Nesta Página
...Nota Editorial
...Nota Editorial
...Prefácio: contexto histórico das cartas
...O Final do Livro
http://estaleiroeditora.blogaliza.org/files/2011/08/cartas_do_carcere_gramsci_pant.pdf
Nota edItorIaL
Notas como esta nom som habituais, se calhar porque as ediçons, melhor ou pior, acabam por se apresentar a si próprias. Porém, se hoje acreditamos necessário justificar a apariçom deste livro, é porque ele nasceu da vontade comum de estaleiro editora, que queria reivindicar deste jeito nom só a importância e a vigência crítica do pensamento gramsciano, mas também fazer possível a recepçom da sua obra na nossa língua.
a génese deste projeto remonta-se até 2007 quando, de-
corridos 70 anos da morte de Gramsci, a sua obra ficou livre de direitos. era o momento de editá-la na Galiza. o nosso intuito na altura era —e continua a ser— bem modesto. Nom tencionávamos mais do que publicar umha escolha das Cartas do Cárcere. o texto utilizado havia de ser o compilado pola editora italiana einaudi, nomeadamente a escolha realizada por Paolo spriano, na sua 7ª ediçom, do ano 1977, composta por 156 cartas, à qual se havia de acrescentar um prólogo histórico e mais algumhas notas de rodapé que seriam responsabilidade do tradutor.
9
desde o ano 2007 fôrom aparecendo alguns
textos gram-
scianos no espaço editorial galego, facto que nom podemos
deixar de celebrar. Para nós, editar as Cartas
do cárcere é também umha boa oportunidade para reflexionarmos sobre um
período histórico, o de entreguerras, no qual coincidírom ideologias, conflitos
e protagonistas presentes nas cartas de Gramsci. o prólogo, em definitivo,
fornece a quem ler este livro o pano coletivo que completa a dimensom mais
individual caraterística das cartas. Finalmente, sendo esta umha antologia
forçosamente breve, é obrigado para nós renunciar a muitas das suas cartas,
como é inevitável renunciar, e com pesar, a umha ediçom galega dos Cadernos do Cárcere. seja como for, nom
perdemos a esperança de que mais cedo que tarde poda ver a luz a ediçom galega
da obra completa de antonio Gramsci.
estaleiro editora Galiza, maio de 2011
10
PREFÁCIO
o
CoNteXto HIstÓrICo das CARTAS DO CÁRCERE
—
ángel M. Varas Carrasco / Carlos
dias diegues
0. Introduçom
as cartas de Gramsci som hoje um pretexto ou um ponto de
partida para umha interpretaçom da história italiana durante o período de
entreguerras. tal interpretaçom tenciona explicar o fascismo nom como um
«acidente» ou umha «parêntese» histórica, mas, antes polo contrário, como um
episódio em conexom com a história italiana anterior, com umha perspetiva de
história política e social.
1. A imediata pós-guerra
em 1919 parecia claro que nom
havia de vir de Versailles a soluçom para o problema dos territórios irredentos
italianos, ou que nom acordariam ali grandes indenizaçons económicas que
aliviassem as finanças do estado. apesar da vitória, Itália era umha potência
secundária na europa e no Mediterrâneo, e a velha classe política italiana
estava a demonstrar na mesa das negociaçons a sua limitada visom política,
traduzida tanto na sua negativa a abrir a participaçom política às massas,
quanto na mesma incapacidade para criar um contexto de estabilidade económica
em volta de valores e prioridades incontestáveis. a vitória foi, portanto, um
golpe amargo para Itália; depois do armistício chegava a crise económica, com
um aumento da dívida estatal em 500% e umha inflaçom de 300%, para além dos
efeitos económicos devastadores, consequência das perdas humanas, com mais de
300.000 italianos caídos em combate. Perante este panorama desolador, o estado
era incapaz de satisfazer as expetativas geradas ao calor do debate sobre a
intervençom, de aí a sensaçom de vitória mutilata.
a guerra nom só nom solucionava os problemas da Itália; antes polo contrário,
criava novos problemas, como a destruiçom de infraestruturas ou a
desestabilizaçom da economia, problemas que faziam ainda mais difícil a manuteçom
do poder por parte da oligarquia italiana e que forçarám logo a seguir a
passagem para umha política de massas.
No fim da Primeira Guerra Mundial
[IGM], Itália possuía um setor agrícola que dava emprego a 55% da populaçom1.
a descolagem industrial ainda bem nom se iniciara em 1914 e os anos de guerra
traduziram-se numha forte tendência para a concentraçom financeira e
industrial. Já desde antes da Guerra, o setor siderúrgico lucrara-se do
protecionismo estatal e das ajudas diretas para a produçom. de resto, nem a
guerra nem o armistício pugeram em questom a aposta decidida do estado na
indústria do Norte e o desleixo consciente do Mezzogiorno, que continuava a ser
umha colónia económica do Norte. No sul da Itália, as elites latifundiárias,
longe de pôr em andamento o desenvolvimento de umha indústria de seu, preferiam
derivar os capitais para a reditícia indústria nortenha.
1 Pierre Milza: De
Versailles a Berlin. 1919-1945, Masson, 4ª ediçom (p. 180), Paris, 1980.
Nas primeiras
eleiçons depois da guerra a soma dos votos obtidos polo PPI e PSI —partidos
«antisistema»— superou a soma dos votos dos partidos tradicionais, incapazes de
travarem o crescente descontentamento popular. as urnas desenhavam um sistema
político italiano dividido em três grandes grupos de poder: de umha parte, o
Partido Popular Italiano (PPI), dirigido polo padre Luigi sturzo, que incluía
tendências católicas de direita, mas também de esquerda. de outra parte, estava
o Partido socialista, de turati e treves e, finalmente, o Bloco Constitucional,
que formara todos os governos liberais anteriores. esta divisom em três grupos
irreconciliáveis fazia ainda mais difícil reconduzir a situaçom e recuperar o
país da grave situaçom, nom apenas económica, mas também moral. Giolitti,
figura dominante na política italiana no período prébélico, era o paradigma das
carências da classe política postrisorgimentale.
Certamente, o político piemontês tinha dado mostras da sua vontade de integrar
a esquerda moderada no sistema, em troca de pequenas concessons como, por
exemplo, a implantaçom do sufrágio universal (masculino) em 1912. No entanto, a
aposta da burguesia na incorporaçom das massas à política chegou demasiado
tarde e nunca véu acompanhada de reformas no campo económico ou no educativo;
assim, embora a chamada à tropa de 1915 comportasse a concessom de maiores
direitos políticos para as classes subalternas, os acontecimentos posteriores à
IGM demonstrariam que a burguesia tinha pouca disposiçom para ceder o protagonismo
político e para abrir o leque da participaçom política. o reformismo de um
Giolitti revelava a incapacidade de umha classe política fundamentalmente
oportunista e egoísta, que via a intervençom na guerra como umha maneira fácil
de solucionar os problemas de política interna. Nom admira, enfim, que os
partidários da intervençom estivessem no bloco liberal, enquanto a esquerda
(facto em que a Itália difere da França ou da alemanha) era fundamentalmente
nom intervencionista, em coerência com os ditados da II Internacional.
desde 1918 até a chegada do fascismo em
1922, o estado
liberal defendera-se do seu inimigo mais perigoso, o
movimento obreiro. assustada pola vaga de greves e ocupaçom de terras, a
burguesia irá de maos dadas com o fascismo, que aproveitará esta crise
estrutural para se candidatar progressivamente como a única força com a
capacidade para travar o pulo imparável do movimento obreiro, somando os
consensos das classes médias.
2. A
génese do fascismo.
Contra o afirmado polo filósofo idealista
Benedetto Croce, que entendia que o fascismo fora um «acidente» na história
italiana, antonio Gramsci explicava o fascismo como umha prosecuçom do estado
liberal fundado em 1860. É nessa linha interpretativa que se insere este
prólogo.
Nas origens do regime fascista italiano
tivérom enorme peso determinados assuntos que constituírom parte essencial da
evoluçom política do país2: o seu particular processo de
unificaçom, que excluiu as capas populares, conforme demonstrou sobejamente
Gramsci3, a difícil transiçom do liberalismo para a democracia, a
tensa relaçom com a Igreja Católica até a assinatura dos Pactos Lateranenses em
1929, aos quais haveria que acrescentar os derivados das consequências da I
Guerra Mundial, nomeadamente o irredentismo, ao nom cumprir-se plenamente o
estipulado no tratado secreto de
2 Pierre
Milza, Les Fascismes. Imprimerie
Nationale. París, 1985.
3 a. Gramsci, Sobre el Fascismo. edit. era. Madrid,
1980.
Londres
de 1915 (de aí o papel jogado por orlando na Conferência de Versailles durante
a redaçom do articulado definitivo).
Com efeito, o
estado italiano enfrentava desde a Unificaçom umha importante frustraçom
nacional, derivada nom apenas da questione
romana, mas também e principalmente do problema do irredentismo e da
provada incapacidade colonial. acabada a Primeira Guerra Mundial, Itália
verificava que ter estado do lado dos países vencedores nom ajudara em absoluto
para solucionar estes problemas que, antes polo contrário, se incrementárom. o
fascismo foi, nesse sentido, umha resposta à crise da democracia liberal, em
chave autoritária e de incorporaçom das massas, que serám mobilizadas por meio
de um intenso nacionalismo herdeiro do nacionalismo da pré-guerra, nomeadamente
do nacionalismo da corrente florentina de Corradini e Papini, para além da
influência clara de d'annunzio e Marinetti. aliás, o fascismo tem raízes na
filosofia de Nietzsche («superhomem»), Bergson (élan vital) e em sorel («violência revolucionária»). Por último, os
fasci di combattimento relembram
(principalmente polo nome) os fasci
sicilianos de 1893, bem como as bandas garibaldinas, polo seu caráter intrépido
e paramilitar. e, antes de mais, o fascismo, filho da crise pós-bélica, é
também filho da frustraçom nacional; com efeito, o nacionalismo fascista
assumirá como objetivo fulcral o acabamento do labor de construçom nacional,
através de um estado totalitario onde estado e Naçom se confundissem de forma
definitiva. Nesse crisol de doutrina nacionalista (que se remonta aos tempos de
Mazzini) e no mito revolucionário do fascismo, o conceito de «naçom proletária»
desempenha o papel de fulcro. Mussolini aprenderá dos erros de d'annunzio, ao
compreender a necessidade de um partido forte que utilize o nacionalismo
populista para dar coesom e atenuar os conflitos de classe. a ideologia
fascista incorpora muita da simbologia do Império romano e fai de «roma
capitale» umha palavra de ordem com umha funcionalidade semelhante ao da
«violência revolucionária». os objetivos da regeneraçom fascista resumem-se
pois em fazer novamente de roma a capital do mundo, o centro de umha europa
fascista e de um Império neocolonial em áfrica. É este um discurso que atrai e
engaiola as massas, especialmente aquelas camadas sociais que temem perder na
crise o estatus ganhado com a Unificaçom de Itália, feita à custo do
proletariado industrial e do campesinhado.
todavia, o
fascismo é nos inícios um movimento mais de ex-combatentes e as suas ideias nom
tenhem nada de original. se os fasci
pudérom consolidar a sua presença no Norte da Itália foi graças à sua vontade
de se definir fundamentalmente como um grupo de arditi que se opunha violentamente às greves obreiras e às
ocupaçons de terra, por meio das queimas das sés do PSI, dos espancamentos a
afiliados socialistas, etc. desde 1919, o fascismo oferece-se ao estado para
fazer o «trabalho sujo» e por isso mesmo o fascismo encontra no campo e na
cidade o apoio decidido das classes acomodadas, assustadas pola vaga
revolucionária do Bienio Rosso
(1919-1920). o apoio maior, contudo, véu da pequena burguesia, aquela que
formara a oficialidade na I Guerra Mundial e que agora via com temor como o
devir económico do país ameaçava com depauperá-la, reduzindo-a à pobreza das
classes subalternas.
Portanto,
as classes médias e altas beneficiam da doutrina nacionalista como beneficiam
também do fascismo, porquanto ele serve a um estado de classe com umha
estrutura burocrática promotora de políticas protecionistas e monetárias
favoráveis ao capital transpadano. o fascismo nom será umha ideologia
superadora da democracia liberal, mas sim a sua versom autoritária, que visa o
fim da construçom nacional através de um estado italiano mais forte, isto é,
totalitário e portanto com maior capacidade para impor políticas económicas
àqueles sectores críticos com a repartiçom dos papéis na sociedade italiana. a
burguesia usará o fascismo para saldar contas com as forças que colocavam em
risco a construçom nacional italiana, o socialismo e a Igreja. o fascismo nom
vai romper com as tradiçons políticas da burguesia; a «política de açom no
Mediterrâneo e na áfrica» fascista será umha continuaçom das metas coloniais de
Crispi, com as suas aventuras africanas finisseculares de infausta lembrança.
aliás, a presença de rocco nos primeiros governos de Mussolini é altamente
significativa, porquanto dá fé da continuidade do nacionalismo italiano da
pré-guerra no nacionalismo fascista. será rocco quem desenhe as primeiras leis
fascistas, aquelas que porám em pé o estado fascista, essas «leis
fascistíssimas», que fortalecem o poder executivo e limitam o pluralismo de
interesses. em definitivo, a criaçom do partido fascista comportou a assunçom
do mito nacionalista da romanidade, na medida em que o fascismo tencionava ser
a semente de um estado Novo capaz de pôr fim à decadência nacional italiana.
3.
Fases do fascismo.
a cronologia da história italiana na etapa de entreguerras4
deve ser estruturada atendendo para as teorias sugestivas, mesmo se
controvertidas, de renzo de Felice5, se bem que em
aspectos biográficos de Mussolini é possível utilizar tam-
4
G. Candeloro, Storia
dell´Italia Moderna. Vol IX.
edit. Feltrinelli. Milano, 1986.
5 renzo de
Felice, Breve Storia del Fascismo.
edit. Mondadori. Milano, 2000.
bém o apontado por Pierre Milza6, Max Gallo7,
emil Ludwig8 e richard Bosworth9,
respetivamente, para além dos seus próprios escritos, publicados na editora Il
Mulino em vários volumes10.
1918-22:
etapa de fascizaçom
em 1919 o sistema político
italiano, num contexto de deslegitimaçom moral, registava a oposiçom nom só do
partido socialista, mas também do Partido Popular Italiano, fundado por Luigi
sturzo. Como vimos, o nacionalismo apresentava a vitória italiana como umha
vitória mutilata e a escassa
relevância internacional da Itália nom facilitava o cumprimento das promessas
do tratado de Londres, numha altura em que o direito de autodeterminaçom
favorecia o nacionalismo iugoslavo e nom o italiano.
Foi esta umha etapa caraterizada pola
enorme tensom social gerada pola finalizaçom da guerra11.
Nela surgiu o que Norling chamou12 de «fascismo revolucionário» que,
posteriormente, tivo a sua continuidade na república de salò. Mussolini, que
procedia de umha família humilde e de tendências esquerdistas, fundou o
primeiro Fascio di Combattimento em
Milám, em 1919, após a sua rutura definitiva com o PSI. Foi no dia 23 de março
quando o movimento fijo o
6
Pierre
Milza, Mussolini. edit. Fayard. París, 1999.
7
Max Gallo, L´Italie
de Mussolini. edit. Marabout. París, 1966.
8
emil Ludwig, Conversaciones
con Mussolini. edit. Zero. Barcelona, 1981.
9
richard
Bosworth, Mussolini. edit. Península.
Barcelona,
2003.
10 Benito
Mussolini, Scritti e Discorsi. edit.
La Fenice. Venezia-roma, 1983.
11 angelo
tasca, El nacimiento del fascismo.
edit. ariel. Barcelona, 1981.
12 erik
Norling, Fascismo Revolucionario.
Nueva república ediciones. Barcelona, 1999.
seu ato de apresentaçom na Piazza
san sepolcro (119 presentes), utilizando para isso um local cedido polos
empresários da zona.
em 1919, o PSI obtivo um grande sucesso nas
eleiçons ge-
rais, ficando em segundo lugar o
partido demo-cristao de don sturzo. a burguesia italiana começava a sentir a
necessidade de se agrupar em volta de aqueles setores da sociedade dispostos a
enfrentar o pulo do movimento obreiro. os fascistas conseguem 4.795 votos em
Milám, o único lugar onde se candidataram, enquanto os socialistas conseguírom
nessa cidade 170.000 e os populares 74.000.
No dia 13 de
junho de 1920 caiu o governo Nitti devido à sua impotência no affaire de Fiume.
Nitti é sucedido polo velho Giolitti, que volta por enésima vez à chefia do
governo. Para muita gente, Giolitti era a última esperança de salvar a situaçom
de crise institucional. Na prática, a crise aguçava-se: durante 1920 o clima
pré-revolucionário pareceu estender-se por toda a Península, principalmente
quando em agosto os operários lançárom a sua campanha de ocupaçom de fábricas.
Neste clima pré-revolucionário, os partidos burgueses pactuavam com os
fascistas a participaçom conjunta nas eleiçons municipais, mas o fascismo seria
derrotado novamente nas urnas. No entanto, a vaga de greves e ocupaçons de
fábricas e de terras do Biénio Vermelho nom resultou na revoluçom porque os
socialistas estavam divididos: a direçom do PSI nom estava convencida da
legitimaçom democrática da tomada direta do poder, se bem que os escrúpulos
legalistas eram maiores no PSI do que no bloco liberal e em geral na burguesia
industrial. assim foi como a desuniom e a falta de decisom por parte da direçom
do PSI fijo possível a neutralizaçom da ameaça revolucionaria, apesar de que a
CGL contasse em 1920 com 2.000.000 de afiliados.
os fascistas beneficiam dessa indecisom e
da ingenuidade
socialista na hora decisiva dos
conselhos de fábrica quando a direçom do PSI está a aceitar compromissos com o
mesmo estado que apoiava e armava as milícias fascistas. a direçom do PSI
confiou na integridade e na moralidade do estado liberal, quando na realidade
este só buscava umha trégua, um apaziguamento da insurreiçom operária do Biénio
Vermelho, que ia a caminho de superar os resultados dos soviets da alemanha e
da Hungria. o PSI nom questionou até o fundo as instituiçons liberais nem foi
capaz de unir as diferentes frentes de oposiçom, artelhando umha frente
unitária de trabalhadores urbanos e rurais, que conectasse e desse umha
expressom política ao rejeitamento das instituiçons liberais, que eram
precisamente as responsáveis pola opressom económica do campesinhado do
Mezzogiorno e do proletariado do Norte. o resultado: só em 1921, há 38
assassinatos registrados de socialistas, por 2 de fascistas, e 212 militantes
socialistas presos por 2 fascistas. Nos comícios de 1921, o PSI obtém 122
deputados, sendo a força mais votada por trás do bloco liberal e por diante do
PPI, com 107 deputados. o fascistas obtivérom 32 deputados e os comunistas 16
(um deles era antonio Gramsci).
Nom houvo solidariedade entre as
classes trabalhadoras e a insurreiçom operarária de 1919-1920 puido ser
controlada polos fascistas, a polícia e o exército. as classes médias
lançárom-se nos braços do fascismo. 1920 seria pois um ano de refluxo geral da
maré revolucionária, como escreve Milza13: no mês de
setembro, Itália assiste ao fracasso do movimento de ocupaçom das fábricas.
Começa a vingança da Cofindustria,
amparada na violência fascista e na indiferença, quando nom
13 Pierre
Milza: De Versailles a Berlin. 1919-1945,
Masson, 4ª ediçom (p. 186). Paris, 1980.
a
colaboraçom da polícia e o exército, que desmonta e anula as fortalezas
operárias do Norte e do vale do Po. tal como escreve Gramsci no periódico L´Ordine Nuovo, na sua ediçom de 2 de
janeiro de 1921, o fascismo é «a ideologia da pequena burguesia que substitui a
autoridade da lei pola violência privada».
1921 é um ano
fundamental para a oligarquia financeira, nom só porque o movimento das
fábricas parece controlado, mas também porque dous dos principais grupos da
economia italiana da pré-guerra, a ILVA e ansaldo, se declaram na falência.
também quebra a Banca di Sconto, umha
das principais instituiçons financeiras. estas entidades culpam o estado italiano
e culpam da sua falência a Bonomi, o presidente do governo, por nom ter apoiado
estas empresas com fundos públicos. Isto fai com que aumente o ressentimento da
alta burguesia financeira, que responsabiliza o estado polos seus problemas
económicos, como antes o figera polas greves operárias, apesar de estas
empresas terem sido as maiores beneficiárias do conflito bélico, tendo-se
aproveitado, como noutros países, de mao-de-obra disciplinada, mal remunerada e
de um grande mercado, isto é, um estado que tudo comprava e tudo pagava com
fundos públicos. este ressentimento da burguesia nutrirá a sua vontade
autoritária e a tentaçom de impor medidas económicas mais favoráveis ao
Capital. o medo e o ressentimento dos industriais do Norte e dos proprietários terratenentes
do sul fará, finalmente, com que o pequeno grupo de arditi aumente progressivamente a sua presença e a sua rede de
apoios.
aliás, os
grandes proprietários latifundiários apoiam o fascismo porque é a maneira mais
eficaz de parar o crescente poder municipal dos socialistas e as cámaras
agrárias, que pareciam conduzir a um reparto da terra ou, por outras palavras,
a umha reforma agrária. era este um campo abonado para o fascismo, que abandona
rapidamente a vocaçom inicial de ser um «antipartido» para se converter no
Partido Nacional Fascista, cujo fulcro de uniom será a violência
anti-esquerdista, apoiada por umha elite terratenente desejosa de impedir
mudanças sociais de caráter progressista. Certamente, este oportunismo
(responsabilidade, em boa medida, de Benito Mussolini) choca com o radicalismo
dos ras locais, os chefes locais do
partido, aos quais Mussolini concederá autonomia de açom desde que se respeite
a autoridade nacional do chefe, isto é, ele próprio.
os desacertos
na estratégia esquerdista fôrom valorizados polo PSI no Congresso de Livorno,
onde umha pequena parte do partido se cindiu para fundar o PCI (Bordiga,
togliatti, o próprio Gramsci, quer dizer, os ordinuovistas). a partir deste momento, o PCI será a ponta de lança
de oposiçom a um bloco constitucional em decadência, mas sobretudo de oposiçom
ao fascismo nascente, que chegará ao poder só um ano depois. Para um dos
fundadores do PCI, antonio Gramsci, o fracasso do PSI deveu-se a que o
essencial nom devia ser a ocupaçom das fábricas, mas a refundaçom inteira do
estado italiano desde os seus alicerces. Para fazê-lo teria sido preciso um
pacto, um contrato social assente em novos valores ou, por dizê-lo à maneira de
Gramsci, um pacto assente numha nova cultura hegemónica. Para Gramsci, era o
Partido quem devia encarnar essa hegemonia. sem ela, era impossível fundar um
estado italiano moderno superador da luita de classes.
o sentido da
oportunidade de Mussolini levará a pactar a inclusom dos fascistas numha lista
unitária junto aos partidos liberais, como já vimos. desde os primeiros debates
parlamentares, Mussolini joga a carta de líder da renovaçom política e por isso
ataca Giolitti, o velho líder liberal. ao mesmo tempo, oferece às esquerdas um
acordo para diminuir as reticências de umha oligarquia temerosa do esquadrismo.
Na verdade, boa parte da velha classe política estava convencida de que seria
possível utilizar o fascismo para dar cabo do socialismo; pensava-se que era só
questom de tempo «domesticá-lo», fazendo dele um partido convencional. Porém, o
fascismo irá-se apoderando das estruturas do estado, demonstrando às elites que
o fascismo era algo mais do que um movimento anti-partidário de ex-combatentes
e desempregados.
No dia 1 de
julho cai o governo de Giolitti. Ivanoe Bonomi converte-se em novo chefe do
governo. No dia 3 de agosto assina-se o Pacto Zaniboni —acerbo, que significa
umha trégua nos enfrentamentos entre fascistas e socialistas. Mussolini
interpreta o papel de líder moderador de um partido nacional fascista criado
nos primeiros dias de novembro de 1921. o PNF contava com 320.000 filiados, dos
quais 40% eram operários e 10% estudantes. de maneira progressiva, o fascio di combattimento, depois o PNF,
irá convertendo-se num partido interclassista e populista, que funcionará como
um mecanismo de integraçom social. esse foi o maior sucesso de Mussolini, tal
como Gramsci descrevia já em 1921.
Pouco depois de fundar-se o PNF, o
fascismo rompe o pacto Zaniboni — acerbo. o governo liberal nem consegue
estabilizar o país nem está disposto a parar a violência fascista. No dia 25 de
fevereiro de 1922 cai também o governo Bonomi e el-rei chama a Luigi Facta. No
mês de julho, depois do fracasso da greve de protesto em defesa da legalidade,
dirigida pola Alleanza del lavoro e
rota violentamente polos fascistas, umha vaga esquadrista abate-se sobre todo o
país. o governo Facta também nom consegue controlar a violência das esquadras
fascistas, cada vez mais toleradas e amparadas polo exército. a Marcha sobre
roma tem lugar em outubro de 1922, contando com o apoio de todos os sectores
dominantes da sociedade italiana (desde o exército até a Igreja ou a Banca,
passando pola Monarquia). No dia 31 de outubro, Mussolini apresenta a elrei a
listagem dos ministros. este governo é apoiado incluso polas forças moderadas e
até consegue a aprovaçom de Giolitti, o velho raposo liberal que pensava que
poderia utilizar Mussolini e o seu partido para esmagar a esquerda e
desembaraçar-se depois dele.
1922-24:
fachada liberal.
Vitor Manuel III e a elite
adoravam a imagem de força política que exibia Mussolini, em boa medida porque
devolvia a imagem que o próprio regime já nom podia oferecer e também porque se
pensava preconceituosamente que o mestre abruzzês, assim que fosse controlada a
ameaça vermelha, se sentiria coibido nas altas esferas, vendo-se obrigado a
respeitar as regras do jogo parlamentar, apesar do seu discurso radical. o
certo é que Mussolini fortalece rapidamente o seu poder pessoal e fai-no
utilizando as «regras do jogo».
após a sua
chegada ao poder, Benito Mussolini formou um governo no qual se reserva a
presidência e três ministérios. tratou-se de um executivo de coligaçom com a
participaçom de todos os partidos burgueses. o apoio internacional foi geral
(desde o rei da Inglaterra até o Papa ou o próprio Gandhi elogiárom o novo
primeiro ministro). Pio XI sacrificou a sturzo, líder dos demo-cristaos, em
benefício do próprio Mussolini. ao longo do mês de janeiro de 1923, as camisas
pretas
transformam-se na «Milícia voluntária para a segurança
nacional», com o intuito de salvar a aparência de ordem do PNF. o governo
Mussolini derroga o Primeiro de Maio como feriado do trabalho. desde o governo,
os fascistas elaborárom o texto de modificaçom da lei eleitoral (reforma
acerbo), assegurando-se assim o pleno sucesso nas eleiçons. No dia 6 de abril
de 1924 há eleiçons num clima de violência. a lista fascista (ou «lista
nacional») obtém com a denominada legge
truffa (lei fraude) 64 % dos sufrágios e 374 representantes no Parlamento.
o fascismo obtém assim a maioria absoluta. após a denúncia de tal manipulaçom,
o deputado socialista independente Matteotti é assassinado em maio de 1924,
provocando a retirada da oposiçom (o famoso episódio do «aventino»). em finais
do mesmo ano, Mussolini assumiu plenas responsabilidades, pondo fim à etapa
liberal.
1925-36: Consenso fascista.
Institucionalizaçom. a ditadura que começa em 1925 pom em pé um estado
fascista sem umha ideologia prévia, com princípios improvisados segundo as
necessidades políticas de Mussolini. apela-se ao pragmatismo e ao enquadramento
da sociedade de massas em instituiçons como a família e as corporaçons, mesmo
se afinal estas nom fôrom mais do que instrumentos de dominaçom que visavam a
desarticulaçom das estruturas políticas das classes subalternas. assim, com a
institucionalizaçom do fascismo, na segunda metade da década de 1920, Mussolini
apresenta Itália como um estado-Partido, culminaçom do processo de unificaçom.
Finalmente, afirmavam os fascistas, o estado era a expressom política da Naçom
italiana. Porém, o sucesso fascista era só aparente, já que nom era que a
Itália se figesse fascista, mas sim que o PNF o que se convertia rapidamente em
parte da estrutura do estado. o PNF «domesticava-se», devinha burocracia, o que
supunha trair os principios antiliberais e antimonárquicos do fascio di combattimento; no fundo, esse
era o preço que era preciso pagar às elites se se queria governar e dirigir o
estado. as elites, de resto, mantivérom o controlo das rédeas da economia. este
equilíbrio entre PNF e estado italiano desequilibrará-se só nos anos seguintes,
e por causa da evoluçom internacional e as decisons em política exterior,
resultando na revoluçom cultural fascista e num giro totalitário. Porém, nesta
altura o partido fascista aproveita o consenso liberal para consolidar o seu
controlo sobre as instituiçons, ficando adiado o enfrentamento com a oligarquia
até 1935.
a feroz repressom de 1925-1926
inaugura, de maneira paradoxal, o período de maior consenso social do fascismo,
que durará até 1935. aproveitando tanto o acontecimento anterior quanto os
atentados que tivérom lugar em 1925-26 (Zaniboni, Gibson, Zamboni) Mussolini
deu cabo do regime liberal e deu passo à ditadura fascista. em 1925, o Dopolavoro iniciou a planificaçom do
ócio dos italianos. No dia 24 de dezembro desse ano promulga-se umha lei pola
qual a figura do chefe do governo deixa de ser responsável perante o
Parlamento, concentrando todos os poderes executivos. doravante, os poderes de
Mussolini só poderám ser revogados por el-rei. a burguesia italiana aceita a
supressom dos sindicatos e dos partidos políticos, com o pretexto da manutençom
da ordem. assim é que o fascismo se apodera do estado: em 1926 ponhem-se as
bases do corporativismo e cria-se a polícia secreta (OVRA), encarregada de
perseguir os dissidentes (fundamentalmente comunistas). o fascismo detenta o
poder político, mas nunca será um poder absoluto capaz de impor umha visom
totalitária, apesar da viragem totalitarista do Dopolavoro, do Littorio
ou mesmo da OVRA. de facto, todo este aparelho político nom pom em risco os
negócios económicos da burguesia; antes polo contrário, é a sua condiçom.
desde o 31 de janeiro de 1926, o Duce podia legislar sem
ter em conta o Parlamento. em
julho de 1926 cria-se o Ministério das Corporaçons e em finais de novembro
promulga-se a «Lei para a defesa do estado», que significava a dissoluçom de
todos os partidos com a exceçom do fascista, assim como dos sindicatos,
criando-se um tribunal especial (que condenará Gramsci e o resto da direçom do
PCI dous anos mais tarde), que reservará o desterro para os presos políticos.
estabeleceuse também a pena de morte.
de resto, é
também a partir de 1926 quando se inicia a despolitizaçom do partido e a sua
burocratizaçom. devido à sua vocaçom de inclusom, isto é, pola sua vontade
totalitária, o projeto fascista provocava a entrada no partido e na sua esfera
de muitos elementos conservadores, pouco ou nada interessados numha política
social contrária aos interesses oligarcas. o fascismo, que se oferecera como
projeto superador das ideologias risorgimentali
bem como do liberalismo e o socialismo, verá adiada as reformas legislativas
que nom redundavam no Capital, ou para sermos exatos, no Grande Capital. só
desta maneira obtivo o fascismo a anuência de grande parte da populaçom,
através de umha política de «mao dura» e principalmente pola cessom da economia
à burguesia, preocupando-se só polo poder mais visível e afinal menos
decisório. o melhor exemplo disto foi o que aconteceu com o ideário corporativista,
que ficou sendo só conversa, sem se ter concretizado nunca na prática, por
muito que em 1928 o fascismo chegasse a prescindir definitivamente do
Parlamento, substituindo-o por umha Câmara das Corporaçons. Na realidade, as
corporaçons nom tivérom representaçom real no setor produtivo e a política
estatal foi sempre favorável à burguesia. em definitivo, nom houvo umha
superaçom da luita de classes, mas sim umha nova vitória da burguesia. Na
prática, o partido subordinou-se ao estado italiano e as prioridades económicas
fôrom as dos grandes monopólios do setor industrial, isto é, o protecionismo
económico no campo da indústria do aço, o apoio à criaçom de grandes monopólios
(que ficavam à margem do controlo estatal) e a disciplina militar para a massa
trabalhadora. em fim das contas, Mussolini preferiu ser chefe do governo do que
chefe do Partido (prova do seu aventurismo político); é por isso que, Mussolini
foi incapaz de impor a estrutura fascista ao estado e se encontrou indefenso
quando no dia 25 de julho de 1943 foi deposto polo Grande Conselho Fascista. em
1927 foi publicada a Carta del Lavoro,
base do orde-
namento corporativo fascista. em
1928 o Grande Conselho Fascista ficava englobado no aparelho do estado e em
1929 o regime recebia o reconhecimento definitivo, após a assinatura dos Pactos
Lateranenses com Pío XI, que punham fim à «questione romana». Nasce assim o
estado da Cidade do Vaticano e declara-se obrigatório nas escolas o estudo da
religiom católica. assim, mesmo a pesar de a ditadura fascista condenar
oficialmente o pluralismo de valores próprio de umha sociedade liberal e dizer
combater a «luita de classes», a concordata representava mais umha vez o
triunfo histórico da burguesia italiana e a rendiçom do estado frente à Igreja
Católica, que conseguia o monopólio do ensino e um subsídio estatal milionário.
depois da assinatura da Concordata, no dia 24 de março o regime fascista
convocará um plebiscito. Votou 90% do censo, com 8 milhons de sufrágios
favoráveis ao fascismo e 136.000 votos contrários. o regime consolidava-se
assim, em boa medida, polos acordos com a Igreja, para além do longo trabalho
de repressom e procura do consenso através das grandes políticas públicas.
Portanto, a
ditadura fascista consolida umha monarquia autoritária e um governo com umha
política económica liberal. Com a chegada á Itália da crise de 1929, aumenta
certamente o intervencionismo estatal na economia, mas este serve afinal
somente aos interesses das elites, porquanto o estado corre ao resgate das grandes
empresas em risco de falência. Para o estado fascista, era umha questom de
prestígio nacional e de interesse de estado, mas este residia sempre nos mesmos
setores económicos e sempre nos mesmos territórios, a Norte do reino. de outra
parte, a política económica fascista foi um sucesso enquanto houvo um contexto
internacional à alça, mas virou um fracasso quando se descobriu que as
sucessivas «Batalhas» (do trigo, da Lira) de Mussolini empobreceram mais o
país, ao ter debilitado a indústria alimentar e sacrificado o crescimento
equilibrado da economia, enriquecendo de passagem a burguesia monopolista, que
beneficiou do fortalecimento do estado e das grandes políticas de estado.
No dia 7 de
novembro de 1931 inicia-se o abonado do agro Pontino; é o período das grandes
obras fascistas. o IMI (Istituto Mobiliare Italiano), fundado em 1931,
fornecerá dinheiro às empresas sem fluidez. a autarquia económica recebe um
impulso definitivo com a fundaçom do IRI. estas novas instituiçons económicas
continuárom a ser geridas nom por fascistas da primeira hora, mas por oligarcas
de sempre, que utilizárom o estado fascista para decretarem medidas económicas
que de outra maneira nom poderiam ter imposto, devido ao grande custo social
que comportavam. a tensom social que provocava o estado liberal era afogada nom
só pola repressom de um «estado policial» mas também polo entusiasmo
nacionalista cultivado polo fascismo. as grandes obras públicas, orgulho do
Vinténio fascista, eram só umha máscara para ocultar o aumento das distâncias
entre classes. até a chegada da crise e a autarquia, a oligarquia lucrou-se com
a política liberal que significava umha descida continuada dos salários dos
operários e umha miséria crescente no rural. o campesinhado foi o principal
prejudicado pola política social e económica do fascismo, já que a acumulaçom
de capital necessária para a descolagem económica se fijo à custa dos e das
trabalhadoras agrícolas, esmagadas por impostos estatais e a quem se impedia a
tradicional saída migratória.
todavia, o maior interesse de Mussolini nom
estava na
política interna, mas na política
internacional: era aí onde julgava que se decidiam os destinos imperiais da
Itália. assim que assentou o seu poder, Mussolini iniciou umha série de
movimentos diplomáticos encaminhados a situar a Itália em pé de igualdade com
as potências da entente (França e Gran Bretaña) e isso só podia conduzir à
defesa de umha política imperial e colonialista na áfrica, retomando os trilhos
de Crispi. em 8 de abril de 1932 falava-se por primeira vez na etiópia no
Grande Conselho. em finais de julho, Mussolini assumia diretamente o ministério
dos Negócios estrangeiros. afinal, a política exterior será o caminho utilizado
por Mussolini para compensar as cessons em matéria económica.
em 1933, Mussolini
inicia a exportaçom da sua ideologia através do CAUR de Coselschi. roma tinha
de ser novamente a capital de europa, mas nom de umha europa cristá ou
burguesa, mas umha europa de movimentos fascistas, especialmente em 1933,
quando Hitler chegava à chancelaria. a formaçom de um governo com ministros
nazistas na alemanha era umha confirmaçom para Mussolini de que o fascismo
ganhava peso na europa.
entre os dias 14-15 de junho de 1934
produzia-se o primei-
ro encontro entre Mussolini e
Hitler. Mussolini nom sentia grande apreço por Hitler e, além de mais, entendia
que a política pangermanista dos nazis punha em risco o apoio italiano ao
cancheler austríaco dolfuss. No dia 25 de julho de 1934, os nazis austríacos
assasinárom o chanceler dollfuss, mas o golpe de estado fracassou. Na Itália
houve umha campanha da imprensa contra a alemanha e Mussolini decidiu enviar
tropas italianas à fronteira com a áustria. No entanto, apesar do perigo que
significava em política exterior a alemanha nazista, o ano de 1935 significou
umha revoluçom cultural antiburguesa, traduzida na política internacional numha
rutura de equilíbrios e de pactos com a Inglaterra e com a França, apostando na
aliança diplomática com a alemanha hitleriana, que apoiaria sem hesitaçons a
nova política agressiva da Itália, decidida a invadir e conquistar a etiópia.
o 6 de março de 1936 marcou o início da
política filogermana. esta aproximaçom italo-germana terá as suas consequências
no plano interno, e a defesa do corporativismo cedeu espaço a um capitalismo de
estado, imitaçom do estado nazista, que pretendia a autarquia; contudo, o
isolamento económico italiano nom alterará a continuidade da política económica
anterior, porquanto continuará a beneficiar as elites e prejudicando a maior
parte da populaçom. em 1936, Italia embarcaráse numha política agressiva e
imperialista, remedo da alemá e eco da teoria da «naçom proletária» de
princípios de século. a Itália fascista dá um passo mais numha política de
gestos de força e rompe vínculos com a Inglaterra e a França. assim, no dia 24
de outubro de 1936 assina-se o tratado de colaboraçom italo-germano: nasce o
eixo roma-Berlim.
1936-40:
salto totalitário.
Conforme de Felice14, Mussolini nom
teria conseguido assentar o regime fascista, em boa medida como consequência do
seu achegamento ao III reich, motivado mais por questons geo-estrategicas que
por afinidade ideológica com o nazismo. tal salto totalitário foi protagonizado
polo próprio Mussolini,
14 renzo
de Felice, Rojo y Negro. edit. ariel.
Barcelona, 1996.
que a partir de 1936 acumula ainda
mais poder, e polo secretário do partido fascista, starace, que converteu o
partido numha poderosa máquina burocrática ao serviço da ditadura. eis o resumo
da política exterior fascista na sua fase to-
talitária: em 1935, Itália lançava-se à aventura da etiópia;
em 1936, iniciava a sua participaçom na guerra civil espanhola; em 1937
assinava o Pacto anti-Komintern com a alemanha e dous anos mais tarde selava
com Hitler a sua aliança estratégica por meio do Pacto de aço. a partir de
1936, toda a mocidade foi enquadrada no GIL (Gioventù Italiana del Littorio, equivalente das Mocidades
Hitlerianas). em 1938 publicou-se o «Manifesto da raça» e, finalmente, em 1939
o virtual Parlamento foi substituído pola Cámara dos Fascios e Corporaçons. em
junho de 1940 Itália entrava em guerra contra a França e a Inglaterra ao pé da
alemanha.
1940-3: II
Guerra Mundial.
No dia 10 de junho de 1940 a Itália declara a guerra à
França e à Inglaterra. dadas as caraterísticas da participaçom italiana na
guerra, tal evento significou o fim do regime de Mussolini, devido à sua
deslegitimaçom interna. assim, em julho de 1943, Mussolini foi destituído polo
Grande Conselho Fascista e foi mesmo encarcerado por ordens de el-rei, que via
como as quedas de Mussolini e do fascismo comprometiam a continuidade do reino
sabaudo. Mussolini será libertado polos aviadores alemáns (skorzeny) e
encarregado polo próprio Hitler do estabelecimento de um regime títere no Norte
da Península.
1943-5: república de salò. em
tal biénio Mussolini pretendeu recuperar as essências do fascismo, submetendo
os italianos do Norte a umha cruel ditadura. em novembro de 1943 refundou o seu
partido com o nome de Partido Fascista republicano. em janeiro de 1944 tivo
lugar o processo de Verona por meio do qual o ditador se desfijo dos seus
antigos colaboradores (entre eles o seu próprio genro Ciano). Finalmente, o
regime foi derrubado graças ao pulo partisano, sendo afuzilado o seu máximo
dirigente no dia 28 de abril de 1945 por Walter aduisio (coronel Valerio), após
receber a ordem de sandro Pertini15.
4. O
regime fascista e o PCI
a repressom do regime fascista atingiu com extrema dureza o
Partido Comunista da Itália. apesar da sua condiçom de deputado, antonio
Gramsci foi detido no dia 8 de novembro de 1926 e encerrado no cárcere de
regina Coeli em regime de isolamento absoluto e rigoroso16.
No dia 28 de maio de 1928 começava perante o tribunal especial o chamado processone contra o grupo dirigente do
PCI (terracini, roveda, scoccimarro, etc.). referindo-se a Gramsci, o fiscal
Michele Isgrò afirmou: «Devemos impedir
que este cérebro funcione durante vinte anos»17. o dia 4 de
junho seguinte foi efetivamente condenado a 20 anos, 4 messes e 5 dias de
reclusom. Porém, e após umha dura pugna legal, obtivo a liberdade condicional
em 1934 e a liberdade plena em abril de 1937, poucos dias antes de morrer18.
15 Giovanni de
Luna, Mussolini. edit. salvat.
Barcelona, 1986.
16 Valentino
Gerratana, Cuadernos de la cárcel.
edic. era. México, 1981. Pág. 58.
17 Ibid. Pág.
60.
18 Ibid. Pág.
67.
ante o fenómeno da ditadura fascista, o PCI
nom só par-
ticipou ativamente nas luitas da oposiçom clandestina19
e do exílio, mas gerou também um amplo debate intelectual interno, a fim de o
analisar em toda a sua complexidade20.
No mês de janeiro de 1926 celebrava-se
na cidade francesa de Lyon o III Congresso do PCI. Gramsci apresentava o
relatório de política geral. a tese número XV examinava o fascismo concluindo,
na linha do afirmado pola Internacional Comunista21:
o fascismo,
como movimento de reaçom armada que se pro-pom o objetivo de disgregar e
desorganizar a classe trabalhadora para a imobilizar, entra no quadro da
política tradicional das classes dirigentes italianas, e na luita do
capitalismo contra a classe operária.
No entanto, renzo de
Felice encarregou-se de sublinhar o fito que na evoluçom das interpretaçons do
fenómeno fascista supunha a afirmaçom de Gramsci, segundo a qual o fascismo nom
devia ser tam só considerado um órgao de combate da burguesia mas antes um movimento
social» sendo «necessário examinar as estratificaçons do fascismo mesmo porque,
dado o sistema totalitário que o fascismo tende a instaurar, será no seio mesmo
do fascismo que tenderám a ressurgir os conflitos que nom podem manifestar-se
por outras vias22.
Na linha do anterior, em 1928 Palmiro togliatti publicou na
revista da Internacional Comunista um célebre ensaio sobre o
19 Giorgio
Candeloro, op. Cit.
20 renzo de
Felice, Le interpretazioni del fascismo. editori Laterza. roma, 1995.
21 Jorge
dimitrov, Escritos sobre el fascismo.
edit. akal. Madrid, 1976.
22 renzo de
Felice, op. Cit. Pág.211.
movimento fascista italiano em que aprofundou com agudeza
sobre os seus complexos origens sociais e a sua evoluçom política posterior
umha vez constituído em regime político:
o partido
fascista tende assim para a perda do caráter de mo-vimento autónomo de certos
estratos sociais intermédios que tinha na sua origem, solda-se intimamente, com
a sua mesma organizaçom, à estrutura económica e política das classes
dirigentes23.
sete anos mais tarde, o mesmo togliatti impartiu umhas mui
sugestivas «liçons» sobre o fascismo em Moscovo: nelas propujo umha acertada
cronologia do movimento e alertou sobre as interpretaçons excessivamente
esquemáticas do fenómeno que o consideravam umha fatal consequência do
desenvolvimento capitalista, para afirmar com determinaçom:
É um grave
erro crer que o fascismo partisse de 1920, ou da Marcha sobre roma, com um
plano pré-estabelecido, fixado com antecedência, num regime de ditadura, como
este regime se organizou mais tarde no curso de 10 anos e como nós o vemos
hoje. Isto seria um grave erro. todos os feitos históricos do desenvolvimento
do fascismo contradim umha conceçom assim. Mas nom só: partindo desta conceçom
caise inevitavelmente na ideologia fascista… a esta conceçom errada nós devemos
contrapor a verdadeira, a justa conceçom da ditadura fascista. a ditadura
fascista foi empurrada a assumir as formas atuais por fatores objetivos, por
fatores reais: pola situaçom económica e polos movimentos das massas que por
esta situaçom som determinados24.
23 Ibid. Pág.
212.
24 Ibid. Pág.
210
os três exemplos anteriores, glosados alargadamente por
renzo de Felice, ponhem de manifesto o acertado do seu veredito, conforme o
qual o PCI levou a cabo «o esforço interpretativo
mais articulado e convincente feito neste período polo antifascismo italiano»25.
Neste «esforço interpretativo» do
período fascista, como vemos, a análise de um togliatti ou do próprio Gramsci
som fundamentais. de facto, a nossa tentativa de explicaçom do fascismo bebe em
grande medida da sua análise. Por isso, é sempre pertinente falarmos do PCI,
reconhendo a sua centralidade na oposiçom à ditadura fascista. Para autores
como Gramsci, ou como tasca e togliatti, o fascismo deve ser entendido como a
consequência nom só das especiais condiçons económicas e morais existentes após
a I Guerra Mundial, mas também como mais um chanço, como umha heran-
ça da política risorgimentale e dos fracassos do
processo de unificaçom italiana. Cumpre nom esquecer que duas terceiras partes
da militáncia fascista nos seus inícios se encontravam na pequena burguesia e
nos desempregados do Norte. ali é onde se iniciara a revoluçom industrial italiana
e ali foi onde a oligarquia piemontesa e lombarda decidiu o sacrifício do sul,
em favor de um desenvolvimento industrial desequilibrado e gerador de
desigualdades no interior do estado. a estrutura dual da economia italiana
justifica a enorme
desigualdade entre classes que aumentou polo impacto bélico
e a irrupçom da sociedade de massas. as elites liberais levárom o país à guerra
e gerárom uns problemas que seriam incapazes de resolver. Por isso, em contra
do afirmado polo
25 Ibid.
Pág. 216.
filósofo idealista Benedetto
Croce, que entendia que o fascismo fora um «acidente» na história italiana
antonio Gramsci entendia o fascismo como umha continuaçom do estado liberal
fundado em 1860. Nessa mesma linha interpretativa, achamos que umha figura como
Giolitti ilustra as carências da classe política pós-risorgimentale. o seu fracasso é o fracasso da democracia de
notáveis, que ao ser incapaz de «cooptar» novas camadas sociais, utiliza o
fascismo para frear a insurreiçom obreira do Biénio Vermelho. em 1922, o
partido fascista oferecia-se para acabar com a greve e a ocupaçom de fábricas,
ligando o seu papel institucional ao de guarda da alta burguesia, ganhando
espaços fora das cidades e aproveitando-se da incapacidade da esquerda para
tecer alianças com o movimento agrarista.
desse fracasso das esquerdas, antonio
Gramsci tirará li-
çons, promovendo umha linha mais combativa e ambiciosa a
partir do Congresso de Livorno. Gramsci, como também um Levi ou um silone,
relacionou fascismo e questiom meridional, julgando que nom se podia explicar
um fenómeno sem o outro. de facto, o acerto do pensamento gramsciano radica em
que explica o fascismo nom como umha forma concreta de ditadura que visava a
finalizaçom do processo de Unificaçom italiana mas também, e principalmente,
como o reforçamento do estado burguês, que utilizava o fascismo para bloquear a
conquista do poder por umha nova maioria social capaz de colocar em risco o
desenho institucional vigorante desde 1860. antonio Gramsci foi dos poucos
teóricos comunistas (sem dúvida, ajudou para isto a sua origem) em ser
consciente da necessidade de que o movimento operário italiano conectasse com a
massa, a fim de construírem juntos umha massa social crítica, com capacidade
para enfrentar eficazmente a repressom caciquil primeiro e fascista depois.
Para Gramsci, o fascismo nom combatia nem combateria o atraso no Mezzogiorno,
precisamente porque no subdesenvolvimento colonial do sul da Itália estava a
base do poder económico das classes médias que apoiárom e que se servírom do
fascismo. É altamente significativo que a acusaçom feita contra Gramsci
(fomento do ódio de classe) polo tribunal especial em 1926 fosse a mesma que
utilizara o estado italiano liberal finissecular contra os mineiros sardos, que
tentavam na altura a organizaçom dos primeiros sindicatos. em definitivo, nem o
estado italiano liberal nem o estado fascista tentaram resolver a «Questom
Meridional»; antes pelo contrário, esta iria-se agravando-a cada vez mais, ao
continuar subordinando o desenvolvimento económico do Norte ao
subdesenvolvimento do sul.
5 A
modo de conclusom.
Pierra Milza, um dos melhores conhecedores do fascismo,
escreveu que o fascismo italiano nom só cumulou de honras a antiga classe
dirigente, mas também a reforçou economicamente. ora bem, o corporativismo
fascista serviu paradoxalmente como um mecanismo de ascensom social para as
classes médias e mesmo para certa parte do proletariado industrial. o
socialismo nom soubo conquistar a pequena burguesia, que porém se deixou
seduzir polo fascismo, como umha ideologia triunfadora e renovadora. as grandes
perdedoras do período fascista fôrom as classes subalternas, e principalmente o
campesinhado, na medida em que nom se viu favorecido como o proletariado polo
aumento do tecido industrial no Norte e pola legislaçom social do fascismo26
(Milza, 194).
26 Pierre
Milza: De Versailles a Berlin. 1919-1945,
Masson, 4ª ediçom (p. 194), Paris, 1980.
o Partido socialista aprendeu tarde de mais
que nom
chegava com controlar o governo
municipal sem facer partícipe o campesinhado da necessidade de reformas de
fundo. o fascismo assanhou-se nos primeiros anos no rural primeiro e depois nas
cidades. Num e noutro lugar o fascismo poderia ter sido esmagado polo próprio
partido socialista, talvez, se nom se tivesse enganado sobre a integridade do
regime liberal e nom tivesse ficado à espera de que a polícia e o exército
figessem o seu trabalho. assim como o estado liberal restringia a participaçom
política e impedia que as forças populares mudassem este estado das cousas, a
política económica consolidava a opressom das massas trabalhadoras italianas,
incapazes de apresentar umha defesa conjunta frente à violência esquadrista.
esta violência deu passo a umha violência estatal apoiada polos quadros do
exército e da polícia que reprimirá qualquer protesto organizado, facilitando a
chegada de umha ditadura de tipo autoritário onde apesar do discurso radical,
na prática houvo um compromisso entre o PNF e as elites burguesas.
assim, se quigermos entender o período
1919-1945, e no-
meadamente o Vinténio fascista, é
fundamental repararmos nom só no apoio das altas instáncias estatais, mas
também do apoio da pequena burguesia, que aderiu ao PNF polo medo a perder
privilégios ganhos desde a unificaçom. os empregados públicos, os escritores,
os jornalistas, os advogados, sentiam que a IGM pugera em risco a sociedade em
que prosperaram e culpavam da instabilidade e da crise nom ao estado que movera
à intervençom mas a um movimento operário que nom foi capaz de mobilizar a
pequena burguesia a fim de construir umha democracia moderna, nem de tomar o
poder para dar as soluçons que os governos da monarquia eram incapazes de
encontrar.
Mussolini era
o líder autoritário que agradava à oligarquia porque parecia capaz de fazer o
trabalho sujo do estado liberal, isto é, colocar a esquerda em condiçons de
inatividade e inofensividade e devolver a tranquilidade à burguesia, livre para
fazer os seus negócios. Portanto, a fortuna do fascismo ligou-se em grande
medida à de Benito Mussolini, que conseguiu agrupar o consenso das forças
conservadoras, um consenso que Giolitti procurara infrutuosamente durante os
primeiros quinze anos do século e mal conseguira. a inteligência de Mussolini
consistia em apresentar-se como o líder de umha forza política inovadora, nova
e dinâmica, com capacidade para acabar com o principal problema do regime a
olhos da alta burguesia e a Monarquia. apesar da retórica antiburguesa tam
típica do fascismo, este conviveu perfeitamente com a burguesia e o capitalismo
até o salto totalitário de 1936. a viragem de 1935-36, esporeada polo exemplo
da alemanha Hitleriana, foi umha volta de parafuso e ao mesmo tempo um ajuste
de contas com a alta burguesia, que impedira nos 20 o triunfo de um ideário
puramente fascista. seja como for, o giro totalitário de Mussolini nom alterou
o panorama geral do fracasso do projeto fascista, que ficou sendo, já desde o
compromisso de 1924, um totalitarismo incompleto, que caiu ao ligar a sorte do
estado fascista de umha política imperialista que colocava em risco os negócios
da oligarquia exportadora. a economia italiana nom estava preparada para seguir
a política belicista da alemanha e, desde a entrada em guerra, o fascismo só
podia perder o consenso ganhado na década de 1920. a república de salò de
1943-1945 representou a derradeira tentativa de realizar a revoluçom fascista,
com a superaçom do liberalismo e do socialismo predicada desde 1919, mas
Mussolini, livre do compromisso com a monarquia, já nom era mais do que um
títere em maos alemás.
FINAL DO LIVRO
* Vem da nota de rodapé 148:
(a
Piero sraffa)
turim, 29 de dezembro de 1931 Meu querido amigo
demorei algum tempo em responder a tua grata carta porque
queria ir primeiro à biblioteca com a finalidade de poder darche algumhas
indicaçons bibliográficas. e antes nom pudem ir. Parece-me que o nosso amigo
deu no alvo, e algo aproximado à sua interpretaçom ensinei-no sempre eu. À
altura do drama de Farinata está também o drama de Cavalcanti, e os críticos
figérom mal, e fam, em deixá-lo na sombra. o amigo faria, pois, um trabalho
excelente esclarecendo-o. Mas para o esclarecer teria de descender um pouco
mais na alma medieval. Cada um dos dous, Farinata e Cavalcanti, sofre o seu
drama. estám ligados polo parentesco dos filhos, mas som de partidos
contrários. É por isso que nom se encontram. É a sua força como dramatis personae; é o seu erro como
homens.
Mais difícil parece-me
provar que a interpretaçom invalide de forma vital a tese de Croce sobre poesia
e estrutura na Comédia. sem dúvida,
também a estrutura da obra tem valor de poesia. Com a sua tese, Croce reduz a
poesia da Comédia a uns poucos traços
e perde quase todo o fascínio que dela se desprende. Isto é, perde quase toda a
sua poesia. a virtude da grande poesia é sugerir mais do que di, e sugerir
sempre cousas novas. de aí a sua eternidade. Haveria, pois, que deixar bem
claro que semelhante virtude de fascínio que emana do drama de Cavalcanti emana
da estrutura da obra (a previsom do futuro nos condenados e a sua ignoráncia do
presente — estarem em aquele determinado cono de sombra, como di bem
afortunadamente o amigo— estarem na mesma tumba dos dous penados, estarem
ligados por determinadas leis construtivas, etc. ). todas som partes da
estrutura que se convertem em fontes de poesia. eliminade-as e a poesia
desaparecerá.
Para conseguir um
efeito mais certo, acho conviria provar a tese com algum outro exemplo. eu, em
escrevendo sobre o Paraíso, cheguei à conclusom de que onde a construçom é
débil, também é débil a poesia. Mas talvez seja mais eficaz procurar a prova
nalgum episódio plástico do Inferno ou do Purgatório.
acho,
pois, que o amigo faria bastante bem em desen-
volver a sua tese com o rigor do seu raciocínio e a clareza
da sua expressom. a comparaçom com as didascálias dos dramas propriamente ditos
é aguda e pode esclarecer muito.
anexo
algumhas indicaçons bibliográficas singelas. o es-
tudo de russo pode ver-se íntegro em L. russo, Problemi di metodo critico, Bari,
Laterza, 1929.
Conviria ver em La Critica, o que escreveu arangio ruiz
(La Critica, XX, 340-357). Barbi di
que o artigo é ótimo. Pretensioso na sua filosófica prosopopeia, o estudo de
Mario Botti («Per lo studio delle genesi della poesia dantesca. La seconda
cantica: poesia e struttura nel poema»), Annali
dell’istruzione media (umha revista), a. VI, 1930, pp. 432-473.
Barbi ocupa-se disso,
mas nom di nada novo, no último fascículo dos Studi danteschi, v. XVI, p. 47 e ss. («Poesia e struttura nella
d.C., Per la genesi dell’ispirazione centrale nella d.C.»).
também
Barbi num estudo: «Con dante e coi suoi in-
terpreti» (vol.
XV dos Studi danteschi citados) passa
revista às ultimas interpretaçons do canto de Farinata. e o próprio Barbi
publicou um comentário seu no vol. VIII dos Studi
danteschi.
438
dei-che
as indicaçons mais fáceis. Cada volume dos Studi
danteschi custa 16 liras. o
livro de russo, 20 liras.
Por dizer-che agora
algo de mim, acrescentarei que espero acabar o meu Paraíso. e aguardo que se
traduza agora para o inglês a minha vida de dante. Mas som minúcias. Cada um
tem o seu drama e o da sua família, embora nom o sofra com a mesma intensidade
que Cavalcanti, porque encontra consolo nos estudos. e quigera que lhe dixesses
para o amigo que nom passa um dia sem que pense nele. Lembro todos os meus
exalunos —tu estás entre os primeiros— e desejo-lhes o mesmo bem que desejaria
para os meus filhos.
Com imutável afeto, o teu velho mestre
U. Cosmo
No
21 de julho de 1921, há 90 anos, o povo
de sarzana demonstrava à Itália que a resistência à barbárie fascista era possível.
esta versom galega das Cartas do Cárcere é umha homenagem à
dignidade de
sarzana e de toda a
Itália garibaldina e partisana.
http://estaleiroeditora.blogaliza.org/files/2011/08/cartas_do_carcere_gramsci_pant.pdf