ARTIGOS: MENTIRA, INTOLERÂNCIA E EVANGÉLICOS

  





 

PESQUISA BIBLIOGRÁFICA CIENTÍFICA (com IAC)
investigação realizada pelo Pr. Psi. Jor Jônatas David Brandão Mota
uma das atuações do seu Pastorado4



ARTIGOS: MENTIRA, INTOLERÂNCIA E EVANGÉLICOS
o conteúdo original que inclui este estudo está neste link aqui



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ÍNDICE

001   Evangélicos, Mentiras e Intolerâncias

002   Por que evangélicos são alvo e fonte de tantas mentiras?

003   Nunca foi tão urgente enfrentar a intolerância religiosa




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Evangélicos, Mentiras e Intolerâncias

A relação entre parte dos evangélicos no Brasil e a prática de fake news e intolerância é um tema complexo e controverso, que tem sido objeto de análise por historiadores, críticos e estudiosos nos últimos anos. É importante ressaltar que essa relação não se aplica a todos os evangélicos no país, mas a uma parcela específica dentro desse grupo religioso.

As fake news, ou notícias falsas, referem-se a informações enganosas ou completamente inventadas que são disseminadas com o objetivo de manipular a opinião pública, influenciar eleições, difamar pessoas ou grupos, entre outros propósitos. A prática de fake news é um fenômeno global, mas no Brasil tem ganhado destaque pela sua disseminação em larga escala, especialmente através das redes sociais.

Historiadores e críticos argumentam que parte dos evangélicos no Brasil têm se envolvido na disseminação de fake news por uma série de motivos. Alguns desses motivos incluem:

Política e polarização: A politização da religião é um fator importante na relação entre os evangélicos e as fake news. Nas últimas décadas, houve um aumento significativo da influência política de líderes evangélicos e do engajamento de fiéis em questões políticas. Nesse contexto, as fake news têm sido usadas como uma ferramenta para fortalecer determinadas posições políticas e polarizar a sociedade. Muitas vezes, as notícias falsas são criadas para atacar adversários políticos ou promover candidatos específicos.

Espalhando medo e intolerância: Alguns críticos argumentam que parte dos evangélicos tem utilizado as fake news para disseminar medo e intolerância em relação a determinados grupos, como homossexuais, pessoas de religiões de matriz africana, feministas, entre outros. Essa prática pode ser motivada por crenças religiosas conservadoras e uma visão de mundo que considera esses grupos como ameaças aos valores e princípios evangélicos.

Falta de checagem de fatos e compartilhamento acrítico: Outro fator que contribui para a disseminação de fake news entre parte dos evangélicos é a falta de checagem de fatos e o compartilhamento acrítico de informações nas redes sociais. Muitas vezes, as pessoas compartilham notícias sem verificar sua veracidade, confiando apenas na sua fonte ou no conteúdo que se alinha às suas crenças e visões de mundo. Esse comportamento pode ser influenciado por uma confiança excessiva em líderes religiosos ou figuras de autoridade dentro da comunidade evangélica.

É importante destacar que essas são apenas algumas das razões apontadas por historiadores e críticos para a relação entre parte dos evangélicos no Brasil e as fake news. É necessário ter cautela para não generalizar ou estigmatizar todos os evangélicos com base nessas observações, uma vez que há uma diversidade de opiniões e atitudes dentro desse grupo religioso.

Além disso, é importante ressaltar que há também evangélicos que se opõem veementemente à disseminação de fake news e que trabalham para combater a intolerância e promover o





EXEMPLOS DE FAKE NEWS

É importante ressaltar que nem todos os evangélicos estão envolvidos na disseminação de fake news. No entanto, há alguns exemplos de notícias falsas que foram atribuídas a indivíduos ou grupos evangélicos. A seguir, listo 10 exemplos de situações que foram lembradas por críticos como fake news produzidos ou divulgados por pessoas ou grupos evangélicos:

Kit gay nas escolas: Uma notícia falsa amplamente divulgada alegava que o Ministério da Educação estaria distribuindo um "kit gay" para ser usado em escolas, com o objetivo de promover a homossexualidade entre crianças e adolescentes. Essa fake news gerou muita polêmica e teve um impacto significativo no debate sobre educação sexual.

Mamadeira de piroca: Circulou a informação falsa de que o Museu de Arte Moderna (MAM) teria promovido uma exposição em que uma criança teria tocado em um homem nu. Essa notícia distorcida foi utilizada para criticar a suposta "sexualização precoce" nas artes.

Satanismo na novela "O Sétimo Guardião": Uma fake news afirmava que a novela "O Sétimo Guardião" da Rede Globo tinha como objetivo promover o satanismo. Essa informação falsa gerou uma onda de protestos e boicotes à emissora.

Vacinas causando autismo: Essa é uma fake news que não é exclusiva de evangélicos, mas alguns grupos religiosos, incluindo evangélicos, têm sido associados à disseminação da desinformação de que as vacinas causam o autismo em crianças. Essa teoria já foi amplamente desmentida pela comunidade científica.

Pacto com demônios: Surgiu a fake news de que líderes religiosos evangélicos estariam realizando rituais e fazendo pactos com demônios em busca de poder e influência. Essa notícia falsa tem como objetivo difamar e desacreditar esses líderes.

Enchentes como castigo divino: Em algumas situações, líderes evangélicos foram acusados de espalhar fake news ao afirmar que enchentes e desastres naturais seriam castigos divinos direcionados a determinadas comunidades ou grupos de pessoas.

Aborto em casos de estupro: Fake news foram divulgadas alegando que a legalização do aborto em casos de estupro permitiria que mulheres falsificassem estupros para interromperem suas gestações. Essa informação falsa é utilizada como argumento contra a legalização do aborto.

Teoria da conspiração: Alguns evangélicos têm compartilhado teorias da conspiração, como a afirmação de que o mundo está sendo controlado por uma elite global ou que existe uma agenda oculta para estabelecer uma nova ordem mundial, muitas vezes associadas a grupos secretos, como os illuminati.

Cura gay: Houve a divulgação de fake news afirmando que pastores e líderes evangélicos teriam o poder de "curar" a homossexualidade por meio de orações ou terapias de conversão. Essa desinformação tem causado danos e perigos todas as pessoas que se identificam como LGBTQIA+.

Eleições e candidatos: Durante períodos eleitorais, algumas fake news relacionadas a candidatos políticos e suas posições são divulgadas por grupos ou indivíduos evangélicos. Essas notícias falsas podem incluir acusações infundadas, distorção de declarações ou até mesmo a criação de histórias inventadas para prejudicar a imagem de determinado candidato.

Perseguição religiosa: Em algumas ocasiões, foi divulgada a fake news de que os evangélicos estariam sendo perseguidos ou sofrendo discriminação religiosa no país. Essa narrativa falsa pode ser utilizada para criar uma sensação de vitimização e fortalecer o apoio dentro da comunidade evangélica.

Milagres e curas: Alguns líderes evangélicos têm sido acusados de divulgar notícias falsas relacionadas a supostos milagres e curas realizados em suas igrejas. Essas histórias podem ser inventadas ou distorcidas para atrair fiéis e promover uma imagem de poder espiritual.

É importante destacar que esses exemplos não representam toda a comunidade evangélica e não devem ser generalizados para todos os evangélicos. Esses são casos específicos que foram lembrados por críticos como exemplos de fake news atribuídas a indivíduos ou grupos evangélicos. A disseminação de fake news é um problema que afeta diferentes segmentos da sociedade e não está restrita a uma única religião ou grupo.





EXEMPLOS DE INTOLERÂNCIA

A intolerância religiosa é um problema que pode ocorrer em diferentes contextos e envolver diferentes grupos religiosos. Embora seja importante ressaltar que nem todos os evangélicos são intolerantes, há casos específicos em que críticos apontam a existência de intolerância por parte de evangélicos contra católicos e outras religiões. A seguir, listo 10 exemplos de situações que são lembradas por críticos como exemplos de intolerância por parte de alguns evangélicos:

Ofensas e difamações: Ocorrência de casos em que líderes evangélicos proferiram discursos ofensivos e difamatórios contra a Igreja Católica ou outras religiões, desrespeitando suas crenças e práticas.

Conflitos em comunidades: Situações em que comunidades católicas e evangélicas entraram em conflito, muitas vezes motivadas por preconceitos religiosos e incompreensão mútua.

Vandalismo em igrejas: Relatos de ataques ou vandalismo em templos católicos ou de outras religiões, como pichações ofensivas, destruição de imagens religiosas e profanação de espaços sagrados.

Desrespeito a símbolos religiosos: Casos em que símbolos e objetos religiosos católicos foram alvo de desrespeito e profanação por parte de alguns evangélicos.

Intimidação e discriminação: Relatos de situações em que católicos ou adeptos de outras religiões foram alvo de intimidação, discriminação ou exclusão por parte de indivíduos evangélicos, seja no ambiente escolar, de trabalho ou na vida cotidiana.

Boicote a eventos inter-religiosos: Recusa de participação em eventos ecumênicos ou inter-religiosos por parte de grupos evangélicos, demonstrando uma resistência ao diálogo e à cooperação inter-religiosa.

Preconceito contra práticas e rituais religiosos: Críticas e ridicularização de práticas e rituais católicos e de outras religiões por parte de líderes evangélicos, criando um ambiente de hostilidade e intolerância.

Apropriação e deturpação de símbolos religiosos: Uso indevido e deturpado de símbolos religiosos católicos ou de outras religiões por parte de alguns grupos evangélicos, com o intuito de desacreditar ou denegrir essas tradições religiosas.

Restrições à liberdade religiosa: Alguns críticos argumentam que certas ações e posicionamentos de grupos evangélicos têm contribuído para limitar a liberdade religiosa de outros grupos religiosos, seja através de pressões políticas ou influência nas políticas públicas.

Disseminação de estereótipos e preconceitos: Divulgação de estereótipos negativos e preconceituosos sobre a Igreja Católica e outras religiões por parte de alguns evangélicos, contribuindo para a perpetuação de ideias equivocadas e intolerância.






BIBLIOGRAFIA 

  • "O ódio como política: A reinvenção das direitas no Brasil" - Esther Solano (2018)
  • "A Igreja do Medo: Ressentimento, autoritarismo e o PT" - Ricardo Alexandre (2018)
  • "Democracia e religião: Tensões e diálogos" - Lídice Meyer Pinto Ribeiro (org.) (2017)
  • "Religião e política no Brasil: Ensaios de sociologia e de história" - Ronaldo de Almeida (org.) (2006)
  • "Evangélicos e mídia: Discursos, práticas e disputas" - Sandra Duarte de Souza (org.) (2013)
  • "O surgimento do neopentecostalismo no Brasil: Uma análise histórica" - Magali do Nascimento Cunha (2001)
  • "A religião no espaço público: Estudos sobre os pentecostais no Brasil" - Cecília Mariz (org.) (2009)
  • "Mídia, religião e política: A nova cruzada midiática" - Jorge Miklos e Pedro Gerolimich (2012)
  • "Política e religião: Perspectivas históricas e contemporâneas" - Antonio Carlos Santana de Souza (org.) (2014)
  • "O Espírito Santo e o mercado: Um estudo de caso da Igreja Universal do Reino de Deus" - Reginaldo Prandi (1997)




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Por que evangélicos são alvo e fonte de tantas mentiras?

Evangélicos brasileiros têm revelado a desobediência a uma das orientações que permeiam o livro sagrado cristão: não mentir

Apesar de serem caracterizados, histórica e culturalmente, pelo apego à Bíblia, evangélicos brasileiros têm desobedecido intensamente nos últimos anos uma das principais orientações do livro sagrado cristão: não mentir.

Nos muitos textos sobre o tema, é enfatizado que Deus abomina a mentira, como no trecho de Provérbios 6.16-19, que se torna uma síntese dos outros vários.

“Há seis coisas que o Senhor odeia, sete coisas que ele detesta: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que traça planos perversos, pés que se apressam para fazer o mal, a testemunha falsa que espalha mentiras e aquele que provoca discórdia entre irmãos.”

Apesar da nítida orientação contida no livro tão amado e ressaltado por evangélicos, o que temos acompanhado no Brasil, pelo menos desde 2018, é um conjunto de posturas que favorece a circulação e a propagação de mentiras entre este grupo.

Estas posturas se configuram em um ponto inicial que é a formulação do conteúdo mentiroso dentro do próprio ambiente evangélico. Segundo o acompanhamento realizado desde a pesquisa Caminhos da Desinformação: Evangélicos, Fake News e WhatsApp no Brasil até o que é empreendido pelo Coletivo Bereia – Informação e Checagem de Notícias, pastores, pastoras, presidentes de igrejas, bispos e outra autoridades, influenciadores digitais, entre artistas gospel, políticos evangélicos e outras personagens que ocupam o espaço público e emergem como celebridades midiáticas, criam conteúdo falso e enganoso e o propagam em seus espaços nas mídias sociais dos aplicativos populares das big techs.

Nesta postura, parece haver uma intenção, ou seja, elaboração deliberada da mentira, para captar apoios de natureza demagógica nas comunidades evangélicas a temas e pautas de cunho ideológico. Entre elas esteve, por exemplo, a oposição a procedimentos científicos, como as medidas sanitárias aplicadas para a prevenção da covid-19 nos anos de 2020 e 2021. Está também a negação do valor da vacinação na proteção contra doenças e a aversão aos direitos de pessoas que não aplicam em suas vidas a orientação dos costumes evangélicos no tocante à sexualidade.

É possível contabilizar neste grupo material falso contra o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral e sobre fraudes em urnas eletrônicas, por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro durante o processo eleitoral 2022, entre outros temas, como foi o caso da campanha contra o Projeto de Lei 2630/2020, denominado popularmente de Lei das Fake News. A noção de que a chamada Lei das Fake News é uma lei de censura criada pelo atual governo e pelas esquerdas e o STF para silenciar as igrejas e para impedir críticas públicas a políticos, foi fartamente disseminada por estas personagens citadas acima.

Outra postura é o alinhamento à mentira da parte deste grupo e de lideranças que estão em nível intermediário (pastores e pastoras e pessoas que têm funções de destaque nas diversas comunidades evangélicas do Brasil afora) com a replicação (o compartilhamento) de conteúdo produzido por terceiros. Boa parte destas mensagens não tem conteúdo religioso exclusivo, mas traz temas como o do suposto cerceamento de liberdade de expressão, o negacionismo em relação à ciência (em especial na área da saúde), a ameaça comunista e de ativistas feministas e LGTBI+, e são repercutidos por afinidade/alinhamento ideológico.

Produtores da indústria da desinformação, que não são religiosos, mas querem captação de apoio para interferir em temas de interesse público e obter vantagens (políticas ou financeiras), conseguem assessoria de lideranças e influenciadores evangélicos para produzirem material específico destinado ao grupo. Oferecem memes, cards, áudios, vídeos, com linguagem que cria vínculos emocionais, com textos bíblicos, por exemplo. No caso da desinformação em torno do PL 2630, tornou-se conhecido que a Câmara Brasileira de Economia Digital, associação brasileira que reúne empresas como Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp), Google e TikTok produziu um documento entregue a deputados afirmando que o projeto de lei proibiria a livre expressão de cristãos nas mídias sociais, especialmente a publicação de certos versículos bíblicos. O conteúdo falso foi disseminado por personagens como o deputado federal da Igreja Batista Deltan Dallagnol.

A postura da assimilação, por evangélicos comuns, as pessoas que participam cotidianamente das igrejas, é a que torna este grupo um forte propagador, ou “traficante” de desinformação. Fiéis evangélicos são os destinatários de todo este conteúdo. Tanto as lideranças e influenciadores religiosos, como os produtores da indústria da desinformação, buscam afetar estas pessoas, como mencionado acima, lançando mão do imaginário evangélico sedimentado em quase dois séculos de pregação e atuação predominantes entre grupo religioso no Brasil.

Este imaginário é moldado por elementos-chave como a superação perseguição religiosa, algo que absolutamente não existe no país contra cristãos, mas que é acionado pela imagem bíblica da perseguição de Roma aos primeiros cristãos; o enfrentamento de inimigos, as hostes do mal (Satanás e seu séquito) que atuam contra a propagação do Evangelho e o crescimento das igrejas; a pureza do corpo, em especial no cultivo de uma sexualidade padronizada no ocidente como heteronormativa, guardada para o casamento monogâmico para a geração de filhos e prosseguimento no povoamento da Terra.

Além de assistirmos a esta instrumentalização da religião para campanhas públicas em bases falsas e enganosas, vemos também o uso da palavra, por parte de líderes, para perseguir e atacar quem se coloca em oposição a estas posturas dentro das igrejas. Não são poucas as pessoas classificadas como não cristãs, traidoras da igreja, simplesmente por denunciarem o uso da mentira para capturar apoios.

Fica o desafio de pessoas e grupos evangélicos retomarem a Bíblia tão amada e um dos destacados ensinamentos de Jesus sobre conhecer a verdade, tal como registrado no Evangelho de João, fartamente instrumentalizado em discursos políticos do ex-presidente que deixou o cargo em 31 de dezembro passado, a mentira é exposta como filha do inimigo de Deus, o Diabo. Jesus diz, aos que se colocavam em oposição às suas ações, e que apregoavam mentiras neste debate público: “Vocês pertencem ao pai de vocês, o Diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira” (João 8.44).

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Nunca foi tão urgente enfrentar a intolerância religiosa

Historicamente, a intolerância religiosa no país remonta ao exclusivismo católico no Brasil Colônia, sob a ideologia da superioridade europeia

Recorrentes casos de incêndios e destruição de terreiros de candomblé e de umbanda e de monumentos relacionados a estas religiões. Frequentes episódios de discriminação e ataques contra a integridade de pessoas afrorreligiosas vestidas com símbolos sagrados. Significativo número de capelas e igrejas cristãs católicas pichadas, com imagens sagradas destruídas. Diversas situações de ofensa e violência física a mulheres muçulmanas. Periódica desqualificação pública de evangélicos como pessoas esquisitas, alienadas, ignorantes, vigaristas e charlatãs. Diversas formas de agressão contra judeus e sinagogas. Certo índice de assédios e afrontas contra ateus e contra pessoas que não confessam uma religião.

Sim, estamos falando do Brasil, na segunda década do século 21, e de práticas intensificadas neste período, identificadas como “intolerância religiosa”. Entre as muitas formas de indisposição ao outro, ao diferente, da falta de capacidade ou de vontade de coexistir, de reconhecer e de respeitar as diferenças, está a intolerância religiosa. Ela se concretiza em preconceito, discriminação, segregação, ódio, violência nas mais diferentes expressões, contra vinculações, práticas e expressões religiosas e de fé e do direito de não se ter uma crença.

A intolerância religiosa pode ser praticada por religiões dominantes frente a outras expressões religiosas e de não-religião, e entre religiosos contra diferentes formas de interpretar e viver a fé dentro de uma mesma religião.

Historicamente, a intolerância religiosa no país remonta ao exclusivismo católico no Brasil Colônia, sob a ideologia da superioridade europeia. Durante o século 20, o Brasil viveu aberturas graduais à liberdade religiosa: mais facilmente em relação aos cristãos evangélicos e a religiões trazidas por imigrantes (como as orientais, por exemplo), porém, mais tardiamente com os grupos afrorreligiosos e de raízes indígenas.

Entretanto, a defesa da liberdade religiosa e o enfrentamento do racismo e da xenofobia tornou nítida a pluralidade religiosa nestas terras. O Brasil é um país plural do ponto de vista religioso. Esta noção, antes negada pela construção da imagem do país católico, vem sendo construída lentamente, a partir da segunda metade do século 20. As bases estão na defesa do direito à liberdade de crença e não crença, contidas na Declaração Universal dos Direitos Humanos (art. 18) e na Constituição Cidadã, de 1988 (artigo 5º).

Estes princípios foram fundamentais para alimentarem políticas públicas para garantia deste direito no Brasil, como o Disque 100 (serviço de denúncias e proteção contra violações de direitos humanos, que funciona 24 horas, todos os dias da semana). Também, a instituição do Dia Nacional do Combate à Intolerância Religiosa, 21 de janeiro (data escolhida em homenagem à Iyalorixá Mãe Gilda, morta em 1999, vítima de intolerância religiosa no final de 1999, e em referência ao Dia Mundial da Religião).

Relatórios apresentados pelo Estado brasileiro e por instituições como a Unesco, nos últimos 20 anos, reafirmam que a população afrorreligiosa é a mais vitimada. Um grupo de pesquisadores defende o termo “racismo religioso”, diante do que foi estruturado cultural e ideologicamente a partir da colonização, alimentador da intolerância.

No entanto, a situação se agravou na última década, com a insurgência de movimentos de extrema-direita política que conseguiram eleger o presidente da República em 2018.

O Brasil passou a experimentar o avanço dos fundamentalismos político-religiosos (de católicos e evangélicos e de outras religiões) que representam o uso da matriz religiosa para a defesa de pautas anti-direitos das minorias sociais, como mulheres, LGBTI+, comunidades tradicionais (negras e indígenas).

Emergiram grupos religiosos e inter-religiosos (cristãos, espíritas, judeus, islâmicos, de espiritualidades da floresta) que se revestem características passionais em alto grau, de fanatismo, de idolatria de personagens-líderes, e adquirem caráter de seita, com base em uma matriz religiosa ancorada na “luta contra inimigos da fé, da família, da Pátria”. Estes grupos usam o discurso da “liberdade religiosa” justamente para atuar pelo contrário, para agir livremente contra a pluralidade de ideias e de religiões e impor uma única forma de crer e de viver a fé.

A instrumentalização política da religião para alimentar práticas extremistas, ancoradas na imposição de uma única visão de mundo, no ódio, na exclusão, na eliminação do Outro, do Diferente, está provocando cada vez mais intolerância. Estas práticas, em si, já reproduzem, com agravantes, séculos de história do Brasil de violência contra religiões. Por outro lado, instigam intolerância em pessoas que desejam ver a justiça fluir para todos. Apesar delas se oporem a tal instrumentalização, acabam assumindo atitudes de rejeição e discriminação a expressões religiosas legítimas, que são, afinal de contas, um direito humano.

Nunca foi tão urgente enfrentar a intolerância religiosa, afinal, o quadro é grave, como descrito aqui. Porém, o momento, como declarado por lideranças de diversas frentes sociais, é de pacificação e de reconstrução da democracia, com base na pauta de direitos. Ficam como desafios para o Estado e para cada uma de nós:

  • atuar para se garantir o direito de cada grupo religioso, qualquer que seja, existir e viver sua fé e para o direito de não se ter uma religião;
  • denunciar e contrapor a instrumentalização política oportunista das religiões que nega o direito e engana com discursos que distorcem a noção da liberdade;
  • educar em todos os espaços (incluindo os ocupados por agentes públicos) para a valorização da pluralidade religiosa e para o reconhecimento e o respeito às diferenças;
  • desafiar lideranças, nos mais diversos níveis, a uma compreensão e à sensibilidade quanto ao lugar das expressões religiosas na vida das pessoas, como elemento que atribui sentido e estimula ações e vivências.

fonte



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