Esta publicado aqui um artigo sobre a qual podemos não concordar por vários motivos, mas que respeitamos e sempre é bom saber que existe tal opinião. Aproveitem com a devida sensatez.
Religiões como o cristianismo entende que há 7 céus. E ainda utiliza o Tanakh para provar a existência destes 7 céus. Mas será que o Tanakh fala algo de 7 níveis de céus diferentes?
Vamos estudar mais e entender o que o Tanakh realmente diz a respeito do céu.
Definição
A palavra em Hebraico que corresponde à céu é (שמים - Shãmayim).
Podemos encontrar esta exata palavra em Bereshith/Gênesis 1.8; 14.19; 49.25, etc.
Analisando o Tanakh
"E chamou deus à expansão Céus[Shãmãyim], e foi a tarde e a manhã, o dia segundo."
Bereshith/Gênesis 1.8
A principio, este versículo traz a palavra “céus”, uma vez que, “shãmayim” parece ser um plural. Porém, não podemos entender “shãmayim” como plural. Veja o passuk/versículo abaixo e entenda o porquê.
"E disse Elohim: Haja uma expansão no meio das águas[hamãyim], e haja separação entre águas[mayim] e águas[lãmãyim]."
Bereshith/Gênesis 1.6
Observe que o céu é a separação das águas de cima com as águas de baixo. E em Hebraico, shãmayim parece derivar de mãyim, logo, não é estranho fazermos uma relação entre as duas palavras.
Agora vamos onde quero chegar! Até hoje, ninguém nunca declarou uma crença onde existem 7 níveis de águas. Logo, mãyim é entendido universalmente como singular dentre aqueles que têm o Tanakh como um livro sagrado!
Da mesma forma como mãyim deve ser entendido no singular, shãmayim também. Afinal, dentro do conceito semita, não é absurdo tratar algo singular com uma palavra no plural. Veja o exemplo abaixo.
"E porás a coberta do propiciatório sobre a arca do testemunho no lugar santíssimo[beqodhesh haqqãdhãshim],"
Shemoth/Êxodo 26.34
Observe bem, que “santíssimo” (um lugar só), é tratado como plural (haqqãdhãshim). Isto é chamado de Plural Superlativista. Observe que poderíamos ter duas traduções sobre esta expressão, “santo dos santos” ou “santíssimo”.
No Hebraico temos muitos exemplos de plurais superlativistas. E o exemplo de “qodhesh haqqãdhãshim” foi só um dentre muitos.
Mas por que é usado palavras no plural para descrever algo que deveria estar no singular? A resposta é simples!
No entendimento semita, é utilizado o plural para descrever algo de grande imensidão. Imagina só você de frente para o mar. Você olhar para aquele horizonte e vê apenas água e céu, como se não houvesse fim. Logo, quando imaginamos nós no lugar das pessoas daquela época, podemos entender que, o plural pode estar mais relacionado à grandeza de algo, do que a pluralidade literal.
"A voz de YHWH ouve-se sobre as suas águas; o Elohim da glória troveja; YHWH está sobre as muitas águas[mayim rabbim]."
Tehilim/Salmos 29.3
Observe pelo passuk/versículo acima, como é tratado mãyim no plural. Uma vez que mãyim é uma palavra que deve ser entendida no singular, foi colocada a palavra “muitas – rabbim” para deixar claro o aspecto plural do texto.
Se nós repararmos bem, nós vamos perceber que, mãyim deve ser entendido no singular, e no plural quando estiver acompanhado de “rabbim – muitas”.
Então para concluir com o conceito exclusivo da palavra Shãmayim. Não dá para concluir que Shãmayim se refira a 7 céus só por que está no plural, da mesma forma que não podemos dizer que mãyim se refira a 7 águas só por que está no plural. Vimos como no Hebraico é comum o uso do plural para fazer referência a algo que está no singular.
Os pilares da Terra
Para justificar a crença em 7 céus, se é utilizado passagens onde temos a palavra (mãzuq - מָצוּק) que é traduzido como “alicerce” ou “coluna”.
Esta doutrina diz que cada alicerce ou coluna é um céu diferente, e para isto é utilizado pesuqim/versículos como este abaixo.
"Levanta o pobre do pó, e desde o monturo exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque de YHWH são os alicerces[metzuqi] da terra, e assentou sobre eles o mundo."
Shemu'el alef/1 Samuel 2.8
No texto acima temos metzuqi que vem da raiz mãtzuq. Observe como o texto é entendido erroneamente. Os alicerces são da terra e não do céu, e o trono está sobre a terra e não sobre os alicerces (ou sobre os céus).
Agora vamos analisar uma passagem onde vemos a palavra mãtzuq em seu contexto.
"Uma penha[mãtzuq] para o norte estava defronte de Mikh’mãs/Micmás, e a outra para o sul, defronte de Gaba’a/Gibeá."
Shemu'el alef/1 Samuel 14.5
Algumas traduções trazem “penhasco”, “pico”, “desfiladeiro”, etc. De fato, temos um sentido de montanha para mãtzuq.
O que podemos entender daqui, é que estas “colunas” não se refere à 7 ceús diferentes, mas sim, à aquilo que há sobre a terra.
"Tira do chão a tua trouxa, tu que moras em lugar cercado[bammãtzor]."
Yirmiyahu/Jeremias 10.17
"Recolhe da terra a tua bagagem, tú que te encontras sitiada[bammãtzor]!"
Yirmiyahu/Jeremias 10.17 (Biblia de Jerusalém - Paulus 2002)
Aqui vemos duas traduções para uma palavra que vem da mesma raiz. E a relação que aqui temos é a da força, pois afinal, um povo que é capaz de sitiar outro, é um povo com um exercito forte, bem estruturado.
Ao analisarmos apenas um pouco, podemos perceber que estas colunas não têm a ver com céus, mas sim, com a firmeza da terra.
O céu do céu
Se não existe 7 níveis de céu, como explicar Nechem’yãh/Neemias 9.6?
"Tu, só tu, és YHWH; tu fizeste o céu[hashãmayim], o céu[shemê] dos céus[hashãmayim], e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, o mar e tudo quanto nele há, e tu os conservas a todos; e o exército do céu[hashãmayim] te adora."
Nechem’yãh/Neemias 9.6
No Hebraico, não existe pronomes possessivos conforme no Português. Não existe, por exemplo, a palavra “meu” no Hebraico. Quando se quer determinar posse, no Hebraico, adiciona a letra Yud (י) no final da palavra (Ex.: Adon [אדן] = Senhor; Adoni [אדני] = Meu senhor). É possível que Shemê seja entendido como “meu céu”.
Veja o exemplo abaixo.
"Na tua ira os perseguirás, e os destruirás de debaixo dos céus[shemê] de YHWH."
Êkhãh/Lamentações 3.66
No exemplo acima, a tradução do João Ferreira de Almeida trouxe a palavra “céus”, porém, vemos a palavra “shemê”, o que demonstra que “shemê” seja uma variação de “shãmayim” conforme o entendimento do tradutor.
Vamos ver então um pouco melhor com o Hebraico para entendermos melhor esta questão.
אתה־הוא יהוה לבדך [את כ] (אתה ק) עשית את־השמים שמי השמים וכל־צבאם הארץ” “וכל־אשר עליה הימים וכל־אשר בהם ואתה מחיה את־כלם וצבא השמים לך משתחוים׃
Texto transliterado
‘Attãh hu YHWH lebaddekhã at kh attãh q ‘ãsithã eth hasshãmayim shemê hasshãmayim wekhãl tzebã’ãm hã’ãretz wekhãl asher ãleiha hayamim wekhãl asher bãhem we’attãh mehayyeh eth culãm wtzebã’ hasshãmayim lekhã mish’tachawim
A tradução que eu sugeriria seria esta.
"Tu és YHWH, que sozinho fizeste o céu, teu céu ao céu, e todas as colunas da terra, e tudo o que há no oceano, e tudo veio de Ti, e todos os pilares e o céu tu o firmaste."
Nehemyah/Neemias 9.6 (Tradução livre)
O que podemos entender? Podemos entender que HaShem tem um céu (alusão à morada de HaShem) sobre o céu. Muito provável que este céu (morada de HaShem) se trate do universo. Devido à falta de conhecimento cientifico naquela época, muito provável que se utilizava a palavra céu para definir aquilo que estava além do azul extenso que é visto, ou seja, o universo.
Indo de acordo com a teoria que, “céu do céu” significa “universo”, veja o texto abaixo.
"Louvai-o, sol e lua; louvai-o, todas as estrelas luzentes. Louvai-o, céus[hasshãmãyim] dos céus, e as águas[wehammayim] que estão sobre os céus[hasshãmãyim]."
Tehilim/Salmos 148.3-4
Estas águas acima do céu, não pode ser um dos “sete céus”, mas sim, aquilo que se encontra além do céu (grande azul visto pelos homens), ou seja, o universo.
O céu é de YHWH
"Os céus são os céus de YHWH; mas a terra a deu aos filhos dos homens."
Tehilim/Salmos 115.16
O pãsuq/versículo acima diz claramente que shãmayim é de HaShem e apenas Dele. E que os homens devem habitar na terra. Isto posto, qual das duas opções abaixo faz mais sentido pra você?
Existe apenas o céu e o universo, sendo o universo a morada de YHWH. | Apesar do céu ser apenas de YHWH, existem 7 céus que as almas dos mortos vão para lá. |
Observe que a doutrina dos 7 céus é bastante contrária ao que o Tanakh diz. E o mais interessante, é que o Tanakh em momento algum afirma que as almas dos mortos vão para o céu. Pelo contrário, observe o pãsuq abaixo.
"Porque não te louvará a sepultura, nem a morte te glorificará; nem esperarão em tua verdade os que descem à cova."
Yesha’yãhu/Isaías 38.18
Dentro do conceito popular, percebemos que as almas falam, pensam, cantam, etc. Porém, o que Yesha’yãhu está dizendo é algo contrário ao que o conceito popular diz. Então, estaria Yesha’yãhu errado ao dizer que os mortos não podem louvar e nem glorificar?
Sugiro a leitura do material *[O conceito Tanaico de "Alma"]*.
Se esquecermos um pouco este conceito de almas que saem de nossos corpos quando morremos, e encararmos que ao morrermos, estamos simplesmente mortos como Yesha’yãhu nos revela, qual a finalidade de haver 7 céus?
Logo, percebemos que é muito mais simples para compreendermos que existe apenas o céu, o universo, e a terra. Sendo que o céu é de HaShem e a terra para nós.
Conclusão
Podemos então chegar às seguintes conclusões:
- O plural em Hebraico não significa que haja mais de 1 céu;
- O conceito de 7 céus não tem base pelo Tanakh;
- O céu do céu é uma forma primitiva para se referir ao universo;
- O céu é habitação apenas de YHWH;
- As almas não vão para o céu;
Observe que este conceito está totalmente baseado em referências alheias ao Tanakh, e que, toda referência ao Tanakh está sendo usada de forma imprópria, trazendo inclusive conflito com o que o Tanakh realmente revela.
Por qual motivo devemos manter doutrinas que são opostas à palavra de HaShem?
fonte
http://www.yeshuamelekh.com.br/o_conceito_tanaico_de_ceu