Cartas do Cárcere - Gramsci

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...Prefácio: contexto histórico das cartas
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Nota edItorIaL


Notas como esta nom som habituais, se calhar porque as ediçons, melhor ou pior, acabam por se apresentar a si próprias. Porém, se hoje acreditamos necessário justificar a apariçom deste livro, é porque ele nasceu da vontade comum de estaleiro editora, que queria reivindicar deste jeito nom só a importância e a vigência crítica do pensamento gramsciano, mas também fazer possível a recepçom da sua obra na nossa língua.


a génese deste projeto remonta-se até 2007 quando, de-


corridos 70 anos da morte de Gramsci, a sua obra ficou livre de direitos. era o momento de editá-la na Galiza. o nosso intuito na altura era —e continua a ser— bem modesto. Nom tencionávamos mais do que publicar umha escolha das Cartas do Cárcere. o texto utilizado havia de ser o compilado pola editora italiana einaudi, nomeadamente a escolha realizada por Paolo spriano, na sua 7ª ediçom, do ano 1977, composta por 156 cartas, à qual se havia de acrescentar um prólogo histórico e mais algumhas notas de rodapé que seriam responsabilidade do tradutor.
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desde o ano 2007 fôrom aparecendo alguns textos gram-
scianos no espaço editorial galego, facto que nom podemos deixar de celebrar. Para nós, editar as Cartas do cárcere é também umha boa oportunidade para reflexionarmos sobre um período histórico, o de entreguerras, no qual coincidírom ideologias, conflitos e protagonistas presentes nas cartas de Gramsci. o prólogo, em definitivo, fornece a quem ler este livro o pano coletivo que completa a dimensom mais individual caraterística das cartas. Finalmente, sendo esta umha antologia forçosamente breve, é obrigado para nós renunciar a muitas das suas cartas, como é inevitável renunciar, e com pesar, a umha ediçom galega dos Cadernos do Cárcere. seja como for, nom perdemos a esperança de que mais cedo que tarde poda ver a luz a ediçom galega da obra completa de antonio Gramsci.
estaleiro editora Galiza, maio de 2011
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PREFÁCIO 

o CoNteXto HIstÓrICo  das CARTAS DO CÁRCERE

ángel M. Varas Carrasco / Carlos dias diegues



0.  Introduçom
as cartas de Gramsci som hoje um pretexto ou um ponto de partida para umha interpretaçom da história italiana durante o período de entreguerras. tal interpretaçom tenciona explicar o fascismo nom como um «acidente» ou umha «parêntese» histórica, mas, antes polo contrário, como um episódio em conexom com a história italiana anterior, com umha perspetiva de história política e social.
1.  A imediata pós-guerra
em 1919 parecia claro que nom havia de vir de Versailles a soluçom para o problema dos territórios irredentos italianos, ou que nom acordariam ali grandes indenizaçons económicas que aliviassem as finanças do estado. apesar da vitória, Itália era umha potência secundária na europa e no Mediterrâneo, e a velha classe política italiana estava a demonstrar na mesa das negociaçons a sua limitada visom política, traduzida tanto na sua negativa a abrir a participaçom política às massas, quanto na mesma incapacidade para criar um contexto de estabilidade económica em volta de valores e prioridades incontestáveis. a vitória foi, portanto, um golpe amargo para Itália; depois do armistício chegava a crise económica, com um aumento da dívida estatal em 500% e umha inflaçom de 300%, para além dos efeitos económicos devastadores, consequência das perdas humanas, com mais de 300.000 italianos caídos em combate. Perante este panorama desolador, o estado era incapaz de satisfazer as expetativas geradas ao calor do debate sobre a intervençom, de aí a sensaçom de vitória mutilata. a guerra nom só nom solucionava os problemas da Itália; antes polo contrário, criava novos problemas, como a destruiçom de infraestruturas ou a desestabilizaçom da economia, problemas que faziam ainda mais difícil a manuteçom do poder por parte da oligarquia italiana e que forçarám logo a seguir a passagem para umha política de massas.
No fim da Primeira Guerra Mundial [IGM], Itália possuía um setor agrícola que dava emprego a 55% da populaçom1. a descolagem industrial ainda bem nom se iniciara em 1914 e os anos de guerra traduziram-se numha forte tendência para a concentraçom financeira e industrial. Já desde antes da Guerra, o setor siderúrgico lucrara-se do protecionismo estatal e das ajudas diretas para a produçom. de resto, nem a guerra nem o armistício pugeram em questom a aposta decidida do estado na indústria do Norte e o desleixo consciente do Mezzogiorno, que continuava a ser umha colónia económica do Norte. No sul da Itália, as elites latifundiárias, longe de pôr em andamento o desenvolvimento de umha indústria de seu, preferiam derivar os capitais para a reditícia indústria nortenha.
1 Pierre Milza: De Versailles a Berlin. 1919-1945, Masson, 4ª ediçom (p. 180), Paris, 1980.
Nas primeiras eleiçons depois da guerra a soma dos votos obtidos polo PPI e PSI —partidos «antisistema»— superou a soma dos votos dos partidos tradicionais, incapazes de travarem o crescente descontentamento popular. as urnas desenhavam um sistema político italiano dividido em três grandes grupos de poder: de umha parte, o Partido Popular Italiano (PPI), dirigido polo padre Luigi sturzo, que incluía tendências católicas de direita, mas também de esquerda. de outra parte, estava o Partido socialista, de turati e treves e, finalmente, o Bloco Constitucional, que formara todos os governos liberais anteriores. esta divisom em três grupos irreconciliáveis fazia ainda mais difícil reconduzir a situaçom e recuperar o país da grave situaçom, nom apenas económica, mas também moral. Giolitti, figura dominante na política italiana no período prébélico, era o paradigma das carências da classe política postrisorgimentale. Certamente, o político piemontês tinha dado mostras da sua vontade de integrar a esquerda moderada no sistema, em troca de pequenas concessons como, por exemplo, a implantaçom do sufrágio universal (masculino) em 1912. No entanto, a aposta da burguesia na incorporaçom das massas à política chegou demasiado tarde e nunca véu acompanhada de reformas no campo económico ou no educativo; assim, embora a chamada à tropa de 1915 comportasse a concessom de maiores direitos políticos para as classes subalternas, os acontecimentos posteriores à IGM demonstrariam que a burguesia tinha pouca disposiçom para ceder o protagonismo político e para abrir o leque da participaçom política. o reformismo de um Giolitti revelava a incapacidade de umha classe política fundamentalmente oportunista e egoísta, que via a intervençom na guerra como umha maneira fácil de solucionar os problemas de política interna. Nom admira, enfim, que os partidários da intervençom estivessem no bloco liberal, enquanto a esquerda (facto em que a Itália difere da França ou da alemanha) era fundamentalmente nom intervencionista, em coerência com os ditados da II Internacional.
desde 1918 até a chegada do fascismo em 1922, o estado
liberal defendera-se do seu inimigo mais perigoso, o movimento obreiro. assustada pola vaga de greves e ocupaçom de terras, a burguesia irá de maos dadas com o fascismo, que aproveitará esta crise estrutural para se candidatar progressivamente como a única força com a capacidade para travar o pulo imparável do movimento obreiro, somando os consensos das classes médias.
2. A génese do fascismo.
Contra o afirmado polo filósofo idealista Benedetto Croce, que entendia que o fascismo fora um «acidente» na história italiana, antonio Gramsci explicava o fascismo como umha prosecuçom do estado liberal fundado em 1860. É nessa linha interpretativa que se insere este prólogo.
Nas origens do regime fascista italiano tivérom enorme peso determinados assuntos que constituírom parte essencial da evoluçom política do país2: o seu particular processo de unificaçom, que excluiu as capas populares, conforme demonstrou sobejamente Gramsci3, a difícil transiçom do liberalismo para a democracia, a tensa relaçom com a Igreja Católica até a assinatura dos Pactos Lateranenses em 1929, aos quais haveria que acrescentar os derivados das consequências da I Guerra Mundial, nomeadamente o irredentismo, ao nom cumprir-se plenamente o estipulado no tratado secreto de
2      Pierre Milza, Les Fascismes. Imprimerie Nationale. París, 1985.
3      a. Gramsci, Sobre el Fascismo. edit. era. Madrid, 1980.
Londres de 1915 (de aí o papel jogado por orlando na Conferência de Versailles durante a redaçom do articulado definitivo).
Com efeito, o estado italiano enfrentava desde a Unificaçom umha importante frustraçom nacional, derivada nom apenas da questione romana, mas também e principalmente do problema do irredentismo e da provada incapacidade colonial. acabada a Primeira Guerra Mundial, Itália verificava que ter estado do lado dos países vencedores nom ajudara em absoluto para solucionar estes problemas que, antes polo contrário, se incrementárom. o fascismo foi, nesse sentido, umha resposta à crise da democracia liberal, em chave autoritária e de incorporaçom das massas, que serám mobilizadas por meio de um intenso nacionalismo herdeiro do nacionalismo da pré-guerra, nomeadamente do nacionalismo da corrente florentina de Corradini e Papini, para além da influência clara de d'annunzio e Marinetti. aliás, o fascismo tem raízes na filosofia de Nietzsche («superhomem»), Bergson (élan vital) e em sorel («violência revolucionária»). Por último, os fasci di combattimento relembram (principalmente polo nome) os fasci sicilianos de 1893, bem como as bandas garibaldinas, polo seu caráter intrépido e paramilitar. e, antes de mais, o fascismo, filho da crise pós-bélica, é também filho da frustraçom nacional; com efeito, o nacionalismo fascista assumirá como objetivo fulcral o acabamento do labor de construçom nacional, através de um estado totalitario onde estado e Naçom se confundissem de forma definitiva. Nesse crisol de doutrina nacionalista (que se remonta aos tempos de Mazzini) e no mito revolucionário do fascismo, o conceito de «naçom proletária» desempenha o papel de fulcro. Mussolini aprenderá dos erros de d'annunzio, ao compreender a necessidade de um partido forte que utilize o nacionalismo populista para dar coesom e atenuar os conflitos de classe. a ideologia fascista incorpora muita da simbologia do Império romano e fai de «roma capitale» umha palavra de ordem com umha funcionalidade semelhante ao da «violência revolucionária». os objetivos da regeneraçom fascista resumem-se pois em fazer novamente de roma a capital do mundo, o centro de umha europa fascista e de um Império neocolonial em áfrica. É este um discurso que atrai e engaiola as massas, especialmente aquelas camadas sociais que temem perder na crise o estatus ganhado com a Unificaçom de Itália, feita à custo do proletariado industrial e do campesinhado.
todavia, o fascismo é nos inícios um movimento mais de ex-combatentes e as suas ideias nom tenhem nada de original. se os fasci pudérom consolidar a sua presença no Norte da Itália foi graças à sua vontade de se definir fundamentalmente como um grupo de arditi que se opunha violentamente às greves obreiras e às ocupaçons de terra, por meio das queimas das sés do PSI, dos espancamentos a afiliados socialistas, etc. desde 1919, o fascismo oferece-se ao estado para fazer o «trabalho sujo» e por isso mesmo o fascismo encontra no campo e na cidade o apoio decidido das classes acomodadas, assustadas pola vaga revolucionária do Bienio Rosso (1919-1920). o apoio maior, contudo, véu da pequena burguesia, aquela que formara a oficialidade na I Guerra Mundial e que agora via com temor como o devir económico do país ameaçava com depauperá-la, reduzindo-a à pobreza das classes subalternas.
Portanto, as classes médias e altas beneficiam da doutrina nacionalista como beneficiam também do fascismo, porquanto ele serve a um estado de classe com umha estrutura burocrática promotora de políticas protecionistas e monetárias favoráveis ao capital transpadano. o fascismo nom será umha ideologia superadora da democracia liberal, mas sim a sua versom autoritária, que visa o fim da construçom nacional através de um estado italiano mais forte, isto é, totalitário e portanto com maior capacidade para impor políticas económicas àqueles sectores críticos com a repartiçom dos papéis na sociedade italiana. a burguesia usará o fascismo para saldar contas com as forças que colocavam em risco a construçom nacional italiana, o socialismo e a Igreja. o fascismo nom vai romper com as tradiçons políticas da burguesia; a «política de açom no Mediterrâneo e na áfrica» fascista será umha continuaçom das metas coloniais de Crispi, com as suas aventuras africanas finisseculares de infausta lembrança. aliás, a presença de rocco nos primeiros governos de Mussolini é altamente significativa, porquanto dá fé da continuidade do nacionalismo italiano da pré-guerra no nacionalismo fascista. será rocco quem desenhe as primeiras leis fascistas, aquelas que porám em pé o estado fascista, essas «leis fascistíssimas», que fortalecem o poder executivo e limitam o pluralismo de interesses. em definitivo, a criaçom do partido fascista comportou a assunçom do mito nacionalista da romanidade, na medida em que o fascismo tencionava ser a semente de um estado Novo capaz de pôr fim à decadência nacional italiana.
3. Fases do fascismo.
a cronologia da história italiana na etapa de entreguerras4 deve ser estruturada atendendo para as teorias sugestivas, mesmo se controvertidas, de renzo de Felice5, se bem que em aspectos biográficos de Mussolini é possível utilizar tam-
4      G. Candeloro, Storia dell´Italia Moderna. Vol IX. edit. Feltrinelli. Milano, 1986.
5      renzo de Felice, Breve Storia del Fascismo. edit. Mondadori. Milano, 2000.
bém o apontado por Pierre Milza6, Max Gallo7, emil Ludwig8 e richard Bosworth9, respetivamente, para além dos seus próprios escritos, publicados na editora Il Mulino em vários volumes10.
1918-22: etapa de fascizaçom
em 1919 o sistema político italiano, num contexto de deslegitimaçom moral, registava a oposiçom nom só do partido socialista, mas também do Partido Popular Italiano, fundado por Luigi sturzo. Como vimos, o nacionalismo apresentava a vitória italiana como umha vitória mutilata e a escassa relevância internacional da Itália nom facilitava o cumprimento das promessas do tratado de Londres, numha altura em que o direito de autodeterminaçom favorecia o nacionalismo iugoslavo e nom o italiano.
Foi esta umha etapa caraterizada pola enorme tensom social gerada pola finalizaçom da guerra11. Nela surgiu o que Norling chamou12 de «fascismo revolucionário» que, posteriormente, tivo a sua continuidade na república de salò. Mussolini, que procedia de umha família humilde e de tendências esquerdistas, fundou o primeiro Fascio di Combattimento em Milám, em 1919, após a sua rutura definitiva com o PSI. Foi no dia 23 de março quando o movimento fijo o
6        Pierre Milza, Mussolini. edit. Fayard. París, 1999.
7        Max Gallo, L´Italie de Mussolini. edit. Marabout. París, 1966.
8        emil Ludwig, Conversaciones con Mussolini. edit. Zero. Barcelona, 1981.
9        richard Bosworth, Mussolini. edit. Península. Barcelona, 2003.
10     Benito Mussolini, Scritti e Discorsi. edit. La Fenice. Venezia-roma, 1983.
11     angelo tasca, El nacimiento del fascismo. edit. ariel. Barcelona, 1981.
12     erik Norling, Fascismo Revolucionario. Nueva república ediciones. Barcelona, 1999.
seu ato de apresentaçom na Piazza san sepolcro (119 presentes), utilizando para isso um local cedido polos empresários da zona.
em 1919, o PSI obtivo um grande sucesso nas eleiçons ge-
rais, ficando em segundo lugar o partido demo-cristao de don sturzo. a burguesia italiana começava a sentir a necessidade de se agrupar em volta de aqueles setores da sociedade dispostos a enfrentar o pulo do movimento obreiro. os fascistas conseguem 4.795 votos em Milám, o único lugar onde se candidataram, enquanto os socialistas conseguírom nessa cidade 170.000 e os populares 74.000.
No dia 13 de junho de 1920 caiu o governo Nitti devido à sua impotência no affaire de Fiume. Nitti é sucedido polo velho Giolitti, que volta por enésima vez à chefia do governo. Para muita gente, Giolitti era a última esperança de salvar a situaçom de crise institucional. Na prática, a crise aguçava-se: durante 1920 o clima pré-revolucionário pareceu estender-se por toda a Península, principalmente quando em agosto os operários lançárom a sua campanha de ocupaçom de fábricas. Neste clima pré-revolucionário, os partidos burgueses pactuavam com os fascistas a participaçom conjunta nas eleiçons municipais, mas o fascismo seria derrotado novamente nas urnas. No entanto, a vaga de greves e ocupaçons de fábricas e de terras do Biénio Vermelho nom resultou na revoluçom porque os socialistas estavam divididos: a direçom do PSI nom estava convencida da legitimaçom democrática da tomada direta do poder, se bem que os escrúpulos legalistas eram maiores no PSI do que no bloco liberal e em geral na burguesia industrial. assim foi como a desuniom e a falta de decisom por parte da direçom do PSI fijo possível a neutralizaçom da ameaça revolucionaria, apesar de que a CGL contasse em 1920 com 2.000.000 de afiliados.
os fascistas beneficiam dessa indecisom e da ingenuidade
socialista na hora decisiva dos conselhos de fábrica quando a direçom do PSI está a aceitar compromissos com o mesmo estado que apoiava e armava as milícias fascistas. a direçom do PSI confiou na integridade e na moralidade do estado liberal, quando na realidade este só buscava umha trégua, um apaziguamento da insurreiçom operária do Biénio Vermelho, que ia a caminho de superar os resultados dos soviets da alemanha e da Hungria. o PSI nom questionou até o fundo as instituiçons liberais nem foi capaz de unir as diferentes frentes de oposiçom, artelhando umha frente unitária de trabalhadores urbanos e rurais, que conectasse e desse umha expressom política ao rejeitamento das instituiçons liberais, que eram precisamente as responsáveis pola opressom económica do campesinhado do Mezzogiorno e do proletariado do Norte. o resultado: só em 1921, há 38 assassinatos registrados de socialistas, por 2 de fascistas, e 212 militantes socialistas presos por 2 fascistas. Nos comícios de 1921, o PSI obtém 122 deputados, sendo a força mais votada por trás do bloco liberal e por diante do PPI, com 107 deputados. o fascistas obtivérom 32 deputados e os comunistas 16 (um deles era antonio Gramsci).
Nom houvo solidariedade entre as classes trabalhadoras e a insurreiçom operarária de 1919-1920 puido ser controlada polos fascistas, a polícia e o exército. as classes médias lançárom-se nos braços do fascismo. 1920 seria pois um ano de refluxo geral da maré revolucionária, como escreve Milza13: no mês de setembro, Itália assiste ao fracasso do movimento de ocupaçom das fábricas. Começa a vingança da Cofindustria, amparada na violência fascista e na indiferença, quando nom
13            Pierre Milza: De Versailles a Berlin. 1919-1945, Masson, 4ª ediçom (p. 186). Paris, 1980.
a colaboraçom da polícia e o exército, que desmonta e anula as fortalezas operárias do Norte e do vale do Po. tal como escreve Gramsci no periódico L´Ordine Nuovo, na sua ediçom de 2 de janeiro de 1921, o fascismo é «a ideologia da pequena burguesia que substitui a autoridade da lei pola violência privada».
1921 é um ano fundamental para a oligarquia financeira, nom só porque o movimento das fábricas parece controlado, mas também porque dous dos principais grupos da economia italiana da pré-guerra, a ILVA e ansaldo, se declaram na falência. também quebra a Banca di Sconto, umha das principais instituiçons financeiras. estas entidades culpam o estado italiano e culpam da sua falência a Bonomi, o presidente do governo, por nom ter apoiado estas empresas com fundos públicos. Isto fai com que aumente o ressentimento da alta burguesia financeira, que responsabiliza o estado polos seus problemas económicos, como antes o figera polas greves operárias, apesar de estas empresas terem sido as maiores beneficiárias do conflito bélico, tendo-se aproveitado, como noutros países, de mao-de-obra disciplinada, mal remunerada e de um grande mercado, isto é, um estado que tudo comprava e tudo pagava com fundos públicos. este ressentimento da burguesia nutrirá a sua vontade autoritária e a tentaçom de impor medidas económicas mais favoráveis ao Capital. o medo e o ressentimento dos industriais do Norte e dos proprietários terratenentes do sul fará, finalmente, com que o pequeno grupo de arditi aumente progressivamente a sua presença e a sua rede de apoios.
aliás, os grandes proprietários latifundiários apoiam o fascismo porque é a maneira mais eficaz de parar o crescente poder municipal dos socialistas e as cámaras agrárias, que pareciam conduzir a um reparto da terra ou, por outras palavras, a umha reforma agrária. era este um campo abonado para o fascismo, que abandona rapidamente a vocaçom inicial de ser um «antipartido» para se converter no Partido Nacional Fascista, cujo fulcro de uniom será a violência anti-esquerdista, apoiada por umha elite terratenente desejosa de impedir mudanças sociais de caráter progressista. Certamente, este oportunismo (responsabilidade, em boa medida, de Benito Mussolini) choca com o radicalismo dos ras locais, os chefes locais do partido, aos quais Mussolini concederá autonomia de açom desde que se respeite a autoridade nacional do chefe, isto é, ele próprio.
os desacertos na estratégia esquerdista fôrom valorizados polo PSI no Congresso de Livorno, onde umha pequena parte do partido se cindiu para fundar o PCI (Bordiga, togliatti, o próprio Gramsci, quer dizer, os ordinuovistas). a partir deste momento, o PCI será a ponta de lança de oposiçom a um bloco constitucional em decadência, mas sobretudo de oposiçom ao fascismo nascente, que chegará ao poder só um ano depois. Para um dos fundadores do PCI, antonio Gramsci, o fracasso do PSI deveu-se a que o essencial nom devia ser a ocupaçom das fábricas, mas a refundaçom inteira do estado italiano desde os seus alicerces. Para fazê-lo teria sido preciso um pacto, um contrato social assente em novos valores ou, por dizê-lo à maneira de Gramsci, um pacto assente numha nova cultura hegemónica. Para Gramsci, era o Partido quem devia encarnar essa hegemonia. sem ela, era impossível fundar um estado italiano moderno superador da luita de classes.
o sentido da oportunidade de Mussolini levará a pactar a inclusom dos fascistas numha lista unitária junto aos partidos liberais, como já vimos. desde os primeiros debates parlamentares, Mussolini joga a carta de líder da renovaçom política e por isso ataca Giolitti, o velho líder liberal. ao mesmo tempo, oferece às esquerdas um acordo para diminuir as reticências de umha oligarquia temerosa do esquadrismo. Na verdade, boa parte da velha classe política estava convencida de que seria possível utilizar o fascismo para dar cabo do socialismo; pensava-se que era só questom de tempo «domesticá-lo», fazendo dele um partido convencional. Porém, o fascismo irá-se apoderando das estruturas do estado, demonstrando às elites que o fascismo era algo mais do que um movimento anti-partidário de ex-combatentes e desempregados.
No dia 1 de julho cai o governo de Giolitti. Ivanoe Bonomi converte-se em novo chefe do governo. No dia 3 de agosto assina-se o Pacto Zaniboni —acerbo, que significa umha trégua nos enfrentamentos entre fascistas e socialistas. Mussolini interpreta o papel de líder moderador de um partido nacional fascista criado nos primeiros dias de novembro de 1921. o PNF contava com 320.000 filiados, dos quais 40% eram operários e 10% estudantes. de maneira progressiva, o fascio di combattimento, depois o PNF, irá convertendo-se num partido interclassista e populista, que funcionará como um mecanismo de integraçom social. esse foi o maior sucesso de Mussolini, tal como Gramsci descrevia já em 1921.
Pouco depois de fundar-se o PNF, o fascismo rompe o pacto Zaniboni — acerbo. o governo liberal nem consegue estabilizar o país nem está disposto a parar a violência fascista. No dia 25 de fevereiro de 1922 cai também o governo Bonomi e el-rei chama a Luigi Facta. No mês de julho, depois do fracasso da greve de protesto em defesa da legalidade, dirigida pola Alleanza del lavoro e rota violentamente polos fascistas, umha vaga esquadrista abate-se sobre todo o país. o governo Facta também nom consegue controlar a violência das esquadras fascistas, cada vez mais toleradas e amparadas polo exército. a Marcha sobre roma tem lugar em outubro de 1922, contando com o apoio de todos os sectores dominantes da sociedade italiana (desde o exército até a Igreja ou a Banca, passando pola Monarquia). No dia 31 de outubro, Mussolini apresenta a elrei a listagem dos ministros. este governo é apoiado incluso polas forças moderadas e até consegue a aprovaçom de Giolitti, o velho raposo liberal que pensava que poderia utilizar Mussolini e o seu partido para esmagar a esquerda e desembaraçar-se depois dele.
1922-24: fachada liberal.
Vitor Manuel III e a elite adoravam a imagem de força política que exibia Mussolini, em boa medida porque devolvia a imagem que o próprio regime já nom podia oferecer e também porque se pensava preconceituosamente que o mestre abruzzês, assim que fosse controlada a ameaça vermelha, se sentiria coibido nas altas esferas, vendo-se obrigado a respeitar as regras do jogo parlamentar, apesar do seu discurso radical. o certo é que Mussolini fortalece rapidamente o seu poder pessoal e fai-no utilizando as «regras do jogo».
após a sua chegada ao poder, Benito Mussolini formou um governo no qual se reserva a presidência e três ministérios. tratou-se de um executivo de coligaçom com a participaçom de todos os partidos burgueses. o apoio internacional foi geral (desde o rei da Inglaterra até o Papa ou o próprio Gandhi elogiárom o novo primeiro ministro). Pio XI sacrificou a sturzo, líder dos demo-cristaos, em benefício do próprio Mussolini. ao longo do mês de janeiro de 1923, as camisas pretas
transformam-se na «Milícia voluntária para a segurança nacional», com o intuito de salvar a aparência de ordem do PNF. o governo Mussolini derroga o Primeiro de Maio como feriado do trabalho. desde o governo, os fascistas elaborárom o texto de modificaçom da lei eleitoral (reforma acerbo), assegurando-se assim o pleno sucesso nas eleiçons. No dia 6 de abril de 1924 há eleiçons num clima de violência. a lista fascista (ou «lista nacional») obtém com a denominada legge truffa (lei fraude) 64 % dos sufrágios e 374 representantes no Parlamento. o fascismo obtém assim a maioria absoluta. após a denúncia de tal manipulaçom, o deputado socialista independente Matteotti é assassinado em maio de 1924, provocando a retirada da oposiçom (o famoso episódio do «aventino»). em finais do mesmo ano, Mussolini assumiu plenas responsabilidades, pondo fim à etapa liberal.
1925-36: Consenso fascista. Institucionalizaçom. a ditadura que começa em 1925 pom em pé um estado fascista sem umha ideologia prévia, com princípios improvisados segundo as necessidades políticas de Mussolini. apela-se ao pragmatismo e ao enquadramento da sociedade de massas em instituiçons como a família e as corporaçons, mesmo se afinal estas nom fôrom mais do que instrumentos de dominaçom que visavam a desarticulaçom das estruturas políticas das classes subalternas. assim, com a institucionalizaçom do fascismo, na segunda metade da década de 1920, Mussolini apresenta Itália como um estado-Partido, culminaçom do processo de unificaçom. Finalmente, afirmavam os fascistas, o estado era a expressom política da Naçom italiana. Porém, o sucesso fascista era só aparente, já que nom era que a Itália se figesse fascista, mas sim que o PNF o que se convertia rapidamente em parte da estrutura do estado. o PNF «domesticava-se», devinha burocracia, o que supunha trair os principios antiliberais e antimonárquicos do fascio di combattimento; no fundo, esse era o preço que era preciso pagar às elites se se queria governar e dirigir o estado. as elites, de resto, mantivérom o controlo das rédeas da economia. este equilíbrio entre PNF e estado italiano desequilibrará-se só nos anos seguintes, e por causa da evoluçom internacional e as decisons em política exterior, resultando na revoluçom cultural fascista e num giro totalitário. Porém, nesta altura o partido fascista aproveita o consenso liberal para consolidar o seu controlo sobre as instituiçons, ficando adiado o enfrentamento com a oligarquia até 1935.
a feroz repressom de 1925-1926 inaugura, de maneira paradoxal, o período de maior consenso social do fascismo, que durará até 1935. aproveitando tanto o acontecimento anterior quanto os atentados que tivérom lugar em 1925-26 (Zaniboni, Gibson, Zamboni) Mussolini deu cabo do regime liberal e deu passo à ditadura fascista. em 1925, o Dopolavoro iniciou a planificaçom do ócio dos italianos. No dia 24 de dezembro desse ano promulga-se umha lei pola qual a figura do chefe do governo deixa de ser responsável perante o Parlamento, concentrando todos os poderes executivos. doravante, os poderes de Mussolini só poderám ser revogados por el-rei. a burguesia italiana aceita a supressom dos sindicatos e dos partidos políticos, com o pretexto da manutençom da ordem. assim é que o fascismo se apodera do estado: em 1926 ponhem-se as bases do corporativismo e cria-se a polícia secreta (OVRA), encarregada de perseguir os dissidentes (fundamentalmente comunistas). o fascismo detenta o poder político, mas nunca será um poder absoluto capaz de impor umha visom totalitária, apesar da viragem totalitarista do Dopolavoro, do Littorio ou mesmo da OVRA. de facto, todo este aparelho político nom pom em risco os negócios económicos da burguesia; antes polo contrário, é a sua condiçom.
desde o 31 de janeiro de 1926, o Duce podia legislar sem
ter em conta o Parlamento. em julho de 1926 cria-se o Ministério das Corporaçons e em finais de novembro promulga-se a «Lei para a defesa do estado», que significava a dissoluçom de todos os partidos com a exceçom do fascista, assim como dos sindicatos, criando-se um tribunal especial (que condenará Gramsci e o resto da direçom do PCI dous anos mais tarde), que reservará o desterro para os presos políticos. estabeleceuse também a pena de morte.
de resto, é também a partir de 1926 quando se inicia a despolitizaçom do partido e a sua burocratizaçom. devido à sua vocaçom de inclusom, isto é, pola sua vontade totalitária, o projeto fascista provocava a entrada no partido e na sua esfera de muitos elementos conservadores, pouco ou nada interessados numha política social contrária aos interesses oligarcas. o fascismo, que se oferecera como projeto superador das ideologias risorgimentali bem como do liberalismo e o socialismo, verá adiada as reformas legislativas que nom redundavam no Capital, ou para sermos exatos, no Grande Capital. só desta maneira obtivo o fascismo a anuência de grande parte da populaçom, através de umha política de «mao dura» e principalmente pola cessom da economia à burguesia, preocupando-se só polo poder mais visível e afinal menos decisório. o melhor exemplo disto foi o que aconteceu com o ideário corporativista, que ficou sendo só conversa, sem se ter concretizado nunca na prática, por muito que em 1928 o fascismo chegasse a prescindir definitivamente do Parlamento, substituindo-o por umha Câmara das Corporaçons. Na realidade, as corporaçons nom tivérom representaçom real no setor produtivo e a política estatal foi sempre favorável à burguesia. em definitivo, nom houvo umha superaçom da luita de classes, mas sim umha nova vitória da burguesia. Na prática, o partido subordinou-se ao estado italiano e as prioridades económicas fôrom as dos grandes monopólios do setor industrial, isto é, o protecionismo económico no campo da indústria do aço, o apoio à criaçom de grandes monopólios (que ficavam à margem do controlo estatal) e a disciplina militar para a massa trabalhadora. em fim das contas, Mussolini preferiu ser chefe do governo do que chefe do Partido (prova do seu aventurismo político); é por isso que, Mussolini foi incapaz de impor a estrutura fascista ao estado e se encontrou indefenso quando no dia 25 de julho de 1943 foi deposto polo Grande Conselho Fascista. em 1927 foi publicada a Carta del Lavoro, base do orde-
namento corporativo fascista. em 1928 o Grande Conselho Fascista ficava englobado no aparelho do estado e em 1929 o regime recebia o reconhecimento definitivo, após a assinatura dos Pactos Lateranenses com Pío XI, que punham fim à «questione romana». Nasce assim o estado da Cidade do Vaticano e declara-se obrigatório nas escolas o estudo da religiom católica. assim, mesmo a pesar de a ditadura fascista condenar oficialmente o pluralismo de valores próprio de umha sociedade liberal e dizer combater a «luita de classes», a concordata representava mais umha vez o triunfo histórico da burguesia italiana e a rendiçom do estado frente à Igreja Católica, que conseguia o monopólio do ensino e um subsídio estatal milionário. depois da assinatura da Concordata, no dia 24 de março o regime fascista convocará um plebiscito. Votou 90% do censo, com 8 milhons de sufrágios favoráveis ao fascismo e 136.000 votos contrários. o regime consolidava-se assim, em boa medida, polos acordos com a Igreja, para além do longo trabalho de repressom e procura do consenso através das grandes políticas públicas.
Portanto, a ditadura fascista consolida umha monarquia autoritária e um governo com umha política económica liberal. Com a chegada á Itália da crise de 1929, aumenta certamente o intervencionismo estatal na economia, mas este serve afinal somente aos interesses das elites, porquanto o estado corre ao resgate das grandes empresas em risco de falência. Para o estado fascista, era umha questom de prestígio nacional e de interesse de estado, mas este residia sempre nos mesmos setores económicos e sempre nos mesmos territórios, a Norte do reino. de outra parte, a política económica fascista foi um sucesso enquanto houvo um contexto internacional à alça, mas virou um fracasso quando se descobriu que as sucessivas «Batalhas» (do trigo, da Lira) de Mussolini empobreceram mais o país, ao ter debilitado a indústria alimentar e sacrificado o crescimento equilibrado da economia, enriquecendo de passagem a burguesia monopolista, que beneficiou do fortalecimento do estado e das grandes políticas de estado.
No dia 7 de novembro de 1931 inicia-se o abonado do agro Pontino; é o período das grandes obras fascistas. o IMI (Istituto Mobiliare Italiano), fundado em 1931, fornecerá dinheiro às empresas sem fluidez. a autarquia económica recebe um impulso definitivo com a fundaçom do IRI. estas novas instituiçons económicas continuárom a ser geridas nom por fascistas da primeira hora, mas por oligarcas de sempre, que utilizárom o estado fascista para decretarem medidas económicas que de outra maneira nom poderiam ter imposto, devido ao grande custo social que comportavam. a tensom social que provocava o estado liberal era afogada nom só pola repressom de um «estado policial» mas também polo entusiasmo nacionalista cultivado polo fascismo. as grandes obras públicas, orgulho do Vinténio fascista, eram só umha máscara para ocultar o aumento das distâncias entre classes. até a chegada da crise e a autarquia, a oligarquia lucrou-se com a política liberal que significava umha descida continuada dos salários dos operários e umha miséria crescente no rural. o campesinhado foi o principal prejudicado pola política social e económica do fascismo, já que a acumulaçom de capital necessária para a descolagem económica se fijo à custa dos e das trabalhadoras agrícolas, esmagadas por impostos estatais e a quem se impedia a tradicional saída migratória.
todavia, o maior interesse de Mussolini nom estava na
política interna, mas na política internacional: era aí onde julgava que se decidiam os destinos imperiais da Itália. assim que assentou o seu poder, Mussolini iniciou umha série de movimentos diplomáticos encaminhados a situar a Itália em pé de igualdade com as potências da entente (França e Gran Bretaña) e isso só podia conduzir à defesa de umha política imperial e colonialista na áfrica, retomando os trilhos de Crispi. em 8 de abril de 1932 falava-se por primeira vez na etiópia no Grande Conselho. em finais de julho, Mussolini assumia diretamente o ministério dos Negócios estrangeiros. afinal, a política exterior será o caminho utilizado por Mussolini para compensar as cessons em matéria económica.
em 1933, Mussolini inicia a exportaçom da sua ideologia através do CAUR de Coselschi. roma tinha de ser novamente a capital de europa, mas nom de umha europa cristá ou burguesa, mas umha europa de movimentos fascistas, especialmente em 1933, quando Hitler chegava à chancelaria. a formaçom de um governo com ministros nazistas na alemanha era umha confirmaçom para Mussolini de que o fascismo ganhava peso na europa.
entre os dias 14-15 de junho de 1934 produzia-se o primei-
ro encontro entre Mussolini e Hitler. Mussolini nom sentia grande apreço por Hitler e, além de mais, entendia que a política pangermanista dos nazis punha em risco o apoio italiano ao cancheler austríaco dolfuss. No dia 25 de julho de 1934, os nazis austríacos assasinárom o chanceler dollfuss, mas o golpe de estado fracassou. Na Itália houve umha campanha da imprensa contra a alemanha e Mussolini decidiu enviar tropas italianas à fronteira com a áustria. No entanto, apesar do perigo que significava em política exterior a alemanha nazista, o ano de 1935 significou umha revoluçom cultural antiburguesa, traduzida na política internacional numha rutura de equilíbrios e de pactos com a Inglaterra e com a França, apostando na aliança diplomática com a alemanha hitleriana, que apoiaria sem hesitaçons a nova política agressiva da Itália, decidida a invadir e conquistar a etiópia.
o 6 de março de 1936 marcou o início da política filogermana. esta aproximaçom italo-germana terá as suas consequências no plano interno, e a defesa do corporativismo cedeu espaço a um capitalismo de estado, imitaçom do estado nazista, que pretendia a autarquia; contudo, o isolamento económico italiano nom alterará a continuidade da política económica anterior, porquanto continuará a beneficiar as elites e prejudicando a maior parte da populaçom. em 1936, Italia embarcaráse numha política agressiva e imperialista, remedo da alemá e eco da teoria da «naçom proletária» de princípios de século. a Itália fascista dá um passo mais numha política de gestos de força e rompe vínculos com a Inglaterra e a França. assim, no dia 24 de outubro de 1936 assina-se o tratado de colaboraçom italo-germano: nasce o eixo roma-Berlim.
1936-40: salto totalitário.
Conforme de Felice14, Mussolini nom teria conseguido assentar o regime fascista, em boa medida como consequência do seu achegamento ao III reich, motivado mais por questons geo-estrategicas que por afinidade ideológica com o nazismo. tal salto totalitário foi protagonizado polo próprio Mussolini,
14     renzo de Felice, Rojo y Negro. edit. ariel. Barcelona, 1996.
que a partir de 1936 acumula ainda mais poder, e polo secretário do partido fascista, starace, que converteu o partido numha poderosa máquina burocrática ao serviço da ditadura. eis o resumo da política exterior fascista na sua fase to-
talitária: em 1935, Itália lançava-se à aventura da etiópia; em 1936, iniciava a sua participaçom na guerra civil espanhola; em 1937 assinava o Pacto anti-Komintern com a alemanha e dous anos mais tarde selava com Hitler a sua aliança estratégica por meio do Pacto de aço. a partir de 1936, toda a mocidade foi enquadrada no GIL (Gioventù Italiana del Littorio, equivalente das Mocidades Hitlerianas). em 1938 publicou-se o «Manifesto da raça» e, finalmente, em 1939 o virtual Parlamento foi substituído pola Cámara dos Fascios e Corporaçons. em junho de 1940 Itália entrava em guerra contra a França e a Inglaterra ao pé da alemanha.
1940-3: II Guerra Mundial.
No dia 10 de junho de 1940 a Itália declara a guerra à França e à Inglaterra. dadas as caraterísticas da participaçom italiana na guerra, tal evento significou o fim do regime de Mussolini, devido à sua deslegitimaçom interna. assim, em julho de 1943, Mussolini foi destituído polo Grande Conselho Fascista e foi mesmo encarcerado por ordens de el-rei, que via como as quedas de Mussolini e do fascismo comprometiam a continuidade do reino sabaudo. Mussolini será libertado polos aviadores alemáns (skorzeny) e encarregado polo próprio Hitler do estabelecimento de um regime títere no Norte da Península.
1943-5: república de salò. em tal biénio Mussolini pretendeu recuperar as essências do fascismo, submetendo os italianos do Norte a umha cruel ditadura. em novembro de 1943 refundou o seu partido com o nome de Partido Fascista republicano. em janeiro de 1944 tivo lugar o processo de Verona por meio do qual o ditador se desfijo dos seus antigos colaboradores (entre eles o seu próprio genro Ciano). Finalmente, o regime foi derrubado graças ao pulo partisano, sendo afuzilado o seu máximo dirigente no dia 28 de abril de 1945 por Walter aduisio (coronel Valerio), após receber a ordem de sandro Pertini15.
4. O regime fascista e o PCI
a repressom do regime fascista atingiu com extrema dureza o Partido Comunista da Itália. apesar da sua condiçom de deputado, antonio Gramsci foi detido no dia 8 de novembro de 1926 e encerrado no cárcere de regina Coeli em regime de isolamento absoluto e rigoroso16. No dia 28 de maio de 1928 começava perante o tribunal especial o chamado processone contra o grupo dirigente do PCI (terracini, roveda, scoccimarro, etc.). referindo-se a Gramsci, o fiscal Michele Isgrò afirmou: «Devemos impedir que este cérebro funcione durante vinte anos»17. o dia 4 de junho seguinte foi efetivamente condenado a 20 anos, 4 messes e 5 dias de reclusom. Porém, e após umha dura pugna legal, obtivo a liberdade condicional em 1934 e a liberdade plena em abril de 1937, poucos dias antes de morrer18.
15      Giovanni de Luna, Mussolini. edit. salvat. Barcelona, 1986.
16      Valentino Gerratana, Cuadernos de la cárcel. edic. era. México, 1981. Pág. 58.
17      Ibid. Pág. 60.
18      Ibid. Pág. 67.
ante o fenómeno da ditadura fascista, o PCI nom só par-
ticipou ativamente nas luitas da oposiçom clandestina19 e do exílio, mas gerou também um amplo debate intelectual interno, a fim de o analisar em toda a sua complexidade20.
No mês de janeiro de 1926 celebrava-se na cidade francesa de Lyon o III Congresso do PCI. Gramsci apresentava o relatório de política geral. a tese número XV examinava o fascismo concluindo, na linha do afirmado pola Internacional Comunista21:
o fascismo, como movimento de reaçom armada que se pro-pom o objetivo de disgregar e desorganizar a classe trabalhadora para a imobilizar, entra no quadro da política tradicional das classes dirigentes italianas, e na luita do capitalismo contra a classe operária.
No entanto, renzo de Felice encarregou-se de sublinhar o fito que na evoluçom das interpretaçons do fenómeno fascista supunha a afirmaçom de Gramsci, segundo a qual o fascismo nom devia ser tam só considerado um órgao de combate da burguesia mas antes um movimento social» sendo «necessário examinar as estratificaçons do fascismo mesmo porque, dado o sistema totalitário que o fascismo tende a instaurar, será no seio mesmo do fascismo que tenderám a ressurgir os conflitos que nom podem manifestar-se por outras vias22.
Na linha do anterior, em 1928 Palmiro togliatti publicou na revista da Internacional Comunista um célebre ensaio sobre o
19      Giorgio Candeloro, op. Cit.
20      renzo de Felice, Le interpretazioni del fascismo. editori Laterza. roma, 1995.
21      Jorge dimitrov, Escritos sobre el fascismo. edit. akal. Madrid, 1976.
22      renzo de Felice, op. Cit. Pág.211.
movimento fascista italiano em que aprofundou com agudeza sobre os seus complexos origens sociais e a sua evoluçom política posterior umha vez constituído em regime político:
o partido fascista tende assim para a perda do caráter de mo-vimento autónomo de certos estratos sociais intermédios que tinha na sua origem, solda-se intimamente, com a sua mesma organizaçom, à estrutura económica e política das classes dirigentes23.
sete anos mais tarde, o mesmo togliatti impartiu umhas mui sugestivas «liçons» sobre o fascismo em Moscovo: nelas propujo umha acertada cronologia do movimento e alertou sobre as interpretaçons excessivamente esquemáticas do fenómeno que o consideravam umha fatal consequência do desenvolvimento capitalista, para afirmar com determinaçom:
É um grave erro crer que o fascismo partisse de 1920, ou da Marcha sobre roma, com um plano pré-estabelecido, fixado com antecedência, num regime de ditadura, como este regime se organizou mais tarde no curso de 10 anos e como nós o vemos hoje. Isto seria um grave erro. todos os feitos históricos do desenvolvimento do fascismo contradim umha conceçom assim. Mas nom só: partindo desta conceçom caise inevitavelmente na ideologia fascista… a esta conceçom errada nós devemos contrapor a verdadeira, a justa conceçom da ditadura fascista. a ditadura fascista foi empurrada a assumir as formas atuais por fatores objetivos, por fatores reais: pola situaçom económica e polos movimentos das massas que por esta situaçom som determinados24.
23      Ibid. Pág. 212.
24      Ibid. Pág. 210
os três exemplos anteriores, glosados alargadamente por renzo de Felice, ponhem de manifesto o acertado do seu veredito, conforme o qual o PCI levou a cabo «o esforço interpretativo mais articulado e convincente feito neste período polo antifascismo italiano»25.
Neste «esforço interpretativo» do período fascista, como vemos, a análise de um togliatti ou do próprio Gramsci som fundamentais. de facto, a nossa tentativa de explicaçom do fascismo bebe em grande medida da sua análise. Por isso, é sempre pertinente falarmos do PCI, reconhendo a sua centralidade na oposiçom à ditadura fascista. Para autores como Gramsci, ou como tasca e togliatti, o fascismo deve ser entendido como a consequência nom só das especiais condiçons económicas e morais existentes após a I Guerra Mundial, mas também como mais um chanço, como umha heran-
ça da política risorgimentale e dos fracassos do processo de unificaçom italiana. Cumpre nom esquecer que duas terceiras partes da militáncia fascista nos seus inícios se encontravam na pequena burguesia e nos desempregados do Norte. ali é onde se iniciara a revoluçom industrial italiana e ali foi onde a oligarquia piemontesa e lombarda decidiu o sacrifício do sul, em favor de um desenvolvimento industrial desequilibrado e gerador de desigualdades no interior do estado. a estrutura dual da economia italiana justifica a enorme
desigualdade entre classes que aumentou polo impacto bélico e a irrupçom da sociedade de massas. as elites liberais levárom o país à guerra e gerárom uns problemas que seriam incapazes de resolver. Por isso, em contra do afirmado polo
25   Ibid. Pág. 216.
filósofo idealista Benedetto Croce, que entendia que o fascismo fora um «acidente» na história italiana antonio Gramsci entendia o fascismo como umha continuaçom do estado liberal fundado em 1860. Nessa mesma linha interpretativa, achamos que umha figura como Giolitti ilustra as carências da classe política pós-risorgimentale. o seu fracasso é o fracasso da democracia de notáveis, que ao ser incapaz de «cooptar» novas camadas sociais, utiliza o fascismo para frear a insurreiçom obreira do Biénio Vermelho. em 1922, o partido fascista oferecia-se para acabar com a greve e a ocupaçom de fábricas, ligando o seu papel institucional ao de guarda da alta burguesia, ganhando espaços fora das cidades e aproveitando-se da incapacidade da esquerda para tecer alianças com o movimento agrarista.
desse fracasso das esquerdas, antonio Gramsci tirará li-
çons, promovendo umha linha mais combativa e ambiciosa a partir do Congresso de Livorno. Gramsci, como também um Levi ou um silone, relacionou fascismo e questiom meridional, julgando que nom se podia explicar um fenómeno sem o outro. de facto, o acerto do pensamento gramsciano radica em que explica o fascismo nom como umha forma concreta de ditadura que visava a finalizaçom do processo de Unificaçom italiana mas também, e principalmente, como o reforçamento do estado burguês, que utilizava o fascismo para bloquear a conquista do poder por umha nova maioria social capaz de colocar em risco o desenho institucional vigorante desde 1860. antonio Gramsci foi dos poucos teóricos comunistas (sem dúvida, ajudou para isto a sua origem) em ser consciente da necessidade de que o movimento operário italiano conectasse com a massa, a fim de construírem juntos umha massa social crítica, com capacidade para enfrentar eficazmente a repressom caciquil primeiro e fascista depois. Para Gramsci, o fascismo nom combatia nem combateria o atraso no Mezzogiorno, precisamente porque no subdesenvolvimento colonial do sul da Itália estava a base do poder económico das classes médias que apoiárom e que se servírom do fascismo. É altamente significativo que a acusaçom feita contra Gramsci (fomento do ódio de classe) polo tribunal especial em 1926 fosse a mesma que utilizara o estado italiano liberal finissecular contra os mineiros sardos, que tentavam na altura a organizaçom dos primeiros sindicatos. em definitivo, nem o estado italiano liberal nem o estado fascista tentaram resolver a «Questom Meridional»; antes pelo contrário, esta iria-se agravando-a cada vez mais, ao continuar subordinando o desenvolvimento económico do Norte ao subdesenvolvimento do sul.
5 A modo de conclusom.
Pierra Milza, um dos melhores conhecedores do fascismo, escreveu que o fascismo italiano nom só cumulou de honras a antiga classe dirigente, mas também a reforçou economicamente. ora bem, o corporativismo fascista serviu paradoxalmente como um mecanismo de ascensom social para as classes médias e mesmo para certa parte do proletariado industrial. o socialismo nom soubo conquistar a pequena burguesia, que porém se deixou seduzir polo fascismo, como umha ideologia triunfadora e renovadora. as grandes perdedoras do período fascista fôrom as classes subalternas, e principalmente o campesinhado, na medida em que nom se viu favorecido como o proletariado polo aumento do tecido industrial no Norte e pola legislaçom social do fascismo26 (Milza, 194).
26            Pierre Milza: De Versailles a Berlin. 1919-1945, Masson, 4ª ediçom (p. 194), Paris, 1980.
o Partido socialista aprendeu tarde de mais que nom
chegava com controlar o governo municipal sem facer partícipe o campesinhado da necessidade de reformas de fundo. o fascismo assanhou-se nos primeiros anos no rural primeiro e depois nas cidades. Num e noutro lugar o fascismo poderia ter sido esmagado polo próprio partido socialista, talvez, se nom se tivesse enganado sobre a integridade do regime liberal e nom tivesse ficado à espera de que a polícia e o exército figessem o seu trabalho. assim como o estado liberal restringia a participaçom política e impedia que as forças populares mudassem este estado das cousas, a política económica consolidava a opressom das massas trabalhadoras italianas, incapazes de apresentar umha defesa conjunta frente à violência esquadrista. esta violência deu passo a umha violência estatal apoiada polos quadros do exército e da polícia que reprimirá qualquer protesto organizado, facilitando a chegada de umha ditadura de tipo autoritário onde apesar do discurso radical, na prática houvo um compromisso entre o PNF e as elites burguesas.
assim, se quigermos entender o período 1919-1945, e no-
meadamente o Vinténio fascista, é fundamental repararmos nom só no apoio das altas instáncias estatais, mas também do apoio da pequena burguesia, que aderiu ao PNF polo medo a perder privilégios ganhos desde a unificaçom. os empregados públicos, os escritores, os jornalistas, os advogados, sentiam que a IGM pugera em risco a sociedade em que prosperaram e culpavam da instabilidade e da crise nom ao estado que movera à intervençom mas a um movimento operário que nom foi capaz de mobilizar a pequena burguesia a fim de construir umha democracia moderna, nem de tomar o poder para dar as soluçons que os governos da monarquia eram incapazes de encontrar.

Mussolini era o líder autoritário que agradava à oligarquia porque parecia capaz de fazer o trabalho sujo do estado liberal, isto é, colocar a esquerda em condiçons de inatividade e inofensividade e devolver a tranquilidade à burguesia, livre para fazer os seus negócios. Portanto, a fortuna do fascismo ligou-se em grande medida à de Benito Mussolini, que conseguiu agrupar o consenso das forças conservadoras, um consenso que Giolitti procurara infrutuosamente durante os primeiros quinze anos do século e mal conseguira. a inteligência de Mussolini consistia em apresentar-se como o líder de umha forza política inovadora, nova e dinâmica, com capacidade para acabar com o principal problema do regime a olhos da alta burguesia e a Monarquia. apesar da retórica antiburguesa tam típica do fascismo, este conviveu perfeitamente com a burguesia e o capitalismo até o salto totalitário de 1936. a viragem de 1935-36, esporeada polo exemplo da alemanha Hitleriana, foi umha volta de parafuso e ao mesmo tempo um ajuste de contas com a alta burguesia, que impedira nos 20 o triunfo de um ideário puramente fascista. seja como for, o giro totalitário de Mussolini nom alterou o panorama geral do fracasso do projeto fascista, que ficou sendo, já desde o compromisso de 1924, um totalitarismo incompleto, que caiu ao ligar a sorte do estado fascista de umha política imperialista que colocava em risco os negócios da oligarquia exportadora. a economia italiana nom estava preparada para seguir a política belicista da alemanha e, desde a entrada em guerra, o fascismo só podia perder o consenso ganhado na década de 1920. a república de salò de 1943-1945 representou a derradeira tentativa de realizar a revoluçom fascista, com a superaçom do liberalismo e do socialismo predicada desde 1919, mas Mussolini, livre do compromisso com a monarquia, já nom era mais do que um títere em maos alemás.



FINAL DO LIVRO



* Vem da nota de rodapé 148:
(a Piero sraffa)
turim, 29 de dezembro de 1931 Meu querido amigo
demorei algum tempo em responder a tua grata carta porque queria ir primeiro à biblioteca com a finalidade de poder darche algumhas indicaçons bibliográficas. e antes nom pudem ir. Parece-me que o nosso amigo deu no alvo, e algo aproximado à sua interpretaçom ensinei-no sempre eu. À altura do drama de Farinata está também o drama de Cavalcanti, e os críticos figérom mal, e fam, em deixá-lo na sombra. o amigo faria, pois, um trabalho excelente esclarecendo-o. Mas para o esclarecer teria de descender um pouco mais na alma medieval. Cada um dos dous, Farinata e Cavalcanti, sofre o seu drama. estám ligados polo parentesco dos filhos, mas som de partidos contrários. É por isso que nom se encontram. É a sua força como dramatis personae; é o seu erro como homens.
Mais difícil parece-me provar que a interpretaçom invalide de forma vital a tese de Croce sobre poesia e estrutura na Comédia. sem dúvida, também a estrutura da obra tem valor de poesia. Com a sua tese, Croce reduz a poesia da Comédia a uns poucos traços e perde quase todo o fascínio que dela se desprende. Isto é, perde quase toda a sua poesia. a virtude da grande poesia é sugerir mais do que di, e sugerir sempre cousas novas. de aí a sua eternidade. Haveria, pois, que deixar bem claro que semelhante virtude de fascínio que emana do drama de Cavalcanti emana da estrutura da obra (a previsom do futuro nos condenados e a sua ignoráncia do presente — estarem em aquele determinado cono de sombra, como di bem afortunadamente o amigo— estarem na mesma tumba dos dous penados, estarem ligados por determinadas leis construtivas, etc. ). todas som partes da estrutura que se convertem em fontes de poesia. eliminade-as e a poesia desaparecerá.
Para conseguir um efeito mais certo, acho conviria provar a tese com algum outro exemplo. eu, em escrevendo sobre o Paraíso, cheguei à conclusom de que onde a construçom é débil, também é débil a poesia. Mas talvez seja mais eficaz procurar a prova nalgum episódio plástico do Inferno ou do Purgatório.
acho, pois, que o amigo faria bastante bem em desen-
volver a sua tese com o rigor do seu raciocínio e a clareza da sua expressom. a comparaçom com as didascálias dos dramas propriamente ditos é aguda e pode esclarecer muito.
anexo algumhas indicaçons bibliográficas singelas. o es-
tudo de russo pode ver-se íntegro em L. russo, Problemi di metodo critico, Bari, Laterza, 1929.
Conviria ver em La Critica, o que escreveu arangio ruiz (La Critica, XX, 340-357). Barbi di que o artigo é ótimo. Pretensioso na sua filosófica prosopopeia, o estudo de Mario Botti («Per lo studio delle genesi della poesia dantesca. La seconda cantica: poesia e struttura nel poema»), Annali dell’istruzione media (umha revista), a. VI, 1930, pp. 432-473.
Barbi ocupa-se disso, mas nom di nada novo, no último fascículo dos Studi danteschi, v. XVI, p. 47 e ss. («Poesia e struttura nella d.C., Per la genesi dell’ispirazione centrale nella d.C.»).
também Barbi num estudo: «Con dante e coi suoi in-
terpreti» (vol. XV dos Studi danteschi citados) passa revista às ultimas interpretaçons do canto de Farinata. e o próprio Barbi publicou um comentário seu no vol. VIII dos Studi danteschi.
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dei-che as indicaçons mais fáceis. Cada volume dos Studi
danteschi custa 16 liras. o livro de russo, 20 liras.
Por dizer-che agora algo de mim, acrescentarei que espero acabar o meu Paraíso. e aguardo que se traduza agora para o inglês a minha vida de dante. Mas som minúcias. Cada um tem o seu drama e o da sua família, embora nom o sofra com a mesma intensidade que Cavalcanti, porque encontra consolo nos estudos. e quigera que lhe dixesses para o amigo que nom passa um dia sem que pense nele. Lembro todos os meus exalunos —tu estás entre os primeiros— e desejo-lhes o mesmo bem que desejaria para os meus filhos.
Com imutável afeto, o teu velho mestre
U. Cosmo



No 21 de julho de 1921, há 90 anos,  o povo de sarzana demonstrava à Itália que a resistência à barbárie fascista era possível.
esta versom galega das Cartas do Cárcere é umha homenagem à dignidade de
sarzana e de toda a Itália garibaldina  e partisana.






http://estaleiroeditora.blogaliza.org/files/2011/08/cartas_do_carcere_gramsci_pant.pdf