Pedro II do Brasil


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Dom Pedro II)
Dom Pedro II
Imperador do Brasil
Imperador do Brasil
Pedro II circa 1887b transparent.png
Dom Pedro II aos 61 anos de idade, 1887
Governo
Reinado7 de abril de 1831
a15 de novembro de 1889 (58 anos)
Coroação18 de julho de 1841
ConsorteTeresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias
AntecessorDom Pedro I
HerdeiroIsabel, Princesa Imperial do Brasil
SucessorNenhum
Brasil República (Deodoro da Fonseca)
DinastiaCasa de Bragança
Vida
Nascimento2 de dezembro de 1825
Rio de Janeiro
Morte5 de dezembro de 1891 (66 anos)
Paris, França
SepultamentoMausoléu ImperialCatedral de PetrópolisRio de JaneiroBrasil
FilhosAfonso, Príncipe Imperial do Brasil
Isabel, Princesa Imperial do Brasil
Leopoldina, Princesa do Brasil
Pedro, Príncipe Imperial do Brasil
PaiDom Pedro I
MãeLeopoldina de Áustria
AssinaturaAssinatura de Dom Pedro II
Dom Pedro II (Rio de Janeiro2 de dezembro de 1825 – Paris5 de dezembro de 1891), alcunhado o Magnânimo1 2 foi o segundo e último soberano do Império do Brasil, tendo reinado o país durante um período de 58 anos.nota 1 Nascido no Rio de Janeiro, foi o filho mais novo do imperador Dom Pedro I do Brasil e da imperatriz Dona Maria Leopoldina de Áustria e, portanto, membro do ramo brasileiro da Casa de Bragança. A abrupta abdicação do pai e sua viagem para a Europa tornaram Pedro imperador com apenas cinco anos, resultando em uma infância e adolescência tristes e solitárias. Obrigado a passar a maior parte do seu tempo estudando em preparação para imperar, ele conheceu momentos breves de alegria e poucos amigos de sua idade. Suas experiências com intrigas palacianas e disputas políticas durante este período tiveram grande impacto na formação de seu caráter. Pedro II cresceu para se tornar um homem com forte senso de dever e devoção ao seu país e seu povo. Por outro lado, ele ressentiu-se cada vez mais de seu papel como monarca.
Herdando um Império no limiar da desintegração, Pedro II transformou o Brasil numa potência emergente na arena internacional. A nação cresceu para distinguir-se de seus vizinhos hispano-americanos devido a sua estabilidade política, a liberdade de expressão zelosamente defendida, respeito aos direitos civis, a seu crescimento econômico vibrante e especialmente por sua forma de governo: uma funcional monarquia parlamentar constitucional. O Brasil também foi vitorioso em três conflitos internacionais (a Guerra do Prata, a Guerra do Uruguai e a Guerra do Paraguai) sob seu reinado, assim como prevaleceu em outras disputas internacionais e tensões domésticas. Pedro II impôs com firmeza a abolição da escravidão apesar da oposição poderosa de interesses políticos e econômicos. Um erudito, o imperador estabeleceu uma reputação como um vigoroso patrocinador do conhecimento, cultura e ciências. Ganhou o respeito e admiração de estudiosos como Graham BellCharles DarwinVictor Hugo e Friedrich Nietzsche, e foi amigo de Richard WagnerLouis PasteurJean-Martin Charcot,Henry Wadsworth Longfellow, dentre outros.
Apesar de não haver desejo por uma mudança na forma de governo da maior parte dos brasileiros, o imperador foi retirado do poder num súbito golpe de Estado que não tinha maior apoio fora de um pequeno grupo de líderes militares que desejam uma república governada por um ditador. Pedro II havia se cansado da posição de imperador e se tornado desiludido quanto as perspectivas do futuro da monarquia, apesar de seu grande apoio popular. Ele não permitiu qualquer medida contra sua remoção e não apoiou qualquer tentativa de restauração da monarquia. Passou os seus últimos dois anos de vida no exílio na Europa, vivendo só e com poucos recursos.
O reinado de Pedro II veio a um final incomum — ele foi deposto apesar de altamente apreciado pelo povo e no auge de sua popularidade, e algumas de suas realizações logo foram desfeitas visto que o Brasil deslizou para um longo período de governos fracos, ditaduras e crises constitucionais e econômicas. Os homens que o exilaram logo começaram a enxergá-lo como um modelo para a república brasileira. Algumas décadas após sua morte, sua reputação foi restaurada e seus restos mortais foram trazidos de volta ao Brasil como os de um herói nacional. Sua reputação perdura até o presente. Os historiadores o enxergam numa visão extremamente positiva, sendo considerado por vários o maior brasileiro.

Primeiros anos

Nascimento

Pedro II aos 10 meses de idade, 1826
Pedro nasceu às 2h30 da manhã do dia 2 de dezembro de 1825 no Paço de São Cristóvão, na cidade do Rio de Janeiro.4 5 6 Batizado em homenagem a São Pedro de Alcântara,7 8 seu nome completo era Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga.1 9 10 8
Pelo seu pai, o imperador Pedro I, ele era membro do ramo brasileiro da Casa de Bragança e seu nome era precedido pelo honorífico "Dom" ("Senhor" ou "Lorde") desde o nascimento.11 Foi neto do rei português Dom João VI e sobrinho de Dom Miguel I.12 13 Sua mãe foi a Arquiduquesa Maria Leopoldina da Áustria, filha de Francisco II, último monarca do Sacro Império Romano-Germânico. Por sua mãe, Pedro era sobrinho de Napoleão Bonaparte e primo carnal dos imperadores Napoleão II de França, Francisco José I de Áustria-Hungria e DomMaximiliano I do México.13 14 15
Único filho do sexo masculino legítimo de Pedro I a sobreviver a infância, foi oficialmente reconhecido como herdeiro do trono brasileiro com o título de Príncipe Imperial a 6 de agosto de 1826.9 16 A Imperatriz Leopoldina morreu a 11 de dezembro de 1826, poucos dias após dar a luz a um menino natimorto,17 quando Pedro tinha um ano de idade.15 Pedro não guardou recordações de sua mãe, a não ser pelo que depois lhe foi contado.18 19 A influência e lembrança de seu pai também apagou-se com o tempo, e não guardou fortes imagens de Pedro I, mas apenas poucas e vagas lembranças.20
Dois anos e meio após a morte de Leopoldina, o imperador casou-se com Amélia de Leuchtenberg. O Príncipe Pedro passou pouco tempo com sua madrasta; no entanto, criaram um relacionamento afetuoso21 22 23 e mantiveram contato até a morte dela em 1873.24 O imperador Pedro I abdicou em 7 de abril de 1831, após um longo conflito com a facção liberal (que por sua vez iria mais tarde dividir-se nos dois partidos dominantes na monarquia, o Conservador e o Liberal) dominante no parlamento. Ele e Amélia partiram imediatamente para a Europa, onde Pedro I iria lutar para restaurar sua filha Maria II, cujo trono em Portugal fôra usurpado por seu irmão Miguel I.25 26 Deixado para trás, o Príncipe Imperial Pedro tornou-se "Dom Pedro II, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil".6

Educação

O imperador Pedro II aos 12 anos de idade vestindo o uniforme imperial de gala, 1838, por Félix Émile Taunay, no Museu Imperial
Ao deixar o país, o imperador Pedro I selecionou três pessoas para cuidarem de seu filho e das filhas remanescentes. A primeira foi José Bonifácio de Andrada, seu amigo e líder influente da independência brasileira, nomeado tutor.27 28 A segunda foi Mariana Carlota de Verna Magalhães Coutinho (depois Condessa de Belmonte), que detinha o cargo de aia desde o nascimento de Pedro II.29 Quando bebê, Pedro II a chamava de "dadama", pois não pronunciava corretamente a palavra "dama".16 Considerava-a sua mãe de criação, e continuaria a chamá-la por afeto de "dadama" mesmo já adulto.4 30 A terceira pessoa escolhida foi Rafael, um veterano negro da Guerra da Cisplatina.2931 Rafael era um empregado do paço em quem Pedro I possuía profunda confiança, e pediu que olhasse por seu filho—pedido que levaria a termo pelo resto de sua vida.9 31
José Bonifácio foi destituído de sua posição em dezembro de 1833 e substituído por outro tutor.32 33 34 Pedro II passava os dias estudando,35 com apenas duas horas livres para recreação.36 Acordava às 6h30 da manhã e começava seus estudos às sete, continuando até as dez da noite, quando ia para cama.37 Tomou-se grande cuidado em sua educação para formar valores e personalidade diferente da impulsividade e irresponsabilidade demonstradas por seu pai.32 38 Sua paixão por leitura lhe permitiu assimilar qualquer informação.39Pedro II não era um gênio,40 mas inteligente41 e com grande capacidade para acumular conhecimento facilmente.42
O imperador teve uma infância solitária e infeliz.9 43 A perda súbita de seus pais o assombraria por toda a vida;44 ele teve poucos amigos de sua idade29 37 45 e o contato com suas irmãs era limitado.32 35 45 O ambiente em que foi criado o tornou tímido e carente46 47 , enxergando nos livros refúgio e fuga do mundo real.48 49

Coroação antecipada

A coroação de Pedro II aos 15 anos de idade em 18 de julho de 1841 por Manuel de Araújo Porto-Alegre, no Museu Histórico Nacional
A elevação de Pedro II ao trono imperial em 1831 levou a um período de crises, o mais conturbado da história do Brasil.50 Uma regência foi criada para governar em seu lugar até que atingisse a maioridade.25 Disputas entre facções políticas resultaram em diversas rebeliões e levaram a uma situação instável, quase anárquica, sob os regentes.51
A possibilidade de diminuir a idade em que o jovem imperador seria considerado maior de idade, ao invés de esperar até que completasse 18 anos de idade em 2 de dezembro de 1843, era levada em consideração desde 1835.52 53 54 A ideia era apoiada, de certa forma, pelos dois principais partidos políticos.53 55 Acreditava-se que aqueles que o auxiliassem a tomar as rédeas do poder estariam em posição para manipular o jovem inexperiente.56 Aqueles políticos que haviam surgido na década de 1830 haviam se tornado familiares aos perigos de governar. De acordo com o historiador Roderick J. Barman, "eles haviam perdido toda a fé em sua habilidade para governar o país por si só. Eles aceitaram Pedro II como uma figura de autoridade cuja presença era indispensável a sobrevivência do país."57 O povo brasileiro também apoiava a diminuição da maioridade, e consideravam Pedro II "o símbolo vivo da união da pátria"; esta posição "deu a ele, aos olhos do público, uma autoridade maior do que a de qualquer regente."58
Aqueles que defendiam a imediata declaração de maioridade de Pedro II passaram uma moção requisitando ao imperador que assumisse poderes plenos.59 Uma delegação foi enviada a São Cristóvão para perguntar se Pedro II aceitaria ou rejeitaria a declaração antecipada de sua maioridade.59 60 61 Ele respondeu timidamente que "sim" quando perguntado se desejaria que a maioridade fosse diminuida, e "já" quando indagado se desejaria que viesse a ter efeito naquele momento ou preferiria esperar até o seu aniversário em dezembro.62 63 No dia seguinte, em 23 de julho de 1840, a Assembléia Geral (o parlamento brasileiro) declarou formalmente Pedro II maior aos 14 anos de idade.64 65 Lá, a tarde, o jovem imperador prestou o juramento de ascensão.66 67 Foi aclamado, coroado e consagrado em 18 de julho de 1841.68 69

Consolidação

Casamento

Teresa Cristina, esposa de Pedro II, aos 24 anos de idade, 1846, por Johann Moritz Rugendas
O fim da regência facciosa estabilizou o governo. Com um legítimo monarca no trono, a autoridade foi revestida numa única e clara voz.70Pedro II percebia o seu papel como o de um árbitro, mantendo seus conceitos pessoais de lado para não afetarem o seu dever de desemaranhar disputas políticas partidárias.70 O jovem monarca era dedicado, realizando inspeções diárias pessoais e visitas a repartições públicas. Seus súditos eram impressionados com a sua aparente auto-confiança,70 apesar de que sua timidez e falta de desenvoltura eram vistas como defeitos. Seu jeito reservado de falar apenas uma ou duas palavras a cada vez tornavam conversações diretas extremamente difíceis.71 Sua natureza taciturna era manifestação de uma prevenção quanto a relações próximas que tinha origem nas experiências de abandono, intriga e traição que vivenciou na infância.72
Por trás das cenas, um grupo de servos palacianos de alto nível e notáveis políticos tornou-se conhecido como "Facção Áulica" (e também "Clube da Joana") por estabelecerem influência sobre o jovem imperador—e algum eram de fato próximos, como Mariana de Verna.73Pedro II foi usado com maestria pelos áulicos para eliminar seus inimigos (reais ou imaginários) através da remoção de seus rivais. Acesso a pessoa do monarca por políticos rivais e as informações que este recebia eram cuidadosamente controladas. Uma rodada contínua de negócios de governos, estudos, eventos e aparições pessoais, utilizadas como distrações, mantiveram o imperador ocupado, isolando-o efetivamente e impedindo-o de perceber a extensão do quanto estava sendo explorado.74
Preocupados com a taciturnidade e imaturidade do imperador, os áulicos acreditavam que um casamento poderia melhorar o seu comportamento e sua personalidade.75 O governo do Reino das Duas Sicílias ofereceu a mão da Princesa Teresa Cristina.76 77 78 Um retrato foi enviado e este revelava uma jovem e bela mulher, o que levou Pedro II a aceitar a proposta.79 80 Eles foram casados por procuração em Nápoles em 30 de maio de 1843.81 82 83 A nova Imperatriz do Brasil desembarcou no Rio de Janeiro em 3 de setembro.84 85 Ao vê-la pessoalmente o imperador aparentou estar claramente decepcionado.86 87 88 A pintura que havia recebido era claramente uma idealização; a Teresa Cristina real era baixa, um pouco acima do peso, coxa e apesar de não ser feia, também não era bonita.86 87 89 Ele fez pouco para esconder sua desilusão. Um observador afirmou que ele deu às costas a Teresa Cristina, outro disse que ele estava tão chocado que precisou sentar, e é possível que ambos tenham ocorrido.86 Naquela noite Pedro II chorou e reclamou para Mariana de Verna, "Eles me enganaram, Dadama!"86 88 90 Foram necessárias horas para convencê-lo de que o dever exigia que ele seguisse em frente com o matrimônio.86 88 90 Uma celebração nupcial, com a ratificação dos votos tomados por procuração e o conferimento de uma benção nupcial, ocorreu no dia seguinte, 4 de setembro.91 92 93

Estabelecimento da autoridade imperial

Pedro II, aos 20 anos de idade, 1846, por Johann Moritz Rugendas
Por volta de 1846 Pedro II já havia amadurecido fisicamente e mentalmente. Ele não era mais o jovem inseguro de 14 anos idade que se permitia levar por boatos, por sugestões de complôs secretos, e outras táticas manipuladoras.94 Ele cresceu num homem, que com 1,90 m de altura,95 96 olhos azuis e cabelos loiros,61 86 95 era descrito como belo.39 86 97 Com seu crescimento, suas fraquezas desapareceram e suas qualidades de caráter vieram a tona. Ele aprendeu não só a ser imparcial e dedicado, mas também cortês, paciente e sensato. A medida que ele começou a exercer por completo sua autoridade, suas novas habilidades sociais e dedicação no governo contribuíram grandemente para a eficiência de sua imagem pública.94 O historiador Roderick J. Barman o descreveu: "Ele mantinha suas emoções sob disciplina férrea. Ele nunca era rude e nunca perdia a cabeça. Ele era excepcionalmente discreto com as palavras e cauteloso na forma de agir."98
No fim de 1845 e no início de 1846 o imperador realizou uma viagem pelas províncias mais ao sul do Brasil, passando por São Paulo (do qual o atual Paraná então fazia parte), Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Ele ficou surpreso pela recepção entusiástica e calorosa que recebeu em todas as províncias.99 Este sucesso o encorajou, pela primeira vez na vida, a agir de forma confiante por iniciativa e juízos próprios.100 Mais importante, este período viu o fim da Facção Áulica. Pedro II eliminou com sucesso toda e qualquer influência que os áulicos detinham ao removê-los de seu círculo íntimo ao mesmo tempo em que evitava uma perturbação pública.101
Pedro II por volta dos 22 anos de idade, c. 1848. Esta é uma cópia posterior de um daguerreótipopresumivelmente perdido. É a fotografia sobrevivente mais antiga do imperador
Pedro II enfrentou três graves crises entre 1848 e 1852.98 O primeiro teste veio como a confrontação ao tráfico ilegal de escravos provenientes do continente africano. Este havia sido legalmente extinto como parte de um tratado com a Grã-Bretanha.102 O tráfico permaneceu inalterado, no entanto, e o parlamento britânico promulgou o Bill Aberdeen em 1845, autorizando navios de guerra britânicos abordarem navios de carga brasileiros e apreender os que estivessem envolvidos no tráfico. Enquanto o Brasil se encontrava preso a este problema, a Revolta Praieira eclodiu em 6 de novembro de 1848. Se tratou de um conflito entre facções políticas locais na província de Pernambuco, e foi suprimida em março de 1849. A lei Eusébio de Queirós foi promulgada em 4 de setembro de 1850, provendo ao governo brasileiro autoridade ampla para combater o tráfico ilegal de escravos. Com esta nova ferramenta, o Brasil passou a eliminar a importação de escravos. Por volta de 1852 esta primeira crise estava eliminada, com a Grã-Bretanha reconhecendo que o tráfico havia sido suprimido.103
A terceira crise envolveu um conflito com a Confederação Argentina relacionado a ascendência sobre os territórios ao redor do Rio da Prata e da livre navegação de seus afluentes.104 Desde a década de 1830 que o ditador argentino Dom Juan Manuel de Rosas apoiava rebeliões dentro do Uruguai e do Brasil. Somente em 1850 que foi possível ao Brasil reagir a ameaça que representava Rosas.104 Uma aliança foi forjada entre o Brasil, Uruguai e províncias rebeldes argentinas,104 levando a Guerra do Prata e a consequente queda do governante argentino em Fevereiro de 1852.105 106 Nas palavras do historiador Roderick J. Barman, uma "porção considerável do crédito deve ser ... assinalado ao imperador, cuja cabeça fria, tenacidade em seu propósito, e um senso do que era possível se revelaram indispensáveis."98
O sucesso do Império em sua atuação nas três crises aumentou consideravelmente a estabilidade e prestígio da nação, e o Brasil emergiu como um poder no hemisfério.107 Internacionalmente, os europeus começaram a enxergar o país como personificador de ideais liberais familiares, como liberdade de imprensa e respeito constitucional a liberdades civis. Sua monarquia parlamentarista representativa se firmava em grave contraste a mistura de ditaduras e instabilidade endêmica as demais nações da América do Sul durante este período.108 109 110

Crescimento

Pedro II e a política

Pedro II, por volta dos 25 anos de idade, c. 1851
No início da década de 1850, o Brasil gozava de estabilidade interna e de prosperidade econômica.111 112 A nação estava sendo ligada de um ponto a outro através de linhas férreas, telegráficas e de navios a vapor, unindo-a em uma única entidade.111 Na opinião pública em geral, tanto doméstica quanto externa, esses feitos eram possíveis devido a duas razões: "ao seu governo como uma monarquia e pela personalidade de Pedro II".111
Pedro II não era nem uma figura ornamental como os monarcas da Grã-Bretanha e nem um autocrata à maneira dos czares russos. O imperador exercia poder através da cooperação com políticos eleitos, interesses econômicos e apoio popular.113 Esta interdependência e interação fizeram muito para influenciar a direção do reinado de Pedro II.114 Os mais notáveis sucessos políticos do imperador foram alcançados devido a maneira cooperativa e de não-confrontação no qual ele agia quanto a interdependência e interação com interesses diversos e com as figuras partidárias nos quais ele tinha que lidar. Ele era impressionantemente tolerante, raramente se ofendendo com críticas, oposição, ou mesmo incompetência.115 Ele era cuidadoso em nomear somente candidatos altamente qualificados para posições no governo, e buscava coibir a corrupção.116 Ele não tinha autoridade constitucional para forçar a aceitação as suas iniciativas sem o devido apoio, e sua maneira colaboradora quanto a governar manteve a nação progredindo e permitiu ao sistema político funcionar com sucesso.117
As incertezas de sua infância e a exploração sofrida nas mãos de outros durante a sua juventude fizeram com que o imperador se determinasse a manter um controle sobre seu próprio destino. Em sua visão, para atingir a auto-determinação seria fundamental obter poder necessário e mantê-lo.118 Ele usava sua ativa e essencial participação no direcionamento do governo como meios de influência. Sua direção se tornou indispensável, apesar de que nunca resultou em um "governo de um homem só".119 O imperador respeitava as prerrogativas da lesgislatura, mesmo quando os políticos resistiam, postergavam ou frustravam seus objetivos e nomeações.120
O sistema político nacional brasileiro assemelhava-se ao de outras nações parlamentaristas. O imperador, como Chefe de Estado, pediria a um membro do Partido Conservador ou do Partido Liberal para formar um gabinete. O outro partido formaria a oposição na legislatura, como contrapeso ao novo governo. "Em seu manejo dos dois partidos, ele tinha que manter uma reputação de imparcialidade, trabalhar de acordo com a vontade popular, e evitar qualquer imposição flagrante de sua vontade na cena política."121
A presença ativa de Pedro II na cena política era parte importante da estrutura do governo, que também incluia o gabinete de ministros, a Câmara dos Deputados e o Senado(os últimos dois formavam a Assembleia Geral ou Parlamento). A maior parte dos políticos apreciavam e apoiavam o papel do imperador. Muitos haviam vivido durante o período regencial, quando a falta de um monarca que poderia manter-se acima de interesses mesquinhos e próprios levou a anos de luta entre facções políticas. Suas experiências com a vida pública criaram neles a convicção de que o imperador era "indispensável para paz e prosperidade permanente do Brasil."122

Vida doméstica

As crianças remanescentes de Pedro II em 1855: PrincesasLeopoldina e Isabel (sentada)
O casamento de Pedro II e Teresa Cristina começou mal. Com maturidade, paciência, e o nascimento de seu primeiro filho, Afonso, o relacionamento melhorou.105 123 Mais tarde Teresa Cristina teve outros três filhos: Isabel, em 1846; Leopoldina, em 1847; e por último,Pedro, em 1848.90 124 125 Contudo, ambos os meninos morreram na infância, o que devastou o imperador.90 126 127 Além de sofrer como pai, sua visão do futuro do Império mudou completamente. Apesar de sua afeição por suas filhas, ele não acreditava que a Princesa Isabel, apesar de sua herdeira, teria qualquer chance real de prosperar no trono. Ele acreditava que o seu sucessor precisava ser um homem para que a monarquia fosse viável.128 Ele passou cada vez mais a enxergar o sistema imperial como inexorávelmente preso a si, que não sobreviveria a sua morte.129 Isabel e sua irmã receberam uma educação excepcional,130 apesar de não terem sido preparadas para governar sobre a nação. Pedro II excluía deliberadamente Isabel da participação nos negócios e decisões de governo.131
Por volta de 1850, Pedro II começou a ter casos discretos com outras mulheres.132 A mais famosa e duradoura dessas relações envolveuLuísa Margarida de Barros Portugal, Condessa de Barral, com quem ele formou uma relação de amizade romântica e íntima, mas não adúltera, posteriormente nomeando uma de suas filhas em novembro de 1856.126 133 134 Por toda a sua vida, o imperador manteve a esperança de encontrar a sua alma gêmea, algo que ele sentia ter sido roubado de si135 ao ser obrigado a casar por razões de Estado com uma mulher pelo qual ele nunca teve paixão.136 Isto é apenas um dos exemplos que ilustram a dupla personalidade do imperador: uma que era "Dom Pedro II", que levava com afinco o seu dever no papel de imperador que o destino havia lhe imposto, e outra que era "Pedro de Alcântara", que considerava o cargo imperial um fardo ingrato e que estava mais feliz nos mundos da literatura e da ciência.137
Pedro II era o que atualmente se considera um trabalhador compulsivo, e sua rotina era exigente. Ele normalmente acordava as sete da manhã e não dormia antes das duas da madrugada do dia seguinte. Seu dia inteiro era reservado aos negócios de Estado e o pouco tempo livre disponível era gasto lendo e estudando.138 O imperador vestia diariamente uma simples casaca, calça e gravata pretas. Para ocasiões especiais ele usava o uniforme de gala e só aparecia vestido com o manto imperial e portando a coroa e cetro duas vezes ao ano na abertura e encerramento da Assembléia Geral.139 140
Pedro II obrigava políticos e funcionários públicos a seguirem seus exemplos de padrões exigentes.108 O imperador exigia que os políticos trabalhassem oito horas por dia e adotou uma política exigente de seleção de funcionários públicos baseada na moralidade e mérito.141 Para estabelecer o padrão, ele vivia de forma simples. Bailes e eventos de corte cessaram após 1852.137 142 Ele também recusou as reiteradas propostas para aumentarem o valor de sua lista civil (Rs 800:000$000 por ano, ou cerca de $405,000 ou £90,000 em 1840143 ) desde 1840, quando representava 3% dos gastos públicos, até 1889, quando havia caído para 0,5%.144 145 Ele recusava luxo,146 147 148 uma vez explicando: "Também entendo que despesa inútil é furto a Nação".149

Patrono das artes e das ciências

Pedro II por volta dos 32 anos de idade, c. 1858. Na década de 1850, livros começaram a ser representados de maneira prominente em seus retratos, uma referência a seu papel como defensor da educação150
"Nasci para consagrar-me às letras e às ciências ", o imperador comentou em seu diário pessoal em 1862.151 152 Ele sempre teve prazer em ler e encontrou nos livros um refúgio para a sua posição.153 154 Sua habilidade para relembrar trechos que havia lido no passado era notável.155 156 Os interesses de Pedro II eram diversos, e incluíam antropologiageografiageologiamedicinaDireitoestudos religiosos,filosofiapinturaesculturateatromúsicaquímicapoesia e tecnologia.157 158 No final de seu reinado, havia três livrarias em São Cristóvão contendo mais de 60.000 livros.159 Sua paixão por linguística o levou por toda a vida a estudar novas línguas, e ele era capaz de falar e escrever não somente em português, mas também em latimfrancêsalemãoinglêsitalianoespanholgregoárabehebraicosânscrito,chinêsprovençal e tupi.160 161 162 163 164 Tornou-se o primeiro brasileiro fotógrafo quando adquiriu uma câmera de daguerreótipo em março de 1840.165 166 Criou um laboratório fotográfico em São Cristóvão e outro de química e física. Ele também construiu um observatório astronômico no paço.155
A erudição do imperador surpreendeu Friedrich Nietzsche quando ambos se conheceram.126 167 168 Victor Hugo falou dele: "Senhor, és um grande cidadão, és o neto de Marco Aurélio",169 170 e Alexandre Herculano o chamou de um "príncipe cuja opinião geral o considera como o primeiro de sua era graças à sua mente dotada, e devido à sua constante aplicação desse dom para as ciências e cultura."151 Tornou-se membro da Royal Society,171 da Academia de Ciências da Rússia,172 das Reais Academias de Ciências e Artes da Bélgica173 e da Sociedade Geográfica Americana.174 Em 1875 foi eleito membro da Académie des Sciences francesa, uma honra dada anteriormente a somente dois outros chefes de estado: Pedro, o Grande e Napoleão Bonaparte.170 175 Pedro II trocou cartas com cientistas, filósofos, músicos e outros intelectuais. Muitos de seus correspondentes se tornaram seus amigos, incluindo Richard Wagner,176 Louis Pasteur,177Louis AgassizJohn Greenleaf WhittierMichel Eugène ChevreulAlexander Graham Bell,178 Henry Wadsworth Longfellow,179 Arthur de Gobineau,180 Frédéric Mistral,181 Alessandro Manzoni,182 Alexandre Herculano,183 Camilo Castelo Branco184 e James Cooley Fletcher.185
Pedro II cedo percebeu que tinha a oportunidade para utilizar seu conhecimento que havia acumulado em uso prático para o benefício do Brasil.186 O imperador considerava a educação como de importância nacional e era ele mesmo um exemplo do valor do aprendizado.187 Ele comentou: "Se não fosse imperador, gostaria de ser um professor. Não conheço tarefa mais nobre do que direcionar as jovens mentes e preparar os homens de amanhã."188 A educação também colaborou no seu objetivo de criar um sentimento de identidade nacional brasileira.189 Seu reino viu a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro para promover pesquisa e preservação nas ciências históricas, geográficas, culturais e sociais.189 A Imperial Academia de Música e Ópera Nacional190 e o Colégio Pedro II também foram fundados, o último servindo como modelo para escolas por todo o Brasil.191 A Imperial Escola de Belas Artes, estabelecida por seu pai, recebeu maior apoio e fortalecimento.192 Utilizando sua lista civil, Pedro II providenciou bolsas de estudo para brasileiros frequentarem universidades, escolas de arte e consevatórios musicais na Europa.193 194 Ele também financiou a criação do Instituto Pasteur, assim como a casa de ópera Bayreuth Festspielhaus de Wagner, além de outros projetos semelhantes.195 Seus esforços foram reconhecidos tanto em casa quanto no exterior. Charles Darwinfalou dele: "O imperador faz tanto pela ciência, que todo sábio é obrigado a demonstrar a ele o mais completo respeito."126 196

Popularidade e conflito com a Grã-Bretanha

Pedro II aos 35 anos de idade juntamente com sua esposa e filhas ao visitarem uma fazenda no sul da província de Minas Gerais, 1861
No fim de 1859, Pedro II partiu em viagem as províncias ao norte da capital, visitando Espírito SantoBahiaSergipeAlagoas,Pernambuco e Paraíba. Após quatro meses, ele retornou em fevereiro de 1860. A viagem foi um grande sucesso, com o imperador sendo alegre e calorosamente recepcionado em todos os lugares.197 198 199
A primeira metade dos anos 1860s viu paz e prosperidade no Brasil. Liberdades civis foram mantidas.200 201 Liberdade de expressão existia desde a independência do Brasil202 e continuou a ser defendida com veemência por Pedro II.203 204 O imperador encontrou em jornais da capital e das províncias uma forma ideal de manter conhecimento da opinião pública e da situação em geral da nação.149 Outra maneira de monitorar o Império foi através de contato direto com seus súditos. Uma oportunidade para isto era durante as audiências públicas regulares nas terças e sábados, onde qualquer pessoa de qualquer classe social (inclusive escravos205 ) poderiam ser admitidos e apresentar suas petições e estórias.206 207 Visitas a escolas, colégios, prisões, exibições, fábricas, quartéis, e outras aparições públicas apresentavam mais oportunidades a ele de reunir informação em primeira mão.208
A tranquilidade desapareceu quando o cônsul britânico no Rio de Janeiro, William Dougal Christie, quase iniciou uma guerra entre sua nação e o Brasil. Christie, que acreditava na diplomacia das canhoneiras,209 enviou um ultimato contendo exigências abusivas provenientes de dois incidentes menores ocorridos no fim de 1861 e começo de 1862. O primeiro foi o naufrágio de uma barca comercial na costa do Rio Grande do Sul que resultou no saque de sua carga pela população local. O segundo foi a prisão de dois oficiais britânicos embriagados que causavam distúrbios nas ruas do Rio.209 210 211
O governo brasileiro se recusou a ceder, e Christie enviou ordens para que navios de guerra britânicos capturassem embarcações mercantes brasileiras como indenização.212213 214 A Marinha do Brasil foi preparada para o conflito iminente,215 foi ordenada a compra de artilharia costeira,216 assim como de encouraçados217 e as defesas nas costas tiveram permissão para atirar contra qualquer navio de guerra britânico que tentasse capturar embarcações mercantes brasileiras.218 Pedro II foi a maior razão da resistência do Brasil, ele rejeitou qualquer sugestão para que o país cedesse.219 220 A resposta veio como surpresa para Christie, que mudou seu tom e propôs um acordo pacífico através de arbitragem internacional.221 222 223 O governo brasileiro apresentou suas demandas e, ao ver a recusa do governo britânico, cortou relações diplomáticas com a Grã-Bretanha em junho de 1863.223 224

Guerra do Paraguai

Primeiro Voluntário da Pátria

Pedro II aos 39 anos de idade, 1865
Com a ameaça de guerra com a Grã-Bretanha, o Brasil teve que dirigir suas atenções para suas fronteiras ao sul. Outra guerra civil havia começado no Uruguai jogando seus dois partidos políticos um contra o outro.225 226 227 O conflito interno levou ao assassinato de brasileiros e ao saque de suas propriedades no Uruguai.228 O governo brasileiro decidiu intervir, temeroso de aparentar fraqueza frente a possibilidade de conflito com os britânicos.229 Um exército brasileiro invadiu o Uruguai em Dezembro de 1864, iniciando a breve Guerra do Uruguai, que terminou em 20 de fevereiro de 1865.230 231 232
Enquanto isso, em dezembro de 1864 o ditador do Paraguai, Francisco Solano López se aproveitou da situação para estabelecer seu país como poder regional. O exército paraguaio invadiu a província brasileira do Mato Grosso (atual estado do Mato Grosso do Sul), resultando na Guerra do Paraguai. Quatro meses depois, tropas paraguaias invadiram território argentino como um prelúdio de uma invasão à província brasileira do Rio Grande do Sul.230 233 234
A par da anarquia reinante no Rio Grande do Sul e da incapacidade e incompetência de seus chefes militares em resistirem ao exército paraguaio, Pedro II decidiu ir à frente de batalha pessoalmente.235 Tanto o gabinete quanto a Assembleia Geral se recusaram a aquiescer ao desejo do imperador.235 Após receber também a recusa do Conselho de Estado, Pedro II fez o seu memorável pronunciamento: "Se os políticos podem me impedir que siga como imperador, vou abdicar e seguir como voluntário da Pátria"—uma alusão aos brasileiros que se voluntariaram para ir a guerra e que ficaram conhecidos por toda a nação como "Voluntários da Pátria".235 236 237 238 O próprio monarca foi chamado popularmente de "Voluntário número um".126 239
Pedro II partiu para o sul em Julho de 1865.240 241 242 Desembarcou no Rio Grande do Sul poucos dias depois e seguiu de lá por terra.243 A jornada foi realizada montada a cavalo e por carretas, e à noite o imperador dormia em tenda de campanha.244 Pedro II alcançouUruguaiana, uma cidade brasileira ocupada pelo exército paraguaio, em 11 de setembro. Quando de sua chegada, a força paraguaia já se encontrava cercada.245 246
Vestido com o uniforme de almirante aos 44 anos de idade—os anos de guerra envelheceram prematuramente o imperador247
O imperador cavalgou a uma distância de um tiro de rifle de Uruguaiana para demonstrar sua coragem, mas os paraguaios não o atacaram.248 Para evitar mais derramamento de sangue, ele ofereceu os termos de rendição ao comandante paraguaio, que os aceitou.245249 250 A coordenação das operações militares por Pedro II e seu exemplo pessoal teve um papel decisivo na repulsa à invasão paraguaia do território brasileiro.251 Havia uma crença generalizada de que a guerra estava próxima de seu fim e que a rendição de López era iminente.245 252 253 Antes de partir de Uruguaiana, ele recebeu o embaixador britânico Edward Thornton, que se desculpou publicamente em nome da rainha Vitória e do governo britânico pela crise entre os dois Impérios.249 250 O imperador considerou suficiente esta vitória diplomática sobre a mais poderosa nação do mundo e reatou relações amistosas entre as duas nações.250 Ele retornou ao Rio de Janeiro e foi recebido com enormes celebrações.254

Conclusão da guerra

Contra todas as expectativas, a guerra prosseguiu por cinco anos. Durante este período, o tempo e a energia de Pedro II foram dedicados ao conflito.255 256 Ele se ocupou no recrutamento e equipamento de tropas para reforçar as linhas de frente de batalha, e na construção de novos navios de guerra.238 Ao mesmo tempo procurou impedir que querelas entre os partidos políticos prejudicassem o esforço de guerra.257 258 Sua recusa em aceitar qualquer resultado que não a total vitória sobre o inimigo foi essencial para o resultado final da guerra.259 260 Sua tenacidade foi recompensada com a notícia de que López morrera em batalha em 1 de março de 1870, levando ao fim do conflito bélico.261 262
Mais de 50 mil soldados brasileiros morreram263 e os custos da guerra foram equivalentes a onze vezes a receita anual do governo.264 No entanto, o país se encontrava tão próspero que o governo pôde quitar o débito em apenas dez anos.265 266 O conflito foi um estímulo para a produção e para o crescimento econômico nacional. 267 Pedro II recusou a proposta da Assembléia Geral de erguer uma estátua equestre sua para comemorar a vitória e ao invés preferiu utilizar o dinheiro necessário para construir escolas de ensino primário. 268 269 270 271

Apogeu

Abolicionismo

Pedro II aos 46 anos de idade e vestido com a Regalia Imperial do Brasil durante a Fala do trono, em 1872
A vitória diplomática sobre o Império Britânico e a vitória militar sobre o Uruguai em 1865, seguida da bem-sucedida conclusão da guerra com o Paraguai em 1870, resultou no que foi chamado de "era dourada" e apogeu do Império brasileiro.272 A década de 1870 foram bons anos para o Brasil e a popularidade do imperador era maior do que nunca. Progressos foram feitos tanto na esfera política quanto na social e todos os segmentos da sociedade foram beneficiados com as reformas e pela prosperidade nacional crescente.273 A reputação internacional do Brasil melhorou consideravelmente graças a sua estabilidade política e potencial de investimento. O império era visto como uma nação moderna e progressiva sem equivalente nas Américas, com a única exceção dos Estados Unidos.272 A economia começou rapidamente a crescer e a imigração floreceu. Estradas de ferro, navegação e outros projetos de modernização foram adotados. Com "a escravidão fadada à extinção e outras reformas projetadas, as perspectivas de 'avanços morais e materiais' pareciam vastas".274
Em 1870, poucos brasileiros eram contrários à escravidão, e ainda menos brasileiros opunham-se publicamente à ela. Pedro II era um dos poucos que o faziam,275 276 considerando a escravidão "uma vergonha nacional".277 O imperador nunca possuiu escravos.276 Em 1823, escravos formavam 29% da população brasileira, mas essa porcentagem caiu para 15,2% em 1872.278 A abolição da escravatura era um assunto delicado no Brasil. Escravos eram usados por todos, do mais rico ao mais pobre.279 280 Pedro II desejava por fim à escravidão gradualmente281 282 para pouco impactar a economia nacional.283 Ele conscientemente ignorava o crescente prejuízo político à sua imagem e à monarquia em consequência de seu suporte à escravidão.284
O imperador não tinha autoridade constitucional para diretamente intervir e por um fim na escravidão.285 Precisaria usar todas seus esforços para convencer, influenciar e ganhar suporte entre os políticos para atingir sua meta.286 Seu primento movimento público contra a escravidão277 ocorreu em 1850, quando ameaçou abdicar a menos que a Assembléia Geral declarasse o tráfico negreiro no Atlântico ilegal.287
Após a fonte estrangeira do fornecimento de novos escravos ter sido eliminada, Pedro II dedicou sua atenção no começo dos anos 1860s em remover a fonte restante: a escravidão de crianças nascidas como escravos.288 289 A legislação foi feita através de sua iniciativa,288 mas o conflito com o Paraguai atrasou a discussão da proposta na Assembléia Geral.289 290 Pedro II abertamente pediu a gradual erradicação da escravidão na Fala do trono em 1867.291 Foi pesadamente criticado, e seu movimento foi condenado como "suicídio nacional".290 292 293 Opositores frequentemente diziam que "a abolição era seu desejo pessoal e não o desejo da nação"294 Por fim, foi decretada a lei "Lei do Ventre Livre" em 28 de setembro de 1871, sob a qual todas crianças nascidas de mulheres escravas após aquela data eram consideradas livres.294 295 296

Viagem a Europa e norte da África

Um grande grupo rodeia o imperador (sentado, à direita) e Auguste Mariette(sentado, à esquerda), durante a visita àNecrópole de Gizé e à Esfinge de Guizé, no fim de 1871
Em 25 de maio de 1871 o imperador e sua esposa viajaram à Europa.297 298 Ele há tempo ansiava por férias no exterior. Quando chegou a notícia de que sua filha mais nova, a princesa Leopoldina, então com 23 anos, havia morrido de tifo em Viena, ele finalmente encontrou um motivo forte para partir.297 299 300 Ao chegar em Lisboa, imediatamente dirigiu-se ao Palácio das Janelas Verdes, onde encontrou-se com sua madrasta, Amélia de Leuchtenberg, que não via há quarenta anos. O encontro foi emocionante e Dom Pedro escreveu no seu diário: "Eu chorei de felicidade e também de dor por ver minha mãe tão afetuosa para comigo, mas também por vê-la tão idosa e doente".297 301 302
Em seguida ele visitou a Espanha, a Grã-Bretanha, a Bélgica, a AlemanhaÁustriaItáliaEgitoGréciaSuíça e França. Em Coburgovisitou a tumba de sua filha.302 303 Sua impressão sobre a viagem foi de um tempo de "alívio e liberdade". Viajando com o nome de "Pedro de Alcântara", insistia em ser tratado informalmente e em parar apenas em hotéis.297 304 Passava seus dias em passeios e encontrando com cientistas e outros intelectuais com quem partilhava interesses.297 302 A viagem foi um sucesso, e suas maneiras nobres e sua curiosidade valeram-lhe notícias respeitosas nas nações que visitou. Este prestígio aumentou quando chegaram à Europa as notícias sobre a aprovação da Lei do Ventre Livre. Ele e sua comitiva voltaram em triunfo ao Brasil em 31 de março de 1872.274

A questão religiosa

Pedro II aos 49 anos de idade, 1875
Logo após retornar ao Brasil Pedro II enfrentou uma crise inesperada. Por muito tempo o clero brasileiro fora mal preparado e indisciplinado, além de sofrer com a falta de membros suficientes, levando a uma grande perda de prestígio à Igreja Católica.305 306 O governo imperial realizou um programa de reformas com o intuito de corrigir essas deficiências, seguindo uma tendência liberal.305 Como o catolicismo era a religião do Estado, o governo exercia um grande controle sobre os assuntos da Igreja, pois pagava os salários dos clérigos, nomeava párocos e bispos, ratificava bulas papais e supervisionava seminários.305 307 O governo selecionava bispos que satisfizessem seus critérios quanto ao preparo intelectual, o apoio às reformas liberais e à adequação moral.305 306 No entanto, à medida que mais homens fiéis ao Estado vieram a preencher as fileiras clericais, maior se tornou o ressentimento quanto ao controle do governo sobre a Igreja.305 306
Os bispos de Olinda e Belém (nas províncias de Pernambuco e Pará, respectivamente) eram dois membros da nova geração de clérigos zelosos e bem preparados. Eles haviam sido influenciados pelas decisões e a situação que envolvia o papado e os católicos na época, especialmente a ênfase antiliberal do Concílio Vaticano I. Em 1872, eles ordenaram a expulsão dos maçons das irmandades leigas.308Embora a Maçonaria europeia tenha frequentemente tendido para o ateísmo e anticlericalismo, as coisas eram diferentes na vertente brasileira onde a adesão à ordens maçônicas era comum, embora Pedro II não tenha sido maçom.309 O ministério chefiado pelo Visconde do Rio Branco tentou em duas ocasiões distintas convencer os bispos a revogar suas ordens, mas eles se recusaram. Isto levou a seu julgamento pelo Superior Tribunal de Justiça. Em 1874, eles foram condenados a quatro anos de prisão com trabalho forçado, embora o imperador tenha imediatamente comutado para prisão simples.310
Pedro II teve uma participação decisiva na crise ao apoiar inequivocamente o governo.311 Ele era um adepto consciente do catolicismo, o qual enxergava como um importante difusor de valores civilizatórios e cívicos. Conquanto evitasse qualquer coisa que pudesse vir a ser considerado pouco ortodoxo, ele nunca se sentiu restringido em pensar e agir livremente.312 O imperador aceitou ideias novas, tais como a teoria da evolução de Charles Darwin, sobre a qual ele afirmara que "as leis que ele [Darwin] descobrira engrandecem o Criador".313 Foi moderado em suas crenças religiosas, mas não tolerava o desrespeito às leis e à autoridade do governo. Como ele afirmou a seu genro: "[O governo] tem que garantir que a Constituição seja obedecida. Nesses procedimentos não há desejo de proteger a maçonaria; mas sim defender os direitos do poder civil."314 A crise foi resolvida em setembro de 1875, após o imperador, a contragosto, ter concordado com a anistia completa aos bispos e após a Santa Sé ter anulado as interdições.315

.

.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_II_do_Brasil