Karl Marx


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Karl Marx
Nome completoKarl Heinrich Marx
Nascimento5 de maio de 1818
TréverisRenânia-Palatinado
Flag of Prussia (1892-1918).svg Reino da Prússia,Confederação Germânica
Morte14 de março de 1883 (64 anos)
LondresInglaterra
Reino Unido Reino Unido
NacionalidadeAlemanha alemão
Ocupaçãoescritoreconomistasociólogo,historiador,filósofo
Influências
Influenciados
Magnum opusO Capital
Escola/tradiçãoMarxismo (cofundador, junto com Engels)
Principais interessesFilosofiaSociologia,economiahistóriapolítica,teoria social
Ideias notáveistransição gradual para o comunismo,ditadura do proletariado,materialismo históricomaterialismo dialético[8], socialismo científico, modo de produção,mais-valialuta de classes,teoria marxista da ideologia,teoria marxista da alienação,Fetichismo da mercadoria
Assinatura
Karl Marx (signature).gif
Karl Marx[nota 1] (Tréveris5 de maio de 1818 — Londres14 de março de 1883)[9] foi um filósofosociólogojornalista erevolucionário socialista. Nascido na Prússia, ele mais tarde se tornou apátrida e passou grande parte de sua vida em Londres, noReino Unido. A obra de Marx em economia estabeleceu a base para muito do entendimento atual sobre o trabalho e sua relação com o capital, além do pensamento econômico posterior.[10][11][12] [13] Ele publicou vários livros durante sua vida, sendo que O Manifesto Comunista (1848) e O Capital (1867-1894) são os mais proeminentes.
Marx nasceu em uma rica família de classe média em Tréveris, na Renânia prussiana, e estudou nas universidades de Bonn eBerlim, onde ficou interessado pelas ideias filosóficas dos jovens hegelianos. Depois dos estudos, ele escreveu para Rheinische Zeitung, um jornal radical publicado em Colônia, e começou a trabalhar na teoria da concepção materialista da história. Ele se mudou para Paris em 1843, onde começou a escrever para outros jornais radicais e conheceu Friedrich Engels, que se tornaria seu amigo de longa data e colaborador. Em 1849, ele foi exilado e se mudou para Londres junto com sua esposa e filhos, onde continuou a escrever e formular suas teorias sobre a atividade econômica e social. Ele também fez campanha para o socialismo e tornou-se uma figura significativa na Associação Internacional dos Trabalhadores,[14]
As teorias de Marx sobre a sociedade, a economia e a política — a compreensão coletiva de que é conhecido como o marxismo — sustentam que as sociedades humanas progridem através da luta de classes: um conflito entre uma classe social que controla os meios de produção e a classe trabalhadora, que fornece a mão de obra para a produção e que o Estado foi criado para proteger os interesses da classe dominante[15], embora seja apresentado como um instrumento que representa o interesse comum de todos. Além disso, ele previu que, assim como os sistemas socioeconômicos anteriores, o capitalismo produziria tensões internas que conduziriam à sua auto-destruição e substituição por um novo sistema: o socialismo. Ele argumentava que os antagonismos no sistema capitalista, entre a burguesia e o proletariado[16] seria consequência de uma guerra perpétua entre a primeira e as demais classes ao longo da história[17] que associado a sociedade industrial e a acumulação de capital[18] geraria a sua classe antagônica[19] que resultaria na "conquista do poder político pela classe operária e, eventualmente, no estabelecimento de uma sociedade sem classes[20][21] e apátrida — o comunismo — que seria regida por uma livre associação de produtores.[22][23] Marx ativamente argumentava que a classe trabalhadora deveria realizar uma ação revolucionária organizada para derrubar o capitalismo e provocar mudanças sócio-econômicas.[24]
Elogiado e criticado, Marx tem sido descrito como uma das figuras mais influentes na história da humanidade.[25] Muitos intelectuais, sindicatos e partidos políticos a nível mundial foram influenciados por suas ideias, com muitas variações sobre o seu trabalho base. Marx é normalmente citado, ao lado de Émile Durkheim e Max Weber, como um dos três principais arquitetos daciência social moderna.[26]

Juventude[editar | editar código-fonte]

Marx foi o terceiro de nove filhos[27], de uma família de origem judaica de classe média da cidade de Tréveris, na época no Reino da Prússia. Sua mãe, Henriette Pressburg (1788–1863), era judia holandesa e seu pai, Herschel Marx (1777–1838), um advogado e conselheiro de Justiça. Herschel descende de uma família de rabinos, mas se converteu ao cristianismo luterano em função das restrições impostas à presença de membros de etnia judaica no serviço público, quando Marx ainda tinha seis anos.[28] Seus irmãos eram Sophie (1816-1886), Hermann (1819-1842), Henriette (1820-1845), Louise (1821-1893), Emilie (1824-1888 - adotada por seus pais), Caroline (1824-1847) e Eduard (1826-1837).
Em 1830, Marx iniciou seus estudos no Liceu Friedrich Wilhelm, em Tréveris, ano em que eclodiram revoluções em diversos países europeus. Ingressou mais tarde naUniversidade de Bonn para estudar Direito, transferindo-se no ano seguinte para a Universidade de Berlim, onde o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel, cuja obra exerceu grande influência sobre Marx, foi professor e reitor.[28] Em Berlim, Marx ingressou no Clube dos Doutores, que era liderado pelo hegueliano de esquerda Bruno Bauer.[29] Ali perdeu interesse pelo Direito e se voltou para a Filosofia, tendo participado ativamente do movimento dos Jovens Hegelianos. Seu pai faleceu neste mesmo ano.[28]Em 1841, obteve o título de doutor em Filosofia com uma tese sobre as Diferenças da filosofia da natureza em Demócrito e Epicuro.[28] Impedido de seguir uma carreira acadêmica,[30] tornou-se, em 1842, redator-chefe da Gazeta Renana (Rheinische Zeitung), um jornal da província de Colônia;[31] conheceu Friedrich Engels neste mesmo ano, durante visita deste a redação do jornal.[28]

Vida pessoal e início de sua vida política[editar | editar código-fonte]

Esposa de Marx, Jenny von Westphalen.
Em 1843, a Gazeta Renana foi fechada após publicar uma série de ataques ao governo prussiano. Tendo perdido o seu emprego de redator-chefe, Marx mudou-se para Paris. Lá assumiu a direção da publicação Anais Franco-Alemães e foi apresentado a diversas sociedades secretas de socialistas. Antes ainda da sua mudança para Paris, Marx casou-se, no dia 19 de junho de 1843, com Jenny von Westphalen,[32] Hegelianos de Esquerda ou Jovens Hegelianos[28] a filha de um barão da Prússia com a qual mantinha noivado desde o início dos seus estudos universitários.[33] (Noivado que foi mantido em sigilo durante anos, pois as famílias Marx e Westphalen não concordavam com a união.[34])
Do casamento de Marx com Jenny von Westphalen, nasceram sete filhos, mas devido às más condições de vida que foram forçados a viver em Londres, apenas três sobreviveram à idade adulta. As crianças eram: Jenny Caroline (1844-1883), Jenny Laura (1845-1911), Edgar (1847-1855), Henry Edward Guy ("Guido"; 1849-1850), Jenny Eveline Frances ("Franziska"; 1851-52), Jenny Julia Eleanor (1855-1898) e mais um que morreu antes de ser nomeado (Julho, 1857). Ao que consta, Franziska, Edgar e Guido morreram na infância, provavelmente pelas péssimas condições materiais a que a família estava submetida[35], duas das filhas de Marx cometeram suicídio: Eleanor, 15 anos após a morte de Marx, aos 43 anos, após descobrir que seu companheiro havia se casado secretamente com uma atriz bem mais jovem, mas há quem suspeite que ele, na verdade, assassinou-a; e Laura, 28 anos após a morte de Marx, aos 66 anos, junto com o seu marido, Paul Lafargue, por não querer viver na velhice[36]. Marx também teve um filho nascido de sua relação amorosa com a militante socialista e empregada da família Marx, Helena Demuth. Solicitado por Marx, Engels assumiu a paternidade da criança, Frederick Delemuth, e pagando uma pensão, entregou-o a uma família de um bairro proletário de Londres [37]
No tratamento pessoal — Leandro Konder ressalta — Marx foi produto de seu tempo: Antes de poder contestar a sociedade capitalista Marx pertencia a ela, estava espiritualmente mais enraizado no solo da sua cultura do que admitiria, e que diante dos padrões da Inglaterra vitoriana mostrou: traços típicos das limitações de seu tempo. Como moças aristocráticas, suas filhas tinham aulas de pianocanto e desenho, mesmo que não tivessem desenvoltura para tais atividades artísticas.[37]
Marx com sua mulher, em foto de 1869.
Também em 1843, Marx conheceu a Liga dos Justos (que mais tarde tornar-se-ia Liga dos Comunistas).[28] Em 1844, Friedrich Engels visitou Marx em Paris por alguns dias. A amizade e o trabalho conjunto entre ambos, que se iniciou nesse período, só seria interrompido com a morte de Marx.[33] Na mesma época, Marx também se encontrou com Proudhon, com quem teve discussões polêmicas e muitas divergências. E conheceu rapidamente Bakunin, então refugiado do czarismo russo e militante socialista. No seu período em Paris, Marx intensificou os seus estudos sobre economia política, os socialistas utópicos franceses e a história da França, produzindo reflexões que resultaram nos Manuscritos de Paris, mais conhecidos como Manuscritos Econômico-Filosóficos. De acordo com Engels, foi nesse período que Marx aderiu às ideias socialistas.[33]
De Paris, Marx ajudou a editar uma publicação de pequena circulação chamada Vorwärts!, que contestava o regime político alemão da época. Por conta disto, Marx foi expulso da França em 1845 a pedido do governo prussiano. Migrou então para Bruxelas, para onde Engels também viajou.[33] Entre outros escritos, a dupla redigiu na Bélgica o Manifesto comunista. Em 1848, Marx foi expulso de Bruxelas pelo governo belga. Junto com Engels, mudou-se para Colônia, onde fundam o jornal Nova Gazeta Renana.[28] Após ataques às autoridades locais publicados no jornal, Marx foi expulso de Colônia em 1849. Até 1848, Marx viveu confortavelmente com a renda oriunda de seus trabalhos, seu salário e presentes de amigos e aliados, além da herança legada por seu pai.[34] Entretanto, em 1849 Marx e sua família enfrentaram grave crise financeira; após superarem dificuldades conseguiram chegar a Paris, mas o governo francês proibiu-os de fixar residência em seu território. Graças, então, a uma campanha de arrecadação de donativos promovida por Ferdinand Lassalle na Alemanha, Marx e família conseguem migrar para Londres, onde fixaram residência definitiva[28] trabalhar como correspondente em Londres para o New York Tribune[38] onde declarou seu apoio público o governo de Abraham Lincoln durante aGuerra da Secessão.[39][40][41]

Morte[editar | editar código-fonte]

Tumba de Karl Marx noCemitério de Highgate, Londres.
Encontrando-se deprimido por conta da morte de sua esposa, ocorrida em Dezembro de 1881, Marx desenvolveu, em consequência dos problemas de saúde que suportou ao longo de toda a vida, bronquite e pleurisia, que causaram o seu falecimento em 1883. Foi enterrado na condição de apátrida,[42] no Cemitério de Highgate, em Londres.[28]
Muitos dos amigos mais próximos de Marx prestaram homenagem ao seu funeral, incluindo Wilhelm Liebknecht e Friedrich Engels. O último declamou as seguintes palavras:[43]
Em 1954, o Partido Comunista Britânico construiu uma lápide com o busto de Marx sobre sua tumba, até então de decoração muito simples.[44] Na lápide encontram-se inscritos o parágrafo final do Manifesto Comunista ("Proletários de todos os países, uni-vos!") e um trecho extraído das Teses sobre Feuerbach: "Os filósofos apenas interpretaram o mundo de várias maneiras, enquanto que o objetivo é mudá-lo."[45][46]

Obra[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Lista de obras de Karl Marx
Durante a vida de Marx, suas ideias receberam pouca atenção de outros estudiosos. Talvez o maior interesse tenha se verificado naRússia, onde, em 1872, foi publicada a primeira tradução do Tomo I d'O Capital. Na Alemanha, a teoria de Marx foi ignorada durante bastante tempo, até que em 1879 um alemão estudioso da Economia PolíticaAdolph Wagner, comentou o trabalho de Marx ao longo de uma obra intitulada Allgemeine oder theoretische Volkswirthschaftslehre. A partir de então, os escritos de Marx começaram a atrair cada vez mais atenção.[47]
Nos primeiros anos após a morte de Marx, sua teoria obteve crescente influência intelectual e política sobre os movimentos operários (ao final do século XIX, o principal locus de debate da teoria era o Partido Social-Democrata alemão) e, em menor proporção, sobre os círculos acadêmicos ligados às ciências humanas – notadamente na Universidade de Viena e na Universidade de Roma, primeiras instituições acadêmicas a oferecerem cursos voltados para o estudo de Marx.[47]
Marx foi herdeiro da filosofia alemã, considerado ao lado de KantNietzsche e Hegel um de seus grandes representantes. Foi um dos maiores (para muitos, o maior) pensadores de todos os tempos, tendo uma produção teórica com a extensão e densidade de umAristóteles, de quem era um admirador.[48] Marx criticou ferozmente o sistema filosófico idealista de Hegel. Enquanto que, para Hegel, da realidade se faz filosofia, para Marx a filosofia precisa incidir sobre a realidade. Para transformar o mundo é necessário vincular o pensamento à prática revolucionária, união conceitualizada como práxis: união entre teoria e prática.[49]
A teoria marxista é, substancialmente, uma crítica radical das sociedades capitalistas, mas é uma crítica que não se limita a teoria em si. Marx, aliás, se posiciona contra qualquer separação drástica entre teoria e prática, entre pensamento e realidade, porque essas dimensões são abstrações mentais (categorias analíticas) que, no plano concreto, real, integram uma mesma totalidade complexa.[50]
O marxismo constitui-se como a concepção materialista da História, longe de qualquer tipo de determinismo, mas compreendendo a predominância da materialidade sobre a ideia, sendo esta possível somente com o desenvolvimento daquela, e a compreensão das coisas em seu movimento, em sua inter-determinação, que é a dialética. Portanto, não é possível entender os conceitos marxianos como forças produtivascapital, entre outros, sem levar em conta o processo histórico, pois não são conceitos abstratos e sim uma abstração do real, tendo como pressuposto que o real é movimento.[51]
Karl Marx compreende o trabalho como atividade fundante da humanidade.[52][53] E o trabalho, sendo a centralidade da atividade humana, se desenvolve socialmente, sendo o homem um ser social. Sendo os homens seres sociais, a História, isto é, suas relações de produção e suas relações sociais fundam todo processo de formação da humanidade. Esta compreensão e concepção do homem é radicalmente revolucionária em todos os sentidos, pois é a partir dela que Marx irá identificar a alienação do trabalho como a alienação fundante das demais. E com esta base filosófica é que Marx compreende todas as demais ciências, tendo sua compreensão do real influenciado cada dia mais a ciência por sua consistência.[54]

Influências[editar | editar código-fonte]

Algumas das principais leituras e estudos feitos por Marx são:[55]
Ele estudou profundamente todas essas concepções ao mesmo tempo em que as questionou e desenvolveu novos temas, de modo a produzir uma profunda reorientação no debate intelectual europeu.[55]

Influência da Filosofia Idealista[editar | editar código-fonte]

Karl Marx em 1861
Hegel foi professor da Universidade de Jena, a mesma instituição onde Marx cursou o doutorado. E, em Berlim, Marx teve contato prolongado com as ideias dos Jovens Hegelianos (também referidos como Hegelianos de esquerda). Os dois principais aspectos do sistema de Hegel que influenciaram Marx foram sua filosofia da história e sua concepção dialética.[57]
Para Hegel, nada no mundo é estático, tudo está em constante processo (vir-a-ser); tudo é histórico, portanto. O sujeito desse mundo em movimento é o Espírito do Mundo (ou Superalma; ou Consciência Absoluta), que representa a consciência humana geral, comum a todos indivíduos e manifesta na ideia de Deus. A historicidade é concebida enquanto história do progresso da consciência da liberdade. As formas concretas de organização social correspondem a imperativos ditados pela consciência humana, ou seja, a realidade é determinada pelas ideias dos homens, que concebem novas ideias de como deve ser a vida social em função do conflito entre as ideias de liberdade e as ideias de coerção ligadas a condição natural ("selvagem") do homem. O homem se liberta progressivamente de sua condição de existência natural através de um processo de "espiritualização" – reflexão filosófica (ao nível do pensamento, portanto) que conduz o homem a perceber quem é o real sujeito da história.[57][58]
Marx considerou-se um hegeliano de esquerda durante certo tempo, mas rompeu com o grupo e efetuou uma revisão bastante crítica dos conceitos de Hegel após tomar contato com as concepções de Feuerbach. Manteve o entendimento da história enquanto progressão dialética (ou seja, o mundo está em processo graças ao choque permanente entre os opostos; não é estático), mas eliminou o Espírito do Mundoenquanto sujeito ou essência, porque passou a compreender que a origem da realidade social não reside nas ideias, na consciência que os homens têm dela, mas sim na ação concreta (material, portanto) dos homens, portanto no trabalho humano. A existência material precede qualquer pensamento; inexiste possibilidade de pensamento sem existência concreta. Marx inverte, então, a dialética hegeliana, porque coloca a materialidade – e não as ideias – na gênese do movimento histórico que constitui o mundo. Elabora assim a dialética materialista, construído como uma crítica ao materialismo de Ludwig Feuerbach[59] e um conceito não desenvolvido por Marx que também costuma ser referida por materialismo dialético).[57][60]
A respeito da influência de Hegel sobre Marx, escreveu Lenin que
Ludwig Feuerbach foi um filósofo materialista que atraiu muita atenção de intelectuais de sua época. Publicou, em 1841, uma obra (Das Wesen des Christentums – A essência do cristianismo) que teve influência importante sobre Marx, Engels e os Jovens Hegelianos. Nela, Feuerbach criticou duramente Hegel, e afirmou que a religião consiste numa projeção dos desejos humanos e numa forma de alienação. É de Feuerbach a concepção de que em Hegel a lógica dialética está "de cabeça para baixo", porque apresenta o homem como um atributo do pensamento ao invés do pensamento como um atributo do homem. Sem dúvida, o contato de Marx com as ideias feuerbachianas foi determinante para a formulação de sua crítica radical da religião e das "concepções invertidas" de Hegel.[57]

Influência do socialismo utópico[editar | editar código-fonte]

Por socialismo utópico costumava-se designar, à época de Marx, um conjunto de doutrinas diversas (e até antagônicas entre si) que tinham em comum, entretanto, duas características básicas: todas entendiam que a base determinante do comportamento humano residia na esfera moral/ideológica e que o desenvolvimento das civilizações ocidentais estava a permitir uma nova era onde iria imperar a harmonia social. Marx criticou sagazmente as ideias dos socialistas utópicos (principalmente dos franceses, com os quais mais polemizou), acusando-os de muito romantismo ingênuo e pouca (ou nenhuma) dedicação ao estudo rigoroso da conjuntura social, pois os socialistas utópicos muito diziam sobre como deveria ser a sociedade harmônica ideal, mas nada indicavam sobre como seria possível alcançá-la plenamente. Além de criticar o socialismo utópico, ele também critica o socialismo pequeno burguês[63], o "socialismo feudal" reacionário e o "socialismo conservador".[64] Por outro lado, pode-se dizer que, de certa forma, Marx adotou – explícita ou implicitamente – algumas noções contidas nas ideias de alguns dos socialistas utópicos (como, por exemplo, a noção de que o aumento da capacidade de produção decorrente da revolução industrial permite condições materiais mais confortáveis à vida humana, ou ainda a noção de que as crenças ideológicas do sujeito[65] lhe determinam o comportamento).[57]

Influência da economia política clássica[editar | editar código-fonte]

Marx em 1867.
Marx empreendeu um minucioso estudo de grande parte da teoria econômica ocidental, desde escritos da Grécia antiga até obras que lhe eram contemporâneas. As contribuições que julgou mais fecundas foram as elaboradas por dois economistas políticos britânicos, Adam Smith e David Ricardo (tendo predileção especial por Ricardo, a quem referia como "o maior dos economistas clássicos"). Na obra deste último, Marx encontrou conceitos – então bastante utilizados no debate britânico – que, após fecunda revisão e re-elaboração, adotou em definitivo (tais como os de valordivisão social do trabalhoacumulação primitiva e mais-valia, por exemplo). A avaliação do grau de influência da obra de Ricardo sobre Marx é bastante desigual. Estudiosos pertencentes à tradição neo-ricardiana tendem a considerar que existem poucas diferenças cruciais entre o pensamento econômico de um e outro; já estudiosos ligados à tradição marxista tendem a delimitar diferenças fundamentais entre eles.[66][57][67] Apesar dele ter sido influenciado pelo Utilitarismo radical de Jeremy Bentham na área econômica, ele admite que a sociedade possa dedicar parte de seu tempo a atividades não produtivas depois de que ela tenha atingido seus objetivos econômicos.[68]

Classes Sociais[editar | editar código-fonte]

As relações de produção controlam tanto a distribuição dos meios de produção e dos produtos, quanto a apropriação dessa distribuição e do trabalho. Elas expressam as formas sociais de organização voltadas para a produção. Os fatores decorrentes dessas relações resultam em uma divisão dentre as sociedades.
Em razão da divisão social do trabalho e dos meios, a sociedade se extrema entre possuidores e os não detentores dos meios de produção. Surgem, então, a classe dominante e a classe dominada, sendo a classe dominante aquela que mantém poder sobre os meios de produção e a classe dominada a que se sujeita a dominante para obter os bens produzidos. O Estado aparece para representar os interesses da classe dominante[69] e cria, para isso, inúmeros aparatos para manter a estrutura da produção. Esses aparatos são nomeados por Marx de infraestrutura e condicionam o desenvolvimento de ideologias e normas reguladoras, sejam elas políticas, religiosas, culturais ou econômicas, para assegurar os interesses dos proprietários dos meios de produção.[70]

Metodologia[editar | editar código-fonte]

Marx nunca escreveu um livro dedicado especificamente à metodologia das ciências sociais para expor, mas deixou, dispersas por numerosas obras escritas, um conjunto de reflexões metodológicas, nas quais desenvolve o seu próprio método por meio da crítica ao idealismo especulativo hegeliano e à economia política clássica.
Segundo Marx, Hegel e seus seguidores criaram uma dialética mistificada, que buscava explicar a história mundial a partir da economia[71] e como auto-desenvolvimento da Ideia absoluta.
Já os economistas clássicos naturalizavam e desistoricizaram o modo de produção capitalista, concebendo a dominação de classe burguesa como uma ordem natural das relações econômicas, a partir de um conceito abstrato de indivíduo, homo economicus. Por isso, os economistas clássicos recorriam a "robsonadas", isto é, narrativas de trocas de produtos entre caçadores e pescadores primitivos, para ilustrar as suas teorias econômicas. Marx atribuía essa mistificação ao fetichismo da mercadoria, e não a uma intenção consciente.
Em oposição aos filósofos idealistas e aos economistas clássicos, Marx propunha a investigação do desenvolvimento histórico das formas de produção e reprodução social, partindo do concreto para o abstrato e do abstrato para o concreto[72]

Crítica da religião[editar | editar código-fonte]

Marx por volta de um ano antes de sua morte, em 1882.
Ver artigo principal: Ateísmo Marxista-leninista
Para Marx a crítica da religião é o pressuposto de toda crítica social, pois crê que as concepções religiosas tendem a desresponsabilizar os homens pelas consequências de seus atos.[57] Marx tornou-se reconhecido como crítico sagaz da religião devido a sentença que profere em um escrito intitulado Crítica da filosofia do direito de Hegel: “A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, assim como é o espírito de uma situação carente de espírito. É o ópio do povo.”[73] Em verdade, Marx se ocupou muito pouco em criticar sistematicamente a atividade religiosa. Nesse quesito ele basicamente seguiu as opiniões de Ludwig Feuerbach, para quem a religião não expressa a vontade de nenhum Deus ou outro ser metafísico: é criada pela fabulação dos homens.[73]

Revolução[editar | editar código-fonte]

Apesar de alguns leitores de Marx adjetivarem-no de “teórico da revolução”, inexiste em suas obras qualquer definição conceitual explícita e específica do termo revolução.[74] O que Marx oferece são descrições e projeções históricas inspiradas nos estudos que fez acerca das revoluções francesainglesa e norte-americana.[57] Um exemplo de prognóstico histórico desse tipo encontra-se em Contribuição para a crítica da Economia Política:
Em geral, Marx considerava que toda revolução é necessariamente violenta, ainda que isso dependa, em maior ou menor grau, da constrição ou abertura do Estado. A necessidade de violência se justifica porque o Estado tenderia sempre a empregar a coerção para salvaguardar a manutenção da ordem sobre a qual repousa seu poder político, logo, a insurreição não tem outra possibilidade de se realizar senão atuando também violentamente. Diferente do apregoado pelos pensadores contratualistas, para Marx o poder político do Estado não emana de algum consenso geral, é antes o poder particular de uma classe particular que se afirma em detrimento das demais.[74] A revolução se daria no âmbito da necessidade de sobrevivência, pois segundo ele as forças produtivas em seu ápice passariam a se tornar destrutivas.[76]
Importante notar que Marx não entende revolução enquanto algo como reconstruir a sociedade a partir de um zero absoluto. Na Crítica ao Programa de Gotha, por exemplo, indica claramente que a instauração de um novo regime só é possível mediada pelas instituições do regime anterior. O novo é sempre gestado tendo o velho por ponto de partida.[74] A revolução proletária, que instauraria um novo regime sem classes, só obteria sucesso pleno após a conclusão de um período de transição que Marx denominousocialismo.[57]

Crítica ao Anarquismo[editar | editar código-fonte]

Engels, Marx e suas filhas
Criticou o anarquismo por sua visão tida como ingênua do fim do Estado onde se objetiva acabar com o Estado "por decreto", ao invés de acabar com as condições sociais que fazem do Estado uma necessidade e realidade. Na obra Miséria da Filosofia elabora suas críticas ao pensamento do anarquista Proudhon. Ainda, criticou o blanquismo com sua visão elitista de partido, por ter uma tendência autoritária e superada. Posicionou-se a favor do liberalismo, não como solução para o proletariado, mas como premissa para maturação das forças produtivas (produtividade do trabalho) das condições positivas e negativas da emancipação proletária, como a da homogeneização da condição proletária internacional gerado pela "globalização" do capital. Sua visão política era profundamente marcada pelas condições que o desenvolvimento econômicoofereceria para a emancipação proletária, tanto em sentido negativo (desemprego), como em sentido positivo (em que o próprio capital centralizaria a economia, exemplo: multinacionais).[77]

práxis[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Práxis
Na lógica da concepção materialista da História não é a realidade que move a si mesma, mas comove os atores, trata-se sempre de um "drama histórico" (termo que Marx usa em O 18 Brumário de Luís Bonaparte) e não de um "determinismo histórico" que cairia num materialismo mecânico (positivismo), oposto ao materialismo dialético de Marx. O materialismo dialético, histórico, poderia também ser definido como uma "dialética realidade-idealidade evolutiva". Ou seja, as relações entre a realidade e as ideias se fundem na práxis, e a práxis é o grande fundamento do pensamento de Marx. Pois sendo a história uma produção humana, e sendo as ideias produto das circunstâncias em que tais ideais brotaram, fazer história racionalmente é a grande meta. E o próprio fazer da história que criará suas condições objetivas e subjetivas adjacentes, já que a objetividade histórica é produto da humanidade (dos homens associados, luta política, etc). E assim, Marx finaliza as Teses sobre Feuerbach, não se trata de interpretar diferentemente o mundo, mas de transformá-lo. Pois a própria interpretação está condicionada ao mundo posto, só a ação revolucionária produz a transcendência do mundo vigente.[78]

mais-valia[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Mais-valia
O conceito de Mais-valia foi empregado por Karl Marx para explicar a obtenção dos lucros no sistema capitalista. Para Marx o trabalho gera a riqueza, portanto, a mais-valia seria o valor extra da mercadoria, a diferença entre o que o empregado produz e o que ele recebe. Os operários em determinada produção produzem bens (ex: 100 carros num mês), se dividirmos o valor dos carros pelo trabalho realizado dos operários teremos o valor do trabalho de cada operário. Entretanto os carros são vendidos por um preço maior, esta diferença é o lucro do proprietário da fábrica, a esta diferença Marx chama de valor excedente ou maior, ou mais-valia.[79] Segundo ele, o lucro teria uma tendência decrescente devido a necessidade de se investir na produção a medida que a remuneração dos trabalhadores estaria submetida a mais-valia.[80]

O Capital[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: O Capital
Capa da primeira edição (1867) de Das Kapital
A grande obra de Marx é O Capital, na qual trata de fazer uma extensa análise da sociedade capitalista. É predominantemente um livro deEconomia Política, mas não só. Nesta obra monumental, Marx discorre desde a economia, até a sociedadeculturapolítica e filosofia. É uma obra analítica, sintética, crítica, descritiva, científica, filosófica, etc. Uma obra de difícil leitura, ainda que suas categorias não tenham aambiguidade especulativa própria da obra de Hegel, possui, no entanto, uma linguagem pouco atraente e nem um pouco fácil. Dentro da estrutura do pensamento de Marx, só uma obra como O Capital é o principal conhecimento, tanto para a humanidade em geral, quanto para o proletariado em particular, já que através de uma análise radical da realidade que está submetido, só assim poderá se desviar da ideologia dominante ("a ideologia dominante" é sempre da "classe dominante"), como poderá obter uma base concreta para sua luta política. Sobre o caráter da abordagem econômica das formações societárias humanas, afirmou Alphonse De Waelhens: "O marxismo é um esforço para ler, por trás da pseudo-imediaticidade do mundo econômico reificado as relações inter-humanas que o edificaram e se dissumularam por trás de sua obra."[81] Cabe lembrar que O Capital é uma obra incompleta, tendo sido publicado apenas o primeiro volume com Marx vivo. Os demais volumes foram organizados por Engels e publicados posteriormente.[82]

Outras obras[editar | editar código-fonte]

Na obra A Ideologia Alemã, Marx apresenta cuidadosamente os pressupostos de seu novo pensamento. No Manifesto Comunista apresenta sua tese política básica, propondo a construção de uma nova sociedade, derrubando a burguesia através da luta contra a propriedade privada[83] de poucos.[84]</ref> Na Questão Judaica apresenta sua crítica religiosa, que diz que não se deve apresentar questões humanas como teológicas, mas as teológicas como questões humanas. E que afirmar ou negar a existência de Deus, são ambas teologia. O ponto de vista deve ser sempre o de ver as religiões como reflexões humanas fantasiosas de si mesmo, mas que representa a condição humana real a que está submetido. Na Crítica ao Programa de Gotha, Marx faz a mais extensa e sistemática apresentação do que seria uma sociedade socialista, ainda que sempre tente desviar desse tipo de "futurologia", por não ser rigorosamente científica. Em A Guerra Civil na França, Marx supera todas as suas tendências jacobinas[85] de antes e defende claramente que só com o fim do Estado o proletariado oferece a si mesmo as condições de manter o próprio poder recém conquistado, e o fim do Estado é literalmente o "povo em armas", ou seja, o fim do "monopólio da violência" que o Estado representa. Em O 18 Brumário de Luís Bonaparte, já está uma profunda análise sobre o terror da "burocracia"; a questão do campesinato como aliado da classe operária na revolução iminente, o papel dos partidos políticos na vida social[86] e uma caracterização profunda da essência do bonapartismo são outros aspectos marcantes desta obra. O Karl Marx foi um dos poucos ideólogos que acompanharam todo o percurso de instabilidade política francesa pós-revolução, a revolução industrial e a globalização[87] sendo que influenciou muito na obra do autor e contribuiu para alimentar os debates políticos dentro da esquerda.[88]

Colaboração de Engels[editar | editar código-fonte]

Engels exerceu significativa influência sobre as reflexões intelectuais de Marx, principalmente no início da associação entre ambos, período em que Engels dirigiu a atenção de Marx para a Economia Política e a história econômica da Europa. Após a morte deste, Engels tornou-se não só o organizador dos muitos manuscritos incompletos e/ou inéditos legados, mas também o primeiro intérprete e sistematizador das ideias de Marx. Engels igualmente se ocupou, desde bem antes do falecimento de seu amigo, de redigir exposições em termos populares das ideias de Marx visando facilitar sua difusão.[47]

Críticas[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Anticomunismo
Question book.svg
Esta seção não cita fontes confiáveis e independentes, o que compromete sua credibilidade (desde novembro de 2015). Por favor, adicione referências e insira-as corretamente no texto ou no rodapé. Conteúdo sem fontes poderá ser removido.
Encontre fontes: Google (notíciaslivros e acadêmico)
A crítica ao pensamento de Marx iniciou-se desde a publicação de suas primeiras obras e prossegue, principalmente entre seus seguidores e intelectuais preocupados em conhecer, desenvolver e discutir a atualidade de suas ideias.
Em A Miséria do historicismo (1936), Karl Popper discorda de Marx quanto à história ser regida por leis que, se compreendidas, podem servir para se antecipar o futuro (ver:análise macro-histórica). Segundo Popper, a história não pode obedecer a leis e a ideia de "lei histórica" é uma contradição em si mesma. Já em A sociedade aberta e seus inimigos (1945), Popper afirma que o historicismo conduz necessariamente a uma sociedade "tribal" e "fechada", com total desprezo pelas liberdades individuais.
Todavia há dúvidas se Marx teria realmente baseado sua teoria em um "historicismo", nos termos colocados por Popper. Argumenta-se que Marx, seguindo uma tradição inaugurada por Maquiavel e Hobbes, busca nos interesses e necessidades concretas dos indivíduos, ao longo da História, a causa fundamental das ações humanas - em oposição às ideias políticas e morais abstratas. Ele não parece supor que esta busca de realização de interesses tenha consequências predeterminadas. Tal interpretação, provavelmente influenciada pelo evolucionismo darwinista, na exegese póstuma do pensamento marxiano, é creditada ao "papa" da Social-Democracia alemã, Karl Kautsky, no final do século XIX. A interpretação kautskista seria contestada, de várias formas, por BernsteinRosa LuxemburgoLeninTrotskyGramsci, entre outros.
Monumento a Marx e Engels, em Berlim.
Popper considera Marx como "não-científico" também porque sua teoria não é passível de contestação. Uma teoria científica tem que ser falseável - caso contrário, é incluída no campo das crenças ou ideologias. Resta saber, é claro, se afirmações sobre fatos históricos, necessariamente únicos, podem ser, nos termos de Popper, falseáveis. (A crítica de Popper não tem esse sentido, ela faz referência ao fato de Marx afirmar que as críticas ao Comunismo são feitas por burgueses com interesses contrários, ou seja, qualquer crítica ao Comunismo tem uma explicação: é feita por um burguês. Dessa forma a teoria não é falseável, ninguém pode dizer que é falsa porque quem diz o faz por interesse burguês). [89]
Ludwig von Mises, em Ação Humana – um tratado de Economia (1949), tentou demonstrar a impossibilidade de se organizar uma economia nos moldes socialistas, pela ausência do sistema de preços, que, segundo ele, funcionaria como sinalizador aos empreendedores acerca das necessidades dos consumidores. Aponta, desta forma, que o cálculo econômico sem o equivalente universal (dinheiro) só poderia ser medido pelo tempo de trabalho. Mises ainda levanta que estatizar todos os produtos acabaria com o mercado, e na ausência da lei da oferta e da demanda não seria possível fazer o cálculo de preço. Sem o cálculo de preço, seria inviabilizada a economia planificada - e consequentemente o socialismo. [90] 
Mises também refinou argumentos formulados por Eugen von Böhm-Bawerk na obra Marxism Unmasked: From Delusion to Destruction.
Raymond Aron, em O ópio dos intelectuais de (1955) criticou de forma agressiva os intelectuais seguidores de Marx e condenou a teoria da revolução e o determinismo histórico.
Eric Voegelin talvez seja um dos críticos mais severos de Karl Marx. No seu livro Reflexões Autobiográficas relata que, induzido pela onda de interesse sobre a Revolução Russa de 1917, estudou O Capital de Marx e foi marxista entre agosto e dezembro de 1919. Porém, durante seu curso universitário, ao estudar disciplinas de teoria econômica e história da teoria econômica aprendera o que estava errado em Marx.
Voegelin afirma que Marx comete uma grave distorção ao escrever sobre Hegel. Como prova de sua afirmação cita os editores dos Frühschiften (Escritos de Juventude) de Karl Marx (Kröner, 1953), especialmente Siegfried Landshut, que dizem o seguinte sobre o estudo feito por Marx da Filosofia do Direito de Hegel:
"Ao equivocar-se deliberadamente sobre Hegel, se nos é dado falar desta maneira, Marx transforma todos os conceitos que Hegel concebeu como predicados da ideia em enunciados sobre fatos".
Para Voegelin, ao equivocar-se deliberadamente sobre Hegel, Marx pretendia sustentar uma ideologia que lhe permitisse apoiar a violência contra seres humanos afetando indignação moral e, por isso, Voegelin considera Karl Marx um mistificador deliberado. Afirma que o charlatanismo de Marx reside também na terminante recusa de dialogar com o argumento etiológico de Aristóteles. Argumenta que, embora tenha recebido uma excelente formação filosófica, Marx sabia que o problema da etiologia na existência humana era central para uma filosofia do homem e que, se quisesse destruir a humanidade do homem fazendo dele um "homem socialista", Marx precisava repelir a todo custo o argumento etiológico.
Segundo Voegelin, Marx e Engels enunciam um disparate ao iniciarem o Manifesto Comunista com a afirmação categórica de que toda a história social até o presente foi a história da luta de classes. Eles sabiam, desde o colégio, que outras lutas existiram na história, como as Guerras Médicas, as conquistas de Alexandre, a Guerra do Peloponeso, as Guerras Púnicas e a expansão do Império Romano, as quais decididamente nada tiveram de luta de classes.
Voegelin diz que Marx levanta questões que são impossíveis de serem resolvidas pelo "homem socialista". Também alega que Marx conduz a uma realidade alternativa, a qual não tem necessariamente nenhum vínculo com a realidade objetiva do sujeito. Segundo Voegelin, quando a realidade entra em conflito com Marx, ele descarta a realidade.[91]
"Consideremos as teorias de Karl Marx: desde sua primeira aparição, estas têm despertado as controvérsias mais vivas e é pouco provável que tenham permanecido intocadas. O fato, me parece, é que todas as teorias marxistas já foram refutadas em sua essência: a teoria da história por Maitland, Weber eSombarta teoria do valor por Böhm-Bawerk, Mises, Sraffa e muitos outros; a teoria da consciência falsa, alienação e luta de classes por um vasto grupo de pensadores, de Mallock a Sombart e Popper e de Hayek a Aron."
Finalmente, uma questão de ordem prática, iniciada décadas atrás, foi suscitada pelo stalinismo, notadamente os expurgos, os gulags e o genocídio na antiga União Soviética, que tiveram grande repercussão sobre o pensamento marxista europeu e os partidos comunistas ocidentais. Discutia-se até que ponto Marx poderia ser responsabilizado pelas diferentes leituras de sua obra (e respectivos efeitos colaterais) ou se tais práticas seriam resultantes de uma visão deturpada das ideias marxianas. Com o final da guerra fria, o debate tornou-se menos polarizado. Todavia a discussão acerca do futuro do capitalismo - ou da Humanidade - prossegue.
Segundo o filósofo Leandro Konder, correntes como o leninismo, o stalinismo, o maoismo e o castrismo são doutrinas históricas influenciadas por questões políticas, de estratégia e de luta dos referidos contextos históricos que não necessariamente podem ser elevadas à categoria de consequência necessária ou corolário da obra de Marx, possuindo assim uma ontologia diferente da apresentada por ele em sua obra. [carece de fontes]
Revendo posições anteriores sobre a ideia de reformismo ontológico, o historiador marxista Jacob Gorender afirma que o proletariado é ontologicamente, em si, reformista, e descarta uma teleologia na história, em sua obra Marxismo sem utopia (1999).[93]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. Ir para cima O nome "Karl Heinrich Marx", utilizado em vários dicionários, baseia-se um erro. Sua certidão de nascimento diz "Carl Marx", e em outros lugares "Karl Marx" é usado. "KH Marx" é usado apenas em suas coleções de poesia e na transcrição de sua dissertação, porque Marx quis homenagear seu pai, que morreu em 1838 e chamava a si mesmo "Karl Heinrich" em três documentos. O artigo de Friedrich Engels "Marx, Karl Heinrich" em Handwörterbuch der Staatswissenschaften (Jena, 1892, coluna 1130 a 1133, ver Marx/Engels Collected Works Volume 22, pp. 337–345) não diz que Marz tinha um nome do meio. Veja Heinz Monz: Karl Marx. Grundlagen zu Leben und Werk. NCO-Verlag, Trier 1973, p. 214 and 354, respectivamente.

Notas e referências

  1. Ir para cima Labica, Georges y Bensussan, Gérard. 1982. Dictionnaire critique du marxisme, P.U.F., 1985, 1240 p.
  2. Ir para cima M. Beaud e G. Dostaler, La Pensée économique depuis Kaynes, Editions du Seuil, Paris 1996, p. 37
  3. Ir para cima Whose Interests are They?
  4. Ir para cima Incorporating the Rentier Sectors into a Financial Model Michael Hudson
  5. Ir para cima Adam Smith está más cerca de Karl Marx que de los neoliberales que actualmente lo ensalzan CADTM
  6. Ir para cima Behemoth or The Long Parliament
  7. Ir para cima Alan Ryan’s On Politics: A History of Political Thought: From Herodotus to the Present
  8. Ir para cima Marx - Teoria da Dialética: Contribuição original à filosofia de Hegel
  9. Ir para cima Enciclopédia Britannica. «Karl Marx» (em inglês). Consultado em 20 de outubro de 2014.
  10. Ir para cima Roberto Mangabeira UngerFree Trade Reimagined: The World Division of Labor and the Method of Economics. Princeton: Princeton University Press, 2007.
  11. Ir para cima John Hicks, "Capital Controversies: Ancient and Modern." The American Economic Review 64.2 (May 1974) p. 307: "The greatest economists, Smith or Marx or Keynes, have changed the course of history..."
  12. Ir para cima Joseph Schumpeter Ten Great Economists: From Marx to Keynes. Volume 26 of Unwin University books. Edition 4, Taylor & Francis Group, 1952 ISBN 0415110785, 9780415110785
  13. Ir para cima «Karl Marx to John Maynard Keynes: Ten of the greatest economists by Vince Cable».Daily Mail [S.l.: s.n.] 16 de julho de 2007. Consultado em 7 de dezembro de 2012.
  14. Ir para cima Associação Internacional dos Trabalhadores - Primeira Internacional
  15. Ir para cima Marx for Today por Marcello Musto - Ed. Routledge (2013) ISBN 1135700400, 9781135700409
  16. Ir para cima MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Lisboa: Edições Avante!,1975. 184 p.
  17. Ir para cima Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels (1848) Citação: A burguesia vive em guerra perpétua; primeiro, contra a aristocracia; depois, contra as frações da própria burguesia cujos interesses se encontram em conflito com os progressos da indústria; e sempre contra a burguesia dos países estrangeiros. Em todas essas lutas, vê-se forçada a apelar para o proletariado, reclamar seu concurso e arrastá-lo assim para o movimento político, de modo que a burguesia fornece aos proletários os -elementos de sua própria educação política, isto é, armas contra ela própria.
  18. Ir para cima “A acumulação do capital não faz mais que reproduzir as relações do capital numa escala mais alargada, com mais capitalistas ou mais grandes capitalistas por um lado, mais assalariados por outro… A acumulação do capital é, então, ao mesmo tempo, aumento do proletariado” (Marx, O Capital, Tomo 3) .
  19. Ir para cima PARA A CRÍTICA DA FILOSOFIA DO DIREITO DE HEGEL Página 20.
  20. Ir para cima Collected Works, vol. 3 (1975), pp. 186-7
  21. Ir para cima PARA A CRÍTICA DA FILOSOFIA DO DIREITO DE HEGEL página 10
  22. Ir para cima Karl Marx: Critique of the Gotha Program (Marx/Engels Selected Works, Volume Three, pp. 13–30;)
  23. Ir para cima In Letter from Karl Marx to Joseph Weydemeyer (MECW Volume 39, p. 58; )
  24. Ir para cima Calhoun 2002, pp. 23–24
  25. Ir para cima «Marx the millennium's 'greatest thinker'» BBC News World Online [S.l.] 1 de outubro de 1999. Consultado em 23 de novembro de 2010.
  26. Ir para cima «Max Weber – Stanford Encyclopaedia of Philosophy».
  27. Ir para cima Frank E. Manuel (1997). A Requiem for Karl Marx (em inglês) Harvard University Press [S.l.] ISBN 9780674763272.
  28. ↑ Ir para:a b c d e f g h i j BOITEMPO, Editorial. Cronologia resumida de Karl Marx e Friedrich Engels contida em edição de A Ideologia Alemã. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007
  29. Ir para cima Hegelianos de Esquerda ou Jovens Hegelianos
  30. Ir para cima Neste ano Bruno Bauer foi expulso da cátedra de Teologia da Universidade de Bonnacusado de ateísmo; isso representou, para Marx, um impedimento virtual a uma possível carreira acadêmica devido ao fato de ser conhecido como "seguidor" de Bauer. Cf. BOITEMPO, Editorial. Cronologia resumida de Karl Marx e Friedrich Engels contida em edição de A Ideologia Alemã. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007
  31. Ir para cima ESPÍNDOLA, Arlei de. «Karl Marx e a Gazeta Renana». Consultado em 29 de julho de 2012.
  32. Ir para cima Marx, Jenny von Westphalen
  33. ↑ Ir para:a b c d ENGELS, F. (1892) Biography of Marx. Primeira publicação em Handwörterbuch der Staatswissenschaften. Página visitada em 29 de julho de 2012.
  34. ↑ Ir para:a b MALTSEV, Yuri N.(editor) (1993) Requiem for Marx, Ludwig von Mises Institute, p.91-96 ISBN 0-945466-13-7.
  35. Ir para cima ASSUNÇÃO, Vânia Noeli Ferreira de. «Karl Marx, Teoria e Práxis de um Gênio das Ciências Sociais». Consultado em 29 de julho de 2012.
  36. Ir para cima Suicídio de Marx, acesso em 13 de dezembro de 2015.
  37. ↑ Ir para:a b KONDER, Leandro. O Futuro da Filosofia da Práxis. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1992
  38. Ir para cima “Putinism” in American History: Lincoln, Roosevelt, and the Fight Against ISIS New Eastern Outlook, Caleb Maupin
  39. Ir para cima Russia and China: What is Happening Beneath the Propaganda Curtain?
  40. Ir para cima Can You Explain It?
  41. Ir para cima 150 years since Lincoln’s Gettysburg Address
  42. Ir para cima MALTSEV, Y. (1993), p. 451.
  43. Ir para cima Marxist Internet Archive (2008). «Karl Marx's funeral». Consultado em 29 de julho de 2012.
  44. Ir para cima WHEEN, Francis. Karl Marx: A Life. New York: Norton, 2002. Introduction.
  45. Ir para cima Veja fotografia da tumba.
  46. Ir para cima Em inglês, "Workers of the world, unite! e "The philosophers have only interpreted the world in various ways - the point however is to change it".
  47. ↑ Ir para:a b c BOTTOMORE, Tom. Marxismo e Sociologia. In: Nisbet, Robert; Bottomore, Tom. História da análise sociológica Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980, capítulo quatro.
  48. Ir para cima Aristotle's 'Politics': A Reader's Guide
  49. Ir para cima Breve história da edição crítica das obras de Karl Marx
  50. Ir para cima IANNI, Octavio. Dialética e capitalismo – ensaio sobre o pensamento de Marx. Petrópolis: Vozes, 1982, p. 9-10.
  51. Ir para cima CHAGAS, Eduardo F. «O Método dialético de Marx: investigação e exposição crítica do objeto» (PDF). Consultado em 29 de julho de 2012.
  52. Ir para cima Karl Marx, Capital: A Critique of Political Economy. Volume I: The Process of Capitalist Production [1867] Vol. 1: O Processo de produção capitalista. (Chicago: Charles H. Kerr & Company, 1867 [1906]), p. 51
  53. Ir para cima A contribution to The critique of political economy (Chicago: Charles Kerr & Company, 1911), p. 299.
  54. Ir para cima SILVA, Célia Regina da; SILVA, Luis Fernando da; MARTINS, Sueli Terezinha F. «Marx, ciência e educação: a práxis transformadora como mediação para a produção do conhecimento» (PDF). Consultado em 29 de julho de 2012.
  55. ↑ Ir para:a b IANNI, Octavio. Dialética e capitalismo – ensaio sobre o pensamento de Marx. Petrópolis: Vozes, 1982, p. 10.
  56. Ir para cima Marx contra o Estado
  57. ↑ Ir para:a b c d e f g h i BOTTOMORE, Tom (editor). Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001
  58. Ir para cima ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins, 2001.
  59. Ir para cima Feuerbach, Ludwig Andreas
  60. Ir para cima KOSIK, Karel. Dialética do concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976, primeira parte.
  61. Ir para cima MARX, Karl. El Capital, 3 tomos. México: Fondo de Cultura Econômica, 1946, tomo I, p. 18. Apud IANNI, Octavio. Dialética e capitalismo – ensaio sobre o pensamento de Marx. Petrópolis: Vozes, 1982, p. 11.
  62. Ir para cima LENIN, V. I. Obras escolhidas, 1972, volume 38, p. 180.
  63. Ir para cima Karl Marx, O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, Boitempo, 2011, pp.67-68)
  64. Ir para cima Manifesto do Partido Comunista
  65. Ir para cima Importante, contudo, destacar uma diferença primordial: para os socialistas utópicos em geral, todo o comportamento humano é absolutamente determinado pela moral/ideologia; já para Marx, essa afirmação é parcialmente verdadeira, pois a moral/ideologia encontra-se ela também submetida a uma outra condição anterior que lhe determina – a dimensão material da reprodução da existência.
  66. Ir para cima Ricardo, David
  67. Ir para cima IANNI, Octavio. Dialética e capitalismo – ensaio sobre o pensamento de Marx. Petrópolis: Vozes, 1982, p. 12-13.
  68. Ir para cima Ideologia Alemã: uma breve passagem teórica sobre o lazer e o fenômeno turístico no pensamento de Karl Marx
  69. Ir para cima Marx e Engels. Mensagem do Comitê Central à Liga dos Comunistas [1850]
  70. Ir para cima http://www.brasilescola.com/filosofia/as-classes-sociais-no-pensamento-karl-marx.htm
  71. Ir para cima Two Cheers for Pope Francis
  72. Ir para cima Marxist Internet Archive. «Introdução à Contribuição para a Crítica da Economia Política». Consultado em 29 de julho de 2012.
  73. ↑ Ir para:a b LESBAUPIN, Ivo. Marxismo e religião. In: Teixeira, F. (org.). Sociologia da religião. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
  74. ↑ Ir para:a b c MAGALHÃES, Fernando. 10 lições sobre Marx. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
  75. Ir para cima MARX, Karl. Contribuição para a crítica da economia política (em portuguêsZur Kritik der Politischen Oekonomie. Prefácio. Página visitada em 29 de julho de 2012
  76. Ir para cima Karl Marx and Frederick Engels, Collected Works (London: Lawrence and Wishart, 1975), 5:35 (henceforth MECW). 5:52 ; 5:87
  77. Ir para cima ALVES, Giovanni. Marx e a Globalização Como Lógica do Capital.
  78. Ir para cima MARX, Karl. Teses sobre Feuerbach (em portuguêsThesen über Feuerbach. Página visitada em 29 de julho de 2012
  79. Ir para cima SINGER, Paul. Marx – Economia in: Coleção Grandes Cientistas Sociais; Vol 31.
  80. Ir para cima Crisis Theory, the Law of the Tendency of the Profit Rate to Fall, and Marx’s Studies in the 1870s
  81. Ir para cima WALHENS, A de. L'idée phénoménologique d'intentionalité, in Hussuerl et la pensée moderne. Haia: 1959, pp. 127-128. Apud KOSIK, K. Dialética do Concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976, p. 17.
  82. Ir para cima SECCO, Lincoln. «Engels e a economia política». Consultado em 29 de julho de 2012.
  83. Ir para cima Como Tudo Funciona
  84. Ir para cima Manifesto do Partido Comunista
  85. Ir para cima Marx: um democrata jacobino?, por Thamy Pogrebinschi, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
  86. Ir para cima Estatutos Gerais da Associação Internacional dos Trabalhadores
  87. Ir para cima Marx, Karl, & Engels, Frederick, “Manifesto of the Communist Party,” Karl Marx and Frederick Engels Selected Works, Vol 1, Moscow: Progress Publishers, 1973, p. 32, 35-36
  88. Ir para cima As Lutas de Classes em França de 1848 a 1850 O 18 de Brumário de Luís Bonaparte
  89. Ir para cima Stanford Encyclopedia of Philosophy.Karl Popper. Metaphysics Research Lab, CSLI, Stanford University. Publicado em 13 de novembro de 1997, revisado em 2 de agosto de 2016
  90. Ir para cima von Mises, Ludwig (2010). Ação Humana Instituto Ludwig Von [S.l.] pp. 389 a 550.ISBN 8562816833. Consultado em 30 july 2016.
  91. Ir para cima Voegelin, Eric (1996). Estudos de ideias políticas de Erasmo a Nietzsche Ática Press [S.l.] ISBN 972617130X. Consultado em 2 August 2016.
  92. Ir para cima SCRUTON, Roger. Thinkers of the New Left. Longman, 1985, pág. 5, ISBN 9780582902732, (em inglês) Adicionado em 25/11/2015.
  93. Ir para cima GORENDER, Jacob. Marxismo Sem Utopia. Editora Ática, 1999. ISBN 9788508073689Adicionado em 25/11/2015.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Commons
Commons possui imagens e outras mídias sobre Karl Marx
Wikiquote
Wikiquote possui citações de ou sobre: Karl Marx
Textos integrais:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx