SÍNDROME DO BURNOUT


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28.08.2018, 21:51

NOVA DOENÇA LIGADA AO MUNDO DO TRABALHO

O burnout é uma síndrome ligada à vida profissional, cuja definição ainda não está bem estabelecida. Os especialistas preferem chamá-la de “síndrome do esgotamento profissional”. Jean-Yves Dubré, médico francês especialista em medicina do trabalho, esclarece nesta entrevista vários pontos da questão.



Por: Marine Van Der Kluft – Le Figaro Santé
Tradução: Luis Pellegrini

O burnout não é uma doença reconhecida oficialmente. Mas isso provavelmente não tardará a acontecer. As autoridades de saúde francesas preferem falar de uma “síndrome do esgotamento profissional”, definido como um “esgotamento físico, emocional e mental resultante de um investimento excessivo e prolongado em situações de trabalho muito exigentes no plano emocional”. Essa síndrome é séria e pode provocar depressão, estresse pós-traumático e comporta inclusive risco de suicídio. Apesar disso, ela ainda está mal definida e divide as opiniões inclusive no meio da comunidade médica. Nesta entrevista, Jean-Yves Dubré, especialista francês em psicopatologias ligadas ao trabalho, esclarece o panorama atual em relação ao burnout.


Le Figaro Santé: Qual é a diferença entre burnout e depressão?
Jean-Yves Dubré: A diferença é bastante clara: todos os sintomas do burnout provêm de uma anomalia na relação da pessoa com o trabalho que desempenha. A relação subjetiva com o trabalho é alterada por causa de uma sobrecarga de trabalho e de um sentimento de solidão que deriva do desaparecimento, no ambiente de trabalho, de espaços de discussão, de deliberações, propícios à construção dos compromissos necessários à boa realização das tarefas solicitadas. Quando ocorre o burnout, o trabalhador pode ter a sensação de estar num beco sem saída, pode baixar os braços e viver os acontecimentos com um sentimento de impotência para conseguir modificar qualquer aspecto daquilo que acontece no seu trabalho. “Não vai servir para nada”, pensa ele. Ele gostaria de ter um bom desempenho, mas sente que não mais dispõe dos meios ou forças para fazê-lo. E quando o trabalhador não encontra mais saída para uma situação difícil, ele acaba pensando que é ele mesmo o problema: atingido na sua autoestima, duvida de si mesmo, e esses sentimentos por fim voltam-se contra si mesmo.
E a depressão?
A depressão é uma outra coisa: pode ser a consequência patológica de uma situação de opressão e de tensão no trabalho que, numa primeira fase, provocou uma situação de burnout no trabalhador. Trata-se de um fenômeno que chamamos de “descompensação”, dependendo da personalidade da pessoa acometida e da sua vida pessoal. É a consequência de uma história vivida no ambiente de trabalho: o encontro entre uma situação de trabalho problemática com uma história pessoal problemática que entram em ressonância. Isso acarreta uma descompensação psíquica e na forma de uma depressão, bem como problemas cardiovasculares ou digestivos. As somatizações, nesses casos, são muito numerosas e variadas e levam a várias complicações.


Podemos dizer que o burnout é o mal do século 21?
Na verdade, as complicações ligadas ao trabalho e ao ambiente lavorativo existem desde sempre: a fadiga e o esgotamento dos trabalhadores são muito bem descritos nos romances de Emile Zola, no século 19, apenas para citar um exemplo. Hoje, as dificuldades que aparecem para os trabalhadores constituem a consequência direta da evolução ocorrida no mundo do trabalho desde a Segunda Guerra Mundial. A particularidade do século 21 vem das técnicas de gerenciamento. Antes, os problemas de trabalho que colocavam em risco a vida dos trabalhadores podiam se exprimir através de lutas coletivas e sindicais, como aconteceu por exemplo durante a greve geral de maio de 1968 que assustou o empresariado. Nos anos que seguiram, as federações patronais procuraram compreender o que tinha acontecido e, sobretudo, a evitar que situações do gênero se repetissem. A palavra de ordem tornou-se a “atomização das relações sociais”.
Quais as consequências disso para os assalariados?
Anos mais tarde, as consequências de tais estratégias ainda estão presentes: hoje, o trabalhador encontra-se sozinho diante das dificuldades. A resposta aos problemas torna-se individual e se exprime através da saúde do trabalhador mais do que na solução coletiva, ou seja, na luta. Agora, os assalariados são obrigados a investir a si próprios, de corpo e alma, no trabalho, e disso deriva uma forma de competição entre os trabalhadores que destrói os laços de solidariedade. O burnout é claramente a expressão da evolução do mundo do trabalho como o conhecemos nos dias de hoje.


Como detectar a síndrome do burnout?
Para o médico clínico geral, trata-se de observar em profundidade o paciente que chega com sintomas de fadiga e estresse. Com muita frequência, é a família que percebe isso e lança um sinal de alerta, pois o próprio interessado não se considera doente. É por essa razão que, como regra geral, os casos de burnout chegam aos consultórios quando estão em situação bem avançada, quando ocorreu um fenômeno de descompensação, como é o caso de um paciente que não consegue sair da cama pela manhã para ir ao trabalho, ou quando sofreu um acidente ao dirigir seu carro para ir ao trabalho. Acidentes estradais nesses casos são muito frequentes, e estão ligados à angústia, ao desejo de “acabar com isso”. O risco de suicídio é importante: a primeira coisa a ser feita é, portanto, dar uma pausa no trabalho, para tirar o paciente de uma situação de sofrimento.
Uma vez descoberto, como o médico pode tratar um caso de burnout?
É necessária uma organização multidisciplinar para diagnosticar a origem dos sintomas, a começar por um exame acurado do ambiente de trabalho. Podemos sempre dar medicamentos ao paciente, mas se a situação não muda no ambiente de trabalho, a medicação não conseguirá mudar nada… Nós, médicos do trabalho, sabemos disso muito bem: quando a situação no ambiente de trabalho é explorada, quando o médico do trabalho intervem, faz perguntas a um empregador que aceita o fato de que mudanças precisam ser feitas, verificamos então que as pessoas conseguem voltar à sua atividade normal. Isso permite ao trabalhador perceber que não é ele mesmo a origem do problema, e perceber isso lhe ajuda a se relançar na atividade. Só isso, quando ocorre, representa muita coisa para ele. O problema deriva da negação, quando recusamos ver e entender a situação de trabalho reinante e quando dizemos à pessoa que a culpa é dela. É por isso que alguns não conseguem “sair do atoleiro”. O papel do especialista em medicina do trabalho é realmente fundamental. Ele faz a ponte entre o paciente e sua situação no ambiente de trabalho, em contato com a hierarquia.

“Conheci pacientes que tremiam, que não conseguiam mais atender um chamado telefônico, ou que tinham medo de cartas recomendadas. Tais pessoas com frequência têm dificuldades com a sua hierarquia no trabalho”, Jean-Yves Dubré

É possível a cura completa do burnout?
O burnout não é uma fatalidade. O que mais ouvimos, no desempenho da medicina do trabalho, é a frase: “O pior é que eu gosto do meu trabalho, mas não posso mais desempenhá-lo nas condições atuais”. Tais pessoas são conscienciosas e querem desempenhar bem suas tarefas, e é justamente por isso que elas estão sujeitas ao burnout.
Mas, em muitos casos, após a intervenção do especialista a situação do ambiente de trabalho muda e os pacientes conseguem se reintegrar perfeitamente. Em compensação, em certos casos a reversão do burnout mostra-se impossível, como depois de uma tentativa de suicídio que deixou sequelas físicas. Ou, em outras vezes, por causa do desenvolvimento de uma síndrome de estresse pós-traumático. Com efeito, quando os maus tratamentos duram anos, isso pode causar traumas que durarão por toda a vida. Conheci pacientes que tremiam, que não conseguiam mais atender chamados telefônicos, que tinham medo da passagem do carteiro, ou apresentavam sintomas típicos de estresse ao ver o logo da empresa onde trabalharam… Tais pessoas quase sempre tiveram dificuldades com a sua hierarquia no trabalho, as quais não quiseram lhes dar respostas ou as consideravam como colegas incômodos dos quais era necessário se liberar. Tais posturas frequentemente descambavam para situações de assédio moral.
Quando se chega a isso, trata-se de um ponto de não-retorno?
Nesses casos, tais pessoas não poderão retomar seu trabalho, mas se tomarem consciência do que lhes está acontecendo, poderão perfeitamente retomar suas atividades em algum outro lugar mais favorável. É preciso perceber que, quando não fomos bem compreendidos ou aceitos no interno de uma situação, isso não significa que nunca mais conseguiremos exercer nossa profissão. Diferentes condições de trabalho permitirão que a pessoa se realize em outros contextos. Certas vezes, as pessoas conseguem até mesmo dar um salto de qualidade em suas vidas ao se voltar para seus sonhos de infância e juventude: elas percebem que a escolha de profissão que fizeram não era a ideal para eles e, assim sendo, o que parecia uma dificuldade insuperável acaba se tornando a ocasião justa para voltar a uma atividade que corresponda melhor às suas expectativas e seus desejos.
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ABANDONAR O RACISMO E O EXTREMISMO

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QUOCIENTE DE INTELIGÊNCIA


 (photo: Andrew Ostrovsky)

21.08.2018, 23:03

NOSSO QI DIMINUI A CADA DIA QUE PASSA?

Alguns cientistas afirmam que o QI – quociente de inteligência – das pessoas não para de diminuir nos países ocidentais. Ainda não existem provas para se afirmar essa tese, mas um estudo norueguês relança o debate e acusa o meio ambiente e os novos hábitos das populações.



Por: Sarah Terrien – Le Figaro Santé

Você é menos inteligente que seus pais e seus filhos serão ainda menos inteligentes que você. Esta é, essencialmente, a ideia definida por uma minoria de cientistas nos últimos anos. Segundo eles, o QI (quociente de inteligência das pessoas) não para de diminuir nas últimas décadas nos países desenvolvidos. Um novo estudo publicado em 11 de junho último na revista norte-americana PNAS (que publica os resumos da Academia Americana de Ciências) reúne uma abundante série de constatações nesse sentido, embora os resultados finais do estudo não possam ser generalizados.
Segundo os autores, dois economistas escandinavos, o QI dos homens noruegueses nascidos entre 1962 e 1991 baixou de ano para ano. Eles atribuem o fenômeno a fatores culturais tais como o “declínio dos valores educacionais”, a “degradação dos sistemas educativos”, ou ainda a “degradação da nutrição e da saúde”.
Efeito Flynn versus Efeito Flynn negativo
A ideia de que nos países desenvolvidos está ocorrendo um processo de degradação da inteligência tem origem nos trabalhos de James Flynn, professor emérito de ciências políticas na Universidade de Otago, na Nova Zelândia. Desde 1980, Flynn estuda o nível de inteligência das populações. Segundo ele, os resultados dos testes de QI na população norte-americana teriam aumentado cerca de 3 pontos por década entre os anos 1930 e 1980. Esse fenômeno, denominado de “efeito Flynn”, foi encontrado em cerca de 30 outros países em todos os continentes. Ele é considerado pela comunidade científica mundial.
“A melhora observada nas áreas da saúde, da nutrição e da educação no decurso do século 20 explica esse incremento de pontos no QI”, diz Franck Ramus, professor de ciências cognitivas na Escola Normal Superior de Paris.
Mas, de repente, nos últimos anos, um grupo de pesquisadores tenta provar uma tendência inversa. Segundo esses, o “efeito Flynn” teria se transformado em um “efeito Flynn negativo”, uma tese segundo a qual o QI baixa continuamente nos países ocidentais desde o ano 2000.
Um dos pioneiros do estudo do “efeito Flynn negativo” é o controvertido Richard Lynn, psicólogo britânico também conhecido por suas ideias consideradas racistas e eugenistas. Nos anos 1990, Lynn sustentava por exemplo a ideia de que mais a cor da pele de uma população é escura, mais seu nível médio de inteligência é fraco.
Em abril de 1917, em entrevista ao jornal suíço Le Temps, Richard Lynn afirmou que “apenas Marine Le Pen e o governo da Hungria compreenderam que os migrantes provenientes da África e do Médio Oriente possuem uma inteligência limitada”. Assim sendo, sempre segundo Richard Lynn, a chegada desses migrantes provocaria uma baixa do QI nos países ocidentais que os acolhem. Esse cientista difunde abertamente ideias desse tipo durante as conferências que profere nos meios norte-americanos de extrema direita. É com o propósito de justificar “cientificamente” essas teorias que Lynn conduz suas pesquisas a respeito da evolução do QI nos países ocidentais.
Estudos pouco confiáveis
As posições racistas desse cientista provocam críticas e protestos acirrados vindos da maior parte dos seus colegas. Mas, à parte Lynn e os aspectos controversos de suas posições, vários outros cientistas da atualidade se interessam pela questão do QI. Entre 2005 e 2013, pelo menos uma dezena de estudos buscam demonstrar que os níveis do quociente de inteligência diminuíram  nas últimas décadas nos países escandinavos, na Grã-Bretanha e na Austrália. Tais estudos ainda não são plenamente aceitos porque lançam mão de testes cujas metodologias são muito diferentes umas das outras. Uma heterogeneidade que não permite tirar conclusões sobre uma baixa geral da inteligência.
Em 2013, e depois em 2015, Richard Lynn e Edward Dutton, um antropólogo britânico, publicaram sucessivamente dois estudos que apontam para uma baixa do QI na Finlândia e na França. Malgrado limites metodológicos importantes (o recurso a testes não convalidados para o primeiro, um número insuficiente de testes para o outro), os dois cientistas evocam, nos dois casos, a influência negativa da imigração e do “disgenismo” - uma teoria segundo a qual as pessoas menos inteligentes se reproduzem mais do que as pessoas mais inteligentes.
O QI não baixa: ele aumenta mais lentamente
Misturados a essas aproximações científicas brandidas com finalidades ideológicas, existirão estudos confiáveis que se interessam pela evolução do QI? “Os resultados obtidos por esses estudos são bastante disparatados, e é por isso que as meta-análises são indispensáveis para que se chegue a conclusões mais globais”, explica Franck Ramus. Pelo fato de examinarem os resultados e as metodologias de um grande número de estudos, as meta-análises constituem um dos melhores níveis de prova científica.
Em 2015, pesquisadores compilaram os resultados de 271 estudos sobre o QI realizados entre o início do século 20 e os anos 2010. Suas conclusões, publicadas na revista Perspectives on psychological science, não corroboram exatamente a ideia de que exista uma baixa do nível de inteligência em nível mundial. “O quociente de inteligência não diminui, mas sim é o seu índice de crescimento que agora se mostra bem mais lento do que antes”, explica Franck Ramus. E, segundo esse cientista especialista em ciências cognitivas, não há nada de alarmante nisso. “O teto do QI foi atingido”, indica Ramus, “como para a altura ou as performances esportivas, a espécie humana está atingindo os limites da sua capacidade inteligente”.
Até o momento, portanto, nenhum dado científico permite atestar a realidade de uma baixa da inteligência nos países ocidentais. “Creio ser bastante irresponsável provocar o pânico na população por causa de resultados científicos que são muito pouco conclusivos”, conclui Ramus. Para ele, parece não ser verdadeira a possibilidade de que todos formaremos, amanhã, um bando de cretinos.



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