos como gráficos, levam a pensar que algumas das figuras podem ser mais recentes, sendo tal hipótese, confirmada por datações com Carbono 14, em cerca de 15.500 anos AP.

Geografia e contexto geológico[editar | editar código-fonte]

A gruta fica no Périgord, na comuna de Montignac (Dordonha), a quarenta quilômetros a Sudeste de Périgueux.
Abre-se sobre a margem esquerda do rio Vézère, numa colina calcária do Cretáceo superior. Contrariamente a muitas outras cavernas da região, a de Lascaux é relativamente «seca». Em efeito, uma camada de argila impermeável isola-a de qualquer infiltração de água, impedindo novas formações de concreções calcárias, etc.

Descoberta[editar | editar código-fonte]

Foi descoberta a 12 de Setembro de 1940 por quatro adolescentes: Marcel Ravidat, Jacques Marsal, Georges Agnel e Simon Coencas, que avisaram ao seu antigo professor, Léon Laval. O pré-historiador Henri Breuil, refugiado na zona durante a ocupação nazi, foi o primeiro especialista que visitou Lascaux, em 21 de Setembro de 1940, em companhia de Jean Bouyssonnie e André Cheynier. H. Breuil foi também o primeiro em autenticá-la, descrevê-la e estudá-la. De seguido, realizou os primeiros calcos desde fins de 1940, passando vários meses in situ para analisar as obras, que atribuiu ao período perigordiano.
Depois de passar vários anos na EspanhaPortugal e mesmo na África do Sul, voltou em 1949, prosseguindo às escavações com Séverin Blanc e Maurice Bourgon, ao pé da cena do poço, onde aguardava encontrar uma sepultura. O que tirou à luz foram pontas de azagaias, decoradas, feitas de corno de reno.
De 1952 a 1963, por encomenda de Breuil, foram efetuados novos levantamentos, sobre 120 m², de calcos por André Glory, que contabilizaram um total de 1.433 representações (hoje estão catalogadas 1.900).
Por essa mesma época, as representações parietais foram também estudadas por Annette Laming-EmperaireAndré Leroi-Gourhan e, entre 1989 e 1999, por Norbert Aujoulat.

Classificação[editar | editar código-fonte]

A caverna foi classificada entre os monumentos históricos da França desde o mesmo ano da sua descoberta, a 27 de Dezembro de 1940.
Em Outubro de 1979, foi incluída no Patrimônio Mundial da UNESCO, com outros sítios e grutas ornamentadas de um vale

Descrição da caverna[editar | editar código-fonte]

Plano da caverna de Lascaux
A gruta de Lascaux é relativamente pequena: o conjunto dos corredores não ultrapassa os 250 m de comprimento, com um desnível de 30 m, aproximadamente. A parte decorada corresponde a um nível superior, pois o inferior está fechado pela presença de dióxido de carbono.
A entrada atual corresponde com a entrada pré-histórica.
Para facilidade de descrição, a caverna está tradicionalmente subdividida num certo número de zonas, denominadas salas ou corredores. Os nomes, imaginários, devem-se em parte a H. Breuil e fazem, com frequência referência à arquiteturareligiosa:
  • a primeira sala é a "Sala dos Touros" ou "Rotonda", de 17 m por 6 m de largo e 7 de alto;
  • prolonga-se pelo "Divertículo axial", uma galeria mais estreita na mesma direção, mais ou menos do mesmo tamanho;
  • depois da Sala dos Touros, à direita do Divertículo axial, acede-se à "Passagem", um corredor de uma quinzena de metros;
  • na prolongação da Passagem abre-se a "Nave", outro corredor mais elevado, com cerca de vinte metros;
  • a Nave prossegue com uma parte não decorada, pois as paredes são pouco apropriadas, seguindo logo até ao "Divertículo dos Felinos", um estreito corredor com cerca de vinte metros;
  • A "Abside" é uma sala redonda que se abre para Oeste, na confluência da Passagem e a Nave;
  • O "Poço" abre-se no fundo da Abside. Seu acesso supõe uma baixada de 4 a 5 metros até ao começo do nível inferior.
  • As grutas não podem ser visitadas devido à exalação de CO2, porque desfaz a pintura.

As representações parietais[editar | editar código-fonte]

  • Sala dos Touros apresenta a composição mais espetacular de Lascaux. As paredes de calcita são inadequadas para gravuras, pelo qual só está enfeitada de pinturas, com frequência de dimensões não usuais: algumas medem até cinco metros de longo.
Duas fileiras de auroques estão encaradas entre si, duas de uma faixa e três da outra. Os dois auroques do lado norte vão acompanhados de uma dezena de cavalos e de um grande animal enigmático, pois ostenta dois traços retilíneos sobre a testa, que lhe deram o apelido de «unicórnio». No lado sul, há três grandes auroques que ladeiam três menores, pintados a vermelho, bem como seis pequenos cervos e o único urso da gruta, solapado no ventre de um auroque e de difícil interpretação.
  • Divertículo axial está também ornamentado de bovídeos, junto de cavalos acompanhados por cervos e de cabritos. Um desenho representando um cavalo a fugir foi pintado com giz de manganês a uns 2,50 metros do chão. Alguns animais foram pintados no teto, parecendo saltar de uma a outra parede. Com estas representações, que devem ter precisado do uso de andaimes, entremesclaram-se numerosos signos (bastões, pontos e retângulos).
  • Passagem apresenta uma decoração muito degradada de antigo, nomeadamente pelas correntes de ar.
  • Nave contém quatro grupos de figuras: o painel da Pegada (l'Empreinte), o da Vaca negra, o dos Cervos nadando, bem como o dos Bisões cruzados. Estas obras estão acompanhadas por inumeráveis signos geométricos, misteriosos, nomeadamente de tabuleiros coloreados, que H. Breuil qualificou de «brasões».
  • Divertículo dos Felinos deve o seu nome a um grupo de felinos, dos quais um parece estar a urinar para marcar o território. De difícil acesso, podem-se ver aqui gravuras de feras de feitura muito ingênua. Encontram-se também outros animais associados a signos, como uma representação de cavalo visto de frente, algo excepcional na arte paleolítica, pois os animais são, em geral, representados de perfil ou com uma perspectiva torcida.
  • Abside contém mais de mil gravuras, algumas superpostas a pinturas, correspondendo a animais e signos. Aqui está a única rena figurada de Lascaux.
  • Poço apresenta a cena mais misteriosa de Lascaux: um homem, com cabeça de pássaro e de sexo erecto, pareça cair, investido talvez por um bisão desventrado por uma azagaia; de lado está representado um objeto alongado sobreposto a uma ave, que talvez seja um propulsor; na esquerda, um rinoceronte parece afastar-se. Na parede oposta, há também representado um cavalo. Dois grupos de signos são de notar nesta composição:
    • entre o homem e o rinoceronte, três pares de ponteados de dedos que também se observam no fundo do Divertículo dos Felinos, ou seja, na parte mais recôndita da gruta;
    • sobre o homem e o bisão, um signo barbado complexo que se reproduz em outras paredes da caverna, e assim mesmo nas pontas das azagaias e nas lâmpadas deGrés, que se encontraram nas proximidades.
Achamo-nos aqui com uma cena, na qual os diferentes elementos estão relacionados uns com outros, e não com uma justaposição de animais ou de signos sobre a mesma parede, como é o mais frequente no caso da arte paleolítica. Para A. Leroi-Gourhan, esta cena evoca provavelmente um episódio mitológico, cuja significação é difícil de estabelecer 1 .

Lascaux II[editar | editar código-fonte]

Pintura em Lascaux II
Perante os indícios de deterioração das pinturas, surgidos a partir dos anos 50, originados principalmente pelo gás carbónico da respiração dos visitantes, em 1963, foi tomada a decisão de encerrar a gruta às visitas de turistas, tendo sido, desde então, adotadas diversas medidas para controlar a atmosfera interior da gruta, a qual recuperou progressivamente o seu brilho original.
Como alternativa à significativa procura turística, foi construída uma réplica de uma parte representativa da caverna ("Divertículo axial" e "Sala dos Touros"). O projeto foi parcialmente financiado pela venda do original ao Estado, em 1972. Parado em 1980, foi logo retomado pelo departamento da Dordogne, sendo inaugurado em 1983.
Uma dupla camada de concreto permitiu reproduzir fielmente a caverna original. As obras parietais foram logo reproduzidas por uma equipa dirigida por M. Peytral.
Situada a 200 m do original, a réplica, batizada como Lascaux II, foi inaugurada a 18 de Julho de 1983.

Referências

  1. Ir para cima Leroi-Gourhan, A. (1984), « Grotte de Lascaux », in L'art des cavernes - Atlas des grottes ornées paléolithiques françaises, Ministère de la culture.

Ligação externas[editar | editar código-fonte]

Commons possui uma categoriacontendo imagens e outros ficheiros sobre Lascaux


http://pt.wikipedia.org/wiki/Lascaux

Império do Brasil (Parte I)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Parte I - Parte II - Parte III
Império do Brasil 1
Império do Brasil
 Flag United Kingdom Portugal Brazil Algarves.svg

 Bandeira Reino Brasil azul.svg
1822 – 1889Flag of Brazil 15-19 November.svg 

Flag of Uruguay (1828-1830).svg 
FlagBrasão
BandeiraBrasão de armas
Lema nacional
Independência ou Morte!
Hino nacional
Hino da Independência do Brasil (1822-1831)
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Hino Nacional Brasileiro (1831-1889)
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Localização de Brasil
Império do Brasil em sua máxima extensão (1822-1828),
incluindo a Província Cisplatina.
ContinenteAmérica do Sul
CapitalRio de Janeiro
22° 54' S 43° 14' O
Língua oficialPortuguês
ReligiãoCatólica romana[a]
GovernoMonarquia constitucionalparlamentar
Imperador
 • 1822 — 1831D. Pedro I
 • 1825 — 1826D. João VI de jure
 • 1831 — 1889D. Pedro II
Presidente do Conselho de Ministros
 • 1853 — 1856Marquês de Paraná(de facto)
 • 1847Visconde de Caravelas (primeiro)
 • 1889Visconde de Ouro Preto (último)
LegislaturaAssembleia Geral[b]
 - Câmara altaSenado[c]
 - Câmara baixaCâmara dos Deputados[c]
História
 • 7 de setembro de1822Independência do Brasil
 • 12 de outubro de1822Primeiro reinado
 • 7 de abril de 1831Segundo reinado
 • 13 de maio de 1888Abolição da Escravatura
 • 15 de novembro de1889Proclamação da República
Área
 • 18898 300 000 km2
População
 • 18232 est.4 000 000 
 • 18542 est.7 000 700 
 • 18722 est.9 930 478 
 • 1889 est.14 333 915 
     Dens. pop.1,7/km²
MoedaRéis
a. Art. 5º: A Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo. 3
b. Art. 13: O Poder Legislativo é delegado à Assembleia Geral, com a sanção do Imperador.3
c. Art. 14: A Assembleia Geral compõe-se de duas câmaras: Câmara de Deputados e Câmara de Senadores ou Senado. 3
Império do Brasil (período da história do Brasil denominado tradicionalmente pela historiografia como "Brasil Império", "Brasil Imperial" e "Brasil Monárquico") foi um Estado que existiu durante o século XIX e que compreendia grande parte dos territórios que formam o Brasil e o Uruguai atuais. Seu governo era uma monarquia constitucional parlamentar representativa sob o domínio dos imperadores D. Pedro I e de seu filho, D. Pedro II, ambos membros da Casa de Bragança, um ramo da dinastia capetiana. De uma colônia do Reino de Portugal, o Brasil se tornou a sede do Império Colonial Português em 1808, quando o então príncipe regente de Portugal (que futuramente se tornaria o rei D. João VI) fugiu da invasão do território português pelas tropas de Napoleão Bonaparte e estabeleceu a si mesmo e o seu governo na cidade brasileira do Rio de Janeiro. Mais tarde, D. João VI retornou para Portugal, deixando seu herdeiro e filho mais velho, D. Pedro, para governar o Brasil como príncipe regente.
Em 7 de setembro de 1822, o príncipe regente D. Pedro declarou a independência do Brasil e, depois de travar uma guerra bem-sucedida contra o reino de seu pai, foi aclamado, em 12 de outubro, como D. Pedro I, o primeiro imperador do Brasil. O novo país era enorme, mas pouco povoado e etnicamente diverso. Em comparação com a maioria das repúblicas latino-americanas vizinhas, o Brasil era politicamente estável, tinha relativa liberdade de expressão e crescimento econômico vibrante. Seu parlamento bicameral era eleito através de métodos comparativamente democráticos para a época, assim como eram as legislaturas provinciais e locais. Isso levou a um longo conflito ideológico entre D. Pedro I e uma considerável facção parlamentar sobre o papel do monarca no governo. Ele também enfrentou outros obstáculos, como a malsucedida Guerra da Cisplatinacontra a vizinha Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina), que levou à secessão em 1828 de uma província brasileira chamada Cisplatina (que viria a se tornar o Uruguai atual). Apesar de seu papel na independência do Brasil, Pedro I tornou-se rei de Portugal em 1826, mas logo abdicou em favor de sua filha mais velha, a princesa D. Maria da Glória. Dois anos depois de D. Maria II se tornar a rainha de Portugal, seu trono foi usurpado pelo irmão mais novo de Pedro I (o príncipe D. Miguel). D. Pedro I, incapaz de lidar com assuntos brasileiros e portugueses, abdicou do trono imperial do Brasil em 7 de abril de 1831 e imediatamente partiu para a Europa para devolver o trono português à filha.
O sucessor de D. Pedro I era seu filho de cinco anos de idade, D. Pedro II. Enquanto o menino era menor de idade, uma fracaregência foi criada. O vácuo de poder resultante da ausência da decisão do monarca como o árbitro final em disputas políticas levou a guerras civis regionais entre facções locais. Ao herdar um império à beira da desintegração, D. Pedro II, uma vez declarado maior de idade, conseguiu trazer paz e estabilidade ao país, que se tornou uma potência internacional emergente. O Brasil saiu vitorioso de três conflitos internacionais (a Guerra do Prata, a Guerra do Uruguai e a Guerra do Paraguai) e prevaleceu em várias outras disputas internacionais e conflitos internos durante o governo do segundo reinado. Com a prosperidade e o desenvolvimento econômico veio também um fluxo de imigração de europeus, inclusive de protestantes e judeus, embora o Brasil tenha se mantido com uma população majoritariamente católica. A escravidão, que tinha sido inicialmente difundida, foi restringida por sucessivas legislações até à sua abolição definitiva, em 1888. As artes, a literatura e o teatro brasileiros desenvolveram-se durante este tempo de progresso. Embora fortemente influenciado por estilos europeus que variavam do neoclassicismo ao romantismo, cada conceito foi adaptado para criar uma cultura exclusivamente brasileira.
Apesar das últimas quatro décadas do reinado de D. Pedro II terem sido marcadas por paz interna e prosperidade econômica contínuas, ele, pessoalmente, não tinha vontade de que a monarquia sobrevivesse além de sua própria vida. Conforme o imperador crescia, ele não fez qualquer esforço para manter o apoio à instituição. Uma vez que ele não tinha herdeiros viáveis ​​(o seguinte na linha de sucessão era sua filha D. Isabel e tanto D. Pedro II quanto as classes dominantes consideravam um monarca do sexo feminino inaceitável) líderes políticos do império acreditavam que não havia nenhuma razão para defender a monarquia. Apesar da falta de entusiasmo entre a maioria dos brasileiros para a adoção de uma forma republicana de governo, em 15 de novembro 1889, após um reinado de 58 anos, o imperador foi deposto em um repentino golpe de Estado ​​que quase não tinha apoio popular e que foi perpetrado por um grupo de líderes militares cujo objetivo era a formação de uma república dirigida por um ditador.

História

Independência e primeiros anos


Mapa das províncias do Império do Brasil em 1825
O território que viria a ser conhecido como o Brasil foi reivindicado por Portugal em 22 de abril de 1500, quando o navegador Pedro Álvares Cabral desembarcou em seu litoral.4 Uma colonização permanente seguiu-se e, de 1532 aos 300 anos seguintes, os portugueses expandiram lentamente seus domínio para oeste até que chegarem em quase todas as fronteiras do Brasil moderno.5Em 1808, o exército do imperador francês Napoleão Bonaparte invadiu Portugal, obrigando a família real portuguesa — a Casa de Bragança, um ramo de mil anos da dinastia capetiana — ao exílio. Eles restabeleceram-se na cidade brasileira do Rio de Janeiro, que se tornou a sede oficial do Império Português.6
Em 1815, o príncipe português Dom João (mais tarde D. D. João VI), atuando como regente, criou o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, o que elevou o Brasil de colônia para reino. Ele subiu ao trono português no ano seguinte, após a morte de sua mãe, D. Maria I. Regressou para Portugal em abril de 1821, deixando para trás seu filho e herdeiro, o príncipe D. Pedro, para governar o Brasil como seu regente.7 8 O governo português imediatamente procurou revogar a autonomia política que ao Brasil havia sido concedida desde 1808.9 10 A ameaça de perderem seu limitado controle sobre assuntos locais inflamou uma oposição generalizada entre os brasileiros. José Bonifácio de Andrada, juntamente com outros líderes brasileiros, convenceram Pedro de declarar aindependência do Brasil do domínio de Portugal em 7 de setembro de 1822.11 12 Em 12 de outubro, o príncipe foi aclamado D. Pedro I, o primeiro imperador do recém-criado Império do Brasil, uma monarquia constitucional.13 14 A declaração de independência foi combatida em todo o Brasil por unidades militares armadas leais ao governo português. A guerra de independência que se seguiu foi travada em todo o país, com batalhas nas regiões norte, nordeste e sul. Os últimos soldados portugueses se renderam em março de 182415 16 e a independência foi reconhecida por Portugal em agosto de 1825.17
D. Pedro I enfrentou uma série de crises durante o seu reinado. A rebelião separatista na província da Cisplatina, no início de 1825, e a tentativa posterior das Províncias Unidas do Rio da Prata (que mais tarde iriam se tornar a Argentina) de anexá-la levaram o império à Guerra da Cisplatina: "uma longa, inglória e, finalmente, inútil guerra no sul".18 Em março de 1826, D. João VI morreu e D. Pedro I herdou a coroa portuguesa, tendo brevemente se tornado o rei D. Pedro IV de Portugal, antes de abdicar em favor de sua filha mais velha, que se tornou a rainha D. Maria II.19 A situação piorou em 1828 quando a guerra no sul terminou com perda da Cisplatina pelo Brasil, que viria a se tornar a república independente do Uruguai.20 No mesmo ano, em Lisboa, o trono de D. Maria II foi usurpado pelo príncipe D. Miguel, o irmão de D. Pedro I.21
Outras dificuldades surgiram quando o parlamento do império, a Assembleia Geral, foi inaugurado em 1826. D. Pedro I, juntamente com uma percentagem significativa da legislatura, defendeu um sistema judiciário independente, um legislativo eleito pelo povo e um governo que seria liderado pelo imperador que deteria amplos poderes executivos e prerrogativas.22 Outros no Parlamento defenderam uma estrutura semelhante, apenas com um papel menos influente para o monarca e com o poder legislativo sendo dominante na política e na governança.23 A luta sobre se o governo seria dominado pelo imperador ou pelo parlamento foi travada em debates entre 1826 e 1831 no estabelecimento da estrutura governamental e política do império.18 Ao não conseguir lidar com problemas tanto no Brasil quanto em Portugal simultaneamente, o imperador abdicou em nome de seu filho, D. Pedro II, em 7 de abril de 1831 e imediatamente embarcou para a Europa para restaurar sua filha ao seu trono.24

Regência


Paço Imperial, a sede do governo imperial brasileiro, em 1840
Após a saída precipitada de D. Pedro I, o Brasil ficou com um menino de cinco anos de idade como chefe de Estado. Sem precedentes a seguir, o império foi confrontado com a perspectiva de um período de mais de 12 anos sem um executivo forte, visto que, nos termos da ConstituiçãoD. Pedro II não iria atingir a maioridade e começar a exercer a autoridade como o imperador até 2 de dezembro de 1843.25 A regência foi eleita para governar o país nesse período. A regência tinha apenas alguns dos poderes exercidos por um imperador e era completamente subordinada à Assembleia Geral, que não podia preencher o vácuo deixado no cargo mais alto do governo brasileiro.26
Paralisada, a regência se mostrou incapaz de resolver disputas e rivalidades entre facções políticas nacionais e locais. Acreditando que a concessão de maior autonomia política aos governos provinciais e locais iria sufocar a crescente dissidência, a Assembleia Geral aprovou uma emenda constitucional em 1834, o chamado Ato Adicional. Em vez de acabar com o caos, esses novos poderes somente alimentaram ambições e rivalidades regionais. A violência então explodiu em todo o país.27 Partidos locais concorriam com uma renovada ferocidade para dominar os governos provinciais e municipais, visto que qualquer partido que dominava as províncias também ganhava o controle sobre o sistema eleitoral e político. Esses partidos que perderam as eleições se rebelaram e tentaram assumir o poder pela força, o que resultou em várias rebeliões.28
Os políticos que haviam subido ao poder durante a década de 1830 haviam até então se familiarizado com as dificuldades e as armadilhas do poder. Segundo o historiador Roderick J. Barman, por volta de 1840 "eles haviam perdido toda a fé em sua capacidade de governar o país por conta própria. Eles aceitaram D. Pedro II como uma figura de autoridade, cuja presença era indispensável para a sobrevivência do país."29 Alguns desses políticos (que formariam o Partido Conservador em 1840) acreditavam que uma figura neutra era necessária, que poderia estar acima de facções políticas e de interesses mesquinhos para enfrentar o descontentamento e disputas moderadas.30 Eles imaginaram um imperador que seria mais dependente do legislador do que o monarca constitucional imaginado por D. Pedro I, mas com mais poderes do que tinha sido defendido no início da regência por seus rivais (que mais tarde formaram o Partido Liberal).31 Os liberais, no entanto, conseguiram passar uma iniciativa para antecipar a maioridade de D. Pedro II de 18 para 14 anos. O imperador foi declarado apto para governar em julho de 1840.32

Consolidação


Recife, a capital de Pernambuco(nordeste brasileiro), dezesseis anos após o fim da Revolta Praieira
Para atingir seus objetivos, os liberais tinham se aliado a um grupo de funcionários de alto escalão do palácio e a políticos notáveis​​: a "facção dos cortesões". Os cortesões faziam parte do círculo íntimo do imperador e tinham grande influência sobre ele,33 o que lhes permitiu a nomeação de sucessivos gabinetes liberais-cortesões. Seu domínio, no entanto, foi de curta duração. Por volta de 1846, D. Pedro II tinha amadurecido fisicamente e mentalmente. Como não era mais um jovem inseguro de 14 anos de idade, influenciado por fofocas, sugestões de lotes secretos e outras táticas de manipulação,34 suas fraquezas desbotaram e sua força de caráter veio à tona.34Ele arquitetou com sucesso o fim da influência dos cortesões, removendo-os de seu círculo íntimo sem causar qualquer perturbação pública.35 Ele também rejeitou os liberais, que se haviam revelado ineficazes enquanto estavam no cargo, e exortou os conservadores a formar um governo em 1848.36
As habilidades do imperador e do gabinete conservador recém-nomeado foram testadas durante três crises entre 1848 e 1852.37 A primeira foi um confronto sobre a importação ilegal de escravos. Importar escravos tinha sido proibido em 1826, como parte de um tratado com o Reino Unido36 mas o tráfico continuou inabalável. No entanto, a aprovação pelo governo britânico da Lei Aberdeen de 1845 autorizou que os navios de guerra britânicos abordassem navios brasileiros e prendessem quem fosse flagrado envolvido no comércio de escravos.38 Enquanto o Brasil lutava com este problema, a Revolta Praieira, um conflito entre facções políticas regionais na província de Pernambuco (e aquela em que partidários liberais e cortesões estiveram envolvidos) irrompeu em 6 de novembro de 1848, mas foi suprimida em março de 1849. Foi a última rebelião a ocorrer durante a monarquia e seu fim marcou o início de um período de 40 anos de paz interna no Brasil. A Lei Eusébio de Queirós foi promulgada em 4 de setembro de 1850 dando ampla autoridade ao governo para combater o comércio ilegal de escravos. Com esta nova ferramenta, o Brasil procurou eliminar a importação de escravos e em 1852 a primeira crise acabou quando a Grã-Bretanha aceitou que o comércio havia sido suprimido.39
A terceira crise foi um conflito com a Confederação Argentina sobre ascendência sobre territórios adjacentes ao Rio da Prata e pela navegação gratuita na hidrovia.40 Desde a década de 1830, o ditador argentino Juan Manuel de Rosas apoiava rebeliões no Uruguai e no Brasil. O império foi incapaz de enfrentar a ameaça representada por Rosas até 1850,40 quando uma aliança forjada entre Brasil, Uruguai e desafetos argentinos,40 levou à Guerra do Prata e a posterior deposição do governante argentino em fevereiro de 1852.41 42 A passagem bem sucedida do império por estas crises melhorou consideravelmente a estabilidade e o prestígio da nação e o Brasil emergiu como uma potência hemisférica.43 No plano internacional, os europeus vieram para ver o país incorporando os ideais liberais familiares, como a liberdade de imprensa e o respeito constitucional das liberdades públicas. Sua monarquia parlamentar representativa também contrastou com a mistura de ditaduras e instabilidade política endêmica nas outras nações daAmérica do Sul durante este período..44

Crescimento


locomotiva Pequenina na província da Bahia (nordeste brasileiro), c. 1859

Uma construção de docas noRecife, em 1862
No início da década de 1850, o Brasil gozava de estabilidade interna e prosperidade econômica.45 A infraestrutura do país foi sendo desenvolvida, com o progresso na construção das estradas de ferro, do telégrafo elétrico e de linhas de navios a vapor que uniam o Brasil em uma entidade nacional coesa.45 Depois de cinco anos de mandato, o gabinete conservador foi dissolvido em setembro de 1853. Honório Hermeto Carneiro Leão, o Marquês de Paraná, o chefe do Partido Conservador, foi acusado de formar de um novo gabinete[necessário esclarecer].46 O imperador D. Pedro II quis aplicar um plano ambicioso, que se tornou conhecido como "a Conciliação",47que visava reforçar o papel do parlamento na resolução de disputas políticas do país.46 48
O Marques de Paraná convidou vários liberais para se juntar às fileiras conservadoras e chegou a designar alguns como ministros. O novo gabinete, embora altamente bem sucedido, foi atormentado desde o início pela forte oposição dos membros ultraconservadores do Partido Conservador, que repudiaram os novos recrutas liberais. Eles acreditavam que o gabinete havia se tornado uma máquina políticainfestada com liberais convertidos que não eram genuinamente parte dos ideais do partido e estavam interessados ​​principalmente na obtenção de cargos públicos.49 Apesar dessa desconfiança, Paraná mostrou resistência em retirar as ameaças e superar os obstáculos e contratempos.50 51 No entanto, em setembro de 1856, no auge de sua carreira, ele morreu de forma inesperada, embora o seu gabinete tenha sobrevivido até maio de 1857.52
Partido Conservador tinha sido dividido ao meio: de um lado estavam os ultraconservadores e do outro os conservadores moderados que apoiaram a Conciliação.53 Os ultraconservadores eram liderados por Joaquim Rodrigues Torres, o Visconde de ItaboraíEusébio de Queirós e Paulino Soares de Sousa, o 1º Visconde de Uruguai — todos os ex- ministros no gabinete de 1848-1853. Esses estadistasmais velhos haviam tomado o controle do Partido Conservador após a morte do Marquês de Paraná. Depois de 1857, nenhum dos gabinetes sobreviveu por muito tempo, todos rapidamente entrando em colapso devido à falta de uma maioria na Câmara dos Deputados.54
Os membros restantes do Partido Liberal, que definhavam desde a sua queda em 1848 e a desastrosa Revolta Praieira em 1849, aproveitaram o que parecia ser iminente implosão do Partido Conservador para voltar à política nacional com força renovada. Eles entregaram um poderoso golpe para o governo, quando conseguiram ganhar vários assentos na Câmara dos Deputados em 1860.55Quando muitos conservadores moderados desertaram para se unir aos liberais para formar um novo partido político, a Liga Progressista,56 continuar no poder se tornou insustentável para os conservadores devido à falta de uma maioria governista viável no parlamento. Eles se demitiram e, em maio de 1862, D. Pedro II nomeou um gabinete progressista.57 O período desde 1853 tinha sido de paz e prosperidade para o Brasil: "O sistema político funcionou sem problemas, liberdades civis foram mantidas. A partida tinha sido feita na introdução no Brasil das linhas da estrada de ferro, do telégrafo e do vapor. O país não era mais conturbado pelas disputas e conflitos que se acumulou durante seus primeiros 30 anos."58

Guerra do Paraguai


Artilharia brasileira em posição durante a Guerra do Paraguai, 1866

Soldados brasileiros ajoelhados antes de uma procissão religiosa durante a Guerra do Paraguai, 1868
Este período de calma chegou ao fim quando o cônsul britânico no Rio de Janeiro quase provocou uma guerra entre o Reino Unido e o Brasil. Ele enviou um ultimato contendo exigências abusivas decorrentes de dois incidentes menores no final de 1861 e no início de 1862.59 O governo brasileiro se recusou a ceder e o cônsul emitiu ordens para navios de guerra britânicos capturar navios mercantes brasileiros como indenização.60 O Brasil se preparou para um conflito iminente61 62 e as defesas costeiras receberam permissão para atirar contra qualquer navio de guerra britânico que tentasse capturar navios mercantes brasileiros.63 O governo brasileiro, em seguida, cortou relações diplomáticas com o Reino Unido em junho de 1863.64
Como a guerra com o Império Britânico se aproximava, o Brasil teve que voltar sua atenção para as suas fronteiras do sul. Outra guerra civil começou no Uruguai e colocou seus partidos políticos uns contra os outros.65 O conflito interno levou ao assassinato de brasileiros e ao saque de suas propriedades uruguaias.66 O gabinete progressista do Brasil decidiu intervir e despachou o exército, que invadiu o Uruguai em dezembro de 1864, começando a breve Guerra do Uruguai.67 O ditador do vizinho Paraguai, Francisco Solano López, aproveitou-se da situação do Uruguai no final de 1864 para tentar estabelecer o seu país como uma potência regional. Em novembro daquele ano, ele ordenou que um navio a vapor civil brasileiro fosse apreendido (desencadeando na Guerra do Paraguai) e, em seguida, invadiu o Brasil.68 69
O que parecia no início ser uma breve e simples intervenção militar levou a uma guerra em grande escala no sudeste da América do Sul. No entanto, a possibilidade de um conflito em duas frentes (com a Grã-Bretanha e o Paraguai) desapareceu quando, em setembro de 1865, o governo britânico enviou um emissário que pediu desculpas publicamente pela crise entre os impérios.70 71 A invasão paraguaia em 1864 levou a um conflito muito maior do que o esperado e a fé na capacidade do gabinete progressista de lidar com a guerra desapareceu.72 Além disso, desde o seu início, a Liga Progressista foi assolada por um conflito interno entre as facções formadas por antigos conservadores moderados e por ex-liberais.72 73
O gabinete renunciou e o imperador nomeou o envelhecido Visconde de Itaboraí para chefiar um novo governo em julho de 1868, marcando o retorno dos conservadores ao poder.74 Isto impulsionou ambas as alas progressistas para deixar de lado suas diferenças, levando-os a rebatizar seu partido para Partido Liberal. Uma terceira, menor e mais radical ala progressista declarou-se republicana em 1870, um mau sinal para a monarquia.75 No entanto, o "ministério formado pelo visconde de Itaboraí era um corpo muito mais capaz do que o gabinete substituído"74 e o conflito com o Paraguai terminou março 1870 com a vitória total do Brasil e de seus aliados.76 Mais de 50 mil soldados brasileiros morreram77 e os custos da guerra foram onze vezes superiores ao orçamento anual do governo.78 No entanto, o país era tão próspero que o governo foi capaz de superar a dívida da guerra em apenas dez anos.79 80 O conflito também foi um estímulo para a produção nacional e o crescimento econômico.81

Apogeu


Um grande grupo de escravos reunidos em uma fazenda na província de Minas Gerais (sudeste brasileiro), 1876
A vitória diplomática sobre o Império Britânico e a vitória militar sobre o Uruguai em 1865, seguida da conclusão bem sucedida da guerra com o Paraguai em 1870, marcou o início da "era de ouro" do Império do Brasil.82 A economia brasileira cresceu rapidamente; outros projetos de modernização de estradas de ferro e transportes foram iniciados; a imigração floresceu.83 O império ficou conhecido internacionalmente como uma nação moderna e progressista, perdendo apenas para os Estados Unidos na América, era uma economia politicamente estável, com um bom investimento potencial.82
Em março de 1871, D. Pedro II nomeou o conservador José Paranhos, o Visconde do Rio Branco, como chefe de um gabinete, cujo principal objetivo era o de aprovar uma lei para libertar imediatamente todas as crianças nascidas de escravas.84 O controverso projeto de lei foi apresentado na Câmara dos Deputados em maio e enfrentou "uma oposição determinada, que comandou o apoio de cerca de um terço dos deputados e que procurou organizar a opinião pública contra a medida."85 O projeto de lei foi finalmente promulgado em setembro e ficou conhecido como "Lei do Ventre Livre".85 O sucesso de Rio Branco, no entanto, prejudicou seriamente a estabilidade política do império a longo prazo. A lei "dividiu os conservadores ao meio, uma facção do partido apoiou as reformas do gabinete de Rio Branco, enquanto a segunda — conhecida como a escravocratas — foram implacáveis ​​em sua oposição", formando uma nova geração de ultraconservadores.86
A "Lei do Ventre Livre " e o apoio de D. Pedro II à legislação resultou na perda de lealdade incondicional dos ultraconservadores à monarquia.86 O Partido Conservador tinha experimentado divisões sérias antes durante a década de 1850, quando o total apoio do imperador para a política de Conciliação deu origem aos progressistas. No entanto, os ultraconservadores, liderados por Eusébio, Uruguai e Itaboraí, adversários da Conciliação na década de 1850, acreditavam que o imperador era indispensável para o funcionamento do sistema político: ele era visto como um árbitro final e imparcial para os impasses políticos.87 Por outro lado, esta nova geração de ultraconservadores não tinha experimentado a regência e os primeiros anos do reinado de D. Pedro II, quando perigos externos e internos ameaçaram a própria existência do império; eles só conheceram a prosperidade, a paz e uma administração estável.29 Para eles - e para as classes dominantes em geral - a presença de um monarca neutro que pudesse resolver as disputas políticas não era mais importante. Além disso, desde que D. Pedro II tomou claramente um lado político sobre a questão da escravidão, ele tinha comprometido sua posição como um árbitro neutro. Os novos políticos ultraconservadores não viram nenhuma razão para defender o cargo imperial.88

Parte I - Parte II - Parte III

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